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Ciro Gomes responde a 74 processos por 244 acusações e xingamentos
Reportagem Especial

Ciro Gomes responde a 74 processos por 244 acusações e xingamentos

"LÍNGUA AFIADA". O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) tem oito condenações por danos morais até agora, ainda sujeitas a recursos. Na lista dos desafetos, nomes como o ex-senador Eunício Oliveira, o Capitão Wagner, o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Michel Temer e o governador de São Paulo, João Doria, entre tantos outros

Ciro Gomes responde a 74 processos por 244 acusações e xingamentos

"LÍNGUA AFIADA". O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) tem oito condenações por danos morais até agora, ainda sujeitas a recursos. Na lista dos desafetos, nomes como o ex-senador Eunício Oliveira, o Capitão Wagner, o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Michel Temer e o governador de São Paulo, João Doria, entre tantos outros
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Dezenove de janeiro de 2012. O Ceará acabava de sair de turbulento início de ano, quando motim de policiais militares espalhou pânico e “fechou” boa parte do Estado. À época sem qualquer cargo público, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) é questionado sobre o movimento durante uma cerimônia: “São um ajuntamento de marginais fardados, aliados com traficantes e covardes”. A declaração lhe renderia pelo menos 18 processos de PMs na Justiça do Ceará.

E a coisa não parou por aí: conhecido pelo estilo “língua afiada”, o líder maior do clã Ferreira Gomes tem ficha corrida na Justiça à altura da fama. Desde o embate com militares oito anos atrás, Ciro já acumulou 74 processos que pedem indenizações por danos morais, apenas em ações que correm ou passaram pelo Ceará. Ao todo, ações foram movidas por pelo menos 30 pessoas diferentes e envolvem 244 acusações ou xingamentos feitos pelo pedetista. 

A informação tem base em levantamento do O POVO no sistema do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE). Como processos contra Ciro podem ter sido abertos no Judiciário de outros estados, o ex-ministro pode responder a ainda mais ações. Todas elas envolvem críticas feitas pelo presidenciável à imprensa, nas redes sociais ou durante palestras.

Ciro já foi condenado a pagar indenizações em oito dos casos em tramitação na Justiça local, mas ainda recorre das sentenças. Em outros quatro casos, o ex-ministro já foi absolvido das acusações. Outros 55 processos ainda estão em andamento no TJ-CE, com o restante tendo sido ou arquivados ou remetidos para outros tribunais.

Eduardo Cunha, João Doria e Michel Temer: desafetos de Ciro Gomes
Foto:
Eduardo Cunha, João Doria e Michel Temer: desafetos de Ciro Gomes

A lista de alvos é extensa e diversa, incluindo até o presidente Jair Bolsonaro, a quem Ciro chamou de “moralista de goela” e acusou de lavagem de dinheiro. Outros autores de processos incluem o ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) – “chefe de quadrilha” –, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ) – “o maior bandido do País” –, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) – “farsante” e “engomadinho que vive com a boca cheia de botox”.

Presidente Jair Bolsonaro(Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República)
Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República Presidente Jair Bolsonaro

O líder disparado na relação, no entanto, é o ex-aliado e ex-senador Eunício Oliveira (MDB). Em 2014, quando o emedebista rompeu com os Ferreira Gomes e disputou o Governo do Ceará contra Camilo Santana (PT), Ciro entrou em embate direto com Eunício que lhe rendeu nada menos que 36 processos na Justiça, além de outros oito de aliados do ex-senador. A maioria dos ataques ocorreu pelas redes sociais, especialmente no Facebook.

Entre os xingamentos e acusações contra o ex-aliado, estão os de “aventureiro, lambanceiro, gangster, riquinho” e até “pinotralha” – “uma mistura de Pinóquio com irmão metralha”, explica o próprio Ciro. Juntos, Eunício e policiais militares correspondem a mais de 70% das ações movidas contra o ex-ministro na Justiça cearense. Outro alvo recorrente é o pré-candidato a prefeito de Fortaleza pelo Pros, deputado Capitão Wagner, que processa Ciro em três ações.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 10-4-2015: Eunício Oliveira(Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes FORTALEZA, CE, BRASIL, 10-4-2015: Eunício Oliveira

Para o cientista político Felipe Albuquerque, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), estilo “língua solta” de Ciro envolve uma estratégia para sinalizar proximidade com a população.

“Ele tenta se colocar como quadro técnico e intelectual, a aí você vê toda fala dele cheia de números, muitos dados, até com fala sobre astrofísica. Mas ao mesmo tempo ele tem esse discurso para se mostrar próximo da população, de que não é parte de uma elite”.

Felipe Albuquerque avalia que, apesar de facilitar a construção de uma militância “apaixonada” e fiel”, o estilo pode ser também um problema na estratégia presidencial do pedetista.

