Logo O POVO+
Artesãs cearenses discutem, ensinam e aprendem crochê e bordado
Vida & Arte

Artesãs cearenses discutem, ensinam e aprendem crochê e bordado

Mulheres de diferentes idades discutem, ensinam e aprendem crochê e bordado, valorizando tradição e liberdade criativa
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-10-2025: Crochês e bordados entre gerações. As fotos foram realizadas no Espaço O Povo, na CasaCor 2025. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-10-2025: Crochês e bordados entre gerações. As fotos foram realizadas no Espaço O Povo, na CasaCor 2025. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

A transmissão de saberes manuais entre gerações vai além da técnica: envolve história e convivência. Crochê e bordado carregam tradições familiares e se renovam a cada novo grupo de idade, revelando como o passado se conecta com o presente através das mãos de quem produz.

INSTAGRAM | Confira noticias, críticas e outros conteúdos no @vidaearteopovo

A Casa Vida&Arte, ambiente dedicado à plataforma de cultura e entretenimento do O POVO na CasaCor Ceará 2025, promoveu um momento para compartilhar experiências. O evento reuniu mulheres de diferentes idades, permitindo observar como a arte manual funciona como elo entre memórias, aprendizados e perspectivas.

LEIA TAMBÉM | Netflix, HBO Max e Disney+: veja lançamentos da semana no streaming

Mais do que ensinar ou aprender uma técnica, o compartilhamento dessas práticas é uma forma de socialização. Cada erro, acerto e criação contribui para a construção de vínculos e memórias coletivas. Ao longo do tempo, crochê e bordado deixaram de ser apenas "prendas do lar" para se tornarem expressões artísticas, ferramentas de cuidado pessoal e, em alguns casos, meios de geração de renda.

Ao chegar à CasaCor Ceará, meu receio era que as participantes se mantivessem reservadas, evitando interação. Logo nos primeiros minutos, o medo desapareceu: o diálogo fluiu natural mente, permeado por troca sobre trabalhos manuais.

Eu, repórter, acompanhei discretamente, registrando a dinâmica enquanto falavam sobre como aprendem, produzem e adquirem suas peças. Maria Coelho, 54 anos, ex-analista ambiental que se dedica integralmente ao artesanato, relatou seu início nas práticas aos 12 anos, quando aprendeu crochê. Ela descreve o processo com atenção aos detalhes: "A primeira peça que fiz ainda uso hoje. É algo que carrega um propósito". "Não dou prazo nas minhas peças, mas sei que preciso pagar as contas. Às vezes, começo duas ou três peças ao mesmo tempo, cada uma no seu tempo".

Marlem Leitão, 61 anos, professora aposentada, rememora a infância e o aprendizado com familiares: "Eu tinha uma tia que não gostava que pegasse nas coisas dela. Eu tinha 9 anos e pegava o material da minha avó escondido para treinar, depois guardava tudo", recorda.

Ela ressaltou o rigor que mantém ao criar: "Se faltar ou sobrar um ponto, não consigo deixar. Sempre volto e refaço. É a precisão que me atrai". Marlem integra o grupo Rede Estrela, que se reúne semanalmente para bordar, trocar ideias e fortalecer vínculos. "Temos mulheres de 60 anos ou mais que precisam de um espaço para socializar. O grupo funciona como um encontro de convivência; o crochê é apenas o pretexto", explica.

Ana Cristina Araújo, 59 anos, compartilhou histórias de aprendizagem e reconstrução de peças: "Já desmanchei trabalhos inteiros, às vezes no terceiro ponto, para refazer. É um processo de paciência e atenção que se mantém ao longo dos anos". Ela também enfatizou a flexibilidade do bordado livre: "No ponto cruz, se errar, perdeu. No bordado livre, você acolhe o erro, segue, ajusta, sem perder o efeito final", pontua a artesã.

Teresa Queirós, 62 anos, psicóloga, se aproximou das atividades manuais a partir da pintura e da costura, antes de descobrir o bordado livre. Ela contextualiza: "Na minha família, o bordado estava ligado às prendas do lar. Hoje, ele é expressão artística, política e cultural, e também pode gerar renda". Sobre os efeitos no bem-estar, afirma: "Bordando, fico concentrada no presente".

Bia Mourão, 25 anos, artista visual, trouxe o olhar contemporâneo ao grupo. Aprendeu crochê ainda criança em Nova Russas e hoje combina técnica com liberdade. "Não conto pontos. Começo com um e termino com outro. Essa liberdade me permite acessar algo mais interno, intuitivo".

Sofia Matos, a caçula do grupo, 19 anos, estudante de Publicidade e Propaganda, representa a nova geração. Começou a produzir bolsas em 2024 como válvula de escape da ansiedade antes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Sempre admirei minha mãe, que me ensinou. O crochê me trouxe orgulho e uma forma de organizar o dia", explica a jovem.

 

Arte para celebrar

O encontro revelou perspectivas sobre o valor do artesanato. Teresa comentou sobre a entrada no mercado artístico: "Quem entra pelo viés da arte consegue cobrar pelo tempo investido. Tempo é luxo e moeda hoje. Há quem venda peças decorativas por valores baixos, mas também há artistas que precificam alto pelo conceito e pela técnica".

Entre todas, houve consenso de que a prática manual exige concentração e disciplina, mas permite liberdade criativa. Sofia observou: "Aprendi sobre a diversidade de técnicas e fiquei impressionada com a rapidez de produção de algumas peças".

As participantes foram convidadas especiais do O POVO para participar do momento na Casa Vida&Arte, ambiente sediado na CasaCor Ceará 2025. O primeiro tema foi justamente o que une todas elas: crochê e bordado. O diálogo manteve-se focado em como aprendem, desenvolvem, corrigem erros e compartilham técnicas.

As falas alternavam entre lembranças de infância, saberes de professores e familiares, e reflexões sobre processos. Entre risos, relatos de erros desmanchados e explicações sobre técnicas, ficou evidente que cada ponto é mais que um gesto: é aprendizado e conexão.

 

CasaCor 2025

  • Quando: visitação até domingo, 16 de novembro
  • Horário: terça-feira a sábado, das 16h às 22 horas; domingos, das 15h às 21 horas
  • Onde: Rua Tibúrcio Cavalcante, 607 - Meireles
  • Quanto: R$ 48 (meia-entrada) e R$ 96 (inteira)
  • Mais informações: no Instagram @casacorceara

 

O que você achou desse conteúdo?