Marília é um fenômeno, desses que os números ajudam a vislumbrar, mas não abarcam. Aos 26 anos, e com uma carreira nos palcos há apenas 5 deles, ela foi, em 2019 e 2020, a cantora mais ouvida do Brasil, segundo o Spotify. No YouTube, seu clipe para a música "Graveto" foi o vídeo musical mais assistido de 2020, com 278 milhões de visualizações. E quando todos estávamos em casa, durante a pandemia, foi a voz de Marília que nos embalou em uma transmissão ao vivo no YouTube que bateu a marca de 3,3 milhões de visualizações simultâneas em uma live.
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Mas isso são apenas recortes da importância de Marília. Num segmento musical tomado por homens, Marília chegou, transformou, dominou e foi ouvida em todo Brasil. O sertanejo, com duplas masculinas e versos sobre mulheres, tem em Marília um marco. O feminejo, que Marília estreia, faz de mulheres não musas, mas sim, e devidamente, protagonistas das próprias histórias.
Na profícua carreira de compositora - com mais de 200 músicas - Marília deu voz a mulheres que falam de sexo abertamente, bebem, terminam relacionamentos porque se valorizam mais que ao outro, que são amantes por escolha, que vivem intensamente e que sofrem. Em 2017, Marília vinha a Fortaleza e me concedeu uma entrevista curta, falou sobre como as músicas geravam identificação por onde passava e sobre como o que ela fazia era "conquistar um espaço que era merecidamente" dela e de outras mulheres.
Este ano, Marília virou verso da canção de Caetano, que exalta a afinação dessa mulher superlativa que ganhou o título de Rainha da Sofrência. Caetano, ao enaltecer a cena musical brasileira, canta que "sem samba não dá". Hoje, após sua partida prematura, a pergunta é como vamos ficar sem Marília. Sem Marília não dá.