Os fortes feixes vindos dos holofotes, as poltronas acolchoadas, o vento frio do ar-condicionado contrastado com o som dos calorosos aplausos da plateia, são alguns dos elementos que despertam os sentidos do público que vai ao teatro. Mas, sobretudo, a arte de atuar - a partir dos estudos do psicólogo e dramaturgo Lev Vygotsky - é vista como um estimulador da linguagem, da interação social e da expressão dos sentimentos e vivências.
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A partir desses fundamentos, o dramaturgo Marcos dos Anjos desenvolve há mais de 30 anos - junto à Trupe do Experimento - pesquisas de teatro e dramaturgia com linguagem voltada à infância e juventude. Entre os resultados desses estudos está a peça que chega ao Teatro Dragão do Mar neste fim de semana, "Da Janela", produção que introduz recursos de acessibilidade na dramaturgia das cenas.
"A decisão surge ao perceber a informação de que, apesar de ter o intérprete ali no cantinho, a criança ainda divide o olhar entre o intérprete e o palco. Sim, o profissional é fundamental, mas também é distanciador, principalmente para a criançada", explica Dos Anjos. A partir da reflexão, o produtor buscou explorar maneiras de realizar um espetáculo para incluir pessoas videntes, cegas, de baixa visão, surdas e ouvintes de diferentes idades.
Dessa maneira, optou por trazer a história de amizade entre três crianças vizinhas que se conhecem pelas janelas de suas casas. A personagem Malu descreve o que vê para quem não pode enxergar; já Nina, que é surda, ensina Libras aos colegas; por fim, Cadu aprende a se comunicar por meio de diferentes linguagens.
"O grande desafio foi inserir esses recursos dentro da dramaturgia com poesia. A ideia do espetáculo é ser acessível com uma descrição poética durante todo o espetáculo, feita pelo próprio elenco de forma orgânica", ressalta. A intérprete de Libras foi introduzida como uma das personagens do espetáculo.
A atriz Elizândra Souza, que interpreta a personagem Malu, se sentiu desafiada para estudar Libras e manter a comunicação com a colega de trabalho Mariana Siciliano, mas também para mergulhar no universo da peça. "Algo que me preocupava, no início, era a comunicação com a Mari. Comentamos no início dos ensaios que estudamos inglês, espanhol na escola, por que não estudamos Libras?", indaga.
O espetáculo já passou por 39 cidades. "A importância desse formato que trazemos é justamente para que o máximo de pessoas consigam comungar de um mesmo espaço. Tendo uma experiência teatral que não vai distanciá-las do ator", acrescenta.
Os estudos dos recursos de acessibilidade feitos pelo diretor da peça permitem que, além da aproximação pela linguagem, o público possa interagir em momentos que ensinam sinais em Libras e o processo de autodescrição. "No espetáculo, provocamos as crianças a se autodescreverem e é lindo vê-las responderem com criatividade até chegarem a quem realmente são", comenta Marcos.
Ele acrescenta sobre a necessidade de pensar acessibilidade no teatro: "Quando estou em bate-papos pós-espetáculo ou oficinas, busco multiplicar a linguagem do teatro acessível. A sensibilidade vem da convivência, do simples e dos direitos básicos que só percebemos quando estamos próximos e dispostos a nos sensibilizar".
Espetáculo Da Janela
Quando: sábado, 18, e domingo, 19, às 16 horas
Onde:Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Quanto:R$ 40 (inteira),
e R$ 20 (meia-entrada)
Mais informações: no Instagram @dragaodomar
e @espetaculodajanela
Conheça o espetáculo