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Uma visita às paisagens mineiras da Serra da Mantiqueira
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Vida & Arte

Uma visita às paisagens mineiras da Serra da Mantiqueira

O lado mineiro da Serra da Mantiqueira oferece destinos para turistas em busca de aventura, gastronomia e bom descanso
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Casario de Pouso Alto-MG (Foto: Marcos Sampaio)
Foto: Marcos Sampaio Casario de Pouso Alto-MG

A Serra da Mantiqueira é uma imensa cadeia montanhosa que se derrama pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. São aproximadamente 500 quilômetros de extensão com paisagens variadas em verdes, vales, picos, casas simples e luxuosas e mais de uma centena e meia de cachoeiras. Não por acaso, o nome "Mantiqueira" surge da junção dos nomes amana ("chuva") e tykyra ("gota"). Diz a lenda que uma índia da tribo Tupy se apaixonou pelo sol e passava o dia se banhando sob sua luz. O sol, retribuindo esse amor, passava dias inteiros no céu, sem deixar chegar a noite. A lua, enciumada, reclamou a Tupã, que ergueu um enorme paredão que impedisse a aproximação da índia com o sol. Longe do seu amor, ela passava dias derramando rios de lágrimas. Daí Mantiqueira ser a "serra que chora".

O Vida&Arte visitou o braço mineiro da serra da Mantiqueira no fim de outubro, período em que a expectativa era de frio intenso, casacos pesados e paisagem nublada. Doce engano, o sol estava intenso, os dias claros e só à noite uma brisa piedosa baixava a temperatura. A viagem começou com uma recepção no restaurante Casa Cheia, localizado no Mercado Central de Belo Horizonte, especializado em comidas típicas. Após uma pausa, nova recepção no restaurante Cumbuca, onde a secretária de Cultura a Turismo de Minas Gerais, Bárbara Botega, explicou que a intenção daquele convite era mostrar um lado do estado menos conhecido que as cidades históricas como Tiradentes e Ouro Preto.

Pão de queijo típico de MInas Gerais(Foto: Mariana Borges/ Divulgação)
Foto: Mariana Borges/ Divulgação Pão de queijo típico de MInas Gerais

A próxima parada foi em Baependi, distante 7 horas (contando duas paradas) de carro da capital. O município tem forte apelo religioso, em grande parte por ser a terra de Nhá Chica, beata católica reconhecida como "Serva Católica" pelo Vaticano e como santa por seus conterrâneos. Mais uma hora e pouquinho de carro, e chega-se a Pouso Alto. A cidade, além do casario antigo e da tradição religiosa, é terra da ficazzella, um salgado feito com massa de batata inglesa e farinha de trigo recheado com queijo, presunto, tomate e orégano. Entre tantas delícias típicas das Minas Gerais, essa tem o orgulho de ser reconhecida como patrimônio imaterial do município.

Muitos cafés, pães de queijo, quilômetros, doses de cachaça e quilos a mais, o retorno a Belo Horizonte vem marcado pelas imagens da paisagem mineira. Além das cidades famosas no imaginário coletivo, Minas Gerais tem na Mantiqueira outras paradas obrigatórias para quem quer explorar tudo o que o estado tem a oferecer. O misticismo de São Tomé das Letras, o queijo parmesão de Alagoa, a tradição tropeira de Andrelândia, a natureza de Bom Jardim de Minas. Confira a seguir alguns destaques dessa temporada mineira que já merece um retorno.

*O jornalista viajou a convite do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge)

Santuário de Nhá Chica, em Baependi-MG
Santuário de Nhá Chica, em Baependi-MG

Santuário de Nhá Chica

Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, nasceu num distrito de São João Del Rei em 1810, mas veio pequena a Baependi. Religiosa e muito humilde, distribuía conselhos e palavras de conforto para muitos moradores da cidade. Devota de Nossa Senhora, construiu uma pequena capela na colina onde hoje funciona um enorme santuário em sua memória. A cidade guarda muitas de suas histórias e tem no turismo religioso um dos seus fortes. Desde festas populares até a venda de livros, imagens, santinhos e outros produtos. Uma das muitas histórias contada refere-se ao órgão que Nossa Senhora teria pedido em sonho a Nhá Chica para trazer a Baependi. Ela não sabia o que era o objeto, mas guardou o nome e foi perguntar ao pároco. Este falou do alto valor do instrumento, mas ela conseguiu o dinheiro pedindo a outros fiéis e trouxe o instrumento do Rio de Janeiro em carro de boi. Numa quinta-feira, chegando ao alto da colina onde montou a capela, o órgão não tocou. Diante de uma multidão descrente, ela se ajoelhou, rezou e retornou dizendo que o instrumento tocaria no dia seguinte às 15 horas. Era mais uma revelação de Nossa Senhora à beata. Tal qual previsto, o órgão tocou na hora prevista e assim permanece até hoje, funcionando perfeitamente.

 

Mercado Central

Como é comum aos mercados das cidades, o de Belo Horizonte tem uma rica oferta de artesanatos feitos em madeira, tecido, palha e outros produtos. A cachaça típica da região está disponível em todos os tamanhos e sabores. E lá também estão casas reconhecidas na cidade por sua culinária. O Casa Cheia é um pequeno espaço dedicado à culinária local que faz valer o nome que tem. A fila para conseguir uma mesa é grande, mas o esforço vale a pena. Almôndegas Exóticas, Mexidoido Chapado e o torresmo são indiscutíveis.

