Quem não teve um professor marcante na formação escolar e lembrado até hoje? Consigo recordar de pelo menos dez bons professores que passaram na minha vida, seja pela forma descontraída de transmitir o conteúdo, o jeito de interagir com os alunos ou até mesmo por ser aquele carrasco - que brigava, mas não deixava de ensinar coisas novas.
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Talvez por se tratar da profissão da minha mãe, aprendi, desde cedo, a respeitar a classe desses profissionais que dão um novo olhar ao mundo. O professor é responsável pelo desenvolvimento dos alunos em muitos aspectos - uma função de extrema importância, porém pouco lembrada. Neste 15 de outubro, Dia do Professor, o Vida&Arte conta histórias de docentes que utilizam a arte como ferramenta de transformação.
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O desenvolvimento cognitivo pode ser relacionado com a lógica, com o raciocínio e até mesmo com outras vias de conhecimento, vindas da estética. Embora ainda precarizado de estrutura, recursos e até entendimento, o ensino da arte provem de um compromisso conjunto de formar adultos mais sensíveis. Algumas iniciativas do âmbito da arte ultrapassam as limitações, partindo da vontade dos educadores de formar pessoas melhores.
Para o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Alexandre Santiago, a arte é um pilar no desenvolvimento integral das crianças, fazendo parte de um letramento estético responsável pela criação de repertório.
A arte e a brincadeira, ele aponta, são importantes para o desenvolvimento nos aspectos “sensoriais, psicomotores, estéticos, emocionais, tá tudo junto, dentro dessa educação. Por isso que a gente chama de educação integral”.
O especialista cita o letramento estético como um conhecimento importante que traz a possibilidade de a criança “ler uma obra de arte, ler uma pintura, ler um desenho, fazer a leitura de uma música, fazer a leitura de uma peça. Você entender o código (daquela linguagem), mas também fazer o uso social dele”.
O professor de arte é responsável por educar olhos, educar bocas, educar ouvidos, tudo isso na perspectiva de repertório para a vida dos estudantes. Segundo Alexandre, que é pedagogo e doutor em Educação Brasileira, esse letramento deve ocorrer desde a idade inicial - partindo da audição de música ou mesmo do trabalho com cores e formas. Entretanto, o ensino, por muitas décadas, passou despercebido dentro do contexto escolar. A arte era vista como um “passatempo”.
A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, a arte passou a ser encarada como uma área de conhecimento dentro do currículo, tão importante quanto História, Geografia, Língua Portuguesa ou Matemática.
O pedagogo define como: “Área de conhecimento que não trabalha apenas com racionalidade, que trabalha com outros saberes, saberes mais sensíveis, da expressão, da subjetividade de cada aluno. Que cada aluno possa ter essa possibilidade dele se colocar dentro desse mundo, e se expressar, o seu ‘mundo’ para o mundo”.
Para Leandro Pereira Júnior, 31 anos, professor de educação infantil, o ensino da arte traz autoconhecimento e cria uma identidade própria nas pessoas. “Com a arte, a gente consegue trazer um pouco do que a gente sente dentro de si. Nossos sentimentos, nossas percepções, nossas memórias, lembranças. Então, através da arte, a gente pode colocar sentidos, significados, símbolos, e um pouco do que habita dentro de nós”.
Ele é docente no Centro de Educação Infantil Ana Amélia Bezerra de Menezes e Souza, localizado no bairro Rachel de Queiroz, em Fortaleza, e responsável pela formação artística das crianças.
Leandro conta que os pequenos alunos já chegam, ou deveriam chegar, com um certo conhecimento em algumas áreas, e que os educadores buscam ampliar isso de todas as formas: “O meu papel é ofertar experiências, materialidades, tempo, espaço, para que essas linguagens artísticas e expressivas venham a tona”.
“Eu penso que a dimensão estética aqui é tão bem conduzida e valorizada por todos os profissionais, que as crianças vão construindo uma percepção estética do próprio espaço onde estão inseridas, não só aqui, mas também nos espaços onde elas habitam”, conclui. Segundo o professor, o “fazer arte” não deve se limitar apenas ao período da infância, mas ganhar continuidade no dia a dia durante toda a formação.
Dentro da instituição municipal, o professor teve a ideia de trazer mais uma ferramenta para o desenvolvimento artístico das crianças: um ateliê chamado Espaço Criança Pintante.
A iniciativa partiu do educador, mas movimentou toda a comunidade escolar. Foi realizada uma ação colaborativa para comprar o material necessário: pincéis, tintas, marcenaria, além da reforma de um velho depósito. O local deve ser inaugurado na próxima semana com a presença de todos que contribuíram.