Nesta sexta-feira, 21, encerra-se, após 12 dias, a COP30, a Conferência do Clima mundial que foi sediada em Belém.

Enquanto delegados e representantes internacionais precisaram adentrar o Pavilhão Pará Municípios para saborear pratos como maniçoba, pato no tucupi, Tacacá e o Arroz Paraense, em Fortaleza, a gastronomia de raízes amazônicas já tem êxito desde os anos 2000.

Se antes os estabelecimentos paraenses eram ocupados por descendentes ou imigrantes da maior região territorial do Brasil, hoje, os insumos e receitas caíram no gosto popular, passando a integrar cardápios de bares, botecos e até a ganhar noites temáticas em restaurantes fortalezenses.

Para além do Tacacá, que ganhou repercussão nacional em 2023 com a volta do hit “Voando para o Pará”, de Joelma, a culinária se baseia em peixes de rio como pirarucu, tambaqui e filhote, que respeitam a biodiversidade e a ancestralidade da região.

Para além de casas familiares que mantêm a tradição mesmo distantes de sua terra, o Vida&Arte adentrou as cozinhas de bares e restaurantes em Fortaleza que têm ressignificado o frescor dos temperos paraenses em seus cardápios.

Delícias do Pará

Há 18 anos, no bairro Papicu, Ronaldo e Irani fundaram o Delícias do Pará como uma necessidade de sobrevivência ao chegar ao Ceará.

Natural de Alenquer, na região do Baixo Amazonas, após trabalhar dois anos com o transporte de peixes de Belém para Fortaleza, Ronaldo se deu conta da lacuna no mercado de um restaurante que propagasse a culinária paraense raiz.

Antes da façanha, Ronaldo trabalhou por anos com transporte de peixes, levando pargo, pirarucu, tambaqui e filhote direto de Belém para Fortaleza. Hoje, ele mudou a ótica e se sente muito mais próximo de sua cultura ao oferecer diretamente esses insumos frescos para a clientela.

“Recebo semanalmente, via terrestre, todos os ingredientes diretamente do Ver-o-Peso, o nosso mercado público que é considerado a maior feira ao ar livre da América Latina. Temos uma logística hoje que nos permite ter os produtos frescos semanalmente”.

Como carro-chefe, a casa oferece um menu degustação com porções pequenas, de 180g a 200g. Com vatapá, caruru, maniçoba, tacacá, arroz paraense, pato no tucupi, pirão e arroz branco, a opção custa entre R$ 100 e R$ 120 e serve de duas a três pessoas.

“Optamos por permanecer no que é raiz, pois os clientes que vêm aqui ou são nativos que querem matar a saudade, ou pessoas que não conhecem e querem ter uma experiência autêntica”, conta.

Com clientes fidelizados desde 2007, Ronaldo afirma que diariamente recebe ao menos uma pessoa nova que não conhecia a casa.

“Sinto que a culinária paraense está caindo no gosto não só do cearense, mas do brasileiro e da América Latina em geral. O uso de insumos como a erva chicória ou a planta de jambu faz com que os pratos tenham um sabor, uma intensidade e uma harmonização muito única. O jambu, inclusive, traz em sua dormência propriedades analgésicas e serve como um expectorante natural”, observa.

Quando: de terça-feira a domingo, das 11h às 21 horas

Onde: Rua Paschoal de Castro Alves, 741 - Papicu

Mais informações: @delicias_do_para

 

Sabbar - Bar de Tapas

Aos 33 anos e após anos de experiência na advocacia, a gastronomia apareceu como um possível caminho para Daniel Sabbar na pandemia. Natural de Belém, o paraense se mudou para Fortaleza em 2020 e, após se aprimorar em cursos, surgiu em 2023 o Sabbar, um bar de tapas inspirado no modelo de pequenas e variadas porções da Espanha.

