Nem sempre a ficção consegue acompanhar o absurdo da vida real e a Netflix acertou em cheio com "Desastre Total".
A ideia central dos documentários, já são nove lançados em 2025 até este texto ser publicado, é revisitar casos verídicos que, à primeira vista, parecem anedóticos ou surreais.
Porém, em muitos casos, escalam para cenários de caos absoluto - alguns marcados por improvisos, outros pelo descaso e, em certos momentos, pela tragédia.
O resultado é uma coletânea com passagens únicas, narrada de maneira envolvente, que mistura o inacreditável com ironia, drama e impacto social.
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O que conecta todos os filmes da série é justamente esse choque entre o improvável e o real. Fatos que poderiam soar como invenção de roteiristas acontecem diante das câmeras e deixam marcas que variam de memes virais a consequências gravíssimas.
As direções e os roteiros combinam capítulos dinâmicos, de cerca de 50 minutos cada, entrevistas com protagonistas, ricas imagens de arquivos, atualizações dos acontecimentos e uma montagem que prende a atenção até o fim.
Em "O Verdadeiro Projeto X", o aniversário de um adolescente virou uma festa monumental, transmitida pelas redes e terminando em destruição de propriedades, intervenção policial e repercussão nacional, exemplo de como a internet potencializa cenários a níveis impensáveis.
"Festival Astroworld" marca o tom mais grave da temporada. A tragédia de 2021, em Houston, durante o show de Travis Scott, deixou 10 mortos e centenas de feridos.
O documentário expõe como as falhas na segurança e na gestão de multidões transformaram um espetáculo em pesadelo coletivo. É um capítulo duro, revelando como euforia e negligência podem ser letais.
Já "Prefeito do Caos" foca na figura de Rob Ford, político canadense que governou Toronto em meio a escândalos de drogas e comportamento errático.
A narrativa mistura política e espetáculo, revelando como a vida pública pode se transformar em um reality show involuntário.
No Cruzeiro do Cocô, o tom volta ao tragicômico. Um navio de luxo que retornava do México para os EUA sofre falhas no sistema sanitário após um incêndio na casa de máquinas e se transforma em manchete mundial: milhares de pessoas presas em alto-mar em condições precárias, com todos os banheiros entupidos e transbordando.
"Garoto do Balão" relembra o caso de 2009, quando um menino desapareceu no mesmo momento em que um balão caseiro levanta voo por acidente, mobilizando a mídia global e equipes de resgate.
A situação escancara como a busca por fama instantânea pode manipular a atenção pública.
"Mães Detetives" mostra mulheres que, diante da ineficácia das autoridades, assumiram o papel de investigar casos de desaparecimentos e crimes, tudo filmado para um reality show.
Mas, depois que uma farsa inacreditável é revelada, a coisa simplesmente desmorona.
Em "Storm Area 51", o ponto de partida é um meme: a ideia de invadir uma misteriosa base militar norte-americana em Nevada, em 2019.
A brincadeira online ganhou dimensões absurdas e movimentou uma multidão para virar um evento real.
Para encerrar, "A Seita da American Apparel" mergulha no colapso da empresa de moda que se dizia progressista e inclusiva, mas que internamente abrigava práticas questionáveis, escândalos de assédio e cultos de personalidade em torno de seu fundador. É um retrato de como a imagem pública, neste caso, com razão, fica arruinada de uma hora pra outra.
Em cada capítulo, "Desastre Total" consegue encontrar equilíbrio: mostra o insólito sem perder a seriedade, expõe as tragédias sem explorar a dor e sempre dá voz a quem esteve no centro das questões. É entretenimento, mas também memória cultural, resgatando episódios que poderiam ter se perdido no noticiário e trazendo-os de volta com criatividade, informação e novas camadas de compreensão.
"Desastre Total"
Onde assistir: Netflix