Embalado pelo ritmo do iê iê iê e com base no rock'n roll surgido na década de 1950, a Jovem Guarda ganhou logo de cara a simpatia da juventude brasileira. Tanto que, em meados da década de 1960, esse grupo procurava um gênero musical que os representasse.
A chegada da novidade pelas rádios e pelos programas de televisão despertou a popularidade das bandas e cantores, inicialmente representados pelo trio Erasmo Carlos, Roberto Carlos e Wanderléa.
Para além do eixo Sudeste, onde nasceu o movimento, as outras regiões também abraçaram a Jovem Guarda. Em Fortaleza, algumas bandas como Os Faraós e Big Brasa decidiram representar o estilo musical com um toque cearense.
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"Em Fortaleza, teve uma grande repercussão do movimento, pois em cada bairro surgiam bandas tocando músicas da Jovem Guarda, assim como nas cidades do Interior", relembra o fundador do Os Faraós, Luisinho Magalhães.
Grupo de rock formado por quatro irmãos - Luisinho, Sebastião, Antônio e Vicente - era liderado por Luisinho, guitarrista-solo. Juntos, tocavam em bailes com arranjos próprios e repertório em inglês.
O músico compartilhou em entrevista ao Vida&Arte que na capital cearense, Os Rataplans foi a banda precursora no estilo, mas outros nomes fizeram sucesso como: Os Besouros, Os Quem? e Os Desafinados.
Também se destacavam em Fortaleza Os Atômicos, Os Milionários, Os Jovens e Som 2000, Os Belgas, Os Invasores, Os Canibais, Os Ritsoms, The Jetsom, Os Grilos, Supersom, Os Tremendões e Os Monkeys.
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Já nas outras cidades cearenses, o ritmo chegava com o som das bandas Os Dissonantes, em Maranguape; Os Águias, em Barbalha; e Os Azes do Ritmo, no Crato.
Durante o período, a ampla divulgação da mídia e a ação da publicidade sobre o movimento faziam com que a sonoridade, para além do sentimento de familiaridade e pertencimento a um grupo, despertasse o desejo em ser artista.
"As músicas estavam chegando e eu tinha 15 anos na época. A vontade da rapaziada toda era construir um conjunto para tocar Jovem Guarda", relembra o músico e fundador do grupo Big Brasa, João Ribeiro.
Ele relembra o início da banda, numa época sem internet. Para pegarem as músicas, a mãe de Ribeiro, que era professora de inglês, ajudava copiando as letras das composições dos Beatles. Enquanto isso, seu pai acompanhava as apresentações para distribuir os cartões da banda.
Entre restaurantes beira-mar e serenatas, o embalo do Big Brasa conquistou fãs a partir de passagens por programas na TV Ceará.
Além dos Beatles, primeira inspiração para Os Faraós, outras bandas motivaram o grupo: Os Pholhas, Renato e Seus Blue Caps, Elton John e Fevers.
"Como todo estilo musical de época, a adesão do momento sempre predomina ao estilo amplamente divulgado nas rádios e televisões. Onde a juventude está em sua predominância", aponta Luisinho Magalhães. "O rock'n'roll em 1950 e início de 1960, em seguida o iê-iê-iê, até 1970, em seguida vem a época das discotecas, e aos poucos veio o domínio da axé music, pagode etc", elenca.
Na medida que a Jovem Guarda perdia força, os grupos buscaram meios para se reinventar. Por isso migraram para outros gêneros que nasciam na época.
"Tocamos todos os estilos e gêneros musicais, pois nos tornamos uma banda de baile. Para isso, tocávamos os hits do momento. Isso até hoje, de anos 1960, 1970, 1980, 1990, 2000, até os dias atuais", destaca Luisinho Magalhães
Ele compartilha: "Apesar de termos algumas composições próprias, não tocamos em nossas apresentações". O grupo encerrou as atividades em 1973. Mas, dez anos após o rompimento, o fundador decidiu criar a Luisinho & Banda.
"Na época abríamos os shows de bandas e cantores já consagrados no cenário brasileiro. Seguimos. Estamos em plena atividade até hoje, tocando em casamentos, aniversários, formaturas, congressos e eventos diversos", conclui.
Do outro lado, fora dos palcos, João Ribeiro também continua o trabalho com a música. Formado pelo Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, ele escreveu um livro sobre sua trajetória musical e mais dois livros sobre a trajetória do Big Brasa.
Entre a lista de produções, ele também assina a obra "Os Faraós, de Fortaleza, Ceará: Uma trajetória de sucesso (Sons que Marcaram Gerações)" sobre o ex-grupo de Luisinho. João Ribeiro retomou com estúdio que antigamente funcionava na Messejana, mas que hoje atua no Eusébio e no Cambeba.
O espaço foi ponto de encontro de nomes da música cearense como Fagner, Belchior e Ednardo. "Os três ensaiavam conosco em Messejana, na sede do nosso conjunto de Big Brasa. Então, eu tive assim o prazer até de fazer o arranjo para música 'Beira Mar', do Ednardo", relembra.
Para o músico, o estúdio desde a sede na rua José Hipólito, na Messejana, celebra diversos marcos de sua carreira e ele destaca uma produção que lembra com carinho. A regravação, há 25 anos, do seu álbum "Momentos" contou com produção de Marcílio Mendonça e participação de sua filha Cristiane, a homenageada na obra original da década de 1980.
"O objetivo do álbum era esse resgate das músicas de minha autoria, e todos os livros que escrevi foi no intuito de resgatar essa memória da Jovem Guarda para as futuras gerações", aponta João Ribeiro. E ele acrescenta: "O acervo do conjunto Big Brasa é completo. Eu sentia a necessidade porque não existia nada. Se você perguntasse há sete anos não encontrava nada".
Nas páginas do O POVO
Na segunda-feira, 22 de setembro, o Vida&Arte publicou uma matéria sobre os 60 anos da Jovem Guarda. A partir de provocações dos jornalistas da casa, voltamos ao assunto neste sábado, 4, falando sobre a relação do Ceará com o gênero.