Mesmo sendo lugar de aprendizagem, acolhimento, de fortalecimento da democracia e da cidadania, a escola ainda é um ambiente que não está livre da violência. A discriminação, buylling, assédios e os reflexos de disputas territoriais armadas ainda são motivadoras de divergências que acabam fazendo com que o lugar de aprendizado idealizado por toda criança, possa ser também fonte de experiencias ruins.
O professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ronaldo Almeida, ressalta que a primeira questão que envolve a violência nas escolas tem a ver com pensar o fenômeno como um problema complexo, que existe na sociedade e se reflete no ambiente escolar.
“O combate à violência é uma tarefa para os professores, diretores e funcionários enfrentarem juntos. É preciso promover espaços de formação da democracia, ética, cidadania, respeito aos comportamentos diversos e abrir espaços de debates e discussões para tratar o tema pedagogicamente. As melhores estratégias sempre serão as preventivas”, afirmou.
O especialista pontuou, também, um fenômeno relativamente novo que tem efeitos rápidos e, em muitos casos, devastadores: o cyberbullying. “É uma perseguição sistemática que ganha as redes sociais e fica muito mais difícil controlar. Uma divergência que existe no mundo real e passa para o mundo virtual, com informações falsas, imagens alteradas e pode atingir a vítima de uma forma muito violenta”, explica Almeida.
Fonte: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
A lei 13.185/2015 define o bullying como todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo. É praticado sem motivação evidente por indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas. A lei incentiva a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática, no âmbito das escolas, além de buscar estabelecer ações destinadas à pacificação nesses espaços.
De acordo com um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Brasil, 14,8% dos estudantes com idades entre 13 e 15 anos já mencionaram faltar à aula por não se sentirem protegidos dentro e fora do ambiente escolar, e outros 7,4% foram vítimas de bullying. Na outra ponta, 19,8% dizem já ter praticado essa violência.
O contexto de violência em que os estudantes estão inseridos nas comunidades pode fazer com que os conflitos gerados por disputas territoriais entre criminosos afetem a convivência no ambiente escolar. A professora Jânia Perla Aquino, do Laboratório de Estudo da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que os desafios que os profissionais e alunos enfrentam na vida social acabam incidindo em muitos problemas na escola.
“Houve nos últimos anos uma expansão de conflitos territoriais armados, que já eram comuns no Rio de Janeiro e em São Paulo, e mudaram a realidade das periferias brasileiras. A escola precisa dar oportunidades não só no sentido do conhecimento das matérias, no quesito convencional, mas dar espaço para atividades como os esportes, artes cênicas, fotografias, dança, música”, ressalta.
Para Jânia Aquino, a escola precisa ser mais atraente que as possibilidades encontradas pela juventude de ingressar na prática de crimes. “É preciso que a escola ofereça um aprendizado para além do conteúdo curricular, para ajudar a sociedade a atravessar esse desafio que tem sido a criminalidade no Brasil. É preciso haver um investimento para ser uma instituição mediadora conflitos, por ser tão simbólica na sociedade como algo que transforma vidas para o bem”, considera.
O tema desta inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca do Concurso "Redação Enem: Chego Junto, Chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha em parceria com a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-CE). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) das escolas públicas estaduais são convidados a escrever uma redação no modelo dissertativo-argumentativo, o exigido no Enem. A publicação das cinco inforreportagens, referentes aos cinco temas do concurso, serão publicadas às quartas-feiras.
Os próximos temas são:
13/9 - Etarismo: mais um preconceito a ser vencido
20/9 - Os desafios para conter a demência digital no Brasil