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Super Bowl LV: duelo entre Chiefs e Buccaneers opõe legado e futuro da NFL
Reportagem Especial

Super Bowl LV: duelo entre Chiefs e Buccaneers opõe legado e futuro da NFL

FUTEBOL AMERICANO | Patrick Mahomes, de 25 anos, e Tom Brady, de 43, são os maiores representantes de suas respectivas gerações. O quarterback do Kansas City quer o bicampeonato consecutivo; já o do Tampa Bay quer ampliar o recorde e chegar a sete títulos

Super Bowl LV: duelo entre Chiefs e Buccaneers opõe legado e futuro da NFL

FUTEBOL AMERICANO | Patrick Mahomes, de 25 anos, e Tom Brady, de 43, são os maiores representantes de suas respectivas gerações. O quarterback do Kansas City quer o bicampeonato consecutivo; já o do Tampa Bay quer ampliar o recorde e chegar a sete títulos
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A narrativa do Super Bowl LV, marcado para o domingo, dia 7 de fevereiro, às 20h30min (horário de Fortaleza), no Raymond James Stadium, em Tampa, na Flórida, poderia ter sido escrita por um roteirista de Hollywood. O duelo entre Kansas City Chiefs, atual campeão da National Football League (NFL), e Tampa Bay Buccaneers, primeira equipe a jogar "em casa" a decisão do principal campeonato de futebol americano, promoverá um choque de gerações. O jogo, bem como o show do intervalo com The Weeknd, será exibido pela ESPN.

Patrick Mahomes, quarterback dos Chiefs, tem 25 anos e está na terceira temporada como titular da franquia do Missouri. Apesar do curto tempo na liga, ele acumula feitos impressionantes. Ele foi escolhido o jogador mais valioso (MVP) da temporada 2018-2019 e do Super Bowl LIV, disputado em 2020, após vitória contra o San Francisco 49ers. Ao entrar em campo pela decisão, ele se tornará o jogador mais novo a atuar em duas decisões nacionais consecutivas.

Patrick Mahomes, quarterback do Kansas City Chiefs
Foto: AFP
Patrick Mahomes, quarterback do Kansas City Chiefs

Por causa de sua base no beisebol, esporte em que seu pai, também chamado Patrick Mahomes, atuou profissionalmente, o quarterback dos Chiefs consegue acertar arremessos de ângulos e posturas pouco convencionais. Ademais, Mahomes representa aquilo que se espera na modernidade da sua posição, com boa movimentação dentro e fora do "pocket", além de leitura de jogadas apurada.

Em um estilo totalmente diferente, mas historicamente eficiente, Tom Brady, quarterback de 43 anos do Tampa Bay Buccaneers, adota uma postura mais conservadora, com menos movimentação, mas com passes e leituras de jogo precisas.

A mentalidade vencedora de Brady, porém, é algo sem precedentes no esporte americano. Após 19 anos no New England Patriots, seis anéis de campeão de Super Bowl (recorde), em breve dez disputas da final da liga (recorde), três MVP da temporada regular da NFL e quatro MVP do Super Bowl (recorde), ele assinou com os Bucs, franquia fundada em 1976 que somente havia disputado o Super Bowl uma vez — em 2002-2003, quando foi campeão. Logo na estreia pela equipe da Flórida, Tom não só levou a equipe à pós-temporada, mas deixou pelo caminho equipes favoritas, com quarterbacks históricos, e chegou à decisão.

Tom Brady, quarterback do Tampa Bay Buccaneers
Foto: Chris Graythen/AFP
Tom Brady, quarterback do Tampa Bay Buccaneers

Após perder duas vezes na temporada regular para o New Orleans Saints, os Bucs superaram a equipe de Drew Brees na fase divisional. Já na final da Conferência Nacional, o Tampa Bay passou pelo Green Bay Packers de Aaron Rodgers, possivelmente o melhor jogador da temporada 2020-2021 da NFL. Brees, Rogers e Brady são três dos principais representantes da geração que revolucionou o futebol americano, com maior protagonismo dos quarterbacks. Pelo sucesso sem precedentes, o "marido da Gisele Bündchen" é considerado por muitos especialistas como o melhor da história.

Dezoito anos separam Mahomes de Brady. Enquanto um está consolidado como o atleta mais vencedor da história do futebol americano e quer ampliar seu legado no esporte, o outro é potencialmente o jogador mais completo que já atuou na liga e pode, no futuro, se tornar o maior ícone da modalidade em triunfos.

