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Sobre duas rodas: mais mulheres passam a pilotar motocicletas no Ceará
Reportagem Especial

Sobre duas rodas: mais mulheres passam a pilotar motocicletas no Ceará

As mulheres pularam da garupa para assumir o controle das motocicletas em todo o Ceará nos últimos anos. Foram mais de 82 mil processos de habilitação entre o público feminino até 2019. Confira abaixo histórias por trás desses números

Sobre duas rodas: mais mulheres passam a pilotar motocicletas no Ceará

As mulheres pularam da garupa para assumir o controle das motocicletas em todo o Ceará nos últimos anos. Foram mais de 82 mil processos de habilitação entre o público feminino até 2019. Confira abaixo histórias por trás desses números
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Sem clichês para chamar de seus e donas de espírito aventureiro, cada vez mais mulheres estão pulando da garupa para assumir o comando de motocicletas no Ceará. Personagens como Guinevere Tavares, 23, e Ana Paula, 31, são exemplos de pessoas que adotaram as duas rodas como meio de transporte prático numa metrópole de trânsito complicado, dando uso ao veículo masculinizado para diversão ou plataforma de trabalho.

Guinevere Tavares. Especial Sobre duas rodas, sobre o aumento do número de mulheres pilotando motocicletas no Ceará(Foto: Aurelio Alves/ O POVO)
Foto: Aurelio Alves/ O POVO Guinevere Tavares. Especial Sobre duas rodas, sobre o aumento do número de mulheres pilotando motocicletas no Ceará

A primeira é uma jovem que carrega o nome da esposa do lendário Rei Arthur e é dona de um veículo de 250 cilindradas, cujo apelido vem do clássico “Orgulho e Preconceito”, da escritora inglesa Jane Austen. Mr Darcy é como ela chama seu potente companheiro motorizado.

Guinny tem quase duas décadas compartilhadas sobre as duas rodas, já que desde a infância foi iniciada nesta paixão. Não, ela não pilotava, mas realizava passeios na garupa do padrasto, quando morava na Itália. De Vignola, os dois iam juntos para cidades vizinhas em busca de novos supermercados e de saciar a vontade de sentir o vento no rosto, no corpo.

Cidadã do mundo, ela nasceu em Manaus, morou na Europa, mas foi em Fortaleza onde fincou raízes. Na capital cearense, passou a estudar, trabalhar e trilhar o caminho da realização do sonho de adquirir aquele que seria seu amor por anos: uma scooter.


“Foi um sonho. Eu me lembro especialmente do dia em que comprei. Estava super nervosa. Fui pegar a moto durante o meu horário de almoço e nela fui direto para o trabalho. Quase sem nenhuma prática além daquela da autoescola”, relembra.

A partir do momento em que começou a pilotar sua “vespinha”, Guinevere passou a ir “pra cima e pra baixo” na Cidade: faculdade, trabalho, praia, shopping. Com isso, a vivência em cada um dos trajetos começou a ter mais significado para a nossa personagem do que até mesmo o destino em si.

Guinny, na realidade, fica no meio termo: ela é habilitada tanto para pilotar moto como para dirigir carros. Nessas condições já são 166 mil mulheres aptas para conduzir qualquer dos veículos no Estado.

Mas é a motocicleta que proporciona sensações de liberdade e satisfação para pessoas como Guinevere que, depois de anos partilhados na scooter, deu um salto em altura e em potência para começar a pilotar a clássica ► Suzuki Intruder 250cc de 1998. Prazer, Mr Darcy.

Nos casamos no final do inverno passado, ja faz quase um ano que vagamos por ai como um casal apaixonado. Acho fantastico o fato de termos quase a mesma idade
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“Tenho liberdade de ir para onde eu quiser”


Cansada da demora, do desconforto e da falta de segurança do transporte público, Ana Paula enxergou na motocicleta uma alternativa para aumentar suas horas de sono e diminuir as distâncias de sua casa.

Especial Sobre duas rodas: Ana Paula perdia horas de seu dia antes da motociclista e precisava do transporte coletivo(Foto: Thais Mesquita / O POVO)
Foto: Thais Mesquita / O POVO Especial Sobre duas rodas: Ana Paula perdia horas de seu dia antes da motociclista e precisava do transporte coletivo

Pouco antes de optar pela moto, ela, que mora no Padre Andrade, trabalhava no Dionísio Torres e estudava na Praia do Futuro. Rotina que despendia cerca de três horas de cada um de seus dias ao longo semana.

Mas em agosto de 2015 a situação melhorou. Ana Paula aprendeu a pilotar, completou o processo de habilitação e comprou uma moto. Tudo ficou mais perto e a qualidade de vida de nossa personagem aumentou.

Mesmo com essa melhoria, o novo modo de se deslocar começou a causar preocupação na família de Ana Paula. Afinal, a segurança viária (ou a falta dela) tem como alvo principal motociclistas.

Em Fortaleza, o número de acidentes com vítimas vem caindo ano após ano e em 2019 alcançou a meta de estipulada pela ONU, que é 7,4 óbitos por 110 mil habitantes. Quer saber mais dados sobre a segurança viária de Fortaleza?

Mas a insegurança naquele momento depositada em Ana Paula acontecia também por outro motivo, desta vez ligado à uma visão sexista. Conforme conta a educadora Edilma Araújo: “A mulher ocupar um espaço predominantemente do homem é sempre um desafio, então ela tem sempre que mostrar que é melhor.”


Edilma atuou na formação de condutores por mais de dez anos com o ensino de cidadania no trânsito. Sua experiência evidencia que a desconfiança que recai sobre mulheres não se justifica por uma série de razões, como o fato de o maior índice de acidentes (com ou sem vítima) ocorrer mais com homens do que com mulheres, por exemplo.

Voltando à nossa personagem, Ana Paula relembra frases ditas à ela logo quando começou a pilotar:

Atualmente, a relação de Ana Paula com a motocicleta evoluiu. Não é mais somente um veículo de transporte, mas também o responsável por lhe proporcionar emprego e condições de criar o filho, já que ela passou a fazer entregas sobre a sua amiga ► Honda Fan 160 cilindradas.

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