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Protagonista de "O Filho de Mil Homens", Rebeca Jamir celebra trajetória
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Protagonista de "O Filho de Mil Homens", Rebeca Jamir celebra trajetória

Atriz participa de produção baseada em obra de Valter Hugo Mãe; artista elenca relevância da personagem
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Rebeca Jamir, protagonista de
Foto: Jose de Holanda/Divulgação Rebeca Jamir, protagonista de "O Filho de Mil Homens"

Tornar-se atriz não era uma meta vista como alcançável para a pernambucana Rebeca Jamir. Nascida no Recife, em Pernambuco, a artista despertou o interesse para a atuação ainda na infância, após o contato com filmes como "Central do Brasil" (1998), "Deus e Diabo na Terra do Sol" (1964), "Cabra Marcada para Morrer" (1984) e "Eles Não Usam Black Tie" (1981).

"São muitos filmes icônicos que alimentam e alimentaram muito essa minha paixão de ser atriz", afirma Rebeca, que estreou com seu primeiro longa-metragem em outubro como Isaura, protagonista de "O Filho de Mil Homens". Baseada na obra literária homônima de Valter Hugo Mãe, a produção é da Netflix e está disponível no catálogo do streaming.

Além das películas já citadas, ela enfatiza que também foi influenciada pelo trabalho de diretores conterrâneos, a exemplo de Marcelo Gomes, Kleber Mendonça Filho e Gabriel Mascaro, além do paraibano Paulo Caldas.

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"Tudo isso povoa e alimenta esse trabalho pelo qual eu sou incrivelmente apaixonada mesmo muito, não tem jeito. E como boa pernambucana bairrista e apaixonada por minha cultura local, sempre estou sendo impactada por ela", diz a recifense.

Rebeca expõe que, para desenvolver carreira na atuação, precisou percorrer um caminho com intercorrências, dada as condições da família. "Eu sou de uma família e ser dessa família é a maior riqueza da minha vida, que tem origem muito simples e que tem uma história de pobreza, de privação", conta a artista. "Sinto que, infelizmente, para pessoas que têm essa origem, às vezes sonhar com determinadas profissões ainda é uma coisa que parece muito distanciada, sonhar sequer", pontua.

Segundo ela, a arte e a cultura "ainda são vistas como supérfluas" no Brasil e não como uma necessidade. Por isso, existe não só uma dificuldade de acesso para as camadas sociais que estão à margem, mas também de "enxergar uma possibilidade de profissão no meio".

Preparação para O Filho de Mil Homens

A atriz passou por uma série de testes para a adaptação da narrativa do autor português. Ela chegou nas audições por meio de uma pesquisa realizada por Luciano Baldan, diretor de elenco que já atuou na função em obras como "Senna" (2024) e "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" (2024).

"Foi um processo muito bonito desde o princípio, muito bem conduzido pelo Daniel Rezende, nosso diretor incrível, com muita escuta, sensibilidade, profundidade já desde o processo de testes", relembra a artista, citando o cineasta que conduziu "Turma da Mônica: Laços" (2019) e "Bingo: O Rei das Manhãs" (2017).

No filme, a personagem é rejeitada pela família após perder a virgindade. Apesar de terem personalidades distintas, Rebeca revelou ter sentido uma ligação intensa com a protagonista. "Tive essa conexão muito inexplicável, muito forte com a Isaura. Tive a sensação de que ia dar certo, de que essa personagem tinha me escolhido, e eu escolhendo querer muito fazê-la, sabe?", descreve a recifense.

O que mais a aproxima da figura é o modo como "ela consegue encontrar felicidade a partir de uma decisão dela". Essa ação só é possível, de acordo com Rebeca, por conta das relações saudáveis, com escuta, respeito e afeto, que Isaura nutre com Antonino, interpretado por Johnny Massaro, e Crisóstomo, personagem de Rodrigo Santoro.

Ela explica que as conexões humanas genuínas são um dos assuntos abordados no longa. "Eu acredito muito que relações humanas podem transformar a nossa vida para melhor a partir de um lugar de verdade, de acolhimento, que não está nesse lugar da fórmula, daquilo que é pré-moldado, que muitas vezes é tão cansativo e não contempla a maioria de nós, na verdade", ilustra Jamir.

Embora tenha encontrado pontos em comum com Isaura, Rebeca revela que foi a personagem mais distante de si mesma que já interpretou. "Percebi que eu sou uma pessoa muito mais efusiva e risonha", confessa. "O livro descreve muito, por exemplo, essa grande dificuldade dela de sorrir, de se expressar".

"Foi um grande trabalho de contenção e de contato com essa tristeza do não pertencimento. E acho que, à medida que ela vai aprendendo a pertencer a si, e também estar pertencente a si em comunidade, ela vai desabrochando. É um movimento muito bonito", conta a pernambucana.

A artista já havia tido contato com a obra de Valter Hugo Mãe anteriormente, através das obras "Desumanização" e "A Máquina de Fazer Espanhóis". Ela leu "O Filho de Mil Homens" antes do início das filmagens, chegando a visitar o livro seis vezes, cada uma com um propósito diferente.

Rebeca chegou a compor o elenco da série "Sintonia" na última temporada da produção, sendo o primeiro trabalho audiovisual de expressão da pernambucana. A atriz também esteve em "As Vitrines" (2024), de Flávia Castro. O longa aborda o período da ditadura no Chile a partir da convivência de duas crianças filhas de militantes. A obra foi exibida somente em festivais e não tem previsão de estreia ainda no circuito comercial.

Ela também está no curta-metragem "Lena Teresa", de Kathia Calil. A obra acompanha duas colegas de trabalho em um call center e aborda questões relativas a abusos variados que ocorrem nesse espaço. A produção está em fase de finalização.

"O Filho de Mil Homens"

Quando e onde: Já disponível no catálogo da Netflix 

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