Na região central de Fortaleza, no bairro universitário e boêmio do Benfica, a Biblioteca Dolor Barreira se camufla entre casas históricas que resistem às novas edificações, estas que abrigam estabelecimentos comerciais que vão de bares e consultórios a gráficas. Precisamente, a biblioteca está localizada na Avenida da Universidade, no número 2572, ao lado do Restaurante Universitário da Universidade Federal do Ceará (UFC) e de frente para a Casa Amarela Eusélio Oliveira.
Atualmente, o espaço, em um primeiro momento, passa despercebido para os novos visitantes que desejam conhecer a base da Rede Municipal de Bibliotecas de Fortaleza. Há duas décadas, O POVO denunciou a ausência de sinalização do local, já que "sem uma placa de personalização, torna difícil o acesso", como comentou Verônica Sobral, bibliotecária e então diretora da unidade, ao Vida&Arte, em 1º de fevereiro de 2006.
Em uma visita no fim de setembro deste ano, a reportagem observou que a sinalização da Biblioteca Dolor Barreira está incompleta. O lado de quem se direciona a partir da avenida 13 de Maio - sendo estes uma parte considerável dos frequentadores, pois reúnem os alunos das escolas da região e dos departamentos que integram o Centro de Humanidades da UFC - está sem a identificação do espaço. Porém, a superfície da placa que fica voltada para a avenida Domingos Olímpio
continua intacta.
Fundada em 1º de fevereiro de 1971, na gestão do prefeito José Walter Barbosa Cavalcante (1927-2025), a Dolor Barreira foi aberta inicialmente na avenida Duque de Caxias, no Centro. Nomeada a partir do professor e advogado cearense Dolor Barreira, cuja família doou o acervo original do equipamento, o espaço foi reaberto no endereço atual em dezembro de 2004, ao fim do mandato do prefeito Juraci Magalhães (1931-2009).
Com 20 anos instalados na residência do Benfica, o local hoje se assemelha a uma casa que espera atenção de seus moradores. Em contato com a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), a pasta revela que está sendo elaborado um "projeto de reforma, com execução prevista na dotação orçamentária de 2026".
Em resposta ao Vida&Arte no último dia 26, a secretaria municipal acrescenta que, ainda em 2025, foi realizada uma "visita de diagnóstico do equipamento". "A Célula de Gestão do Patrimônio Material, ligada à Coordenação do Patrimônio Histórico-Cultural da Secultfor, emitiu um laudo técnico sobre as necessidades estruturais e funcionais do espaço", argumenta.
Na morada de dois andares, o público que alterna entre 400 e 500 visitantes mensais, como afirma a Secultfor, se depara inicialmente com um guarda-volumes, medida estabelecida após os furtos de gibis em junho de 2011 - conforme noticiado pelo O POVO à época, cerca de 350 exemplares foram "perdidos" no segundo ano de abertura da Gibiteca.
No espaço, é possível encontrar câmeras de monitoramento que devem garantir a proteção do acervo, mas que, visivelmente, estão desgastadas. Questionada sobre a disponibilização de equipamentos de segurança para reforçar a preservação do patrimônio, a Secultfor não se pronunciou sobre o assunto.
Seguindo para as salas, estão disponíveis livros de diversas áreas de conhecimento, servindo para propósitos educacionais e profissionais, unindo-se às obras nacionais e estrangeiras que contribuem para o entretenimento pessoal. De acordo com dados do sistema Biblivre, compartilhado pela Secultfor ao Vida&Arte, os livros "Estatísticas aplicadas", de Ron Larson; a coleção "Construindo o Ceará"; e "O mundo das vozes silenciadas", de Carolina Munhóz; foram os mais solicitados para empréstimo entre os meses de janeiro e setembro deste ano.
O local que abriga aproximadamente 25.000 títulos também serve de espaço de leitura e estudo. A permanência dos visitantes no espaço, no entanto, não é convidativa, já que o ambiente carece de ventilação e reparo na iluminação. Reconhecendo as necessidades de ajustes estruturais, a pasta gerida por Helena Barbosa detalha que foi solicitada a concepção de um "projeto de reforma" para a biblioteca, que se encontra em "fase de desenvolvimento".
Aberta de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 17 horas, a Biblioteca Dolor Barreira segue em funcionamento, fornecendo espaço gratuito para os visitantes de diversas idades que possuem finalidades múltiplas. Na programação, que pode ser acompanhada nas redes sociais do equipamento (@bibliotecadolorbarreira), os frequentadores são convocados a conferir contações de histórias, cineclube e outras atividades culturais.