“Esse estilo tem um teto, acaba sendo meio benéfico e meio prejudicial. Desde 1998 que o Ciro não sai da casa dos 15% nas eleições. Isso tem muita relação com esse estilo polêmico, que é bom para manter uma base apaixonada, a ‘galera do Ciro’, mas por isso ele também não consegue ampliar”.

A reportagem tentou contato com Ciro Gomes, mas não obteve resposta de sua assessoria. Em entrevistas recentes sobre os casos, no entanto, o candidato tem feito pouco caso dos processos, chegando diversas vezes a “aproveitar a deixa” para reiterar as acusações contra adversários.

Nos autos dos processos, a defesa de Ciro argumenta que as afirmações seguem apenas a liberdade de expressão. Em alguns dos casos, alega ainda que o tom “assertivo” faz parte do jogo eleitoral, sendo o próprio Ciro alvo de diversos ataques pessoais.

Para o “alvo favorito” Eunício Oliveira, no entanto, falas superam o limite da liberdade de expressão e devem seguir sendo alvo de processos na Justiça. Em nota, o emedebista destaca que vai manter todos os processos e que já venceu seis deles na Justiça. Os valores das indenizações, afirma, são doados para casas de recuperação de dependentes químicos.  

"Marginal", "quadrilheiro" e acusações
de desvios são ataques mais comuns

Os 74 processos por danos morais movidos contra o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na Justiça do Ceará somam, ao todo, 244 acusações e xingamentos diferentes. Entre a extensa lista de ataques, alguns envolvendo até termos criados pelo ex-ministro, os mais comuns envolvem, além de acusações de desvio de dinheiro público, alcunhas de "marginal” e “quadrilheiro”.

Ao todo, acusações de malversação de recursos públicos motivam pelo menos 26 processos contra o ex-ministro na Justiça local. A maioria movidos pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB), a quem Ciro frequentemente acusava de ter “enriquecido enquanto senador através de contratos malversados com a Petrobras”. Em seis dessas ações, o pedetista já foi condenado a pagar indenizações a Eunício, mas ainda recorre da sentença.

O xingamento de “marginal” aparece logo depois na lista, citada em 22 processos. A maioria delas foi movida por representantes de policiais militares ou pelo pré-candidato do Pros a prefeito de Fortaleza, deputado Capitão Wagner. Outro ataque frequentemente usado por Ciro contra PMs é a acusação de ligações com o tráfico de drogas, que embasam 18 processos.

FORTALEZA, CE, Brasil. 13.2.2020: Capitão Wagner. (Foto:Deísa Garcêz /Especial para O POVO)(Foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO)
Foto: DEÍSA GARCÊZ/Especial para O POVO FORTALEZA, CE, Brasil. 13.2.2020: Capitão Wagner. (Foto:Deísa Garcêz /Especial para O POVO)

A lista segue com todo tipo de ataque comum no meio político, como "corrupto" (12 casos), "mentiroso" (11), "picareta" (9), "mafioso" (5) e até "vagabundo" (5). Há ainda termos mais “criativos”, como quando o ministro chamou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ), de “entre mil picaretas, o picareta-mor”.

O processo com o maior número de ataques simultâneos feitos por Ciro foi movido em setembro de 2014 por Eunício Oliveira. Em publicação no Facebook, o pedetista atacou o ex-aliado pelo menos oito vezes, o chamando de "ladrão", "traficante de influência", riquinho", pilantra", "corrupto" e diversas acusações de crimes diversos.

 

Ciro já foi condenado em pelo menos
R$ 400 mil por ataques pessoais

Entre sentenças na Justiça do Ceará ou em outros estados, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) já soma hoje condenações em pelo menos R$ 400 mil por ataques pessoais contra políticos. Em quase todos os casos, no entanto, Ciro ainda recorre e tenta reverter as indenizações.

O maior valor é de 2012, quando Ciro foi condenado pela Justiça de São Paulo a pagar R$ 100 mil ao ex-presidente da República e hoje senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL). A ação teve como base entrevista de 1999, onde o ex-ministro rotula Collor como "safado”, “playboy sem vergonha" e o acusa de consumir cocaína. Nesse caso, não cabe recurso.

Na Justiça do Ceará, Ciro acumula ainda outras oito condenações por ataques pessoais. Ele recorre, no entanto, de todas as sentenças. Ao todo, seis dessas decisões ocorreram em ações movidas pelo ex-senador Eunício Oliveira (MDB), que somam, ao todo, indenizações de R$ 82 mil. Na eleição de 2014, o pedetista acusou o adversário diversas vezes de ter enriquecido através de “contratos malversados” com a Petrobras.

Ciro também foi condenado em R$ 20 mil por acusar, também em 2014, o deputado Capitão Wagner (Pros) de ser “chefe de milícias” na Polícia Militar do Ceará. Completam as condenações do pedetista na Justiça do Ceará acusações contra o empresário Carlos Gualter Lucena, irmão do ex-vice prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (MDB).

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