Irreverente, sensível, inteligente, herói, nobre e moleque com humor: esses foram os adjetivos mais ouvidos pela reportagem quando citou o nome de Augusto Bonequeiro, mestre da cultura popular do Ceará que morreu na terça-feira, 4.
O velório é realizado nesta quarta-feira, 5, a partir das 14 horas, no Centro de Velório Afagu Sul. A cerimônia de corpo presente vai acontecer na quinta-feira, 6, às 9h30min.
Augusto César Barreto de Oliveira morreu aos 74 anos, após 12 anos convivendo com o diagnóstico de Parkinson. A notícia de seu óbito foi recebida com pesar pelos humoristas do Estado e apreciadores da cultura popular. Conforme o jornalista e produtor Tarcisio Matos destacou em entrevista à rádio O POVO/CBN, ele era "um pernambucano que se fez aqui na molecagem do Ceará", sendo lembrando por diversas gerações como uma das figuras mais emblemáticas da TV e dos palcos.
Ricardo Cesar, conhecido artisticamente como Magrelson, conta que Bonequeiro está no seu coração como um gênio e herói da cultura. A escrita ácida do mestre marcou a sua juventude e influenciou a trajetória como artista independente.
"Augusto sempre teve esse talento de converter situações do cotidiano em sátiras criativas. Ele e outros artistas da época faziam isso muito bem. Eu nem gosto de chamá-lo somente de humorista, porque ele era um multiartista — um verdadeiro gênio", relata.
Em 2024, um grupo de 12 comediantes se juntaram em prol de arrecadar recursos para os cuidados do artista. O show recebeu nomes como Luana do Crato, Titela, Mastrogilda e foi organizado por Lailtinho, que diz sentir com profunda dor a partida do amigo.
"O Augusto conseguiu algo que não existe em qualquer ventríloquo do mundo: o boneco dele tinha vida própria. O Fuleragem contava piadas, interagia com o público, era politicamente incorreto, provocava a plateia, discutia, não respeitava o 'pai'. Com cinco minutos de show, ninguém mais via o Augusto", celebra o humorista, emocionado, que relembra as várias vezes que levou o amigo para dividir o palco no seu show.
Para Luciano Lopes, autor da personagem Luana do Crato, Bonequeiro era uma referência de genialidade para quem tentava carreira no humor. "O Boneco Fuleragem nos levava para um mundo de reflexão com um texto bem construído e que trazia não só piadas, mas também uma grande crítica social", destaca.
Já Titela, que estabeleceu carreira no humor com ajuda de Augusto, destaca que o mestre era um "verdadeiro gentleman", que sempre apoiou os amigos de profissão. "A gente sabe que, nesse meio artístico, existe muita confusão, fofoca, picuinha… mas você não vai encontrar ninguém, absolutamente ninguém, do meio humorístico, que tenha algo ruim para falar do Augusto", aponta.
"Ele não tinha medo nem receio de dividir o palco com ninguém; pelo contrário, estava sempre disposto a ajudar. Foi ele quem me deu a primeira oportunidade", complementa.
Augusto Bonequeiro costumava receber amigos em sua casa, onde guardava seu grande tesouro: a coleção de bonecos feitos à mão — como o próprio Fuleragem e outros que se consagraram em programas de TV como "Bodega do Encrenca", "A Hora da Chibata" e "H".
"Ele tinha uma coleção com mais de 20 bonecos, cada um com uma personalidade própria. Quando foi para televisão, a TV o projetou para o mundo. Ele inspirou várias gerações com seu humor — um humor inteligente, de piadas curtas, intercaladas com os diálogos que fazia com o Fuleragem", relembra Tarcísio Matos.
O humorista Moises Loureiro destaca uma cena vivida com Augusto: "Ele apontou para o espelho. Disse que não teve muitas referências, que precisou olhar para si mesmo e ensaiar. E ele ensaiava. Todos os dias. Com mais de quatro décadas de estrada, seguia ensaiando como se fosse um estreante. Levava o palco a sério e tinha no seu ofício uma missão divina e de vida".
Na lista das dezenas de artistas que Bonequeiro impactou com seu trabalho, está Aurineide Camurupim, personagem de Luiz Antônio Costa: "Ele sabia conduzir tudo com muita inteligência, humor e sensibilidade. Era uma grande inspiração para mim, porque quando comecei a minha carreira, ele já era um artista consolidado".
Andreisson Quintela, atual presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, defende que o nome do seu amigo seja eternizado como equipamento cultural do Ceará a fim preservar a memória dos artistas bonequeiros.
"O falecimento do nosso grande mestre Augusto Bonequeiro nos lembra da urgência dessa causa: precisamos reivindicar, junto ao poder público, um espaço que leve o seu nome — Centro de Referência Mestre Augusto Bonequeiro — onde possam ser guardados e estudados seus materiais, acervos, revistas, jornais e textos", defende o artista.
Para esta homenagem, publicada no Vida&Arte, não faltaram amigos e fãs com vontade de falar sobre o Bonequeiro. O artista conquistou a todos com seu talento e grande coração. Sobre o legado deixado pelo mestre, Andreisson sintetiza: "Eterno, pulsante e vivo".