(...) Estirei o pescoço trêmulo, olhei pela seteira a rua que ficava lá embaixo, sob o manto de pedra de Nossa Senhora. A vista a princípio deixou-me tonta, e retirei a cabeça, com medo da vertigem. Só aos poucos fui me habituando e afinal, de tentativa em tentativa, consegui olhar sem medo, vi os bondes lá embaixo, as meninas de saia vermelha saindo da Escola Normal, os automóveis passando pequenos e velozes. Fazia três meses que não via rua, gente, bondes, desde as últimas férias. A cidade, assim de repente, vista de uma vez e surpreendida de brusco, deu-me um choque no coração, comoveu-me tanto que as mãos me começaram a tremer e meus olhos se encheram de água. Estava ali o mundo, o povo, a vida de fora, tudo o que era interdito à minha vida de reclusa. Sentia medo e alegria, juntos numa emoção violenta, como quem rouba e se apossa de qualquer coisa sonhada e proibida. Mas Esperança me chamou, lá de baixo, e eu desci a escadinha com as pernas trêmulas, embriagada da cidade, feliz do cativeiro enganado um instante com o choque e o rumor do mundo vivo, do mundo de fora, me ressoando no coração
TRECHO DO LIVRO AS TRÊS MARIAS, de Rachel de Queiroz (1939)
Maria Augusta, protagonista do romance As três Marias (1939), subiu à torre da capela do colégio católico em que se encontrava interna para pedir intercessão da Virgem Maria num exame escolar. A Fortaleza de 1930 seduziu a personagem Guta: "embriagada da cidade", esqueceu-se até de rezar à santa, tamanho alvoroço perante a urbe que se desnudava aos seus olhos juvenis.
Rachel de Queiroz, autora do livro, também sorveu a capital cearense em grandes goles. Nascida em Fortaleza, a 17 de novembro de 1910 — há exatos 110 anos —, a escritora, tradutora, jornalista e dramaturga cartografou o Ceará em obras vanguardistas e pioneiras na literatura brasileira.
Filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família de José de Alencar, Rachel cresceu entre estantes abarrotadas de livros importados de Paris. Em 1927, aos 17 anos, foi convidada a escrever para o jornal O Ceará após enviar uma carta para o veículo — sob o pseudônimo de Rita de Queluz — ironizando o concurso Rainha dos Estudantes promovido pelo diário. No ano seguinte, em 1928, Rachel participou da fundação do novo periódico de Demócrito Rocha, o jornal O POVO. O flerte com a linguagem jornalística gestou mais de duas mil crônicas publicadas ao longo de décadas.
Aos 19 anos, acamada sob suspeita de tuberculose, Rachel escreveu O Quinze (1930) num caderno escolar, a lápis, febril. Consagrou-se amante de palavras, amante de terras. Primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL) e também primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões, Rachel de Queiroz costurou sua geografia entre cidades como Fortaleza, Rio de Janeiro, Quixadá.
Nestes 110 anos de nascimento da renomada autora cearense, O POVO convidou as pesquisadoras Natália Guerellus, Socorro Acioli e Cleudene Aragão para desbravar as Fortalezas nas obras João Miguel (1932), Caminho de Pedras (1937) e As Três Marias (1939).
"Ainda que suas raízes familiares e grande parte do seu afeto girassem em torno do sertão cearense e de suas particularidades, Rachel de Queiroz viveu, sobretudo, na cidade. Nasceu em Fortaleza, mudou-se pequena para Belém do Pará, morou em São Paulo, Maceió, Itabuna, mas foi especialmente no Rio de Janeiro que passou a maior parte de sua vida, alternando com estadias, cada vez mais longas, em Quixadá. A dimensão citadina da sua escrita é, no entanto, pouco aparente e eu diria até subestimada pela crítica, que tende a reforçar aquela dimensão que a aproxima de outros escritores nordestinos de sua época e que ficou para a história brasileira como 'o grupo regionalista dos anos 30'", pontua Natália Guerellus, pesquisadora do Departamento de Estudos Lusófonos da Université Jean Moulin, na França.
"É na cidade que os personagens são desafiados e evoluem individualmente frente à modernidade e suas consequências, enquanto o sertão aparece como o lugar do pertencimento, do coletivo, da família, da seca, do luto, ou o lugar onde se retomam as forças", complementa Natália.
