Logo O POVO+
Boogarins encontra maturidade na sonoridade do disco "Bacuri"
Vida & Arte

Boogarins encontra maturidade na sonoridade do disco "Bacuri"

Banda Boogarins retorna a Fortaleza para apresentar o disco mais recente, intitulado "Bacuri"
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Boogarins apresenta
Foto: Gabriel Rolim/divulgação Boogarins apresenta "Bacuri" pela primeira vez em Fortaleza

Um banho de mar no meio da noite é uma das lembranças mais afetivas de Dinho Almeida, vocalista da banda Boogarins, em Fortaleza. Ele e os amigos de banda entrando no mar para driblar a quentura da capital cearense, brincando com crianças, foi um desses momentos mágicos que acontecem na brecha de tempo entre um palco e outro.

Também na Praia de Iracema ocorreu um show especialmente marcante para o cantor. Gratuita e aberta ao público, a apresentação de 2020 foi uma das últimas antes da pandemia de Covid-19.

Leia Mais | Banda Boogarins apresenta novo álbum em Fortaleza em outubro

Naquele ano, eles foram a Juazeiro do Norte, onde conheceram Davi Sobreira. É o artista caririense quem abre o show da Boogarins no sábado, 18, no Dragão do Mar.

Com Benke Ferraz (guitarra), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria), o quarteto retorna ao Ceará para apresentar "Bacuri", disco mais recente. O título, termo usado para referir-se à criança em algumas regiões do Brasil, remete ao processo de criação do álbum mais maduro do grupo.

Bacuri encontra infância e fase adulta

Passados quase cinco anos desde o último álbum inédito e mais de dez da estreia da Boogarins, "Bacuri" foi batizado a partir da faixa homônima que abre o trabalho com a voz grave de Ynaiã (agora prestes a ser pai) e sons de bebê em segundo plano. Feito em um momento em que Dinho e Benke conheceram a paternidade, "Bacuri" é o registro de uma nova fase de vida.

"A gente começa a banda e de repente sai viajando o mundo, fica sem casa, entra nesse furacão maluco de turnê, muitos shows e, quando vem a pandemia, a gente breca e vai para esse lugar de cada um construir a sua vida adulta de fato", conta o também guitarrista Dinho Almeida. O "disco família" foi gravado em casa, quando seu filho tinha oito meses.

Ele morava com a companheira, Maria Joana, Raphael e Alejandra Luciani, esposa do baixista e responsável, junto dos integrantes, pela produção de "Bacuri". O álbum conecta o público da Boogarins ao tempo presente da vida criativa dos músicos.

Para Dinho Almeida, o trabalho estabelece a linguagem de rock criada pela banda. "Você vai ouvir a música e vai falar: 'Isso é Boogarins'. E é Boogarins por causa de tudo que a gente fez, mas também porque soa novo. Então eu acho que é um disco que abre portas, ele mostra essa nova fase da banda, que pra gente está só começando", diz ao detalhar a identidade sonora do coletivo: psicodélica e lírica.

Ao mesmo tempo, o álbum resgata a Boogarins dos anos iniciais. Gravado artesanalmente e lançado de maneira independente, tal qual o disco de estreia "As Plantas Que Curam" - postado pelos próprios músicos na internet, que os levou a fazer carreira fora do Brasil antes mesmo de obter reconhecimento no País -, "Bacuri" soa leve, fluido e orgânico.

Com foco no underground, Boogarins se distancia do homogêneo

Formado em 2012, o grupo de rock psicodélico nasceu em terreno fértil para o sertanejo. Em Goiânia, a Boogarins achou seu espaço em um cenário que Dinho Almeida define como robusto para a cultura independente. "Era uma época que tinha três grandes festivais na cidade e casas de show, que tinham shows regulares, ações do Sesc, da faculdade, que levava artistas pra lá", descreve.

Da terra, eles herdaram o "desejo de mato" refletido nas letras que frequentemente evocam imagens da natureza, como "Corpo Asa", segunda faixa de "Bacuri". "Eu acho que todas as nossas músicas versam muito nessa busca do onírico, nessa busca do outro mundo", afirma Dinho sobre a fuga da cidade, que combina com o movimento contrário à pressa sobre o qual o disco versa.

"A gente vai estar mais conectado com a natureza, com essa ideia de vida fora da cidade, do que a galera da Hilux", declara o cantor, destacando a ironia da banda de rock alternativo aproximar-se mais do sertanejo do que aquilo que costuma-se encontrar na cultura hegemônica. Embora busquem atingir o maior número de pessoas possível e estejam consolidados no mercado, vivendo de música e com um público cativo, é na cultura independente que a banda se sustenta e se interessa.

Crescendo às margens e inspirando novas bandas há mais de dez anos, o amadurecimento da Boogarins também incide nos palcos. Acostumados a "tocar o que dava na cabeça", para desespero da produção dos shows, Dinho, Benke, Raphael e Ynaiã só aprenderam a preparar show com projetos dos últimos anos.

Eles têm rodado o Brasil com o repertório. Assim como imprimem no disco o som da Boogarins ao vivo, eles levam "Bacuri" de cabo a rabo, na ordem do disco, para os palcos. "A gente nunca pensou que a ordem que a gente do disco ia funcionar tão bem no palco", confessa Dinho.

Para o público que, antes dos shows, chega falando que não ouviu o disco, ele já tem a resposta na ponta da língua: "Não tem problema, você vai ouvir aqui hoje". Em tempos de streaming - "que nem sempre vai estimular você a ouvir um disco todo", o show propõe "a experiência de botar a pessoa para girar um pouquinho a cabeça de tela e ver um show onde um disco inteiro é tocado". Para os fãs de longa data, ele garante algumas músicas antigas do "modão" único da Boogarins.

Discografia

As Plantas Que Curam (2013)

Manual (2015)

Lá vem a morte (2017)

Manchaca (Vol 1&2)

Sombrou Dúvida (2019)

Bacuri (2024)

 

Boogarins em Fortaleza

  • Quando: sábado, 18, às 18h30min
  • Onde: Anfiteatro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
  • Quanto: R$ 70 (meia), R$ 80 (ingresso solidário) e R$ 140 (inteira)
  • Instagram: @boogarins
O que você achou desse conteúdo?