LEIA O PERFIL DE PATRICK MAHOMES

LEIA O PERFIL DE TOM BRADY

 

 

Muito mais que Mahomes x Brady

 

Tyreek Hill (com a bola oval) é um dos principais recebedores de passes da NFL
Foto: Jamie Squire/Getty Images/AFP
Tyreek Hill (com a bola oval) é um dos principais recebedores de passes da NFL

O duelo do Super Bowl LV vai além da disputa de quarterbacks. O Kansas City Chiefs tem na dupla Tyreek Hill e Travis Kelce alvos eficazes de recepção de passes. Eles somam 254,5 jardas por jogo nos playoffs. O sistema defensivo, ponto frágil da franquia, também evoluiu na pós-temporada, cedendo somente 20,5 pontos por jogo — menos que os 25 pontos concedidos por partida nos playoffs da última temporada, em que se sagrou campeão.

Do outro lado, a defesa do Tampa Bay Buccaneers vem tendo atuações marcantes no mata-mata. Individualmente, Devin White lidera a atual pós-temporada em tackles (26), enquanto Sean Murphy-Bunting é o líder em interceptações (três) e Shaquil Barrett é o jogador com mais sacks (três), junto com Jerry Hughes, do finalista de conferência Buffalo Bills.

Devin White (atrás) é um dos destaques da forte defesa do Tampa Bay Buccaneers
Foto: Dylan Buell/Getty Images/AFP
Devin White (atrás) é um dos destaques da forte defesa do Tampa Bay Buccaneers

Coletivamente, os Bucs recuperaram a posse de bola através de ações defensivas em cinco oportunidades nos playoffs, melhor marca junto ao Cleveland Browns. Os erros forçados foram fundamentais para os triunfos contra Saints e Packers principalmente, pois eles acabaram sendo capitalizados em pontos posteriormente.

Tom Brady também terá boas opções para passar a bola na partida decisiva, principalmente para Chris Godwin e Mike Evans, dupla de wide receivers que estão entre os seis atletas com mais jardas recebidas nos atuais playoffs. Tom ainda terá a presença do experiente tight end Rob Gronkowski, ex-companheiro dos tempos de Patriots. Ainda que a efetividade tenha caído, a experiência e potência do Gronk ainda conseguem fazer estrago.

O Super Bowl LV tem o Kansas City Chiefs como favorito, mas a decisão em jogo único abre sempre margem para uma zebra acontecer — principalmente quando do outro lado está Tom Brady, acostumado com momentos decisivos.

 

 

Transmissão e show do intervalo

 

The Weeknd se apresentará no Super Bowl em 2020
Foto: REPRODUÇÃO YOUTUBE
The Weeknd se apresentará no Super Bowl em 2020

No Super Bowl LV, o show do intervalo — tradicional apresentação musical que acontece entre o segundo e o terceiro período da partida —, será comandado pelo cantor de R&B canadense The Weeknd. O artista possui muitos sucessos recentes, como os hits "Blinding Lights", "Starboy" e "The Hills". O jogo, bem como a apresentação, será exibido pela ESPN.

Ele participou ativamente do movimento Black Lives Matter em 2020 — nos protestos após a morte de George Floyd —, além de ter doado US$ 200 mil para a campanha de defesa do quarterback Colin Kaepernick, que em 2016 se ajoelhou durante uma partida em protesto contra abusos de policiais contra a população negra. Desde então ele não conseguiu contrato com nenhuma equipe da NFL. O movimento, entretanto, é considerado um marco da luta antirracista entre atletas negros a partir da desobediência civil.

O show do intervalo acontece no formato atual desde 1993, quando Michael Jackson proporcionou um espetáculo musical e visual astronômico. Desde então, nomes marcantes como Paul McCartney, The Rolling Stones, Beyoncé e Lady Gaga fizeram parte da história do Super Bowl.

PARA CONHECER THE WEEKND

Em meio à pandemia do novo coronavírus, a partida terá o "modesto" público de 25 mil pessoas, sendo 7.500 profissionais de saúde vacinados que atuam na linha de frente do enfrentamento à Covid-19.

"Esses dedicados profissionais de saúde continuam a colocar suas próprias vidas em risco para servir aos outros, e devemos a eles nossa contínua gratidão. Esperamos que esta iniciativa inspire nosso país e reconheça esses verdadeiros heróis americanos", disse, em comunicado, Roger Goodell, comissário da NFL.

O público presente terá de seguir um rígido protocolo sanitários, que inclui uso obrigatório de máscara, distanciamento social na arquibancada, pontos de verificação de segurança e controle de entrada e saída do estádio.