A escritora Cleudene Aragão, professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e autora do livro Rachel de Queiroz e Xosé Neira Vilas: Vidas feitas de palavra, destaca que Fortaleza surge nas obras de Rachel de Queiroz em crônicas e entrevistas; em suas memórias escritas com a irmã Maria Luzia — intituladas Tantos anos (1998) —; e no cenário das narrativas ficcionais.
"Fortaleza foi o palco da formação literária inicial da escritora e dos primeiros círculos literários nos quais Rachel se engajou. Mais especificamente, o sítio do Pici aparece como lugar dos afetos e da escrita literária, pois ali a jovem Rachel começou oficialmente na literatura, foi onde escreveu O Quinze e prosseguiu no jornalismo, que iniciou aos 16 anos e exerceu sua vida inteira".
João Miguel (1932), segundo livro de Rachel de Queiroz, foi considerado pela crítica de sua época um romance mais amadurecido e consolidou o aflorante talento da cearense. Centrado em um personagem masculino — "característica que só aparece em João Miguel, O galo de ouro e na peça Lampião", ressalta Natália Guerellus —, o livro de forte teor social e psicológico é ambientado em uma prisão.
Para a escritora, jornalista e professora Socorro Acioli, doutora em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (UFF), João Miguel é uma obra pouco valorizada. "Desde que comecei a estudar a obra da Rachel, fiquei impressionada com João Miguel por ser um livro muito difícil de escrever. A gente chama de romance, mas ele tem as características perfeitas de uma novela como gênero literário. A Rachel fez uma pesquisa na cadeia do Pituí, em Baturité; e o livro acontece em um ambiente só, a cadeia, com uma trama única, o crime. É muito bem feito, principalmente por ter sido feito por uma moça tão jovem, numa idade em que as preocupações costumam ser outras. Rachel trata de questões muito longe dela, como questões de classe, de violência, de pobreza, de miséria, de injustiça. São temas muito profundos".
O livro marcou também a ruptura de Rachel com o Partido Comunista: a sigla exigiu mudanças na trama do romance João Miguel, questionando classes e respectivos comportamentos dos personagens. O tensionamento foi o estopim para a saída da escritora do PCB e posterior aproximação com o círculo trotskista na grande São Paulo, onde ingressou num grupo de intelectuais.
Em fevereiro de 1935, outro evento marcou profundamente Raquel: ela perdeu a jovem filha Clotilde para a meningite. A morte da criança afastou a autora dos escritos e o seu terceiro romance, Caminho de Pedras, forjou-se durante prisão no Corpo de Bombeiros de Fortaleza em virtude de suas filiações políticas em 1937.
Fortaleza, nas obras da Rachel, evidencia-se pela primeira vez em Caminho de Pedras. Nas palavras da pesquisadora Natália Guerellus, "o romance de 1937 apresenta uma Fortaleza que assusta o personagem Roberto, vindo do Rio de Janeiro, pelo vai e vem constante de pessoas, pelas mulheres modernas, de cabelos tingidos e unhas vermelhas, as ruas cheias de automóveis. O romance foi mal recebido por certa crítica literária e pela esquerda, pois trazia uma crítica ao PCB, mas continuava sendo um romance socialista, além de tematizar a traição de uma mulher casada com seu companheiro de militância e a morte prematura de uma criança, temas polêmicos para a época. A cidade me parece, aqui, mais uma vez, o lugar da independência, da evolução das personagens em resposta a desafios, e do perigo da militância, da paixão, da morte".
Biógrafa de Rachel de Queiroz, a escritora Socorro Acioli destaca que "Caminho de Pedras é um livro muito, muito focado em Fortaleza. Inclusive, é onde a cidade surge como cenário. Eu nunca esqueci a última cena, a personagem subindo a ladeira ali ao lado da Santa Casa (no Centro). Sempre que vou lá, eu lembro… É uma Fortaleza que não existe mais, mas aquele pedaço do Passeio Público em frente à Santa Casa foi preservado do mesmo jeito — e eu acho que esse livro tem uma característica de documento".
Socorro adiciona ainda outra característica forte no terceiro romance de Rachel de Queiroz: a maternidade. "Quando entrevistei a Rachel pelas últimas vezes, comentei sobre a perda de um filho; em todos os livros, alguma mulher perde um filho. Eu acho que a morte do filho é mais central do que outros assuntos, é a partir disso que tudo se desenha".
