Nos últimos cinco meses, as ruas de Fortaleza têm estado adornadas com textos espalhados pelo "Poesia em Cartaz". Idealizado pelo escritor e publicitário Paulo Fraga-Queiroz, o projeto exibiu 220 trechos em outdoors distribuídos pela Capital. Na sexta-feira, 19, ocorre o evento de culminância da iniciativa. Da palavra escrita para a oralidade, o "Poesia em Cartaz" realiza em um sarau na praça do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS).
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A programação gratuita tem abertura do DJ Alan Morais, jogral infantil, homenagens a Mário Gomes e Demócrito Rocha e performances de Ricardo Guilherme e Márcio Catunda. No microfone aberto, participam do sarau os dez primeiros inscritos no formulário aberto na quarta-feira, 17. Felipe Rima finaliza a ocasião, sintetizando-a com poesia em forma de freestyle.
O projeto também ganha um caderno especial, em parceria com O POVO, que reúne os escritos expostos nos outdoors. Além de deixar o acervo literário registrado, a produção abrange depoimentos dos curadores trazendo detalhes sobre o trabalho. No sarau de celebração do "Poesia em Cartaz", serão distribuídos 500 exemplares. O material ficará disponível para assinantes do O POVO+, plataforma de streaming do O POVO.
O projeto é definido por Paulo Fraga como "democrático" desde a seleção diversa dos 220 poetas ligados ao Ceará que participaram até a programação de encerramento, que abre espaço para os escritores por meio do microfone aberto. A escolha do MIS para receber o evento também tem relação com essa proposta.
"Aquela praça aberta para a Cidade encarna bem o olhar que foi colocado neste projeto pela curadoria, que é um projeto cidadão, democrático, na rua", declara Paulo Fraga em entrevista ao O POVO.
"(O Projeto) é todo valorizando a palavra, não tem imagem. As imagens são feitas pelas palavras dos autores. Acho que o sarau encarna esse momento", afirma o idealizador da iniciativa. Dessa vez em sua forma oral, a palavra mantém o protagonismo e também permite homenagens a célebres autores cearenses.
Dialogando com a proposta do projeto de poesia - o cantor, compositor e DJ Alan Morais preparou um set em vinil com repertório de artistas do Estado. "Espero contemplar o máximo de pessoas que tenham músicas gravadas que participam desse projeto", conta. Ele antecipa que, de sua apresentação, pode-se esperar raridades encontradas nos discos.
O DJ também integra o projeto literário como autor. "O pensamento choveu, derramou sobre a cabeça e banhou de aguardente o que de triste eu tinha em mente", originalmente escrito para o trecho de uma música, em 2013, tornou-se uma das poesias nos outdoors em Fortaleza.
Sabendo da iniciativa, Alan Morais se dirigiu a Paulo Fraga para sugerir o nome do artista cearense Carlos Nóbrega e acabou sendo igualmente convidado. Embora a relação com a poesia seja antiga - já que "90% das canções que eu faço é botando melodia em cima de palavras de poetas" -, para o artista, este pode ser considerado seu primeiro reconhecimento como poeta.
Assim como Alan Morais, o rapper, escritor e produtor cultural Felipe Rima é íntimo das palavras, fez parte do projeto e compõe a programação. Com dois livros lançados e projetos musicais, o artista já vive "no esteio da poesia" e, há 20 anos, já havia feito uma rima que previu o futuro: "Em breve 'é nós' no outdoor mostrando o nosso melhor".
A frase de sua autoria diz: "Vi meus sonhos ao longe na estrada e rumo ao horizonte caminhei". Desviando do futuro de tornar-se sucessor de seu pai na hierarquia do crime, Felipe encontrou nas palavras, por meio do hip-hop, outra perspectiva de existência. Receber mensagens e fotos da placa com suas palavras expostas foi, para ele, um divisor de águas.
Felipe Rima caracteriza o "Poesia em Cartaz" como inovador: "Mexe nas engrenagens da Cidade porque passeia, por mexer com o olhar das pessoas, com o imaginário e com a emoção", pontua. Na sua perspectiva, o projeto deixa um legado para Fortaleza e permite que, um dia, poetas possam sonhar com seus escritos exibidos em um um cartaz para todos verem.
Com o fim do projeto, que começou com apenas 20 placas cedidas e chegou a mais de 200, Paulo Fraga revela o desejo de fazer as gravações do "Poesia em Cartaz" virarem um documentário. Ainda sem previsão para desdobramentos, ele guarda da experiência relatos como o de um jovem funcionário de uma empresa de outdoor que, colando o cartaz, comoveu-se com uma poesia em um dia ruim.
Sarau de encerramento do "Poesia em Cartaz"