Em 2011, a música brasileira recebia "Canções de Apartamento", álbum que apresentou o lirismo agridoce de Cícero Rosa Lins com faixas como "Vagalumes Cegos".
Catorze anos depois, em agosto de 2025, o cantor lançou o sétimo álbum de estúdio, intitulado "Uma Onda em Pedaços". O disco flerta com ritmos como rap e forró, sem perder a influência da bossa nova e do jazz, e integra repertório do show que acontece nesta sexta-feira, 21, no Theatro José de Alencar (TJA).
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Este é o primeiro trabalho do artista após o hiato pandêmico e o único dentro de sua discografia com canções em inglês e parcerias musicais. A capa traz o compositor vestido em tons pastéis, cercado de destroços. A imagem reflete o estado de espírito do cantor desde 2020.
"O processo do álbum foi de realmente recolher os pedaços desse momento difícil que foi a pandemia até agora, de total fragmentação e reconstrução dos cacos. A pandemia me fez um pouco mais humilde nesse aspecto, de entender que as circunstâncias são mais fortes que os planos", explica.
Como inspiração e antídoto, o compositor se afeiçoou por tudo nesses últimos cinco anos: faixas de Carnaval, músicas de botecos, álbuns afetivos da infância e produções recentes de colegas de profissão.
O bolo de inspirações lhe serviu para experimentar também por meio de parcerias, algo pouco recorrente dentro do trabalho solo desde que deixou a extinta banda Alice.
Entre as faixas, "Dia Vai" convida a cantora Tori em meio a arranjos de sanfona. Já "Sem Dormir" junta Cícero com a pernambucana Duda Beat, em faixa que conta com batida de Tomás Tróia. E, por fim, "Tranquilo" chama o arranjista e baixista do álbum, Vovô Bebê, para uma faixa experimental e nada tranquila, que rejeita palavras e faz uso apenas de murmúrios.
"Os feats vieram de relações pessoais, a Duda e o Vovô são pessoas que eu conheço há anos, são grandes amigos. A música da Duda eu fiz pensando para ela cantar, enquanto a do Vovô fizemos durante a produção do disco. A Tori eu vi cantando na internet, e quando fiz 'Dia Vai', fiquei pensando que precisava de uma voz que ilustrasse algo ali. O timbre dela me veio de pronto", conta.
Emergente nos anos 2000, Cícero foi designado à alcunha de independente ao lado de artistas como Letrux, Céu e Boogarins.
Com métodos e lógicas de produção musical mais simplistas, o carioca acredita que toda mídia, quando chega, traz consigo uma nova geração e, conjuntamente, outras formas de pensar.
"A internet trouxe outra geração, que é a minha. Os paradigmas da internet são outros, a independência é mais uma questão mental do que estrutural ou mercadológica, porque, no fim, as big techs tomam conta. Somos todos dependentes dessas grandes corporações que são donas das redes sociais onde as coisas acontecem. A independência migrou de lugar, mas continua existindo, é uma forma de pensar os dados e números", defende.
Se de 2011 até 2020 o cantor lançou cinco álbuns, no pós-pandemia Cícero afirma rever o conceito de temporalidade.
"A geração de agora tem uma relação com o tempo diferente da minha, que é diferente da dos meus pais. Por ter o processo artístico como ofício, me coloco sempre tentando entender a contemporaneidade e percebo que as coisas são mais apressadas hoje. Mas acho que existem arcos de tempo. Dá para fazer um disco em uma semana ou em 10 anos, e vão ser discos diferentes. Tenho planos de fazer os dois em paralelo, como várias abas abertas", reflete.
Após temporadas por São Paulo, Estados Unidos e Portugal, Cícero juntou seus pedaços agora no topo de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Conectado com as cidades por onde passa, o cantor rememora a relação com o Ceará.
"Lembro das minhas primeiras lembranças de vida com músicas do Belchior e do Fagner. Um pouco depois comecei a ouvir Cidadão Instigado, sobretudo o disco 'Fortaleza'. Reconheço a estética da música do Ceará como uma personalidade própria. É uma coisa de ouvir e perceber um DNA, como se fosse uma paleta de cor, de umidade, de temperatura, de ponto de vista, de senso estético muito nítido para mim", relata.
Diferente da última passagem pela capital cearense em 2023, quando apresentou a turnê voz e violão "Concerto 1", Cícero retorna aos palcos com banda completa. "Me sinto mais instigado a poder fazer coisas diferentes, a não ficar preso em sempre fazer a mesma coisa. E o público também se instiga em explorar o senso estético em diferentes configurações", antecipa.
Cícero em Fortaleza
Quando: sexta-feira, 21, às 20 horas
Onde: Theatro José de Alencar (R. Liberato Barroso, 525 - Centro)
Quanto: R$70 (meia-entrada) e R$140 (inteira)
Mais informações: @tja.theatrojosedealencar e @cicerorosalins