 

 

 

"Minha aposta é no Kansas City", afirma Antony Curti, comentarista de futebol americano 

Antony Curti, comentarista de futebol americano dos canais ESPN e Fox Sports
Foto: Divulgação ESPN/Fox Sports
Antony Curti, comentarista de futebol americano dos canais ESPN e Fox Sports

No dia 7 de fevereiro acontecerá o Super Bowl LV, a final da NFL, maior liga de futebol americano do mundo. O embate, que acontecerá no Raymond James Stadium, em Tampa, na Flórida, às 20h30min (horário de Brasília), terá o duelo entre o Kansas City Chiefs, de Patrick Mahomes, e o Tampa Bay Buccaneers, primeira equipe a jogar o Super Bowl em seu próprio estádio, sob a liderança de Tom Brady. O comentarista Antony Curti, dos canais ESPN e Fox Sports, especialista em futebol americano, falou sobre os elementos deste Super Bowl, desde ao confronto de gerações entre os quarterbacks até a inserção do esporte no público brasileiro.

O POVO - Décimo Super Bowl de Tom Brady, dessa vez com o Tampa Bay Buccaneers. Ele vai em busca do sétimo anel. Vencer os Chiefs representa colocar Brady como o maior jogador da história do futebol americano sem contestação, mesmo havendo outros atletas mais talentosos?

Antony Curti - Para mim, eu digo há cinco anos que o Tom Brady é o maior quarterback da história. Só não é o maior atleta do futebol americano pois são coisas diferentes. Tivemos o Jerry Rice, que foi fantástico, e ninguém chega nem perto dele na posição. Ainda falam do Peyton Manning, de outros jogadores, do Aaron Rodgers, recentemente, mas em títulos fica completamente incontestável. A contestação que tinha ao Tom Brady nos últimos anos era que ele era ajudado pelo Bill Belichick, que ele só ganhou porque tinha um sistema muito azeitado. Além disso, dizia-se que ele era um quarterback de sistema, que ele só rendia naquele sistema de passes curtos.

Essas duas narrativas caíram por terra neste ano, mesmo que ele não seja campeão. Primeira temporada dele no Tampa Bay na pandemia, então não teve os treinamentos de intertemporada, como de costume, para ele conhecer o elenco novo, para entrar em sintonia com esse elenco novo. E o cara teve 40 touchdowns. São 16 a mais do que ele teve ano passado em New England. Então essa narrativa cai por terra. Um sistema muito vertical, completamente diferente do que ele tinha em New England, com menos uso de recursos que ele tinha lá, como play action, por exemplo. E o cara tem 40 touchdowns, e chegou nos playoffs, e é impressionante como no mata-mata o Tom Brady lembra muito o Cristiano Ronaldo na Champions, vira outro bicho.

"Eu diria que esse Super Bowl é mais importante para o Patrick Mahomes que para o Tom Brady."

Não vou negar que estou surpreso. Estava tudo contra ele nesse aspecto. Jogando em uma divisão que o time do New Orleans Saints era mais forte, como foi durante a temporada regular, ganhando a divisão, Tampa Bay foi pela repescagem, pelo wild card. Primeiro ano em um sistema, que é muito prejudicado por passes longos, e a gente não via o Tom Brady indo bem nos últimos anos em passes longos. Tinha muita coisa contra ele. E o cara passou por cima de todas essas adversidades, chegou a mais um Super Bowl, é o décimo.

Ninguém tem, nem remotamente, dez Super Bowls na carreira. Mesmo que ele perca esse Super Bowl, ele já tem o legado de maior da história. Mas tem um elemento para o futuro, se a gente tiver essa conversa daqui 15 anos, de que se ele vencer o Patrick Mahomes no Super Bowl, vai ficar muito difícil do Mahomes alcançar ele. Porque sempre vai ter o argumento: é, mas o Mahomes perdeu para o Brady no Super Bowl LV. Eu diria que esse Super Bowl é mais importante para o Patrick Mahomes que para o Tom Brady. Porque se o Mahomes perder isso vai acabar o perseguindo na carreira dele, e ele é um cara com o potencial de chegar um dia a seis títulos, a cinco títulos. A narrativa pesa para os dois lados, não só para o Brady no Super Bowl.

O POVO - Patrick Mahomes será o QB mais jovem a jogar dois Super Bowl, aos 25 anos. Ele é o melhor jogador da atualidade e está na melhor equipe do momento. Ele tem potencial de se tornar o maior jogador da história do esporte? Esse duelo com Brady representa uma passagem de bastão?

