Reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro desde 2018, a literatura de cordel é um gênero literário que carrega "a oralidade na escrita" e criou raízes no Brasil durante o século XIX, tornando-se parte da identidade nordestina.
Essa manifestação da cultura popular, inserida no Brasil no século XIX, é tema de curso gratuito oferecido pela Fundação Demócrito Rocha (FDR): "Literatura de Cordel: patrimônio cultural imaterial brasileiro".
Com inscrições abertas até 10 de dezembro, as aulas ocorrem à distância para todo o País e já estão em andamento, ficando disponíveis para acesso pelo site da instituição, no qual também são feitas as inscrições.
O mestre e doutorando em Letras Mikeias Cardoso dos Santos é um dos 10 mil inscritos no curso. Pesquisador e cordelista, Mikeias reside na cidade de Caxias, no Maranhão, e decidiu se inscrever no curso para ampliar seus conhecimentos sobre a história, os principais poetas e suas obras, e conhecer as normas que regem a produção do cordel.
Entre os temas abordados em 12 módulos, a formação explora a breve história da literatura de cordel e seus principais nomes, as características, estilo, componentes e temáticas; o emprego do movimento em sala de aula; o papel histórico do cordel; a estética; as adaptações do cordel na literatura e no cinema e a representatividade no gênero literário.
"O objetivo do curso não é formar poetas cordelistas, mas explorar o cordel em suas mais diversas facetas", define o escritor Raymundo Netto. Membro do Conselho Curador e produtor na FDR, ele estruturou a formação junto do professor e escritor Stélio Torquato Lima, também responsável por ministrar o módulo "Adaptações de Obras Literárias e Fílmicas para o Cordel".
Além de Stélio, foram convidados 14 professores, como Marco Haurélio, Bráulio Tavares, Lílian Martins e Rosilene Melo. O time é formado por produtores de cordel que também são pesquisadores, professores e pessoas que trabalham com oficinas, cursos, consultorias e palestras sobre cordel.
Quanto ao material, os inscritos têm acesso a 12 fascículos, 12 videoaulas, 12 podcasts, conteúdo extra, suporte on-line, avaliações e certificação de 160 horas pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pela Fundação Demócrito Rocha (FDR). A formação também dispõe de recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual e auditiva.
Na sua experiência enquanto aluno do curso, Mikeias Cardoso dos Santos destaca a "amplidão de horizontes sobre o surgimento do cordel, a descoberta de outros autores e obras de poetas, e o conhecimento aprofundado da métrica e rima da poesia de cordel". Autodefinido como um defensor da literatura de cordel, o pesquisador considera o material da formação e a metodologia úteis em sua formação como professor de Língua Portuguesa.
Voltada para professores, pesquisadores, estudantes, agentes e gestores culturais, cordelistas, poetas e outros profissionais ligados ao cordel, Raymundo Netto ressalta a importância da iniciativa para o público consumidor da literatura.
"Se conseguirmos levar o cordel para as escolas, por meio dos nossos professores-multiplicadores, estaremos plantando o cordel certamente para as futuras gerações", afirma o produtor da FDR. De acordo com ele, o objetivo do curso é "reconhecer, proteger e valorizar o cordel em sua diversidade de memórias e identidades, estimulando a prática social de preservação".
O professor, escritor e pesquisador Stélio Torquato Lima atribui ao curso a posição de um "parceiro dos que militam em prol do cordel, ajudando a levar informações e reflexões sobre esse gênero aos quatro cantos deste imenso País e até do Exterior".
Para Mikeias Cardoso, o curso "Literatura de Cordel: patrimônio cultural imaterial brasileiro" está cumprindo o papel de "difundir e propagar a literatura de cordel pelo Brasil e pelo mundo". Sobre os relatos recebidos, Raymundo Netto comenta que o curso "tem sido recebido com muita festa e reconhecido pela originalidade e por sabermos que nunca antes o cordel teve um curso dessa amplitude, capilaridade e alcance no País".
"O cordel foi amplamente utilizado na alfabetização das massas em uma época em que materiais didáticos eram raros ou de difícil acesso aos menos favorecidos economicamente", comenta Stélio Torquato.
Hoje, ele explica que a expressão "é utilizada por educadores em função de ajudar no desenvolvimento de habilidades como a criatividade e o senso estético". Usado como recurso pedagógico, o caráter popular influencia na função: "O cordelista produz sua obra a partir da perspectiva, do olhar do povo".
Literatura de Cordel:patrimônio cultural imaterial brasileiro