Em 2004, estreava a novela mexicana "Rubi", sendo exibida no Brasil, no ano seguinte, no canal SBT. A trama narra a história de Rubi (Bárbara Mori), uma mulher que usa a beleza a seu favor e casa com um homem rico. O caráter dúbio da personagem chamou atenção de Ruby Nox, drag queen pernambucana e vencedora da segunda temporada do Drag Race Brasil - reality show brasileiro baseado na série original americana, RuPaul's Drag Race.
A primeira nordestina a vencer o reality gostou tanto da personagem que decidiu guardar o nome para si. "Achava ela, tipo assim, sedutora, sabe?", explica a artista, que está em Fortaleza para o "Come to the Queens", evento realizado na boate Valentina Club, neste sábado, 25.
Natural de Carnaíba, em Pernambuco, Ruby se interessou pela arte drag ainda adolescente quando uma amiga lhe apresentou a franquia RuPaul Drag Race. "Eu sempre falava para mim mesmo que eu queria entrar na décima temporada dos Estados Unidos, que eu ia morar nos Estados Unidos", relembra.
O destino, porém, escreveu a história de um modo distinto. Antes de sequer considerar iniciar na arte, Nox graduou-se como bacharel em Ciências Biológicas na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Enquanto estudava, foi dando seus primeiros passos como drag em Recife, ainda escondida da família, sob a alcunha de Rubia Ziza.
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"Eu fiz drag escondido da minha família durante cinco anos", conta a pernambucana. No período, o núcleo familiar - formado por mãe, irmã e os dois avós - não morava com ela na capital. O grupo havia se mudado do interior para a cidade grande para que Ruby e a irmã tivessem uma educação com maiores acessos.
A artista falou sobre sua trajetória dentro da arte drag em entrevista ao Vida&Arte. Confira!
O POVO - Quando você conheceu a arte drag?
Ruby Nox - Eu conheci a arte drag em 2009, mais ou menos, quando eu fui morar em Recife, né? Eu sou do interior de Pernambuco, de Carnaíba, e uma amiga minha tem um reality show que passa na TV. E me apresentou o Drag Race, né? E estava rolando a segunda temporada americana e eu fiquei apaixonado.
OP - Como você foi construindo essa drag que a gente conhece hoje?
Ruby - Eu sempre fui a Ruby, né? Acabei de adquirir o nome da drag para minha vida social. A Ruby sempre teve ali. Desse brilho, fogo, ser essa coisa meio sedutora.
Mas o nome vem da novela mexicana, porque eu, quando era pequena, adorava a novela. Eu amava a novela mexicana no geral. Só que "Rubi", para mim, tem alguma coisa diferente e eu jurava que a Rubi da novela era a mocinha. Eu não sabia que ela era vilã.
Era o feminino que admirava, era essa a referência da Rubi. Eu trouxe a Rubi e sempre imaginei que esse seria meu "nome feminino", assim, vamos dizer, entre aspas. E acabou que virou meu nome de drag.
OP - Houve algum momento em que você quis desistir?
Ruby - Sempre, até hoje eu penso (risos). Principalmente porque a gente tem uma ideia que a arte é hobby, um hobby eterno, não é trabalho.
Então, é, lidar com sobrevivência, em vez de viver de fato do nosso trabalho, é difícil. Porque eu passei anos, literalmente só sobrevivendo, literalmente contando moedas, porque eu tive épocas que só vivia de show, né? Da noite. Então, tinha meses que eu ganhava R$ 200.
Como é que você paga aluguel, como é que você come, como é que você tem lazer, como é que você tem saúde com R$ 200 no mês? É impossível. Eu tinha que fazer malabarismos para sobreviver de fato.
Hoje em dia, o fato de ter entrado no Drag Race e ter conseguido um pouco mais de conforto no sentido "agora eu ganho um cachê digno", eu consigo ir ao restaurante comer sem ter medo de não ter o dinheiro para pagar. Que eram coisas que aconteciam antes.
OP - Falando sobre o Drag Race, como foi o processo seletivo?
Ruby - Eu sempre falava para mim mesmo que eu queria entrar na décima temporada dos Estados Unidos. Chegou a décima temporada, eu não estava morando nos Estados Unidos, porque eu não tinha dinheiro nem para ir na esquina, quiçá para os Estados Unidos.
E assim, acabou que eu, tipo, adormeci o sonho, e quando veio a temporada para a franquia brasileira, reacendeu o fato de eu querer fazer esse sonho acontecer. Infelizmente, não foi na primeira temporada. As coisas acontecem quando tem que acontecer. E entrei na segunda (temporada), fiquei muito feliz. Eu tinha na minha cabeça eu ia ser a primeira pernambucana a entrar.
Então, foi ótimo, não tenho do que me reclamar. Fiquei muito feliz com toda a trajetória, com todo o programa.
OP - Qual foi a sensação de entrar na Werk Room, a área de preparação do programa, pela primeira vez?
Ruby - Eu estava desesperada. Estava extremamente nervosa naquela hora.
Porque, antes de entrar, a gente tem uma pessoa da produção que fica com a gente, né? No primeiro episódio ninguém se encontra. Porque ninguém se conhece, ninguém sabe quem é o elenco.
Eu sou muito profissional, então, fico aquela linha de que tá tudo certo, mas por dentro o coração tá assim (acelerado). Mas, na entrada, caiu a ficha.
OP - O fim da temporada chegou a ser exibido em Recife com uma transmissão pública na rua. Como foi ver tanta gente abraçando, não só você, mas a arte drag? E como que você percebe a relevância desse movimento?
Ruby - Ai, foi assim, incrível, incrível. Eu fiquei muito, muito, muito feliz da gente ter conseguido não só ter articulado a final, mas ter produzido o "Cabaré da Ruby", ter levado todos os episódios. Fora São Paulo, o único lugar que levou todo elenco foi Recife e com o "Cabaré da Ruby".
Então, isso para mim foi muito potente e chegar na final com a parceria com o poder público. Isso, assim, coloca em outro patamar, porque tinha a Prefeitura de Recife, tinha a deputada Rosa Amorim Mourinho, tinha a vereadora Liana Cirne, enfim, demandou várias relações que são importantíssimas justamente para validação cultural do nosso trabalho, né?
Ruby Nox - "Come to the Queens"