Na alta cúpula do Jogo do Bicho, uma vaga surge após a "aposentadoria" de um dos seus nomes mais influentes. Nas engrenagens dessa disputa, interesses surgem de todos os lados pelo poder e pelo comando. Luxo, ambição e conflitos são apenas alguns dos elementos que se misturam na guerra pelo trono da contravenção.
O cenário? Rio de Janeiro. O que se inicia como uma guerra fria ganha intensidade, envolvendo diferentes famílias do Jogo do Bicho - e um forasteiro que tenta se aproveitar. Esses são ingredientes da nova série de ficção da Netflix, "Os Donos do Jogo". Ao longo de oito episódios, a trama visa "transportar" o público para o interior dos jogos de azar da capital carioca.
Com criação de Heitor Dhalia ("DNA do Crime"), Bruno Passeri e Bernardo Barcellos, a produção estreia na plataforma de streaming nesta quarta-feira, 29. A direção é de Rafael Miranda Fejes, Matias Mariani e de Heitor Dhalia. Na obra, há estrelas como André Lamoglia, Chico Diaz, Giullia Buscaccio, Juliana Paes, Mel Maia e Xamã.
Diretor da produção, Heitor Dhalia teve interesse em abordar o contexto do Jogo do Bicho, em 2022, quando estava filmando outra série. Na época, começou a ser discutida, a partir do Projeto de Lei 2.234/2022, a permissão da operação de cassinos, bingos, jogos online e do próprio Jogo do Bicho.
"Nossa memória e a representação audiovisual estão muito ligadas ao que ocorreu 40 anos atrás. Muitos se lembram das prisões dos bicheiros antigos, da cúpula. Pensei: como está o Jogo do Bicho agora? Veio o insight de fazer uma releitura desse universo a partir da legalização do jogo e entender como estavam seus atores hoje", explica Dhalia em entrevista ao O POVO.
Na pesquisa, surgiram detalhes como guerras de sucessão internas das famílias que geraram guerras entre territórios. "Quando uma estrutura de poder em uma família começa a ruir, são abertos espaços para ataques ou disputas", caracteriza.
O tema se demonstrou "muito rico e atual" no processo de produção. Segundo o cineasta, houve "transformação radical" nesse universo, com outros agentes, novas gerações, "nepo-babies" e novo tipo de dinheiro. Foi a oportunidade, então, de "atualizar o debate sobre um assunto tão querido do audiovisual brasileiro e do País", conforme Dhalia.
A investigação a partir de livros, produções audiovisuais e pesquisa com consultores mostrou que a primeira transformação do Jogo do Bicho veio com a chegada de máquinas eletrônicas programáveis para jogos de azar — popularmente conhecidas como caça-níqueis.
Antes, o jogo era apenas por escrito, e a cúpula não aceitou inicialmente as tais máquinas por considerar irrelevante. A análise mudou quando viu que estava "dando uma fortuna", segundo o diretor. Ao longo dos anos, os métodos do negócio se diversificaram e houve movimentação em direção às bets. Com as engrenagens se encaixando ao longo da pesquisa, foi possível montar o próprio universo audiovisual do jogo.
"É uma história de ficção. Ela se baseia no universo real, mas não conta nenhuma história real. Nenhum personagem que está na série existe", contextualiza. As famílias da trama apresentam peculiaridades, conforme as descrições da Netflix.
Na Família Moraes, Profeta é o nome da vez, visto como estrategista nato e dono de lábia envolvente. Vem de uma família do interior do Rio de Janeiro e é filho de Nélio (Adriano Garib). Seus irmãos são Nelinho (Pedro Lamin) e Esqueleto (Ruan Aguiar). Ele chama a atenção das demais famílias, seja no amor ou no jogo.
Quanto à família Guerra, esta representa a nova geração que busca modernizar o bicho às custas de rivalidade, inclusive entre seus membros. Búfalo (Xamã) assume os negócios da família e é apoiado por sua esposa, Suzana (Giullia Buscaccio). A irmã de Suzana, Mirna Guerra (Mel Maia), tem outros planos para os negócios e não medirá esforços para conquistar o poder.
A família Fernandez é comandada pelo Galego (Chico Diaz) e representa a velha-guarda, com tradições e conquistas. O clã tenta manter o poder a todo custo, com a esposa Leila (Juliana Paes), o filho Santiago (Henrique Barreira) e o irmão Xavier (Otávio Muller), mesmo diante de ameaças.
Há também a família Saad, cujo herdeiro, Renzo (Bruno Mazzeo), aguarda a chance de retomada após ser preso antes mesmo de assumir os negócios da família. Seu tio Marcinho (Tuca Andrada) assume o comando, intermediando as decisões junto à cúpula.
Para a série fluir bem, foi necessária a escolha cuidadosa do elenco. O interesse era em atores que fossem carismáticos, assim como os personagens. "O próprio Jogo do Bicho tem esses personagens exuberantes, com esse pé no popular, mas era também uma nova geração que íamos apresentar", analisa.
A produção aposta no estilo "genuinamente carioca" a partir dos cenários e da representação. Os figurinos, as cores das locações e o caleidoscópio audiovisual destacam a "exuberância" do Rio de Janeiro. Assim, uma oportunidade de concretizar a "máfia tropical".
O gênero de máfia é ressaltado pelo diretor. O "namoro" do Jogo do Bicho com as referências de máfia existe desde os anos 1980, com fascínio por filmes como "O Poderoso Chefão". Segundo Heitor, agentes de segurança consultados para a série afirmaram que o Jogo do Bicho é a "máfia brasileira".
O tema se combina às atuações para incrementar as expectativas de boa audiência por parte dos produtores: "Estamos confiantes que a série vai ter impacto".
Os Donos do Jogo