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Série do O POVO+ conta histórias de quem produz conteúdo adulto
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Série do O POVO+ conta histórias de quem produz conteúdo adulto

O POVO+ estreia série sobre bastidores da criação de conteúdo adulto, centrada na vivência e nas perspectivas dos produtores e produtoras cearenses
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Felipe Brodin se define como
Foto: Acervo pessoal/Felipe Brodin Felipe Brodin se define como "promoter de entretenimento adulto"

Quais histórias estão por trás das personalidades que ganham sustento a partir da venda de conteúdo adulto? É isso que investiga a nova série documental "Só Para Fãs", do O POVO+, que estreia na plataforma de streaming do O POVO na sexta-feira, 14.

O projeto aborda amplamente produtores de conteúdo adulto em suportes de acesso pago e traz casos que incluem outras abordagens, como atendimentos presenciais e até com pacotes pelo Whatsapp.

"O projeto nasceu muito de um incômodo em relação à 'uberização' desse tipo de trabalho — essa relação entre o produtor de conteúdo e as plataformas. Algumas cobram taxas altíssimas, de até 50% sobre o valor arrecadado, outras cobram 25%, e isso chamou bastante a nossa atenção por evidenciar um tipo de exploração, uma atualização da lógica do trabalho sexual mediado pela internet", contextualiza a roteirista do projeto, Luana Sampaio.

Para isso, a equipe de produção do documentário realizou um estudo histórico para entender como essa produção evoluiu desde as antigas produtoras de filmes adultos até a atualidade. No entanto, durante as gravações, outros olhares tornaram-se maior que o propósito inicial: "conforme a série foi se desenvolvendo, passamos a querer focar mais nos bastidores, na vida das pessoas que vivem desse trabalho — e não em fazer um filme sobre pornografia ou apenas problematizar o mercado".

"Nosso objetivo acabou sendo entender o cotidiano de quem vive de produzir conteúdo adulto. Por isso, optamos por seguir esse novo caminho narrativo. A série ficou centrada na vivência e nas perspectivas dos produtores e produtoras", acrescenta a roteirista sobre a série, que se desenvolve principalmente a partir de três perfis diversos: Jenny, Felipe e Rayane.

No caso de Mary Jenny Emmys, a produção de conteúdo adulto surgiu de forma "empurrada pela vida", como ela mesma define. Multiartista, ela atua também como maquiadora, cabeleireira, dançarina e é estudante de Teatro. "Estou sempre me movimentando, me inserindo onde há espaço e, quando não há, eu crio um", explica.

"Quando comecei a vender conteúdo, eu não tinha nada. Não tinha como ganhar dinheiro e tudo estava muito difícil. Uma amiga minha cis, que também já tinha passado por isso, me disse: 'amiga, por que tu não vende conteúdo? Tu é tão bonita'", conta a jovem de 26 anos.

Ela explica que, antes disso, já tinha recebido proposta para prostituição, mas nunca havia topado. Na época, estava em transição de gênero e não se enquadrava totalmente "no que a sociedade binária entende como 'homem' ou 'mulher'". Nesse contexto, ela decidiu começar a produzir para as plataformas adultas e até anunciou em suas redes sociais que passaria a ter sustento com isso.

Jenny relata: "Esse meio foi o único caminho que apareceu, e eu agarrei para sobreviver. Na minha vivência como mulher trans, travesti e periférica, moradora do bairro Jatobá, no Siqueira, há mais de 20 anos, essa foi a forma que encontrei de seguir. Não foi fácil, mas me deu o sustento que eu precisava".

O trabalho lhe rendeu bom retorno financeiro, principalmente durante a pandemia de Covid-19. "O que essa experiência trouxe de ruim é o que a própria sociedade binária já impõe sobre os nossos corpos de mulheres trans e travestis: a autoexposição, a disforia e o contato com situações pesadas, como fetiches extremos e até práticas doentias que a gente acaba vendo nesse meio. Isso me causou muitos traumas. Almejo, no futuro, poder viver do que realmente amo: as artes cênicas, o teatro, a performance", compartilha.

Diferente de Jenny, Felipe Brodin — como é conhecido artisticamente — escolheu trabalhar com conteúdos e atividades adultas e tem investido na conquista de novos públicos.

"Comecei atendendo como garoto de programa. Em alguns momentos, quando não tinha cliente, via várias pessoas gravando conteúdo e me perguntando por que eu não fazia o mesmo. Resolvi tentar, comecei a gravar e as coisas começaram a dar certo. Já faz uns dois anos e meio que trabalho como criador de conteúdo", descreve Brodin.

Para ele, a nova ocupação só lhe trouxe boas conquistas. Além de gravar conteúdo, Felipe se apresenta em performances, com striptease interativo e sexo ao vivo. Por isso, ele se define como um "promoter de diversão adulta": "se eu disser que sou somente criador de conteúdo, parece que é só isso — e nem todo criador de conteúdo faz programa, assim como nem toda pessoa que faz programa cria conteúdo. Então prefiro me definir assim".

Antes disso, ele trabalhava como vendedor em comércios no Centro de Fortaleza. O pontapé para a mudança foi quando ele participou de um concurso do gênero "Garoto da Sauna", em antigos espaços gays da Cidade. Na ocasião, foi convidado para fazer um programa e conquistou em 15 minutos toda a comissão que receberia com um mês de trabalho formal.

"Quando você trabalha com isso, você se expõe completamente. As pessoas acabam sabendo quase tudo. Mas minha intenção agora é divulgar ainda mais o meu trabalho, alcançar públicos que eu ainda não alcanço", finaliza Brodin, que convida os leitores a conhecerem mais detalhes de sua trajetória no documentário "Só Para Fãs".

Só Para Fãs

  • Quando: a partir de sexta-feira, 28 de novembro
  • Onde: O POVO+, plataforma de streaming do O POVO
  • Mais informações: mais.opovo.com.br

 

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