O tom autobiográfico de Rachel de Queiroz alcançou auge no belo As Três Marias, de 1939. "As Três Marias é, para mim, o melhor romance de Rachel de Queiroz no que tange a qualidade da narrativa e a coerência da trama e das personagens", defende Natália Guerellus.
"É o primeiro romance em primeira pessoa, inteiramente feminino, e fecha com chave de ouro essa década de consolidação da autora no campo literário de sua época. Foi considerado o melhor romance do ano pelo Anuário Brasileiro de Literatura", rememora a pesquisadora.
"A Rachel de Queiroz que encontramos neste livro é uma autora amadurecida pela força, pelo enfrentamento das adversidades, por experiências traumáticas. As três Marias é um retrato das possibilidades apresentadas para as mulheres de classes diversas na década de 1930. Nas personagens mais redondas encontramos a mulher casada — Maria da Glória —, a mulher reclusa — Maria José — e a mulher independente, em busca de si e do amor, Maria Augusta, a protagonista, que vive já em Fortaleza sua independência financeira e amorosa e que, no Rio de Janeiro, vive sua primeira relação sexual fora do casamento, com tudo o que isso tem de consequências para a época", analisa Natália Guerellus.
Segundo ela, "é muito interessante perceber que, ainda que 1939 tenha sido o ano em que Rachel de Queiroz estabeleceu-se definitivamente no Rio, sua protagonista decide, ao final do livro, voltar para o sertão. A meu ver porque, nestes romances da década de 1930, o sertão aparece como o lugar do refúgio, do consolo, do tempo de reflexão face aos perigos e desafios da cidade. É para lá que a própria autora vai voltar quando precisar recobrar as forças", complementa a pesquisadora.
Entre o primeiro romance de Rachel de Queiroz, O Quinze (1930), e o último, Memorial de Maria Moura (1992), muitas cidades e sertões se bordaram em palavras. "Se a gente pensar nessa relação sertão/cidade, Rachel de Queiroz começa no sertão e termina no sertão. Ela começa a obra (O Quinze) com uma personagem mulher, a Conceição, em busca dessa liberdade, dessa autonomia, e termina com outra mulher em busca da liberdade e da autonomia — a diferença é que a Moura se permite amar, se permite se entregar a esse amor, tudo que a Conceição não se permite. É como se tivesse acontecido, no percurso entre essas personagens femininas, um amadurecimento muito complexo, muito profundo dessa personagem que vai passando de um livro para o outro, com nomes diferentes, mas que é uma representação feminina. A Moura é uma Conceição amadurecida, uma Conceição que sabe que a vida é feita de muitos aspectos. É uma mulher que está de frente para a vida de forma muito plena", partilha Socorro Acioli.
Para a escritora e pesquisadora Cleudene Aragão, Rachel de Queiroz escreveu "as mulheres e suas lutas cotidianas, as batalhas contra a injustiça social, as relações de amizade e companheirismo e, sobretudo, a partir da trajetória não convencional das mulheres fortes desses romances, a liberdade de sermos quem quisermos ser. Como disse a amiga de Rachel e crítica literária Heloísa Buarque de Hollanda: 'Santa, de João Miguel, base de resistência política do romance, Noemi, de Caminho de Pedras, que desafia a tudo e a todos em nome de seu direito de amar, a Guta, de As três Marias, e sua forte vocação política'".
Em 1997, ao entrevistar Rachel de Queiroz, Cleudene Aragão questionou a escritora sobre o papel do trabalho da autora na escrita da nossa terra. "Ao que respondeu Rachel me respondeu: 'Eu acho que eu nunca fiz nada de intenção. Eu sou uma pessoa de dar testemunho... Eu sou uma espécie de testemunho da minha terra e do meu tempo... Aquela coisa... O que eu sei fazer é isso. É contar da minha gente e do meu povo. Como o cantador canta as coisas dele'. Embora ela não manifestasse uma intenção deliberada, acabou se convertendo em porta-voz do Ceará, pois considero que não se pode falar em Ceará, nem do sertão cearense, sem lembrar de Rachel de Queiroz", relembra Cleudene.