Dimas Borges, proprietário do Café Seival em Baependi-MG
Dimas Borges, proprietário do Café Seival em Baependi-MG

Café Seival

A cada parada em qualquer município mineiro, tomar um cafezinho é obrigatório. Logo uma parada numa produção de café seria certa. O Café Seival é produzido desde 2016, com torrefação semiartesanal e um resultado que já ficou conhecido na região. Com 6 hectares de plantação, a produção ainda é pequena, como explica Dimas Borges, proprietário da marca e guia turístico pela propriedade. Ele quem dá todos os detalhes aos visitantes, desde a colheita até a hora de provar, na lojinha que fica na entrada do terreno. Além do café, eles ainda oferecem queijos de diferentes sabores.

 

Forró na Praça Monsenhor Marcos em Baependi-MG
Forró na Praça Monsenhor Marcos em Baependi-MG

Forró na praça

Patrimônio reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Monserrat é uma bela construção do século XVIII que guarda um rico patrimônio arquitetônico e artístico. São imagens, vitrais, pinturas e entalhes que hipnotizam os visitantes tamanha a beleza. Para os mais atentos, há até alguns mistérios, como pinturas em duas dimensões que mudam de acordo com a posição de quem está vendo. Mas, não bastasse o lado religioso, em frente à matriz de Baependi está a Praça Monsenhor Marcos. Lá, aos domingos, pontualmente às 20 horas, quando o padre encerra a cerimônia com seus fiéis, começa um forró no coreto. Basta atravessar a rua para, depois de limpar a alma dos pecados, dançar e reenergizar o corpo para mais uma semana.

 

Restaurante e bar Fecha Nunca em Baependi-MG
Restaurante e bar Fecha Nunca em Baependi-MG

Bar fecha nunca

Na lateral da Praça Monsenhor Marcos, no centro de Baependi, está o Bar Fecha Nunca. O nome, por si, já é convidativo para os boêmios, de passagem ou não. Mas a casa é também um espaço gastronômico com pratos para tudo quanto é gosto. Tem pizzas, carnes, caldos, sanduiches, sorvete e uma variedade de bebidas. Importante: o Fecha Nunca fecha à meia-noite.

 

Visita ao Olival Gamarra, em Minas Gerais
Visita ao Olival Gamarra, em Minas Gerais

Azeite Gamarra

No meio da Serra da Mantiqueira estão os Olivais Gamarra, que, desde 2006, produzem diferentes tipos de azeite e já ganharam prêmios. Eles começaram com mil mudas, número que já mais do que triplicou desde então. Durante a degustação, são dadas dicas para entender as diferentes classificações de azeite e como aproveitar melhor seu sabor. Por exemplo, que tal provar um sorvete com azeite? Sim, é possível.

 

Visita às cachoeiras da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais
Visita às cachoeiras da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais

Cachoeiras

Com mais de 160 cachoeiras reconhecidas, esse é um dos principais atrativos da Serra da Mantiqueira. A Cachoeira do Juju está no meio do Parque Estadual da Serra do Papagaio e já ganha atenção pelos 130 metros de queda d'água. No topo, a dica é aproveitar as piscinas naturais com direito a uma vista impactante. Se a anterior exige uma trilha de cerca de 40 minutos para ser alcançada, a cachoeira Honorato Ferreira tem acesso de carro e mais um banho incrível. Próxima a ela fica o Bar do Curral, um lindo restaurante ao ar livre com comida farta e muito espaço para jogos e brincadeiras.

 

Pousada Condado Santa Maria em Baependi-MG
Pousada Condado Santa Maria em Baependi-MG

Condado Santa Maria

Uma dica de hospedagem em Baependi é a Pousada Condado Santa Maria, que fica a poucos minutos do centro da cidade. Num ambiente rústico e muito aconchegante, são oferecidos chalés com quartos amplos, banheiro e antessala, que funciona como um segundo quarto. A decoração do local é rica em detalhes, merecendo um passeio por dentro da propriedade. O café é simples e bem servido; o atendimento, personalizado. Tem espaço para estacionamento, wi-fi gratuito e é próximo de muitos pontos turísticos da região.

 

Casario de Pouso Alto

Pouso Alto fica a 422km de Belo Horizonte e sua história passa pelos barões de café, escravidão, populações indígenas, estradas de ferro e ciclo do ouro. Muito dessa história está preservada nas casas de construção antiga. O centro da cidade já é um belo passeio pela história do município fundado em 1878. A caminhada até a igreja matriz é uma sugestão para quem não tem problemas com percursos íngremes. A igreja foi construída em 1832, mas reconstruída na década de 1960, após praticamente ruir.

FIcazzella, prato típico de Pouso Alto-MG
FIcazzella, prato típico de Pouso Alto-MG

Ficazzella

O prato originalmente italiano chegou ao interior de Minas Gerais pela imigrante Catarina D'Crudis, residente de São Paulo e com parentes em Pouso Alto. Nos anos 1980, ela ensinou a receita a Maria Santana de Freitas, voluntária que estava organizando a festa da Santa Casa de Pouso Alto, evento típico do município. Santana não só aprendeu, como ensinou a mais gente e o prato passou a ser consumido em muitas festas ao longo do ano. Segundo o processo de registro da ficazzella como patrimônio imaterial, durante as festas juninas são consumidos mais de 40 kgs de ficazzella por dia.

 

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