"Quemadura China", longa-metragem uruguaio de Verónica Perrota, foi o principal vencedor do 19º CineBH - Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte. A produção foi anunciada como ganhadora da mostra Território na noite de domingo, 28, em cerimônia realizada no Cine-Theatro Brasil, com justificativa de "ousar encarar de frente a fragilidade" a partir do entrelace do íntimo com o coletivo.
As associações entre identidade e comunidade, aliás, nortearam a entrega de prêmios do evento que exibiu mais de 101 filmes ao longo de seis dias de programação gratuita em Belo Horizonte. "Chicharras", filme mexicano sobre os povoados indígenas de Oaxaca, conquistou o reconhecimento de Melhor Presença por "retratar atos de resistência".
Já "Punku", dirigido pelo peruano Juan Carlos Dornoso Gómez, levou o Prêmio Abraccine. A mitologia exibida por meio da história do jovem Ivan foi destacada como representação da arquitetura do inconsciente, capaz de "tornar visível o invisível". "Huaquero", também do Peru, ganhou destaque do júri pelo forte caráter político ao reconstruir memórias de caçadores de terouros.
A visibilidade do cinema alagoano foi a bandeira levantada pela cineasta Stella Carneiro e pelo produtor Rafael Barbosa, responsáveis por "Filhas do Mangue", filme vencedor do prêmio principal do júri oficial da 16ª edição do Brasil CineMundi.
O drama acompanha a família das irmãs Clementina, Luma, Eurídice e Simone. Quando Simone, a mais velha, recebe uma bolsa para estudar no exterior, as familiares buscam maneiras de escapar da escassez do pai.
Outro destaque foi o filme "Omágua Kambeba", de Adanilo e Ítalo Bruce, vencedor dos prêmios Mecas e Filmes de Plástico. A obra pesquisa a trajetória secular da etnia Omágua e apresenta a história de Inha Kambeba, primeiro brasileiro a representar o Brasil em competição de arco e flecha.
Ao longo da programação, o Brasil CineMundi reuniu mais de 200 profissionais de 16 países para realizar encontros de co-produção referente aos 37 projetos selecionados.
Três filmes cearenses estiveram entre os títulos disponíveis no evento. "Doce de Coco" (2010), de Allan Deberton, completou a Cine-Expressão. "Estranho Caminho" (2013), de Guto Parente, fez parte mostra Homenagem.
"Morte e Vida Madalena", também de Guto, recebeu sessão lotada como filme da mostra Vertente. A produção estreou no Festival de Brasília e percorre o circuito de festivais de cinema.
"A gente sempre teve de olho nessa produção, inclusive a partir da Porto Iracema das Artes. A gente viu nascer vários filmes ali que, muitas vezes, não tinha espaço de exibição no próprio Estado. A gente sempre teve esses meninos vindo, participando, e a gente acompanha essa carreira", reforçou Raquel Hallak, coordenadora geral do CineBH e CEO da Universo Produção, em entrevista ao O POVO.
Dentro do balanço da edição do evento, Raquel pontuou a relevância de compartilhar narrativas diversas e democratizar o acesso ao cinema com ações como o Cinema na Praça, que consiste em sessões realizadas na Praça da Liberdade, ponto turístico da cidade mineira.
"Esse espaço democrático, livre, aberto, aproxima o público do cinema. Acho que traz um papel muito importante da formação do público, mas também da ocupação do espaço público pela cultura".
*A jornalista viajou a convite do evento.