"Rachel foi uma porta-voz ficcional de seu povo e de seu tempo. Em princípio 'pintando' a própria terra e em seguida retratando também os povos de outras terras que adotou", assegura Cleudene Aragão. "Sua obra tem grande valor estético e autenticidade, mas creio que ainda não foi estudada tanto quanto merece no Ceará. Devemos a ela mais homenagens, pesquisas, reedições críticas e a criação de um Centro de Estudos Rachel de Queiroz, uma Casa de Rachel que proteja e difunda o seu legado, para novas gerações de cearenses e brasileiros em geral", finaliza.
Como começar a ler Rachel de Queiroz?
Biógrafa de Rachel de Queiroz, a escritora Socorro Acioli recomenda: "Sugiro muito ler na ordem para quem quer ler a obra completa. Para quem quer ler só um livro, quem quer só conhecer e nunca leu Rachel, eu acho que João Miguel também é um bom livro de entrada, mais que O Quinze. O melhor de todos é o Memorial de Maria Moura, não tenho nem dúvidas".
As marcas de Rachel em Fortaleza
O espaço em que uma pessoa nasce, cresce e habita durante sua vida sempre será motivo de lembranças. Nessas memórias, há significados infinitos. Ao olhar para o passado, alguém recordará momentos traumáticos. Outras pessoas evocarão os períodos de maior felicidade. Alguns terão uma combinação de sentimentos distintos e aparentemente contraditórios.
E Fortaleza, com quase três séculos de existência, é responsável por guardar marcas no pensamento das milhões de pessoas que nela viveram. Com o tempo, são as reminiscências de experiências passadas que permanecem. Mas se a pergunta fosse o contrário: quais são os rastros que a Cidade mantém de seus moradores?
Talvez seja uma fotografia exposta nos corredores de uma universidade. Até mesmo uma casa que foi decorada pela família e continua igual há décadas. O município, porém, consegue preservar ainda mais as memórias de seus habitantes ilustres. É, por exemplo, a terra alencarina - em alusão a José de Alencar. Designa suas ruas em homenagem a tantos cidadãos importantes, como Antônio Sales e Heráclito Graça. Em meio a esse conjunto de lembranças que solidifica a identidade fortalezense está, também, Rachel de Queiroz.
Ela tem várias escolas denominadas em sua consideração. É ainda seu nome que dá título ao Parque Rachel de Queiroz, no bairro Presidente Kennedy. Mas ainda há memoriais mais fortes. Quem caminha pela Praça dos Leões pode encontrar sua estátua em tamanho real. A imagem da escritora está sentada em um banco central, de mãos e pernas cruzadas, com um sorriso no rosto. Sob responsabilidade da Academia Cearense de Letras, aquela figura é quase um convite para sentar-se ao seu lado.
A instituição que cuida da estátua é a mesma que a autora fora membro durante a última década de sua vida. A partir de 1994, ocupou a cadeira 32, que havia sido deixada por Moreira Campos. A demora para seu ingresso aconteceu por um motivo: os estatutos impediam que cearenses que residiam em outros estados se associassem.
“Esse impedimento foi contornado pelos acadêmicos a partir do então presidente da Academia, Artur Eduardo Benevides, que propôs que essa exigência excetuasse os membros da Academia Brasileira de Letras”, explica a atual presidente Angela Gutiérrez.
Para ela, uma das grandes influências da autora foi questionar os problemas do Nordeste em um período de extrema defesa do progresso. “Juntamente com outros escritores da Geração de 30, Rachel chamou a atenção do século XX, que se acreditava o século do progresso, para questões relacionadas à seca e às desigualdades sociais do Nordeste, mas sobretudo, para a humanidade de seus personagens”, afirma Angela.
A Academia Cearense de Letras, entretanto, não é o único ambiente que proporciona esse espaço de lembranças. A Universidade de Fortaleza (Unifor) disponibiliza a Coleção Rachel de Queiroz, que conta com mais de 3.000 itens relacionados à romancista. Entre livros e periódicos, o arquivo foi doado pelo Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro (IMS Rio) em 2017. “São obras únicas que pertenceram à ela. 1.200 delas têm dedicatórias de grandes nomes, como Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade”, explica Leonilha Lessa, gerente da Biblioteca Central da universidade.
Apesar de estarem em um local destinado à visitação do público, os conteúdos fazem parte do catálogo da instituição. Etiquetas, entretanto, não foram colocadas para evitar a danificação. No total, mais de cinco mil pessoas de 60 municípios distintos já conheceram o acervo em três anos. Atualmente, as atividades presenciais estão suspensas para quem não é estudante em respeito às medidas de distanciamento social causadas pela pandemia.
