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Premiado solo autobiográfico é apresentado no Cineteatro São Luiz
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Premiado solo autobiográfico é apresentado no Cineteatro São Luiz

Premiado solo autobiográfico que discorre sobre relação entre atriz indígena e sua mãe é apresentado no Cineteatro São Luiz neste fim de semana
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Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo
Foto: Jéssica Lima/Divulgação Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo "Azira'i" é apresentado em Fortaleza

Das tantas descrições possíveis à peça “Azira’I”, “musical de memórias” se encaixa bem para abraçar seus sentidos. A ela, são acrescentadas características como ancestralidade indígena, conexão e homenagem. Ao público, cabe a emoção e a compreensão de apreender suas mensagens.

Solo autobiográfico premiado, “Azira’I” apresenta a relação entre a atriz Zahy Tentehar e sua mãe, Azira'i Tentehar, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão. O espetáculo é interpretado em Fortaleza nesta sexta-feira, 7, e neste sábado, 8, no Cineteatro São Luiz, às 19 horas.

Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo "Azira'i" é apresentado em Fortaleza(Foto: Daniel Barboza/Divulgação)
Foto: Daniel Barboza/Divulgação Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo "Azira'i" é apresentado em Fortaleza

Os ingressos estão à venda por valores a partir de R$ 40 e podem ser adquiridos na plataforma Sympla e na bilheteria do São Luiz. Dirigido por Denise Stutz e Duda Rios, o trabalho é produzido pela Sarau Cultura Brasileira e apresentado pela Petrobras. Premiada, a peça rodou por festivais Brasil afora, sendo apresentada também em outros países.

“Azira’i” celebra a memória, a tradição e a identidade indígena. Nele, Zahy Tentehar apresenta a história de Azira’i, mulher sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Enquanto pajé suprema, usava as plantas, a mão e o canto para a cura.

Ao gerar e criar a filha nesta aldeia, deixou para ela seu legado espiritual. Ao longo da jornada como artista, Zahy transformou o canto em uma de suas expressões. No espetáculo, ela canta lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas pela atriz com Duda Rios, sob a direção musical de Elísio Freitas.

O processo de criação da montagem se iniciou em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conheceram no elenco da peça “Macunaíma”. Ele se surpreendia com as histórias contadas por Zahy e ali surgiu a semente de criar um espetáculo baseado na vivência da atriz indígena. Azira’i faleceu em 2021, quando o espetáculo ainda estava em construção.

Após consolidada, a obra integrou programações de diferentes festivais, entre eles o Festival Internacional de Teatro de Rio Preto (FIT Rio Preto) em 2024, acompanhado in loco pelo Vida&Arte. Na ocasião, este repórter conseguiu assistir ao espetáculo que será recebido por Fortaleza neste fim de semana.

Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo "Azira'i" é apresentado em Fortaleza(Foto: Daniel Barboza/Divulgação)
Foto: Daniel Barboza/Divulgação Estrelado por Zahy Tentehar, espetáculo "Azira'i" é apresentado em Fortaleza

Logo de cara, a plateia se depara com cena na qual Zahy fala em Ze’eng eté, sua língua materna. A partir disso, constrói comunicação sobre suas origens, até passar a falar, então, a “língua alienígena” — o português. A atriz alterna entre as línguas, ambientando o espectador sobre sua rotina, o local onde vivia e introduzindo a relação com a mãe.

No centro do debate, o trabalho discorre sobre processos de aculturamento aos quais ambas foram submetidas ao longo da vida. Episódios como os registros de nomes indígenas negados no cartório e as horas de caminhada diárias de Zahy para ir à escola a partir da influência do pai, que não nasceu em Cana Brava, são citados.

No espetáculo, Zahy compartilha os ensinamentos de sua mãe, mas também expõe ‘sombras’ da relação entre as duas. Esse relacionamento ocorre em um contexto conflituoso, no interior nordestino extremamente patriarcal e em uma cultura tensionada entre a preservação de seus valores ancestrais e a absorção de dinâmicas de um sistema de civilização globalizado.

Por mais que tenha escolhido Zahy para herdar os dons de pajelança, Azira’i também descarrega nela as frustrações de existir em um ambiente colonial e opressor. Ao alternar entre o humor e o drama, a atriz envolve a plateia na realidade de um relacionamento complexo entre duas mulheres distintas, mas que estão conectadas para sempre.

A peça também é marcada pelo uso aprimorado de iluminação, o que não à toa lhe concedeu o Prêmio Shell 2023 de Melhor Iluminação. Destaque também para projeções do multiartista Batman Zavareze. O espetáculo deu a Zahy o prêmio de Melhor Atriz, tornando-a a primeira indígena a conquistá-lo.

‘Azira’i’ é preenchido pela música em diferentes momentos, desde citações à banda de forró Magníficos à apresentação de lamentos e cantos ensinados pela mãe de Zahy. Ao fim, uma belíssima homenagem e importantes reflexões sobre aculturamento e preservação da ancestralidade.

Azira'i

  • Quando: sexta-feira, 7, e sábado, 8, às 19 horas
  • Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
  • Quanto: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia); R$ 42 (ingresso promocional na plateia superior) e R$ 40 (funcionários Petrobrás, mediante apresentação do crachá funcional)
  • Vendas: Sympla e bilheteria do São Luiz

 

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