"Uma artista que traz em seu pensamento e seus atos um compromisso, uma ligação com questões sociais, com o respeito e a visibilidade às minorias. Além da afirmação de seu território geográfico e imaginário, fincado no Cariri, no Nordeste", assim se descreve Jord Guedes.
Nascida no Crato, a cantora e compositora traz no currículo muito mais que apresentações por diversos palcos, mas também o desejo de transformar a arte em um espaço democrático e acessível. Na trajetória iniciada em um grupo infantil de coral ainda na cidade natal, Jord desembarcou em Fortaleza já com agenda cheia, integrando o Grupo Seios da Face, na década de 1990, e a banda Maracatu Vigna Vulgaris, no início dos anos 2000.
"Se traçada uma linha do tempo, considero o primeiro evento, visto como marco inicial desse percurso, o show realizado no Festival Vida&Arte, em 2005, até o show que realizei no Cineteatro São Luiz na última semana, comemorando esses 20 anos de carreira", determina ao refletir sobre sua trajetória e afirmar que "são muitos acontecimentos de ordem profissional e pessoal que atravessam esse tempo cronológico".
Considerada sua primeira exibição individual, o momento interligado ao Vida&Arte, realizado no então Centro de Convenções do Ceará, foi a estreia do show "Samba Pra Mário Lago", que teve ainda no Teatro Sesc Emiliano Queiroz e no Centro Cultural Oboé.
Daí, participou de inúmeros eventos que atravessam o Nordeste, marcando presença no Festival de Garanhuns, Mostra Sesc Cariri, Festival Cariri da Canção, Festival de Inverno da Meruoca, ExpoCrato, ManiFesta, Mostra de Música Petrúcio Maia e outros. Formada em Música pela UFC e mestre em História pela Uece, com a dissertação "O Fazer Musical de Rodger Rogério - O Singular e o Plural do Pessoal do Ceará", Jord agregou ambos conhecimentos no show "40 anos de Pessoal do Ceará: Uma Divina Comédia Humana Falando da Vida", apresentado em 2013.
Nesses e em outros projetos, Jord se manteve firme nos caminhos abertos pela música, levando consigo o "compromisso ético-político-social". No que se refere à "verve feminista", por exemplo, ela afirma ser algo que veio "no DNA". "Lembro de mim criança, no Crato, discutindo questões e levantando situações, me contrapondo a comentários machistas, sem nem mesmo saber ou ter ouvido falar no que era feminismo", explica.
Somando-se a outros artistas que admira por ter o "comprometimento com as pautas das minorias, com a igualdade de gênero, racial e o respeito à diversidade", a veia social de Jord Guedes reflete em suas ações e produções desde quando essas temáticas não eram tão debatidas pela sociedade civil. Músicas de sua autoria, como "Maria Barata", "Traços", "Carnavalescamente Livre" e "Sete Mil Léguas", abordam mensagens que dão destaque às vivências femininas.
Ainda na mesma ideia, Jord integrou o coletivo Nós Voz Elas, formado por cantoras, compositoras e instrumentistas cearenses com quem se apresentou em diversos eventos de grande repercussão. "As interações artísticas e os projetos rumaram para esse destaque às mulheres da música, muitas vezes invisibilizadas por diversas questões pertinentes à sociedade patriarcal em que ainda vivemos. Com o Coletivo, nós fizemos vários shows, produzimos um festival de artistas mulheres de várias linguagens e gravamos canções", recorda.
Além da trajetória que completou duas décadas este mês, Jord também comemora seus 52 anos, completados em 16 de outubro. Um dia antes, ela se apresentou no Cineteatro São Luiz num show que contou com participações de Calé Alencar, Joana Angélica, Eliahne Brasileiro e da banda As Ritas.
"Toda essa gente maravilhosa tem um trabalho musical incrível, seja cantando, compondo, tocando, fomentando cultura e atuando na educação musical. São nomes de extrema importância no nosso cenário, com os quais tive a honra de trabalhar em algum momento de minha trajetória", comenta.
O momento realizado no Cineteatro São Luiz também foi marcado pelo lançamento do clipe de "Chapada de Luz", canção que teve gravações realizadas no Sítio Fundão, na cascata e na Trilha do Belmonte, localizadas no Crato; além do Sítio Gritadeira, em Exu, e em locações de Santana do Cariri.
"O clipe, sobretudo, traduz arte, traz o alter-ego de um ser encantado da floresta que assumi, e dentro dessa perspectiva, fala da importância de uma região do ponto de vista dos recursos naturais, e, claro, também culturais", conclui Jord Guedes.