“A cada ano que passa, as obras de Rachel de Queiroz ficam mais importante. Quando vai se distanciando da vida do escritor, sua obra fica mais relevante. Isso nos faz ampliar ainda mais nossos cuidados. Conservar as obras é preservar a história de Rachel, além da literatura cearense e também brasileira”, afirma a bibliotecária. O valor histórico do acervo é, portanto, imprescindível. “Ela não foi só uma grande escritora, mas uma grande tradutora. Ela traduziu livros de Fiódor Dostoiévski do francês para o português. Foi a primeira mulher na Academia Brasileira de Letras. Começou a escrever muito jovem. Desenhava fortes personagens feministas, apesar de não se considerar feminista”, considera Leonilha Lessa.
Ainda há outro lugar que preserva a memória da autora. Exclusiva somente para pesquisadores e escritores, a biblioteca do bibliófilo José Augusto Bezerra conta com o “Memorial Rachel de Queiroz” desde 2008. Com aproximadamente 2.000 itens, há crônicas, contos, correspondências, documentos e vários objetos pessoais.
Entre as peças de destaque, está a primeira edição de O Quinze (1930) que pertenceu à mãe, Clotilde Franklin de Queiroz. Também tem a mesa em que ela escreveu seu romance de estreia. Segundo o colecionador, que é também fundador Associação Brasileira de Bibliófilos, grande parte do acervo foi doado para ele pela família da romancista. “É o único memorial que eu considero que veio dela, que é dela. Eu já colecionava antes da família dela me conceder 50% dos itens. Ali é onde está a memória de Rachel”, indica José Augusto.
Um dos objetos de maior prestígio é um retrato dado por Padre Cícero para a escritora no dia em que ela lançou seu primeiro livro. Na imagem, há uma dedicatória do próprio sacerdote em sua homenagem.
O bibliófilo indica que, no momento, o acesso ao conteúdo é restrito e também está fechado devido à pandemia. Entretanto, ele planeja divulgar os documentos de sua biblioteca no meio virtual. “Queremos fazer uma espécie de site para colocarmos as peças. Assim, elas podem ser visitadas por pessoas de outras partes do Brasil e também pelo público que tiver interesse”, conjectura. O objetivo é idealizar o projeto após o coronavírus.
Dentre todos os espaços de Fortaleza que guardam rastros de Rachel de Queiroz, talvez um lugar mereça maior destaque: a casa no bairro Henrique Jorge que pertenceu à sua família. Em 1927, o pai, Daniel de Queiroz Lima, adquiriu a residência para facilitar os estudos dos filhos. Foi naquela moradia, com vista para a Lagoa da Parangaba, que a jovem autora escreveu O Quinze.
Distanciada de sua rotina por causa de uma doença, enfrentava dias de tédio. Os familiares não permitiam que ela realizasse esforços. Mas, teimosa, esperava todos irem dormir para aproveitar os momentos de silêncio e escrever. Desfrutava de um pequeno ambiente iluminado para redigir à mão a primeira versão daquilo que se tornaria um dos clássicos da literatura brasileira. Foi apenas quando teve coragem de mostrar seu texto para outras pessoas que ganhou uma máquina datilográfica.
Ali, permaneceu durante toda sua juventude. Saiu somente quando se mudou para o Rio de Janeiro, em 1939. A habitação, denominada carinhosamente de “Casa dos Benjamins” em alusão a suas árvores centenárias, foi tombada pelo município em 2009.
A Fortaleza de Rachel de Queiroz é repleta de nuances. A capital cearense tem sua história entrelaçada pela trajetória de uma das mais importantes escritoras do Brasil. Confira abaixo um mapa com locais que fazem referência à autora.
Nesta terça-feira, 17 de novembro de 2020, a Academia Cearense de Letras realiza uma homenagem ao aniversário de Rachel de Queiroz. Na data, acontece uma mesa-redonda com objetivo de discutir a obra da escritora. Participarão a presidente da Academia Cearense de Letras, Angela Gutiérrez; a diretora cultural e acadêmica, Lourdinha Leite Barbosa; as professoras Cleudene Aragão e Aíla Sampaio
Quando: 19 horas
Onde: Google Meet
Mais informações: no Instagram @academiacearensedeletras
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