"O Manguebeat não existe, foi coisa que a imprensa inventou", disse Jorge Du Peixe, músico e compositor, em entrevista ao Vida&Arte. À frente do grupo Nação Zumbi, ao lado de Chico Science, ele foi um dos responsáveis por emplacar o estilo musical brasileiro apelidado de Manguebeat, com o disco "Da Lama Ao Caos", em 1994.
Trinta e um anos depois, o grupo retorna a Fortaleza nesta sexta-feira, 12, para o festival Tamo Junto BB, do Banco do Brasil. No mesmo dia, sobem ao palco do Marina Park, Mateus Fazeno Rock, L7NNON, Os Garotin & Melly, 22Diniz e BaianaSystem.
"Festival é uma resistência cultural necessária, onde você vai assistir um show e acaba descobrindo outros, é onde artistas que estão circulando o ano inteiro também se encontram e trocam. Muitos já findaram, mas outros nasceram. Pro País é importante que cada lugar tenha festivais locais para a disseminação da cultura e incentivo", pontua.
Entre esses nomes que nasceram, está o de um dos headliners do evento, o BaianaSystem. Resultado da fusão da guitarra baiana com a cultura dos sound systems, desde o surgimento da banda, em 2009, a sonoridade de ambos os grupos é frequentemente associada.
Juntos, os coletivos lançaram a faixa "Alfazema", em 2018, e fizeram uma dobradinha no Marco Zero, em Recife, no Carnaval de 2025. Em Fortaleza, para os fãs, os shows seguidos um do outro prometem instaurar uma atmosfera sincrética dos ritmos contemporâneos de Pernambuco e Bahia.
"O Baiana vem de Salvador e fala muito sobre essa importância de cada lugar ter seus gritos culturais, suas vertentes sonoras que fogem do eixo Rio-São Paulo. Hoje temos pequenos artistas, pouco conhecidos, e eu me inspiro muito na cena underground. Os medalhões sempre terão a projeção que a mídia oferece, mas ainda tem muita gente fazendo música de qualidade dentro de quartos e estúdios menores", defende Jorge.
Na década de 1990, o músico integrava um desses grupos marginais que se aventuravam nas ruas de Olinda. Formada a partir da união de componentes das bandas Loustal e Lamento Negro, a agitação do coletivo nasceu em um contexto de declínio econômico do Recife.
Em 1990, a capital pernambucana havia sido considerada a 4ª pior cidade do mundo para se viver, de acordo com o Population Crisis Committee, embasado nos altos índices de desemprego e violência urbana.
Assim, para lutar contra o desânimo que dominava o município, ao lado da banda Mundo Livre S/A, o Nação Zumbi ingressou na façanha de reenergizar a cena cultural.
"O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Simples, basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife", dizia o texto "Caranguejos com Cérebro", que depois foi categorizado como manifesto do movimento.
Ao ser questionado sobre como explicaria o termo e a relação com os manguezais para ouvintes da nova geração, Du Peixe disse:
"O que chamam de manifesto era na verdade um release de uma festa que fizemos sobre esse ecossistema. Mas a palavra mangue é muito forte, pois são os estuários, e sem eles o planeta não se manteria vivo. Recife é uma cidade cortada por mangues e rios, o que serviu de inspiração para fazermos uma alusão à quantidade de gêneros musicais que Pernambuco oferece", explica.
Para Jorge, contudo, as denominações de "movimento" e "manifesto" impõem uma classificação que limita a espontaneidade com que os músicos se agremiaram na época.
"A ideia era derrubar monólitos, não se repetir. Não existe uma batida única. O Manguebeat escrito dessa forma foi criado pela imprensa, pois para nós era manguebit, com o bit de computador. Éramos z-boys, maloqueiros, fuçadores de discos e de sebos. A gente não pensava muito, a gente ouvia", relembra.
Reavivando o legado de Science, morto em um acidente de carro em 1997, a banda se apresenta na formação de Jorge Du Peixe (vocal), Dengue (baixo), Toca Ogan (percussão), Marcos Matias e Da Lua (tambores), Tom Rocha (bateria) e Neilton Carvalho (guitarra).
Para 2026, o grupo planeja a produção de um novo álbum. "Precisamos de tempo para maturar, pois não queremos fazer um disco para a indústria e sim algo que se imprima bem nesse universo sonoro", finaliza.
Programação Musical Tamo Junto BB
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Festival Tamo Junto BB