Entre os espaços e estandes previstos para a Bienal do Livro de Pernambuco, um deles se destaca: o da Fundação Demócrito Rocha (FDR)/O POVO. Ao longo do evento, lançamentos de livros das Edições Demócrito Rocha (EDR), promoções, palestra, bate-papos e painéis são atrações para o público.
A presença na Bienal de Pernambuco é mais uma iniciativa importante da FDR em meio às celebrações de seus 40 anos e do legado de promoção à cultura construído em quatro décadas. Ela também esteve na Bienal do Livro do Ceará em 2025. Pelos propósitos da FDR, a participação na festa literária é um movimento natural, entrelaçado com os objetivos da fundação.
Isso vem não somente pelo tema do evento — "Ler é sentir cada palavra" —, mas pela busca constante de "transformar o indivíduo pela educação", tendo como exemplo o segmento das Edições Demócrito Rocha. "Além do livro impresso, temos e-book, audiobook e peças de teatro. Já seguimos o próprio tema dessa Bienal e queremos levar uma literatura mais acessível", aponta Deglaucy Teixeira, gerente educacional da FDR.
O principal lançamento é "Foi um Dia…", peça de teatro infantil do dramaturgo pernambucano Luiz Marinho. Outro lançamento é o livro "Mariquinha Maricota", que apresenta em uma narrativa literária a peça de teatro homônima de Luciano Lopes, humorista cearense, fundador do grupo teatral Bilu Bila e Cia e intérprete da personagem Luana do Crato.
Com ilustrações de Cival Einstein, a obra mergulha no universo lúdico dos palhaços (arquétipos que povoaram sua infância) e é ambientada no sertão brasileiro, resgatando elementos do folclore regional.
Há também a publicação do livro "Universidade Social", de Cicília Raquel Maia Leite, atual reitora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern). A obra reúne reflexões, posicionamentos e discursos públicos da professora a partir de dois núcleos: o primeiro, com artigos publicados no O POVO nos quais aborda temas como educação, democracia, inclusão e o papel das universidades públicas; o segundo, com discursos em momentos solenes e institucionais.
"Além dos lançamentos, teremos algumas promoções, principalmente para promover uma leitura mais acessível para todos, principalmente por meio dos preços dos livros", aponta Deglaucy Teixeira. A chegada da Fundação Demócrito Rocha se alinha com o movimento de ampliar cada vez mais sua linha editorial - majoritariamente cearense - para o Nordeste e para o Brasil. Assim, contribui para o fortalecimento na região.
"Acredito que a principal importância da FDR nesses 30 anos de Bienal de Pernambuco tem a ver com o lado fundamental de mostrar como a fundação, tendo como segmento as Edições Demócrito Rocha, é, acima de tudo, nordestina. Acima de tudo, temos essa linha editorial, e precisamos fortalecer parcerias com todos os estados do Nordeste, iniciando em Pernambuco nosso primeiro passo de ampliação das fronteiras da região", avalia.
Luiz Marinho: o homenageado
Um dos grandes nomes da cena teatral brasileira, o dramaturgo pernambucano Luiz Marinho (1926-2002) é o principal homenageado pela Fundação Demócrito Rocha (FDR) nesta edição da Bienal do Livro de Pernambuco. Se estivesse vivo, completaria 100 anos em 2026.
Marinho dedicou sua obra a desvendar o universo social e cultural do Nordeste. O autor traduziu em livros e peças personagens como violeiros, vaqueiros e cangaceiros, mergulhando nas vivências de sua infância e adolescência no interior de seu estado. Para além de seu traço regionalista, ficou marcado por peças protossurrealistas, pseudoexistenciais e obras destinadas ao público infantil.
Exemplo é a peça de teatro infantil "Foi um dia…", com lançamento pelas Edições Demócrito Rocha (EDR) em 10 de outubro. "Temos o teatro como uma forma de trazer a dramaturgia da literatura em ação. É uma forma de sentir a literatura, de sentir a palavra no palco", descreve Deglaucy Teixeira, gerente educacional da FDR.
A obra preserva o texto original, mas acrescenta ilustrações do artista pernambucano Hugo Melo que fazem um "tributo visual ao movimento armorial". O livro é uma peça em dois atos em estado de fábula, que resgata a força da tradição oral e a magia do teatro popular. No palco, desfilam a princesa e a madrasta, o príncipe e o pombo encantado, a lua e o vento, os urubus, as galinhas, o rei e sua corte.
No trabalho, Luiz Marinho transforma o cotidiano em poesia cênica, revelando dramas, alegrias e contradições dos dias comuns. Com humor e sensibilidade, a peça mergulha na alma brasileira. O texto tem linguagem acessível e convida crianças, jovens e adultos a refletirem sobre o tempo, a memória e os afetos que moldam nossas histórias.
As peças gráficas do estande da FDR/O POVO seguem a temática de Luiz Marinho. Ele também é homenageado em um painel no dia 10, no Palco Sesc Além das Letras. Participam Anco Márcio, professor de Teoria Literária da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador de sua obra, e filhos do dramaturgo, a exemplo de Joaquim, Carolina, Catarina e Chico Marinho (jornalista e editor executivo do Núcleo de Imagem do O POVO).
Ao longo de sua trajetória, Luiz Marinho produziu 14 peças teatrais e conquistou importantes prêmios como o Molière e os da Academia Brasileira de Letras (ABL), da Academia Pernambucana de Letras e do Estado da Guanabara. Entre as principais obras estão "Um sábado em 30", "Viva o Cordão Encarnado", "A Derradeira Ceia", "A Incelença" e "A Valsa do Diabo".
FDR na Bienal de Pernambuco