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Conheça a cena do teatro musical em Fortaleza
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Vida & Arte

Conheça a cena do teatro musical em Fortaleza

A popularidade do teatro musical impulsiona comunidades de fãs e amplia o mercado para além do Sudeste
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Cena do espetáculo
Foto: Luiz Alves/Divulgação Cena do espetáculo "Das que ousaram desobedecer", montagem da Cia Bravia

Em 2015, época em que espetáculos de teatro musical começavam a se tornar um gênero conhecido no Brasil, já havia peças em Fortaleza que tinham o viés de apresentar histórias que envolviam a música e dança, assim como escolas para preparar os artistas.

O diretor criativo André Gress criou o grupo de teatro Broadway Brasil em 2013. Um dos primeiros musicais adaptados foi "Avenida Q - O Musical", que chegou a ser, inclusive, licenciado pela Broadway.

Acompanhando o crescimento do teatro musical na capital cearense, além de ter experiência em São Paulo, onde vive há cinco anos, ele afirma que apesar da evolução, Fortaleza ainda não é um polo tão atrativo para apresentações teatrais de fora do Ceará.

"Eu pude acompanhar, em Fortaleza, crescendo o interesse por musicais. Muitas vezes é muito difícil para um musical sair daqui de São Paulo e ir para o Nordeste por conta do alto custo", aponta.

Ele atrela este desafio ao fato de não existir uma cadeia de produção, principalmente nas funções mais técnicas. Ou seja, existem escolas para preparar atores, mas os conhecimentos sobre produção musical, equipes de som e até cenografia ainda estão "na mão de poucas produtoras".

Esse cenário é vivenciado pela atriz Liliana Brizeno, integrante do grupo Terra Mulher, que enxerga "com bons olhos" a perspectiva do teatro em Fortaleza, sem negligenciar os obstáculos de estar em um grupo independente.

"Antes existia mais essa ideia de que para dar certo você precisava ir para o Sudeste. Hoje eu acho que isso não é mais regra. Fortaleza produz arte muito bem e estamos numa perspectiva mais otimista: espaços foram reabertos, editais voltaram, e os artistas têm circulado mais aqui mesmo", afirma.

Ao ingressar na Companhia Bravia, Brizeno conta que não havia "perspectiva de dinheiro", pois só com o passar do tempo o grupo foi contemplado em um edital. Antes disso, eles apenas "confiaram no processo".

"A maioria dos grupos aqui não vive só do grupo — as pessoas conciliam com outras profissões. Mas existe potencial para viver da arte na própria cidade. O incentivo é muito pontual. Ele vem em alguns momentos e em outros não, e o grupo precisa se sustentar mesmo sem verba", completa a atriz.

Para além de questões financeiras, a cultura do coletivo é um incentivo à parte para quem faz teatro musical, e a troca com o público torna-se parte do próprio espetáculo: "A gente percebe a emoção do público de forma muito direta. Muitas vezes precisamos segurar a nossa emoção em cena, porque vemos a deles", completa Liliana.

Além de cantora Julie Wein é doutora em Neurociências pela UFRJ (PhD), a pesquisa trata sobre a Neurociência da Música
Além de cantora Julie Wein é doutora em Neurociências pela UFRJ (PhD), a pesquisa trata sobre a Neurociência da Música

Amor ou Ódio?

Seja pelas histórias intercaladas por coreografias e canto ou até pela dramaturgia, o teatro musical divide opiniões entre fãs e aqueles que não gostam do gênero. Apesar das divergências, no Brasil, a modalidade tem significativa importância econômica no Sudeste.

De acordo com levantamento divulgado em 2024 pela Fundação Getúlio Vargas, foram analisadas a dinâmica do setor por meio de pesquisas com espectadores e produtores de 27 espetáculos apresentados em São Paulo ao longo de 2023.

Os resultados apontam que o impacto econômico gerado pelo teatro musical no período foi de R$ 1,1 bilhão. A movimentação foi impulsionada por 960 mil espectadores, responsáveis por R$ 873,1 milhões, enquanto os produtores movimentaram outros R$ 227,3 milhões.

Por trás desses números, é perceptível a participação do público fiel que costuma acompanhar a rotina do elenco das montagens, revisitar espetáculos, viajar, comprar produtos e criar verdadeiras comunidades em torno dos musicais. Para além de uma mera identificação, a ciência é capaz de explicar tal fenômeno.

"O musical junta música, dramaturgia, dança, iluminação e performance. Isso cria um estímulo multisensorial que potencializa o poder emocional da música. É como se cada camada artística amplificasse o impacto sobre o público", relata a neurocientista Julie Wein.

Formada em Biofísica e Doutora em Neurociências pela UFRJ (PhD), a pesquisadora trata sobre a Neurociência da Música, focando em como a música afeta o cérebro e influencia a memória, emoção e bem-estar. Wein destaca que a relação entre música e regulação emocional é um dos fatores que fortalece a conexão público-obra.

"A música é um dos estímulos mais completos para o cérebro. Ela ativa, ao mesmo tempo, áreas relacionadas à cognição, emoção, memória, audição e atenção. Assim, ela atravessa nosso sistema emocional de forma muito direta. Quando você assiste a um espetáculo com música, a regulação emocional acontece quase imediatamente. Em uma sociedade tão estressante, isso vira um porto seguro para muita gente", ressalta

Além de doutora, ela é cantora, atriz e fã de musicais, especialmente os nacionais. E explica que a necessidade da espécie humana de manter grupos sociais coesos é outro fator para o fortalecimento do senso de pertencimento à comunidade musical e forte aliado para uma boa saúde mental.

"Os musicais geram uma identificação coletiva muito forte. É uma forma de coesão social: pessoas completamente diferentes se unem em torno daquela obra. Isso cria identidade de grupo, pertencimento e até comunidades inteiras. Ir ao teatro, assistir a um musical, é fundamental para a saúde mental. A cultura modula hormônios ligados ao estresse", elucida.

Sobre o fato de amar ou odiar o gênero, ela alega que não existe uma única razão, pois é o cérebro que reage de modo peculiar a cada gênero: "O gosto musical é o principal preditor de quanto uma obra vai emocionar alguém. O mesmo estímulo pode relaxar uma pessoa e irritar outra. Depende de história de vida, cultura, repertório e daquilo que o cérebro aprendeu a gostar".

 

Aulas e escolas na capital cearense

The Biz - Escola de Artes

  • Horário: segunda-feira a sexta-feira, das 13h às 21h; sábados, das 8h às 13h
  • Onde: Avenida Washington Soares, 909 - loja 105 - Edson Queiroz
  • Mais informações: @thebizarts

Escola de Atores Marcelino Câmara

  • Horário: segunda-feira a sexta-feira, das 14h às 20h30min; sábados, das 9h às 14h30min
  • Onde: Rua Soriano Albuquerque, 1107 - Joaquim Távora
  • Mais informações: @escoladeatoresmc

Escola de Teatro Encenna

  • Horário: segunda-feira a sexta-feira das, 14h às 21h; sábados, das 8h às 16h
  • Onde: Rua Cel. Pergentino Ferreira, 520 - Bairro de Fátima
  • Mais informações: @escoladeteatroencenna

 

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