Nascido em Parambu, no interior do Ceará, o ator Robério Diógenes, que hoje conta com participações em diversas produções, estreará com o filme "O Agente Secreto", do diretor Kleber Mendonça Filho, dia 6 de novembro. Mas, sua trajetória profissional quase seguiu outros percursos.
Robério se mudou aos 12 anos para Fortaleza para estudar no Colégio Militar. "Era o sonho do meu pai eu me tornar militar", conta. Passou os cinco anos do período escolar morando com tios, um período muito complicado para ele se entender como pessoa.
"Aos 12 anos, a gente não sabe o que quer fazer da vida, era um tormento", explica Robério que encontrava refúgio na própria curiosidade. "Eu lia nas bancas de revistas, tinha as coleções sobre teatro, peças que eram publicadas", conta.
Mas a vontade de se aventurar no teatro nasceu ainda no interior do Ceará. Na cidade em que morava no Sertão de Inhamuns, havia um cinema de rua que ele lembra ser similar ao criado por Halder Gomes em "Cine Holliúdy". Robério fez participação nos dois longas-metragens de Cine Holliúdy e relata que se viu quando criança. "Era aquele projetor pequeno que passava os filmes de tiro, filme de kung fu. E não tinha sincronia. Atirava e, dois tempos depois, é que tinha o barulho. Mas fiquei fascinado por aquelas histórias contadas", comenta ele que também foi influenciado pelo circo.
Tudo isso culminou para ele seguir carreira de ator. Porém, como Robério contou na pré-estreia de "O Agente Secreto" no 35º Cine Ceará, o seu período no Colégio Militar se passou nos anos 1970, "em plena ditadura militar".
Por um tempo ele não entendia se o que se passava no País na época era positivo ou negativo, então questionou o professor de históri. "Ele ficou em silêncio um tempo e só me respondeu dizendo que era algo necessário", relembra.
Foi então que ele passou a estudar também na Casa Amarela, equipamento da Universidade Federal do Ceará (UFC). "As pessoas perguntavam o que um menino de escola militar estava fazendo ali, e que eu não duraria muito". Robério explica que já sabia o que queria fazer da vida: estudar teatro.
E foi na Casa Amarela que ele descobriu um curso de Arte Dramática. "Nessa época, eu fiz a peça 'Blue Jeans' e eu enxergava aquilo como minha grande estreia local. Depois disso só me restava ir ao Rio de Janeiro e trabalhar profissionalmente", avalia.
O pai que sonhava com um filho militar e "cabra macho" não foi o maior apoiador de começo. No entanto, ele afirma que o pai nunca o desencorajou e ajudou quando preciso. Robério passou 10 anos morando e trabalhando na capital fluminense. "Não foi fácil. Fiz participações em filmes, novelas e curtas", enumera.
A falta de valorização do trabalho e o preconceito por ser nordestino foram grandes empecilhos nessa época. Tanto que, após uma década, Robério decidiu retornar ao Ceará. Foi a época de investir na produção de comerciais e programas na TV da Assembleia.
"Eu só retornei ao teatro na década de 1990 e não parei mais", conta ele que ficou em cartaz por 10 anos com o espetáculo "Dois por Dois", ao lado da atriz Fabíola Líper. A peça foi exibida até no cinema do shopping Benfica. "Na época, devia estar em cartaz algum filme do Harry Potter ou algo nesse estilo. Mas a fila que dava voltas era a do nosso espetáculo", orgulha-se.
Robério Diógenes está no mercado há um bom tempo, mas percebe que agora, com a atuação em "O Agente Secreto", tem tido mais participações e tempo de tela. "Na época em que estava tendo os testes para o filme 'Bacurau', do Kleber, eu não consegui participar por falta de organização. Quando surgiu essa oportunidade, não pude deixar passar", conta.
No filme que estreia nacionalmente no dia 6 de novembro, Robério interpreta Euclides, o delegado em Recife que é um "grande babaca", em suas palavras. Apoiador da ditadura militar, ele é autoritário e traz profundidade para cenas de tensão.
"Ter ido a Cannes, os vários minutos de aplauso, as críticas positivas, foi muito mágico", conta Robério que, na pré-estreia do filme em Fortaleza, apresentou seu personagem em casa. O pai que estava presente na sessão pode "ver o filho como um cabra macho".
Prospecção na carreira
"Eu sinto que estou vivendo meus maiores personagens", diz Robério sobre Euclides e sobre o seu próximo projeto filmado em paralelo a "O Agente Secreto". Ele explica que, quando se passa meses trabalhando com as mesmas pessoas, nascem os vínculos e elas veem o trabalho e do que você é capaz.
Os montadores do filme de Kleber Mendonça Filho, Matheus Farias e Eduardo Serrano, passaram meses montando o personagem de Robério e vão rodar o primeiro longa-metragem. Ele será um dos personagens. "Quando soube, eu fiz alguns vídeos de teste e eles me convidaram por acompanharem o meu trabalho por esse tempo", celebra.
Ele volta a falar que acredita que as coisas acontecem no seu tempo e que agora ele está começando a colher seus frutos. "Minha prioridade agora é continuar me promovendo. Esse período de turnê de promoção do 'Agente Secreto' foi importante para eu me colocar de fato no cenário nacional", comemora.
Pré-estreia O Agente Secreto
Salas e horários: Ingresso.com