Banho de Sol, Bermudas, Falsa Memória, Luz da Lua, Massa Fantasma, Ninguém de Lá, Último Reino. Entre risadas, Caio Evangelista (baixo e voz), Nicholas Magalhães (bateria e voz) e Rafael Martins (guitarra e voz) revisitam os nomes que cogitaram e que poderiam ter intitulado o trio.
“Tinha um que era Honra ao Mérito, mas era só pra gente ficar rindo mesmo”, conta o guitarrista. Entre a imensidão de possibilidades e o prazo cada vez mais próximo, Cor dos Olhos acabou se destacando. “Começamos primeiro a ver como soava ‘Cor dos Olhos’. Depois a gente se vê nesse nome, um nome formado por três palavras. Começamos a achar vários significados metafóricos em cima do que a gente tá vivendo, em cima do som que a gente tá produzindo”, explica Caio.
Caio, Nicholas e Rafael se preparam para se apresentar no Festival Zepelim, que acontece neste sábado, 15, no Marina Park Hotel, em Fortaleza. O trio cearense se apresenta pela primeira vez no palco do festival, em um show que integra a turnê do seu primeiro álbum e que recebe o mesmo nome do grupo.
A escolha de uma identidade própria foi apenas um dos desafios que o trio precisou enfrentar em meio a ruptura do quarteto que formavam junto ao cantor Gabriel Aragão, a banda fortalezense de rock alternativo Selvagens à Procura de Lei. A dissolução da então formação dos “Selvagens” – como eram mais conhecidos – aconteceu em julho de 2024, após desentendimentos entre os artistas.
“Desde os primeiros atritos, no sentido determinante de romper relações, a gente foi muito fiel à nossa união”, afirma Caio, “eu acho que passamos por muitas coisas juntos e nossa decisão foi de seguir juntos. A partir do momento que a gente tomou essa decisão foi que houve a ruptura unilateral. Decidimos seguir mantendo as nossas convicções, o que molda o nosso trabalho”.
O álbum de estreia do grupo, “Cor dos Olhos”, foi lançado no final de julho, após dois singles com três músicas cada. Produzido por Luigi Sucena, amigo e fã do trabalho do trio, o disco conta com composições inéditas feitas em conjunto com todos os membros, e com parceria de Juno Castro nas músicas “Rouxinol” e “Banho de Rosas”.
Rafael explica a elaboração das letras como um processo democrático, “um compõe uma música e traz, e aí a gente pode ou não evoluir essa composição. Todo mundo vai botando a mão e dando pitaco, mas também respeitando a origem e o que o compositor quis trazer”.
O guitarrista conta também que muitas das novas letras foram “tiradas da gaveta”. “Eu tinha algumas músicas na gaveta. O Caio tinha várias composições que também nunca foram gravadas. Tudo isso virou a Cor dos Olhos”.
Entretanto, somente isso não refletia o desejo do grupo de se reinventar e, ao mesmo tempo, não se repetir. “A gente não pode negar quem a gente é, as nossas referências e tudo. Ninguém vai mudar do dia para a noite também, mas a gente buscou um caminho diferente. Fomos reaprender a tocar junto dessa forma”, declarou o guitarrista.
Agora como um trio, era necessário realocar as vozes e os instrumentos. Para Rafael, além da sintonia ser diferente, uma formação composta somente por três pessoas “acaba aumentando a responsabilidade para cada músico”.
O produtor, Luigi Sucena, foi uma peça chave no processo para o trio se redescobrir dentro de um novo som e formato. Ao somar o instrumental – querido pelos três – com beats e efeitos digitais, o produtor transformou a ideia em realidade. “O Luigi é um cara que tem uma energia massa e que ia somar bastante no lugar que a gente tava querendo chegar com o nosso som, de trazer novas referências, um garoto novo”, afirmou Caio.
Apesar das dificuldades de se apresentar como uma novidade, a possibilidade de novos ares reaproximou Caio, Nicholas e Rafael e resgatou uma energia para criar, coisas que sentiam que estavam adormecidas há um tempo. Caio completa afirmando que esse processo também serviu para reafirmar vários valores e crenças que estavam em cheque. “A gente conseguiu chegar em um lugar de união, de foco, de determinação para conseguir realizar tudo que a gente tem para realizar. As coisas, obviamente, por ser um projeto novo, são mais difíceis de serem realizadas, mas também é muito mais gratificante. Essa comunhão entre nós três foi o melhor que aconteceu.”
Em agosto, logo em seguida ao lançamento do álbum, a banda se lançou em uma turnê pelo Brasil. Passando por capitais como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Belém, Manaus, Recife e João Pessoa, o grupo se jogou no mundo “para sentir o termômetro” e se arriscou ao apresentarem como uma novidade, “e graças a Deus a gente pôde ir voltar muito satisfeitos de tudo”, conta o baterista Nicholas. “Somos uma banda nova, o que nos dá energia é justamente saber que a música tá sendo muito bem recepcionada. As pessoas estão gostando, pessoas que nem sabem da nossa carreira nos selvagens, mas que estão conhecendo a Cor dos Olhos e contando essa nova história”, diz.
O próximo passo da turnê é um show na cidade natal dos artistas, em um palco que se apresentaram em 2022, porém atrelados à antiga banda. Trazendo o ritmo do indie rock e do rock alternativo, porém agora como Cor dos Olhos, o trio enfrenta o frio na barriga de todo iniciante ao se apresentar no Festival Zepelim. Os três se orgulham de alcançar esse objetivo com menos de um ano de formação e prometem ao público entregar um show animado, que celebra um recomeço. Caio afirma que o público pode esperar o melhor da carreira dos três, com um repertório que inclui a melhor face do novo disco, assim como, resgata algumas composições dos selvagens, porém com um toque diferente. rafael completa afirmando: “tocar na nossa cidade, em um palco desses com muita visibilidade, vai ser como reviver o início. Vai ser muito bom”.
Cor dos Olhos