Antony Curti - O futuro é muito difícil de prever, porque o mais novo quarterback a chegar a dois Super Bowls seguidos era o Russell Wilson, em 2013 e 2014, venceu 2013, perdeu em 2014, para o Tom Brady, inclusive. Desde 2014 a gente não vê um time arrumadinho em Seattle. A defesa tem seus problemas, peças importantes saíram, não foram repostas com a mesma qualidade. Houve muito investimento em ataque terrestre, elemento que não faz muito sentido, tendo Russell Wilson como quarterback. E foi ficando pelo caminho, em vários anos.

 

"Entre os jogadores na posição de quarterback, de longe, a gente vê com potencial para ter três, quatro títulos, é o Patrick Mahomes."

 

Então, tem esse elemento de imprevisibilidade no futebol americano. O Dan Marino chegou a um Super Bowl em 1984, quase chegou em 1985, chegou a uma final de conferência em 1985, e depois ficou um bom tempo, no final dos anos 1980, sem chegar ao Super Bowl, porque não tinha defesa em Miami. Cravar é muito difícil na NFL, seria até irresponsável. Mas hoje, entre os jogadores na posição de quarterback, de longe, a gente vê com potencial para ter três, quatro títulos, é o Patrick Mahomes. Porque é um cara que chegou muito cru na NFL, no aspecto de leitura de jogo, e hoje é uma máquina de ler jogo. Ele queima jogadas defensivas que outros quarterbacks não conseguem. Além desse aspecto mental, psicológico, que ele está muito evoluído, com só 25 anos, ele ainda tem um braço muito potente, consegue lançar pressionado, consegue lançar desequilibrado. Ele como passador faz coisas que eu nunca vi no futebol americano. Em 101 temporadas a gente nunca viu coisas dele passando a bola que o Patrick Mahomes faz. O potencial está ali. Só que existem outras variáveis. Se eu fosse escolher um cara para chegar a seis títulos, para apostar meu dinheiro, seria o Patrick Mahomes. Só que a gente não sabe o que pode acontecer no futuro, porque são vários elementos, não dá para cravar isso, mas dá para apostar.

O POVO - Os Chiefs são os atuais campeões e favoritos. De que forma os Bucs podem surpreender? Que fator se destaca? Jogar em casa, a experiência de Brady, o corpo de recebedores, a defesa, que vem forçando muitos turnovers nas últimas partidas?

Os Chiefs são favoritos, mas não por muito. Inclusive nas bolsas de aposta são três pontos, é pouca coisa. Tem um elemento muito importante, que o Kansas City está com muitos desfalques na linha ofensiva ao longo da temporada, e agora perdeu o Eric Fisher, que era o melhor jogador restante dessa linha ofensiva, lesão no tendão de aquiles. Tampa Bay tem uma defesa que pressiona muito, com Shaq Barrett de um lado, com Jason Pierre-Paul do outro, então é uma defesa capaz de pressionar o Patrick Mahomes, e o segredo é esse, a única saída. Porque, mesmo pressionado, ele consegue jogar bem. Se tem alguma esperança, é essa. Tampa Bay vai ter que ter um jogo muito parecido do que teve contra Green Bay. O Aaron Rodgers deve ser o MVP da temporada e estava jogando em um nível semelhante ao nível do Mahomes. Vai ter que forçar turnovers e capitalizar em cima desses turnovers. São 41 pontos depois de roubar a bola nesses playoffs para o Tampa Bay, que é uma das melhores marcas dos últimos 20 anos. O caminho é esse. Porque a gente meio que tem como certo que o Kansas City, mesmo contra uma sólida defesa, que é a defesa de Tampa, vai conseguir fazer seus 28, 30 pontos. O Mahomes tem várias derrotas na carreira com 30 pontos, 28 pontos. Na única derrota que teve nessa temporada passou dos 30 pontos, contra o Las Vegas. Então é um pouco por aí. O caminho de Tampa, sendo zebra é roubar bolas, pressionar o Patrick Mahomes e tentar estancar o jogo terrestre, tentar colocar o Mahomes em situações óbvias de passe, para a defesa estar preparada para isso. Tampa tem talento para tanto. Eu não ficaria surpreso com uma vitória dos Buccaneers. Minha aposta é no Kansas City, por tudo que a gente viu na final da Conferência Americana, mas eu certamente vejo caminhos para Tampa ser campeão.

O POVO - Caso os Chiefs confirmem o favoritismo e vençam, teremos o primeiro bicampeonato seguido desde os Patriots em 2004-2005. Uma dinastia estaria se formando ao redor de Mahomes, assim como aconteceu com os Patriots de Brady? Até onde esse jogador e esse time podem chegar na história? O que seria necessário para isso acontecer?

