Completar duas décadas de um encontro não é para qualquer um. A banda de rock instrumental Fossil chegou a essa marca graças à "vontade de criar e de continuar estando junto apesar dos percalços", como disse o guitarrista Vitor Cozilos em meio ao ensaio cheio de empolgação da banda para o show de 20 anos no sábado, 25, no Dragão do Mar.
Ao longo desse período, o grupo rodou mais de 50 cidades pelo Brasil e participou de festivais diversos na terra natal, como o Maloca Dragão e o Ceará Music, resistindo não só ao tempo e às agruras da vida de artista independente, mas também à distância, já que alguns dos integrantes vivem em São Paulo e outros em Fortaleza.
Ainda assim, continuar "compondo músicas novas e pensando novos trabalhos" é, para Rudriquix (teclado e percussões), a maior conquista do grupo. "Talvez, no final das contas, os 20 anos sejam a grande conquista da banda, essa longevidade", pontua o músico, que também ressalta as muitas conexões feitas pelo caminho. E o show de 20 anos reflete isso.
Participam do espetáculo os artistas Clau Aniz, Elisa Porto, Clarisse Aires e Juliano Gauche, que faz a abertura do show e deve estar no próximo disco do grupo. "São pessoas que a gente conhece também há muito tempo, se dá bem demais e admira muito elas como instrumentistas", afirma Vitor Cozilos sobre a escolha dos convidados.
Além das participações que aludem à história da banda, o repertório também traz um pouco de cada um dos seus cinco álbuns lançados. Escapando ao desafio de montar um show a partir de uma discografia extensa, o quarteto revisitou todas as suas produções para "escolher as músicas que mais tocaram a gente do passado", conforme Klaus Sena (baixo e sintetizadores).
Entre os trabalhos impossíveis de ficar de fora, Rudriquix destaca o disco "Mocumentário" (2012), indicado a melhor disco de instrumental pela revista Rock Brigade. Além dos álbuns mais antigos da banda, as produções mais recentes - "4" (2021) e "5inco" (2022) -, lançadas durante e pós-pandemia de covid-19, encontram os palcos pela primeira vez.
Pioneira na cena de música instrumental roqueira em Fortaleza, a banda Fossil testemunhou o crescimento de bandas instrumentais no Brasil pelos idos de 2008, quatro anos depois da sua formação. Inicialmente tratada como "banda de abertura" nos festivais da capital cearense, com o tempo, o grupo conquistou maior circulação nos festivais pelo Nordeste.
"Em todos os estilos, existe uma categoria instrumental que eu acho que de fato é pouco divulgada pela grande mídia", declara Klaus Sena. O tecladista Rudriquix aponta que o espaço conquistado tem relação com uma maior aceitação e compreensão da música instrumental.
"A gente escuta o tempo todo música instrumental e não percebe", diz o baixista da banda sobre os filmes, que frequentemente se utilizam da categoria como recurso para contar histórias. "Estar no palco levantando a bandeira da música instrumental é uma coisa de resistência e faz com que mais pessoas percebam que essa música está presente no seu dia a dia", defende Klaus Sena.
Para os próximos 20 anos, eles esperam continuar levantando essa mesma bandeira. "Eu espero que a gente esteja com essa mesma energia, essa amizade, e sempre se reinventando a cada disco, como a gente tem feito, sendo pioneiro em vários aspectos, enfim, fazendo o som que a gente gosta", projeta Victor Bluhm (bateria).
Um integrante, uma memória
Victor Bluhm
"Uma vez a gente tava voltando de Cuiabá e tava tendo uma obra na estrada. O ônibus teve que fazer um desvio e tinha muita lama, era uma pontezinha muito estreita, tudo muito escuro. O ônibus deu uma atolada. Foi muito perrengue, os nossos instrumentos dentro do ônibus, a gente com medo. Foi um percurso bem tenso".
Vitor Cozilos
"A gente tem uma coisa de, quando o show tá muito empolgante, chove. Não que isso seja ruim. No calor do momento, a banda faz chover. Teve um que a gente fez em São Carlos, que choveu e foi virando uma tempestade, com muito vento, e a água começou a chegar nos instrumentos. A gente teve que desligar pra não levar choque. A chuva parou, a galera passou um rodo no chão e a gente voltou a tocar. Com 20 minutos voltou a chover, um pau d'água, e a gente teve que parar de vez. É isso, a força faz chover".
Rudriquix
"A gente foi tocar no Centro Banco do Nordeste em Sousa, na Paraíba. E foi muito massa porque a gente já morava em São Paulo há um tempo e voltou para o Nordeste. Lá em Souza a gente visitou o sítio arqueológico, que tem umas escavações, e ele não estava muito bem financeiramente. A gente pôde ver muitos fósseis (risos) raros que só tem no Nordeste. E foi muito massa esse encontro da banda Fossil com essa história, parece ser muito clichês, mas foi muito legal essa viagem".
Klaus Sena
"Eu comecei na fase que a banda estava morando em São Paulo, em meados de 2010. Uma das minhas grandes surpresas foi que a banda estava tendo uma espécie de patrocínio, que na verdade era um pagamento por ter tido a música sincronizada num vídeo de uma marca. A gente tinha direito de pegar peças de roupa de uma marca bem descolada em São Paulo. Todo mundo renovou guarda-roupa, todos estilosos com roupas novinhas numa época que não estávamos ganhando muito bem em São Paulo. É uma memória afetiva muito feliz".
Show Fossil 20 anos