Quando comecei a escrever crônicas para serem publicadas semanalmente no O POVO, recebi uma mensagem muito especial do querido Ignácio de Loyola Brandão, com o seguinte incentivo: "Maravilha, Marília! Na crônica cabe tudo, mas em tudo que haja você". Esse ensinamento norteou meu trabalho com os alunos no Centro Universitário Farias Brito.
De forma geral, o desejo de se valer da escrita na maturidade, como meio de realizar algo concreto a ser compartilhado com familiares e amigos, aponta para registros biográficos no gênero romance.
Essa, inclusive, era a proposta inicial de Tânia Sancho para um curso a ser ministrado por mim.
Ela conduz brilhantemente o Viva, projeto desenvolvido no FB Uni, que promove novas experiências por meio da arte, da literatura, do design de interiores, do paisagismo e de outras atividades criativas. Trata-se de um espaço para quem deseja investir em bem-estar, qualidade de vida e na descoberta de talentos.
Na primeira chance, apresentei à Tânia a crônica como possibilidade mais livre, mais leve, mais ampla, e perfeitamente capaz de servir ao objetivo da preservação da memória.
O desafio seria cada um falar sobre si a partir da observação do cotidiano, em textos curtos, em vez de capítulos longos, próprios dos romances. Funcionou tão bem que, após a nossa despedida, os alunos, de modo espontâneo, tiveram a iniciativa de organizar as produções e publicá-las em livro impresso — processo que pude acompanhar com grande entusiasmo.
Em seguida, Ana May me fez o convite para redigir o prefácio - aceitei prontamente. Ela foi a líder incansável em todas as etapas — não poucas e bastante desafiadoras, por envolver, a cada passo, a concordância de um grupo de onze pessoas. Onze autores e um livro. Sonho que nasceu na sala de aula, das leituras e dos exercícios a partir dos temas propostos.
Assim, parágrafo a parágrafo, tenho a alegria de também me reconhecer. Difícil mensurar a felicidade de contribuir para a ideia de celebrar, com a escrita, diferentes trajetórias. São vidas em palavras, com as marcas das travessias que nos trouxeram até o momento presente — o do prazer de ter o livro nas mãos.
A obra reúne crônicas de Ana May Brasil, Eliana David, Helena Selma Azevedo, Isa Macedo, Florice Raposo, Maria José Holanda, Marilena Campos, Nazaré Fraga, Nivardo Castelo, Tércia Cavalcante e Teresa Bezerra.
Nas páginas de "A vida em crônicas", a intensidade das narrativas alterna pragmatismo e lirismo, suavidade e crueza, tragédia e humor — tudo o que define a nossa natureza.
Os leitores devem se preparar tanto para alçar voo quanto para submergir às altas profundidades da alma humana, manancial que encontra paralelo no céu e nas imensidões líquidas.
O lançamento na quinta-feira, 4, no Teatro Nadir Saboya, contou com a encantadora Dauana Vale e ainda com uma leitura dramática da Presidente da Academia Fortalezense de Letras, a espetacular Fernanda Quinderé. Um privilégio ser parte disso. Coisa linda de se ver. E de se ler.