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Há 200 anos morria Napoleão, o homem que mudou o mundo e, sem querer, transformou o Brasil
Reportagem Especial

Há 200 anos morria Napoleão, o homem que mudou o mundo e, sem querer, transformou o Brasil

HISTÓRIA | Napoleão influenciou todos os aspectos da vida atual: a organização dos países, o direito, a educação, a religião, a forma como os governos se organizam. De forma indireta, ele acabou influenciando até um dos momentos mais dramáticos da história de Fortaleza

Há 200 anos morria Napoleão, o homem que mudou o mundo e, sem querer, transformou o Brasil

HISTÓRIA | Napoleão influenciou todos os aspectos da vida atual: a organização dos países, o direito, a educação, a religião, a forma como os governos se organizam. De forma indireta, ele acabou influenciando até um dos momentos mais dramáticos da história de Fortaleza
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Em 5 de maio de 1821, num pequeno rochedo quase no meio do Oceano Atlântico, morreu o homem mais poderoso do Ocidente desde os césares. Nesta quarta-feira, 5 de maio, a morte de Napoleão Bonaparte completa 200 anos. Poucas pessoas na história influenciaram tantas áreas da vida humana: redesenhou a Europa, eliminou muitos resquícios do feudalismo — outros sobreviveram a ele — transformou a relação entre Estado, povo e religião, revolucionou o direito, reformou a educação, consolidou o sistema métrico até hoje usado, com centímetros, metros e quilômetros.

Napoleão em Fontainebleau, onde foi firmado o acordo que reconheceu a abdicação e o exilou na ilha de Elba, no Mar Mediterrâneo, em 11 de abril de 1814
Foto: HIPPOLYTE PAUL DELAROCHE
Napoleão em Fontainebleau, onde foi firmado o acordo que reconheceu a abdicação e o exilou na ilha de Elba, no Mar Mediterrâneo, em 11 de abril de 1814

Na América, vendeu a Luisiana aos Estados Unidos, em uma das maiores transações imobiliárias da história. O negócio abriria a porta da expansão dos Estados Unidos e a ocupação do oeste. A influência de Napoleão seria maior ainda no sul da América.

Em 1807, tropas invadiram a Espanha. A instabilidade da metrópole convergiu com o processo que ocorria do outro lado do Atlântico e desencadeou o fim do império espanhol na América, dando origem a 17 países.

Portugal também foi invadido. Mas, a família real fugiu e instalou a corte no Rio de Janeiro. Isso mudou a história do Brasil e definiu um destino diferente do que houve na América espanhola. Em suas memórias escritas na distante ilha de Santa Helena, Napoleão mencionou sobre o príncipe regente português em 1807, que se tornaria o rei dom João VI: "Foi o único que me enganou."

Clique nos ícones para navegar e conheça um pouco sobre a trajetória de Napoleão

 

Brasil transformado

Napoleão foi decisivo no acontecimento até então mais importante da história do Brasil. A família real portuguesa fugiu de Napoleão em 29 de novembro de 1807 e chegou ao Brasil em 22 de janeiro de 1808, desembarcando em Salvador, de onde seguiu para o Rio de Janeiro.

Os portos brasileiros, que antes só negociavam com Portugal, foram abertos a nações amigas. Foi revogada a proibição de manufaturas na colônia, foi criado o Banco do Brasil, a Academia de Belas-Artes, o Teatro Real, a Imprensa Real, o Jardim Botânico, a Biblioteca Real e a Academia Militar.

Foi nessa época que o Brasil, inclusive, deixou a condição de colônia. Para evitar eventuais questionamentos ao direito da família real portuguesa de ter assento no Congresso de Viena, o Brasil foi elevado em 1815 à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Quando, em 1821, as cortes portuguesas durante a Revolução Liberal do Porto pretendiam devolver o Brasil à condição de colônia, o que acelerou a independência. O que teria sido a história do Brasil se Napoleão não invadisse Portugal nunca saberemos. Se a independência da metrópole teria ocorrido antes ou depois. Se a unidade territorial se manteria ou, como no império espanhol da América, iria se fragmentar em estados menores.

 

Toque em Fortaleza

Napoleão tem algo a ver com a história de Fortaleza? Claro, ele mudou o mundo e o Brasil, e os reflexos chegam à capital cearense. Mas, há uma influência direta específica.

O escocês lorde Thomas Cochrane foi herói das guerras napoleônicas na Marinha britânica. Em 1814, foi acusado de fraude na Bolsa de Valores, ao espalhar falsa notícia da morte de Napoleão. Foi expulso da Marinha e do Parlamento, para o qual havia sido eleito em 1806, preso, processado e condenado. Deixou a Inglaterra e tornou-se mercenário na América.

Serviu no Chile em combates contra o governo espanhol e foi contratado por dom Pedro I, para lutar contra os portugueses que queriam impedir a independência brasileira. Seguiu a serviço do imperador e atuou na repressão à Confederação do Equador.

Em 18 de outubro de 1824, atracou em Fortaleza com a nau Pedro I e exigiu o fim da rebelião. A capital se rendeu imediatamente.

Não tivesse travado combates contra a armada napoleônica e, depois, se não tivesse usado o nome do imperador numa fraude especulativa na Bolsa, Cochrane não teria se tornado mercenário e não teria servido na América do Sul a serviço de governos em busca de afirmação.

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