Os ataques que acontecem no Estado, desde a última sexta, 20, ganham as cidades do interior do Ceará. Para o sociólogo Luiz Fábio Paiva, as ações independem do comando de organização das facções criminosas ou de um líder. A situação de propagação de grupos de crime no Ceará é justamente na criação de uma rede.
Segundo o professor, os integrantes de uma facção têm ligações com outras pessoas, vinculadas ao movimento do mercado de armas e drogas. Estas recebem as mensagens e acabam se mobilizando, como se fizessem parte do grupo.
"São pessoas que têm participações eventuais e, de certa maneira, são mobilizadas pela ideia e pelo reconhecimento de identidade desses grupos", aponta ele, que é professor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Por isso, de acordo com Paiva, os eventos se espalham em todo o Estado de modo pulverizado. Ou seja, pessoas que muitas vezes sequer conhecem os líderes das facções ou outros integrantes do grupo acabam praticando atos de violência.
Assim se constitui uma espécie de comunidade moral. É interessante observar, destaca o professor, como a rede se mobiliza por meio de um "Salve Geral": uma mensagem vinda de grupos de WhatsApp. Quando alguém responde, de modo particular e passa a fazer parte dessas ações, existe o peso de que tem o compromisso com as facções.
Na maioria dos casos, essas pessoas têm um papel subalterno no grupo e não estão vinculadas ao alto rendimento econômico das organizações. Mas, segundo defende Paiva, vestem a camisa e têm um compromisso com o coletivo da criminalidade.
E esses grupos se alimentam, conforme o sociólogo, da precariedade da organização do Estado. Isso para que possam, efetivamente, ter áreas de influência e consentimento em conseguir envolver pessoas em suas dinâmicas. (Angélica Feitosa)