Fazer o exercício de olhar para o que foi o ano de 2025 na Literatura exige concentração e abertura para além de possíveis "obviedades", como se prender somente aos números das listas de livros mais vendidos. É claro que, a partir delas, é possível fazer inferências sobre os padrões gerais dos gostos literários do público.
Esses espaços, por exemplo, têm sido ocupado cada vez mais por obras voltadas a negócios ("O Homem Mais Rico da Babilônia"), espiritualidade ("Café com Deus Pai") e autoajuda ("Hábitos Atômicos"), mas também abrem margens para outras tendências, como a dos livros de colorir. Neste ano, "Bobbie Goods" foi quem mais "pintou" nas prateleiras do segmento.
Por mais que os milhões de livros vendidos impressionem, chama atenção também a situação na qual persiste a leitura no Brasil. Dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2024 apontaram para a queda do hábito no País.
Em meio ao cenário adverso, eventos literários em 2025 continuaram com o propósito de estimular a leitura e atrair leitores. Bienais foram realizadas Brasil afora, incluindo no Ceará. Dados importantes foram extraídos do evento, como o fato de que 10 dos 15 livros mais vendidos foram escritos por mulheres.
Das feiras literárias aos lançamentos, dos clubes de leitura às perdas de escritores, o Vida&Arte apresenta recortes importantes do que foi o ano de 2025 na Literatura.
Mortes
A Literatura teve perdas importantes em 2025. A lista de escritores e escritores que faleceram neste ano não se estendeu somente ao Brasil. No Peru, a morte de Mario Vargas Llosa foi sentida. O autor e político, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, deixou obras marcantes na literatura latino-americana, como "A Festa do Bode" e "A Guerra do Fim do Mundo". Por aqui, a comoção foi causada principalmente pelas partidas do mestre da crônica Luís Fernando Veríssimo (foto), da contista Marina Colasanti, do poeta Affonso Romano de Sant'Anna e da intelectual Heloisa Teixeira.
ABL em dia histórico
10 de julho de 2025 foi uma data histórica para a Academia Brasileira de Letras (ABL). A autora Ana Maria Gonçalves se tornou a primeira mulher negra a ser eleita para a academia em seus 128 anos de funcionamento. Aos 55 anos, foi também a imortal mais jovem a ocupar uma cadeira. Ela escreveu o aclamado romance "Um Defeito de Cor", vencedor do Prêmio Casa de Las Américas e escolhido o melhor livro de literatura brasileira do século XXI por júri da Folha de S. Paulo. Sua obra inspirou o samba-enredo da escola de samba Portela no Carnaval de 2024 no Rio de Janeiro.
As Bienais
Os eventos literários se espalharam pelo Brasil em 2025. No Rio de Janeiro, foi realizada mais uma edição da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Para o Grupo de Comunicação O POVO, dois eventos foram marcantes: a Bienal Internacional do Livro do Ceará e a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. A primeira movimentou mais de R$ 13 milhões de vendas e teve 450 mil visitantes em 10 dias, em edição que destacou o protagonismo feminino na Literatura. A segunda foi acompanhada pelo Vida&Arte e teve diferentes lançamentos, em especial o livro "Foi Um Dia…", do dramaturgo pernambucano Luiz Marinho.
Bienal
Realizada em abril, a Bienal do Livro do Ceará recebeu nomes como Tércia Montenegro, Cacique Pequena, Maria da Penha e o jogador Cafu.
Editora UFC
Reinaugurada em dezembro de 2023 após ser extinta em 2021, a Editora da Universidade Federal do Ceará (Editora UFC) lançou 13 títulos em 2025. Um deles foi a reedição do livro "Aldeota", clássico de Jáder de Carvalho que estava fora circuito editorial. Outra publicação de grande relevância foi a biografia da UFC, assinada pelo escritor e jornalista Lira Neto. Houve também antologias de autores importantes, como "Sugestão de Vida", de Margarida Saboia de Carvalho, e "Vendedor de Esperanças", de Antônio Sales. "Também enfatizamos a alegria de reeditar o livro 'Bar do Anísio', uma obra querida e importante para a memória da cidade", afirma ao Vida&Arte Juliana Diniz, vice-diretora da Editora UFC e colunista do O POVO.
Memória
"Bar do Anísio", da jornalista Isabela Bosi, conta a história do bar fortalezense famoso por reunir a turma de artistas que viria a ser chamada de Pessoal do Ceará. Entre eles, Fagner, Amelinha, Fausto Nilo e Belchior.
Lançamento marcante
"Santo de Casa", estreia de Stefano Volp no romance, acompanha o reencontro de três irmãos após a morte do pai, morto por uma onça na floresta. Enquanto o sentimento da cidade é de lástima pela perda de um homem admirado, a família enfrenta o luto trançado por violência doméstica e opressão desconhecida pelos amigos que enxergavam a casa do jardim para fora. Como escreveu Volp, "a lua no céu era um olho que tudo via". A voz da obra é do irmão mais novo, que costura lembranças, tensões em um esforço para desfazer os séculos de uma masculinidade que envenena e da violência de gênero conhecida apenas por quem a vive. Seguindo um tema em constante pauta (felizmente), a obra desenha como a estrutura social do "chefe da família" fere não somente mulheres, mas também os homens. (Mariana Lopes, repórter de Política do O POVO)
A boa crescente de clubes de leitura
Nunca o mundo literário foi tão tomado por clubes de leitura: nas últimas duas décadas, eles cresceram 35% no Brasil segundo números da Câmara Brasileira do Livro. Outrora restritos às livrarias ou a grupos de amigos, agora ocupam cada vez mais — e também — cafeterias e parques de todo o Brasil, além, claro, das redes sociais. Essa crescente representa não só uma nova forma de socialização no mundo pós-pandemia, mas também abre a porta para que o leitor saia da zona de conforto. Como membro de um clube do livro, é possível observar como eles dão a oportunidade de experimentar novos estilos de leitura e também de socializar, refletir e aprender com a opinião de outros leitores, enriquecendo ainda mais a experiência que um livro traz. (Iara Costa, repórter de Esportes do O POVO)