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A explosão do feminino no cinema da belga Chantal Akerman
Reportagem Especial

A explosão do feminino no cinema da belga Chantal Akerman

Filha da Nouvelle Vague e das vanguardas norte-americanas, a multiartista e cineasta Chantal Akerman inovou o cinema dos anos de 1970 e influenciou realizadores como Gun van Sant. Seu último trabalho, "Não é um filme caseiro", premiado nos festivais de cinema de Locarno e Toronto, volta ao Brasil pela plataforma Mubi

A explosão do feminino no cinema da belga Chantal Akerman

Filha da Nouvelle Vague e das vanguardas norte-americanas, a multiartista e cineasta Chantal Akerman inovou o cinema dos anos de 1970 e influenciou realizadores como Gun van Sant. Seu último trabalho, "Não é um filme caseiro", premiado nos festivais de cinema de Locarno e Toronto, volta ao Brasil pela plataforma Mubi
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“Por que você está me filmando, Chantal?”

“Porque eu filmo todo mundo, mami”.

“Eu quero falar coisas para você e não quero que mostre a todo mundo, ma chérie”.

O diálogo pelo skype entre a cineasta belga Chantal Akerman – num quarto de hotel em Nova York – com a mãe, Natalia (Nelly) Akerman, na sua casa na Bélgica, talvez chega uma das cenas mais tocantes de Não é um filme caseiro, lançado em 2015, pouco antes da morte da mãe (2014) e da filha (2015). No home movie recebeu prêmios nos festivais de cinema de Locarno e Toronto. Foi exibido no Brasil no Festival de Cinema Internacional do Rio de Janeiro, em 2015, e volta ao País pela plataforma Mubi.

Cena do último trabalho de Chantal: Não é um filme caseiro, lançado em 2015(Foto: Divulgação )
Foto: Divulgação Cena do último trabalho de Chantal: Não é um filme caseiro, lançado em 2015

Não é um filme caseiro, último trabalho de Chantal Akerman, resume de forma comovente seu modo de lidar com a câmera, capturando sem pressa gestos e detalhes das personagens e esquadrinhando o espaço de forma que o espectador é capaz de sentir-se parte do ambiente. Pesquisadores da obra de Akerman consideram que a cineasta criou uma “arquitetura do espaço” no seu trabalho como cineasta. Neste filme, a personagem é a mãe, Nelly, filmada de sua casa na Bélgica, mesmo à distância.

O encontro entre elas se dá por meio da paisagem íntima da casa, da cozinha, onde as duas mulheres comem e divagam em lembranças da infância e de antes de ela – Chantal – e a irmã Sylvaine nascerem. Nelly e o marido fugiram na Polônia para a Bélgica após a invasão da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, mas foram capturados e enviados ao campo de concentração de Auschwitz.

A mãe judia, o tempo, o espaço e as opressões que cercam o feminino nortearam a obra da atriz, produtora, artista visual e cineasta que trouxe profundas inovações para a linguagem do cinema e influenciou nomes como Gus van Sant.

Em Não é um filme caseiro, Chantal mantém a câmera fixa em cômodos vazios, opera com a luz nos limites do claro e escuro, expondo e encobrindo detalhes do quarto, da silhueta da mãe doente num acesso de tosse. Sentada no chão com uma câmera, Chantal vela o sono materno. Entre idas de vindas de um festival para outro, de um país para outro, a câmera retorna com Chantal à casa de Nelly. O filme quase não tem movimento, a não ser a do olhar do espectador. Mesmo nas cenas externas filmadas com um carro em movimento que capta a paisagem, a sensação é a de se estar observando um quadro.

Chantal Akerman, cineasta belga, atriz, produtora e escritora(Foto: Divulgação )
Foto: Divulgação Chantal Akerman, cineasta belga, atriz, produtora e escritora

Em 1977, durante o Festival de Cannes, Chantal Akernan participa do programa de entrevista “Parlons Cinèma” e afirma que o pai a queria casada e com filhos, mas ela seguiu outro caminho e a mãe lhe dava suporte: “Minha mãe é a pessoa que mais me dá forças para eu fazer o que faço no momento”. Em 1975, quando Chantal tinha 25 anos, o mundo do cinema conheceria sua obra-prima Jeanne Dielman 23 quoi du commerce 1080, um drama com 3 horas e 20 minutos.

Jeanne, uma viúva, mãe de um filho adolescente é uma dona de casa esmerada que ganha dinheiro como prostituta. No filme, a personagem vive um tipo de confinamento, reproduzindo à exaustão as atividades relacionadas à casa: cozinhar, limpar, lavar, pôr a mesa, cuidar do filho. O tempo esgarçado da reprodutividade das tarefas domésticas funcionam para a personagem – e as mulheres com um todo – tal qual um vulcão prestes a emergir.

A cineasta durante gravação de Chantal Akerman por Chantal Akerman(Foto: Divulgalção )
Foto: Divulgalção A cineasta durante gravação de Chantal Akerman por Chantal Akerman

O isolamento da mulher presa no círculo de rituais caseiros que lhe parecem eternos povoa a filmografia de Chantal Akerman. E mais uma vez a experiência das mulheres judias trazidas da memória da infância chega às telas. Numa de suas últimas entrevistas, durante o lançamento de No home movie, ela explica que sempre observou o cotidiano das mulheres judias e suas tarefas sem fim, como se não houvesse mudança entre um e outro dia. Sobre o questionamento em torno do filme com mãe, Chantal explica que o real está tão presente na ficção, quanto a ficção está presente no real. 

Em 2012, o Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, recebeu uma exposição com cinco instalações de Chantal Ackerman, entre elas Minha mãe ri, prelúdio. A obra é um fragmento do livro da cineasta Ma mére rit (2013), no qual Chantal aborda a iminente morte da mãe. O livro recebeu o prêmio Goncourt de Literatura, um dos mais prestigiados da França.

Saiba mais sobre a cineasta https://youtu.be/0BYbl8B0Eeg

 

Principais títulos da cineasta de Chantal Akerman

Exploda minha cidade (1968)

O Quarto (1972)

Eu, tu, ele, ela (1974)

Jeanne Dielman (1975)

Notícias de casa (1977)

Os encontros de Ana (1977)

Dis-Moi (1980)

New York, New York bis (1984)

Um divã em New York (1996)

O Sul (1999)

(2006)

Não é um filme caseiro (2015)

  


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