O Ceará possui uma longa história no desenvolvimento das energias renováveis no Brasil. Com iniciativas pioneiras especialmente em relação às fontes eólica e solar, o Estado já projeta os próximos anos, com políticas de incentivo ao setor. Empresas internacionais como a dinamarquesa Vestas investiram neste ambiente de negócios e já colhem frutos.
Desde a inauguração de uma fábrica em Aquiraz, a primeira da empresa no Brasil, a Vestas sempre planejou expandir os negócios no Estado e em 2020 lançou novo produto, evolução da turbina V150-4.2 MW, agora com potência otimizada para 4.5 MW, a mais potente já instalada no País. Eric Gomes, diretor de Vendas da Vestas no Brasil, fez um balanço ao O POVO sobre o ano para o setor. Ainda disse que o Nordeste é prioridade no futuro.
Eric acredita que a sucessão presidencial dos Estados Unidos e a fala do presidente eleito, Joe Biden, sobre a maior economia do mundo aumentar os investimentos em energias renováveis anima a Vestas. Além do aspecto econômico, o executivo lembra da emergência ambiental pela qual o mundo passa. "Os EUA precisam evoluir e o Brasil não pode parar na sua caminhada rumo à produção de energia com mínimo impacto ambiental", frisa.
E complementa: "O investimento em energia renovável é essencial para combatermos a crise climática pela qual passamos e que ainda é a maior ameaça deste século. Dados governamentais dos EUA mostram que, em 2019, as renováveis ocuparam 11% da matriz energética do País".
Eric Gomes - A nossa principal novidade no Brasil é o modo de potência otimizado de 4.5 MW disponível para nossa turbina V150-4.2 MW. Ele foi anunciado em outubro, menos de um ano depois do início da produção local da V150-4.2 MW, em Aquiraz, e as primeiras entregas estão previstas para 2022. A V150-4.2 MW é a mais potente já instalada no Brasil e tem sido um sucesso no País, com 4,1 GW em pedidos até o momento – mais de um quarto dos 10 GW de pedidos para este modelo globalmente -, e a crescente demanda por inovações levou ao upgrade da turbina ao País.
Eric - Dentre os diferenciais, está o reforço do trocador de calor da V150-4.2 MW, de forma a suportar adequadamente o rendimento de energia adicional esperado. Além de ser totalmente adaptado às condições de vento brasileiras, este modelo gera um aumento da produção de energia e oferece um custo de energia nivelado muito competitivo, que resulta em um investimento atrativo de longo prazo para nossos clientes. O modo de potência otimizado de 4.5 MW integrará a V150-4.2 MW, parte da plataforma 4 MW. Portanto, são dez anos de evolução de uma tecnologia testada e validada.
"O que podemos dizer é que o Nordeste é a principal região do País para a instalação de complexos eólicos devido às características do seu vento."
Eric - Quanto a projetos futuros, nossa estratégia de negócios não permite que revelemos quais são. O que podemos dizer é que o Nordeste é a principal região do País para a instalação de complexos eólicos devido às características do seu vento. Portanto, há uma tendência maior para investimentos nestes estados.
Eric - Podemos dizer que estamos confiantes em relação ao futuro. Para 2021, seguiremos com a produção e entrega de parte das mais de 960 unidades da V150-4.2 MW encomendadas até o momento, que irão adicionar mais de 4,1 GW à matriz elétrica brasileira.
"Graças à nossa estrutura e forte atuação nos últimos anos, conseguimos manter todos os nossos colaboradores sem a necessidade de renegociar contratos."
OP - Como a pandemia impactou os negócios?
Eric - Este ano de 2020 foi altamente desafiador em vários sentidos. A segurança dos colaboradores é prioritária para a Vestas. Com o aprendizado de nossas outras instalações ao redor do mundo, como na China, Itália e Espanha, que foram fortemente impactadas pela pandemia antes do Brasil, adotamos medidas de segurança antes mesmo de serem obrigatórias no País. A manutenção de empregos também foi considerada essencial. Graças à nossa estrutura e forte atuação nos últimos anos, conseguimos manter todos os nossos colaboradores sem a necessidade de renegociar contratos. Nas operações, tivemos que fazer alguns ajustes a nossas entregas devido a atrasos na logística de cadeia de fornecedores. E houve um período em que a fábrica operou com algumas restrições por conta de interrupções na cadeia de fornecimento ao redor do mundo, incluindo os mercados asiáticos. Hoje, operamos com 100% da capacidade, mantendo ainda todos os cuidados sanitários para assegurar a segurança de nossos colaboradores.
