Discutir sobre os caminhos trilhados por gestores para tornar a cultura protagonista nos municípios deve envolver os artistas. Afinal, são esses profissionais que se empenham em nome da arte e das poéticas atreladas às ações culturais.
Quando a discussão adentra ainda mais as cidades do Interior, ela se ramifica em possibilidades de formatos e em desafios tanto para os artistas quanto para o público. Exemplo é a “inviabilidade de manutenção de grupos de teatro apenas com bilheteria”, diz Alexandre Martins - ator, brincante de reisado e dançarino de quadrilha.
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Natural de Quixeré (a 186,32 km de Fortaleza e localizada na macrorregião do Vale do Jaguaribe), ele destaca como os públicos de teatro e de outras manifestações culturais diminuíram na região do Vale do Jaguaribe.
“Hoje, o que sustenta os trabalhos são os editais — que, infelizmente, ainda chegam pouco ao Interior, já que a política de distribuição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) ainda não alcança de forma justa as cidades menores. Em Quixeré, enfrentamos também essa dificuldade de público pagante. Os editais nacionais ajudam, mas os valores são pequenos”.
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Entretanto, também tem observado “olhar mais cuidadoso da gestão municipal em relação aos artistas”, o que tem feito diferença em seus fazeres culturais. Com 20 anos de carreira, Alexandre Martins é fundador, com Chico Henrique, da Trupe Motim de Teatro. Em 2023, passou a atuar também como agente de cultura de Quixeré.
Na função, trabalha com apoio, organização e divulgação de eventos e projetos, preservando tradições do município e incentivando novas expressões. Apesar de ainda não considerar o tratamento ideal, analisa que a Prefeitura de Quixeré, por meio da Secretaria de Cultura, tem incentivado práticas artísticas. Na cidade, a pasta não é dedicada exclusivamente à área e agrega os segmentos de Esporte e Juventude.
“Já existe um fortalecimento importante do movimento teatral, das quadrilhas e de outras manifestações. Quanto a espaços, enfrentamos a mesma dificuldade de muitas cidades do Interior: não temos um local exclusivo para a cultura. Usamos bastante a rua e o auditório do Centro Vocacional Tecnológico (CVT), mas sentimos a necessidade de um espaço cultural específico”, demanda.
Em Cedro (a 426,71 km de Fortaleza e na macrorregião Centro Sul do Ceará), a cultura tem “se consolidado e ressignificado o seu valor enquanto reconhecimento e apoio às classes artísticas pela gestão municipal”, segundo Ely Morais. A artista é professora há 26 anos no município e realiza trabalhos no teatro, na dança e na música.
“Nunca desenvolvi somente o trabalho artístico. Sempre consolidei com meu trabalho docente, até porque sei que não seria fácil manter minha casa e família apenas com a arte. Não dá só para fazer por amor, mas me sinto satisfeita em ver a arte se perpetuar para outras gerações através do meu trabalho”, explana.
Como contribuições para a Cultura em Cedro, cita recursos federais oriundos da Política Nacional Aldir Blanc de Auxílio à Cultura (Pnab) e a Lei Paulo Gustavo (LPG), mas compreende que “o gestor municipal e a secretaria buscam apoiar os fazedores de cultura da melhor forma possível”.
Segundo a artista, atualmente há uma prática “mais democrática” de ouvir os fazedores de cultura, com escutas com os artistas para saber de “seus anseios e necessidades”. Apesar de reconhecer não ser fácil viver de arte, indica saber de artistas da região que estão se mantendo a partir de suas produções.
Entretanto, existem muitos profissionais que precisam ter renda fixa e usam a arte como “extra” para manter a família e a casa: “Cedro é um berço de artistas, assim como nossa região Centro-Sul. Por minha vivência no teatro e por acompanhar de perto alguns artistas, sei que ainda não é o desejável para os fazedores de cultura, tanto na questão financeira quanto no reconhecimento do valor artístico”.
Municípios com Secretaria de Cultura exclusiva