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Ceará entra na quadra chuvosa com 20 açudes em volume morto ou seco
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Ceará entra na quadra chuvosa com 20 açudes em volume morto ou seco

Um total de 16 municípios do Interior têm reservatórios em situação crítica. Os últimos três anos têm sido de preocupação para o aporte cearense
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Vale lembrar que já começou a quadra chuvosa no Estado - principal forma de abastecimento desses açudes. (Foto: (Foto: Aurélio Alves))
Foto: (Foto: Aurélio Alves) Vale lembrar que já começou a quadra chuvosa no Estado - principal forma de abastecimento desses açudes.

Sob uma quadra chuvosa com índices abaixo da média, o ano de 2021 começa com um total de 20 açudes em evento extremo no Estado: dos 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 14 deles estão em volume morto e outros seis estão secos. Mesmo sob uma situação melhor do que em fevereiro de 2020, a condição mostra que o Ceará ainda está longe de um volume de abastecimento tranquilo.

Um total de 16 cidades do Interior têm suas reservas em situação crítica. Delas, cerca de 11 açudes não atingem sua capacidade máxima desde 2009 - último ano de grandes cheias no Estado, com precipitações acima do esperado. A exemplo, Pirabibu, na cidade de Quixeramobim, atingiu 79,57% (ou 58,88 milhões de m³) de sua capacidade no ano da fartura hídrica. Mas nunca atingiu a máxima de volume (74 milhões de m³), segundo dados da Cogerh de 2004 até então, e inicia 2021 totalmente seco.

Os açudes com volume seco estão literalmente sem água. Já o volume morto é influenciado por uma tomada d'água no açude: quando não há essa ferramenta na represa, a Cogerh toma um açude com menos de 5% de sua capacidade como morto. Já quando há a tomada d’água, o referencial varia de açude para açude.

Estão com volume seco os açudes Madeiro (em Pereiro), Salão (Canindé), Jatobá (Milhã), Monsenhor Tabosa (Monsenhor Tabosa), Pirabibu (Quixeramobim) e Forquilha II (Tauá). E estão com volume morto os reservatórios Barragem do Batalhão (Crateús), Barra Velha (Independência), Pompeu Sobrinho (Choró), Castro (Itapiuína), Riacho da Serra (Alto Santo), Adauto Bezerra (Pereiro), Joaquim Távora (Jaguaribe), Potiretama (Potiretama), São Domingos (Caridade), Sousa (Canindé), Cipoada (Morada Nova), Trapiá II (Pedra Branca), Várzea do Boi (Tauá) e Favelas (Tauá).

A quadra chuvosa no Estado - principal forma de abastecimento desses açudes - já começou desde 1º de fevereiro. Para Bruno Rebouças, diretor de operações da Cogerh, até então o prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), de chuvas abaixo da média para o período - que vai até maio -, vem se concretizando somado aos reflexos de uma crise hídrica cearense desde 2012.

Segundo Rebouças, os últimos três anos têm sido de preocupação para o aporte cearense. Os 155 açudes monitorados pela Companhia refletem uma capacidade de 18,6 bilhões de m³ de água. Entretanto, o volume atual é de 4,58 bilhões de m³, correspondendo a 24,6% do volume atual ocupado. O volume é melhor que o ano passado, mas segue abaixo da média. As informações são do monitoramento diário da Cogerh desta sexta-feira, 5.

"Frente à crise hídrica, é natural você ter os reservatórios nesse nível baixo", explica. "Independente de ser um bom ano de chuva ou não, no primeiro semestre os reservatórios têm esse índice reduzido. E com o final da quadra chuvosa é feita essa realocação".

Diante da pouca água, torna-se necessário estabelecer prioridades para seu uso. Entre os prejudicados com os baixos índices, estão os grupos que utilizam o recurso para irrigação. A prioridade também é não deixar ninguém desabastecido. “Como a irrigação é o maior consumidor, ela é a primeira a sofrer restrições. Mas de toda forma, ela continua tendo água. Ela não tem água cortada, justamente para garantir a renda do campo”, explica o diretor da Cogerh.

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Cada reservatório tem uma situação diferente. Na porção noroeste do Estado, todas as bacias conseguem fazer uma operação no momento sem restrição. Já em Jaguaribe, por exemplo, essas têm que manter uma restrição para possibilitar os usos múltiplos.

Das 20 comportas citadas na matéria, cinco estão no Médio Jaguaribe (15 açudes): quatro em volume morto e um em volume seco; e três delas estão na região do Alto Jaguaribe (24 açudes): um em volume seco e dois em volume morto. “Como vivemos em uma região semiárida, e mesmo em anos que essa perspectiva é boa, temos que sempre manter o uso consciente da água”, explica Bruno Rebouças.