Eric - Atravessamos o período conhecido como “safra dos ventos” no Nordeste, no qual os ventos tendem a atingir velocidades mais altas. Na região, o vento normalmente é unidirecional e estável, resultando em uma geração praticamente contínua. Assim como a V150-4.2 MW, o modo de potência otimizado de 4.5 MW desta turbina já possui uma configuração que extrai o máximo dos ventos nordestinos não só durante a “safra”, mas em qualquer período do ano. Portanto, conseguimos fornecer uma solução totalmente adequada às necessidades de nossos clientes na região, com um ótimo custo-benefício. Estes recordes mostram a força do setor eólico brasileiro, que hoje representa mais de 9% da matriz elétrica do Brasil. Além disso, também apontam para um futuro cada vez mais sustentável, totalmente abastecido por energia renovável.
Eric - O investimento em energia renovável é essencial para combatermos a crise climática pela qual passamos e que ainda é a maior ameaça deste século. Dados governamentais dos EUA mostram que, em 2019, as renováveis ocuparam 11% da matriz energética do país. No mesmo ano, o Ministério de Minas e Energia apontou que as renováveis representavam 46,1% da nossa matriz. Apesar da diferença, não devemos parar ou reduzir nossos esforços no Brasil. A estimativa do MME é que as fontes renováveis representem 48% da matriz energética do país até 2029. A representação da energia eólica na matriz elétrica, que hoje é de mais de 9%, passaria para 16%. Para atingir esse objetivo, é importante que empresas e governos trabalhem juntos para encontrar soluções sustentáveis. No Brasil, essas medidas devem ser amparadas por uma sólida e ampla regulamentação que também dê espaço para inovações. A descarbonização da economia por meio da eletrificação de diversos setores e a competitividade de custos são outros desafios que devem ser superados no País.
Eric - O Brasil tem um enorme potencial eólico onshore que ainda pode ser explorado e, por enquanto, iremos focar nele. No entanto, como líderes em soluções sustentáveis, estamos atentos a todas as movimentações do segmento e vemos com bons olhos iniciativas que promovam o desenvolvimento das energias renováveis no País. Globalmente, a Vestas acredita no potencial eólico offshore, tanto que recentemente a Vestas e a Mitsubishi Heavy Industries assinaram um acordo para aquisição da MHI Vestas Offshore Wind por parte da Vestas. Essa transação foi aprovada no último dia 27 de novembro. Dessa maneira, a energia eólica offshore volta a ser parte da estrutura da Vestas, o que nos permite definir o objetivo global de longo prazo para nos tornarmos líder do segmento offshore até 2025. Para alcançar essa meta, nosso foco será o estabelecimento de plataformas tecnológicas, operacionais e culturais adequadas.
Eric - As renováveis já representam 46,1% da matriz energética do Brasil e é só uma questão de tempo para que supere as fontes fósseis. Vemos uma crescente demanda de empresas pelo uso de energia renovável, principalmente no setor industrial, o que é um sinal de que há uma mudança positiva em relação à consciência ambiental. Com o adiamento de leilões de energia, vemos mais a relevância da expansão do mercado livre, que vem se firmando como um modelo de negócio altamente interessante com grandes benefícios para expansão da geração renovável no País.
Eric - Falando de um ponto de vista global, a pandemia nos mostrou o quão resilientes podem ser as renováveis. Enquanto a geração de energia fóssil sofreu com o impacto da crise sanitária, com fortes quedas principalmente no começo de 2020, as renováveis, em especial a eólica, conseguiram se manter mais estáveis. Além de fornecerem energia limpa e confiável, as fontes renováveis ainda conseguem absorver os profissionais do segmento fóssil que perderam seus empregos durante a crise. Isso é ressaltado pela Agência de Energia Internacional, que estima que o setor de renováveis pode criar cerca de 9 milhões de vagas de emprego por ano globalmente.
Eric - O crescimento do segmento renovável resulta em desenvolvimento socioeconômico. Se levarmos em consideração somente o setor eólico, estima-se que sejam criados 15 empregos a cada MW instalado. Hoje, a Vestas tem mais de 4 GW instalados ou em construção no Brasil. Contribuímos para a geração de 3.200 empregos no Ceará desde a expansão de nossa capacidade fabril e investimento em Aquiraz, no fim de 2019. Desse total, 200 foram contratações diretas para a produção dos hubs e nacelles da V150-4.2 MW, a mais potente turbina eólica em operação no Brasil.
Eric - A companhia também contribuiu para a criação de três mil empregos indiretos, ligados à produção de componentes com as pás eólicas que são produzidas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Há, ainda, outros empregos ligados à construção dos parques eólicos, não só no Ceará, mas também em outros estados, como Rio Grande do Norte e Bahia. Mesmo depois de erguidas e totalmente operacionais, as turbinas eólicas seguem gerando oportunidades ao longo de sua vida útil, em média, acima de 20 anos. A Vestas tem mais de 300 colaboradores que trabalham exclusivamente na operação e manutenção de aerogeradores. São profissionais que acompanham o desempenho dos equipamentos e garantem que entreguem o desempenho ideal.