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Cynthia Erivo e Ariana Grande retornam em boa continuação de 'Wicked'
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Cynthia Erivo e Ariana Grande retornam em boa continuação de 'Wicked'

"Wicked Parte 2" chega aos cinemas brasileiros com narrativa sobre conservadorismo e amizade
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wicked filme (Foto: tmdb)
Foto: tmdb wicked filme

“Toda Oz em alerta”, é o que canta a letra de “Everyday More Wicked”, uma das primeiras músicas de “Wicked Parte 2”, que estreou em todos os cinemas na última semana. E de fato, essa é a atmosfera da sequência de “Wicked” (2018).

Elphaba (Cynthia Erivo) está empenhada em garantir os direitos dos animais em Oz, enquanto Glinda (Ariana Grande) está vivendo seu sonho: ser adorada por todos os ozianos e se tornar noiva de Fiyero (Jonathan Bailey), ainda que tenha que servir aos interesses do Mágico (Jeff Goldblum) e de Madame Morrible (Michelle Yeoh) para tal.

Pode parecer muita informação porque realmente é, caro leitor. Não à toa, a continuação da história da Bruxa Má do Oeste tenha um desenrolar mais ralentado do que o primeiro filme. Embora inicie com uma cena de ação, mostrando a construção da estrada de tijolos amarelos feita a partir da exploração de animais, o musical demora para mostrar a que veio.

O tom dramático presente em quase toda a narrativa talvez intensifique essa sensação. O que não torna o filme cansativo, mas deixa a audiência em alerta esperando que algo aconteça a qualquer momento. Como também faz muito bem “O Agente Secreto” (2025) de Kleber Mendonça Filho.

A beleza visual permanece nas cores e na fotografia, que não só ilustra como imerge muito bem quem assiste o longa-metragem. Somos verdadeiramente transportados para o mundo de Oz, com seus encantos e fantasias.

As canções, no entanto, não se mantêm tão atrativas quanto as do primeiro filme. Algumas são novas versões de músicas do primeiro, como “I’m Not that Girl”, performada pela personagem de Ariana. Outras conseguem se destacar, como “No Good Deed” que está para a continuação como “Defying Gravity” está para o primeiro filme.

Já “For Good” consegue imprimir a intensidade da relação entre Glinda e Elphaba. Tornando o amor entre as duas concreto e mostrando que outras formas de afeto, além da romântica são possíveis. Em um mundo patriarcal ainda tão centrado na heteronormatividade e que põe o amor romântico no centro, trazer esse tipo de discurso é revolucionário.

“Wonderful” é uma das faixas pouco comentadas nas redes sociais, mas que chamou muito a atenção dessa crítica que vos escreve. Interpretada pelo Mágico, Elphaba e Glinda, a melodia e a letra da composição lembra “"Mister Cellophane", do emblemático musical “Chicago” (2002).

Na música, o personagem de Jeff Goldblum fala sobre como nunca planejou liderar aquele país e que quando percebeu estava sendo usado para sustentar os preconceitos dos ozianos contra os animais. Obviamente, isso não o isenta de sua parcela de culpa ao ter aceitado essa posição. Contudo, era mais confortável permanecer do que lutar contra a sua vontade.

Assim como acontece em “Chicago”, na canção citada dois parágrafos acima. Performada na produção de 2002 por John C. Reilly, “Mister Cellophane” fala sobre como Amos, se sentiu usado por sua esposa (Renée Zellweger) ao decidir servir de álibi para o testemunho dela. E era algo que ele poderia evitar, mas era mais confortável permanecer na dependência emocional do que quebrar o padrão dela.

Outra coincidência é que “Chicago” também é baseado em um livro homônimo assim como “Wicked”. Porém, foi adaptado primeiro para musical, ainda em 1975, ganhando um remake em 1996 na Broadway e versão para o cinema em 1996. Enfim, só um paralelo de uma fã de musical, de volta a Oz.

As atuações também seguem o mesmo nível de qualidade do primeiro, com destaque para Cynthia, Jonathan e Michelle Yeoh que demonstram ter sido um grande acerto de escalação. Cada personagem volta mais potente, mostrando suas camadas complexas e odiosas, no caso de Madame Morrible de Yeoh.

A química entre Elphaba e Fiyero se torna mais latente. Logo, entendemos a escolha de Jonathan para o homem mais sexy do mundo pela revista People. A Ariana, embora tenha sido muito elogiada, interpreta uma versão mais caricata de si mesma. Vejo qualquer outra atriz branca e loira no papel como Amanda Seyfried ou Reese Witherspoon.

Veja o trailer de "Wicked parte 2"

Marissa Bode brilha ao entregar uma Nessa completamente odiável e sem escrúpulos. Se no primeiro filme, a irmã de Elphaba parece uma pobre coitada por ser parente de alguém verde, no segundo ela é quase a personificação de Hitler se ele fosse uma pessoa com deficiência.

Inclusive, não fazer Nessa andar - como ocorre na peça de teatro - é também um ponto positivo da obra. Afinal, será que o maior problema dela é não andar? E não uma mudança de caráter? Claro que essa decisão deve ter sido tomada porque Marissa é de fato uma pessoa com deficiência e não finge ser uma, como acontece nas outras adaptações do livro de Gregory Maguire.

No fim, “Wicked Parte 2” é uma boa continuação. Mas, pode ser um enredo confuso para quem não conhece a obra original ou a peça de teatro. Não deixa de ser um complemento que usa o fantástico para salientar o quanto a sociedade, mesmo com avanços, segue com muitos problemas.

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