O meteorologista Raul Fritz, da Funceme, explica que "para que os grandes açudes tenham mais aporte é necessário que os menores que estão no caminho dos maiores estejam transbordando para que a água deles siga o seu curso e alcance o principal (o maior)". Segundo ele, se o grande reservatório depende somente de cursos d'água para o seu abastecimento, é necessário que esses cursos estejam com boa vazão (volume) de escoamento de água, sem perdas ou retiradas significativas deles, para proporcionar melhor aporte ao reservatório. "Para tudo isso, é preciso que venha chovendo com certa regularidade para que haja adequado escoamento hídrico nos rios, para que suas águas cheguem aos reservatórios".

Confira os açudes que estão em situação crítica no Estado:

Secos

Madeiro (Pereiro) - 0%
O açude não possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Madeiro. Tem capacidade máxima de 2,81 milhões de m³, mas seu índice máximo foi em julho de 2009, com 1,82 milhão de m³ (64,77% do volume).

Salão (Canindé) - 3,15%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Salão. Tem capacidade máxima de 6,04 (milhões de m³) e atingiu seu índice máximo em maio de 2009, com 100% de sua capacidade. Atualmente, tem 3,15% de sua capacidade.

Jatobá (Milhã) - 0%
O açude possui tomada d'água, mas segue desativada. É abastecido principalmente pelo Riacho Traíra. Tem capacidade máxima de 1,07 milhão de m³ e atingiu seu último índice máximo em maio de 2011, com 100% de sua capacidade.

Mons. Tabosa (Monsenhor Tabosa) - 0%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Rio Quixeramobim. Tem capacidade máxima de 11,70 milhões de m³ e atingiu seu último índice máximo em maio de 2009, com 100% de sua capacidade.

Pirabibu (Quixeramobim) - 0%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Rio Pirabibu. Tem capacidade máxima de 74 (hm³), mas nunca atingiu 100% de sua capacidade.

Forquilha II (Tauá) - 0%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Carrapateiras. Tem capacidade máxima de 3,40 milhões de m³ e a última vez que atingiu 100% de sua capacidade foi em maio de 2009.

Volume Morto

Barragem do Batalhão (Crateús)
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Rio Poti. Tem capacidade máxima de 1,64 milhão de m³ e a última vez que atingiu 100% de sua capacidade foi em junho de 2020.

Barra Velha (Independência) - 0,01%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Santa Cruz. Tem capacidade máxima de 99,56 milhões de m³ e a última vez que atingiu 100% de sua capacidade foi em maio de 2009.

Pompeu Sobrinho (Choró) - 3,83%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Rio Choró. Tem capacidade máxima de 143 milhões de m³ e nunca atingiu 100% de sua capacidade.

Castro (Itapiuína) - 2%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Castro e tem capacidade máxima de 62,31 (hm³) e atingiu 100% de sua capacidade em maio de 2009.

Riacho da Serra (Alto Santo) - 4,03%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho da Serra e tem capacidade máxima de 23,47 (hm³) e nunca atingiu 100% de sua capacidade.

Adauto Bezerra (Pereiro) - 2,19%
O açude não possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho da Serra e tem capacidade máxima de 23,47 (hm³) e nunca atingiu 100% de sua capacidade.

Joaquim Távora (Jaguaribe) - 1,48%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Rio São Caetano e tem capacidade máxima de 4,79 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em abril de 2009.

Potiretama (Potiretama) - 0%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho do Logradouro e tem capacidade máxima de 6,38 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em abril de 2009.

São Domingos (Caridade) - 2,14%
O açude não tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho do Nambi e tem capacidade máxima de 3,20 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em abril de 2009.

Sousa (Canindé) - 1,41%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Juriti e tem capacidade máxima de 30,84 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em junho de 2009.

Cipoada (Morada Nova) - 3,95%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Sta Rosa e tem capacidade máxima de 86,09 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em junho de 2009.

Trapiá II (Pedra Branca) - 1,14%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Cachoeira e tem capacidade máxima de 86,09 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em junho de 2009.

Várzea do Boi (Tauá) - 9,31%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho Carrapateiras e tem capacidade máxima de 51,91 milhões m³ e atingiu 100% de sua capacidade em maio de 2008.

Favelas (Tauá) - 1,27%
O açude possui tomada d'água e é abastecido principalmente pelo Riacho das Favelas e tem capacidade máxima de 30,10 milhões de m³ e atingiu 100% de sua capacidade em maio de 2011.

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