Sempre afeito aos temperos de sua região natal, e com alguns pratos no cardápio que já seguiam essa tendência, foi em 2024 que Daniel criou o Almoço Paraense, servindo então tapas amazônicas.

“Depois de um tempo aqui, comecei a acordar no domingo com vontade de comer comida do Pará, desejando uma maniçoba, um pato no tucupi. A gente tem uma relação com a comida muito intrínseca, então acho que o que me motivou mais foi a saudade de casa e a vontade de mostrar para as pessoas um pouquinho da minha terra”, explica.

Como principal carro-chefe, ele cita as iscas de pirarucu empanadas em massa de tempurá e o famoso filhote na brasa, que acompanha feijão manteiguinha, banana-da-terra e farinha crocante.

“Eu acredito que se tem um preconceito muito grande com peixe de rio em cidades litorâneas, onde basicamente se comem peixes de criadouro. Quis mostrar então peixes como o filhote e o pirarucu e tentar levar para os clientes a forma mais tradicional de consumir esses peixes do rio. O filhote somente selado na brasa já serve para mudar sua perspectiva e sentir o sabor”, afirma.

Com olho na contemporaneidade, Daniel não deixa de pensar em formas de experimentação que misturem o tradicional com sabores inventivos.

“Um prato que adoro nessa vertente é o mexilhão como uma releitura amazônica. Substituo o vinagre por uma redução de tucupi para trazer esse toque regional. A base do prato é uma emulsão de tomate pelado, em que cozinho os mexilhões nesse molho e finalizo com creme azedo. Por fim, acrescento o furikake de piracuí, uma farofinha feita de flocos de peixe que intensifica o sabor”, detalha.

Usando a mesma cumbuca que é comumente associada ao consumo de tacacá, o Sabbar também apresenta drinks autorais que fazem uso da dormência da cachaça de jambu para contrastar com os pratos, como o Jambu Sour e o Jambu Mule.

Quando: de terça-feira a quinta-feira, das 17h à meia-noite; sexta-feira e sábado, das 17h à 1 hora

Onde:  Av. Dom Luís, 1085 - Meireles

Mais informações: @sabbardetapas

 

Mormaço Bar

 

Criado em 2019, o Mormaço surgiu da fusão entre o paraense Júnior e Priscila, uma cearense apaixonada pela região.

Hoje, consagrado como um dos bares efervescentes da cidade, além da caipirinha de jambu e dos tradicionais shots da bebida que provoca dormência, no cardápio, a casa localizada na rua Isaac Meyer traz insumos e formas de preparo paraenses como um dos pilares da gastronomia.

“Temos o Tacopi, um taco recheado com porco e redução de tucupi que traduz perfeitamente o encontro entre as duas culinárias. Em seguida, o caldinho de tucupi apresenta a alma paraense em formato de petisco. Por fim, o filhote com fritas, peixe emblemático da região, chega à mesa de forma descomplicada, ao estilo boteco”,  pontua Júnior.

Carregando o Pará consigo nas técnicas, no repertório afetivo, na escolha das músicas e até na proposta do espaço, o chef e proprietário afirma observar um movimento crescente no Estado.

“A culinária paraense vem ganhando destaque no Ceará, seja pela curiosidade do público, seja pelo reconhecimento da riqueza dos ingredientes amazônicos. Esse movimento revela que as pessoas estão mais abertas a experimentar novos sabores e a buscar experiências autênticas. Aqui, a gente acredita que essa mistura pode ser natural, criativa e cheia de identidade”, ressalta.

Quando: segunda, quarta e quinta-feira, das 18h à meia-noite; sexta-feira e sábado, das 18h à 1 hora

Onde: Rua Isac Meyer, 345 - Aldeota

Mais informações: @mormacobar

 

Soul do Pará

Quando: de terça-feira a sábado, das 17h30 às 22 horas

Onde: R. dos Tabajaras, 629 - Praia de Iracema

Mais informações: @souldopara_