Antony Curti - É possível sim, porque na Conferência Americana vimos os Chiefs três vezes seguidas sediando a final da AFC. Isso não aconteceu com o New England Patriots nas duas últimas décadas. A gente vê o quarterback mais talentoso da NFL jogando em Kansas City, ele só tem 25 anos e tem contrato por mais nove. Está garantido isso, já é meio caminho andado. A gente vê que os outros times não estão preparados para conter os Chiefs na Conferência Americana, essa é a verdade. As defesas de Baltimore e Pittsburgh mandam muitas blitzes, um expediente que manda cinco ou mais jogadores para cima do quarterback, algo que deixa espaço no fundo do campo.

 

"O Kansas City me lembra bastante o Flamengo de 2019, porque a gente não via um time com tanto elenco, com tanto recurso, para bater o Flamengo completo."

 

Se o quarterback pensar rápido, tiver uma boa leitura, que é o caso do Mahomes, ele teve 14 touchdowns e nenhuma interceptação contra blitz neste ano. Esses times eu não vejo preparados para vencer o Kansas City em um jogo de pós-temporada. Claro que pode acontecer. É playoff, jogo de eliminação simples, um jogo com mais turnovers. Mas no papel eu não vejo. E Buffalo também usa bastante a blitz, a gente viu na final da AFC, e também na temporada regular, que ainda faltam peças no Buffalo Bills, um jogo terrestre melhor, pressionar melhor o Mahomes, coisa que não conseguiu fazer nos dois confrontos de 2020-2021.

Por conta desse contexto, do Mahomes ter 25 anos, dos times mais fortes da conferência não estarem equipados para estar no mesmo patamar do Kansas City Chiefs, eu não vejo possibilidade de Kansas City pelo menos não chegar na semifinal de conferência nos próximos cinco anos, acho que essa é a régua mínima. Em uma analogia meio porca, talvez, o Kansas City me lembra bastante o Flamengo de 2019, porque a gente não via um time com tanto elenco, com tanto recurso, para bater o Flamengo completo. É um pouco por aí para os Chiefs na Conferência Americana. Aí o Super Bowl são outros 500.

O POVO - Como você percebe o momento de inserção do futebol americano no Brasil? O que precisa ser feito para que a popularidade desse esporte, que cresce a cada ano, atinja mais pessoas? TV aberta funcionaria e seria viável para esse objetivo?

Antony Curti - Eu acho que é algo orgânico, não vejo um motivo para dar um boom. Porque eu vejo muito a NFL crescendo no boca a boca, de um amigo falando para o outro, de um cara dando uma chance, começa a assistir. Eu sinceramente não conheço muitas pessoas que deram uma chance, entenderam o básico das regras e não gostar. Eu escrevo em um dos meus livros que o futebol americano é algo muito intrínseco ao ser humano, assim como o futebol é, porque é um jogo de conquista de território. Território é uma coisa muito cara para o ser humano. E é um jogo de disputa de território, essencialmente.

 

"O Super Bowl lidera a TV paga no Brasil, a TV por assinatura. Eu acho que é uma questão orgânica, de ano após ano a gente ver esse crescimento."

 

Não é por acaso que o futebol é o esporte mais popular no mundo e o futebol americano é o esporte mais popular nos Estados Unidos. Eu acho que é uma questão orgânica. A NFL, no Brasil, é o segundo maior mercado fora dos Estados Unidos, só o México é maior, e o México faz fronteira com os Estados Unidos, então é natural que tenhamos o México como maior mercado consumidor. Mas o Brasil está no radar da NFL, a audiência a cada temporada está crescendo na ESPN.

O Super Bowl lidera a TV paga no Brasil, a TV por assinatura. Eu acho que é uma questão orgânica, de ano após ano a gente ver esse crescimento. Não tem um boom necessário, ter um brasileiro. A gente já tem, na verdade, o Cairo Santos. Mas quarterback brasileiro, eu não vejo essa necessidade. Acho que o crescimento orgânico é mais importante.

A gente viu no UFC, por exemplo, que teve um crescimento exponencial, com brasileiros sendo campeões, mas não houve uma fixação orgânica. E hoje o UFC ainda é popular no Brasil, claro, mas nem remotamente ao que era na primeira metade da década de 2010. Eu acho importante que mantenhamos assim, que siga sendo orgânico e que seja algo que venha para ficar, não um boom que acaba não se sustentando a médio/longo prazo.

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