As compras de fim do ano se intensificam a partir da Black Friday, que em 2021 acontece nos dias 26, 27 e 28 de novembro, por ser a última sexta-feira e fim de semana do mês. Em seguida já emenda a Cyber Monday, com ofertas voltadas para o mundo cibernético a partir da segunda-feira, 29. Mas o período é momento de o consumidor ficar mais atento aos seus direitos para aproveitar os descontos da melhor forma, sem ter dor de cabeça antes durante e depois de pagar pelo produto.
Um aliado nesta lida é o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor (CDC), que traz um conjunto de normas a respeito das relações dos clientes nas esferas civil, administrativa e penal, regulamentando e delegando responsabilidades. Porém, nem todo cidadão conhece bem as suas regras.
E com o crescimento do comércio eletrônico, que saltou 68% frente ao nível pré-pandemia de 2019, segundo levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o coordenador do curso de Direito da Faculdade Anhanguera, Rafael Borsato, frisa que um dos pontos a serem observados é verificar se o site possui regras de políticas claras sobre devolução e troca de produtos e um canal de atendimento, o famoso SAC.
Mas esta é somente uma dica para o despertar contra golpes para o brasileiro, que tem medo de ser vítima de fraudes ou violação dos dados pessoais, segundo 86% das pessoas pesquisadas na 7ª edição do Observatório da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) - Pesquisa Febraban-Ipespe (Instituto de Pesquisas, Sociais, Políticas e Econômicas).
Não é o caso de Lianne Ceará, 22, estudante de Jornalismo, que já foi algumas vezes à Black Friday dos Estados Unidos, país de origem do evento, e afirma nunca ter caído em golpe, por ser "muito bem precavida e prevenida". O que ela enfrentou foi problemas com atrasos nos pedidos, mas nada muito “grave”.
Porém, pontua que seu pai já caiu em uma fraude quando estava utilizando uma rede social. “Ele viu um anúncio de diárias de hotéis de luxo em Jericoacoara, viu a ‘promoção’ e clicou, pedia todas as informações do cartão e ele passou tudo. Quando finalizou o procedimento caiu a ficha e ele ‘correu’ ao banco, e conseguiu cancelar a operação”.
Sobre os descontos, Lianne diz que no ano de 2019 comprou alguns cosméticos na Black Friday que estavam com preços acessíveis, mas, nesta edição, não tem observado muitos descontos. “Olhando para os anos anteriores, eu posso dizer que em relação à questão dos cosméticos, que é uma coisa que eu estava até dando uma olhada ultimamente, não vejo mais um custo benefício muito bom. Acho que também pela crise agravada pela pandemia”, diz.
Bem, cuidadoso ou não, O POVO preparou dicas para antes, durante e após as compras para que o consumidor aproveite os descontos com mais vantagem e sem reclamações:
Como se planejar antes de realizar uma compra?
Pesquisar é essencial para encontrar bons descontos
E como eu posso me proteger dessa prática?
Procurar por sites seguros evita futuras frustrações
É preciso desconfiar
Fontes: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Hugo Xerez, secretário-executivo do Decon do MPCE.
Apesar de ansiedade para aproveitar os descontos ofertados pelas lojas no fim de ano, é preciso se manter alerta. Seja na Black Friday, na Cyber Monday ou em promoções de marcas famosas para o Natal, você precisa ficar atento a alguns procedimentos simples que podem auxiliar na garantia de direito e evitar grandes dores de cabeça:
Guarde todos os anúncios
Seja por print da tela, fotografias ou mesmo arquivos em PDF, guardar comprovantes dos anúncios das compras que deseja realizar é o principal passo para garantir seus direitos. O anúncio servirá de comprovante para as seguintes situações:
Direito de arrependimento
Prazo de entrega
Compra cancelada
Confirmação da compra
Cuidado com os seus dados
Fonte: Procon Fortaleza
Prazo de entrega indefinido, isso é correto?
Meu produto veio com defeito, o que posso fazer?
Como funciona a garantia de um produto?
Procura por fornecedor sem sucesso
Fontes: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste)
Para comentar sobre o grande aumento de vendas devido as festividades de fim de ano e ações de desconto em grande escala, O POVO conversou com o estrategista contábil Lucas Gurgel. O especialista destaca que apesar a movimentação financeira das ações promocionais como a Black Friday exigem dinamismo e cautela tanto por parte de consumidores como de revendedores. Confira:
O POVO - Nós estamos vivendo uma inflação acelerada, então, como diferenciar um aumento exagerado por parte do comerciante de um aumento da inflação para não ser enganado?
Lucas Gurgel - O consumidor precisa fazer um comparativo do produto. Esse produto que você pretende comprar é baseado no dólar? Se sim, terá um reajuste considerável. Caso não, ele deve ter como base o aumento dos custos dos insumos dele, até chegar ao consumidor final. Faça um comparativo desse produto que você gostaria de comprar e veja quanto ele custava a 1 ano atrás, a 2 anos atrás. Veja se ele teve um aumento alto demais (atrelado ao câmbio) ou se foi apenas repasse para o consumidor final.
OP - Qual a melhor forma do cliente pesquisar preços para encontrar os descontos reais?
Lucas Gurgel - Sempre o cliente precisa pesquisar antes o produto que ele quer comprar, anotar o preço e fazer um comparativo. Assim, ele nunca irá correr o risco de ser enganado. No site Buscapé tem uma comparação de preços históricos.
OP - Muita gente está pensando em garantir o presente de Natal comprando na Black Friday agora, como podemos avaliar esse movimento?
Lucas Gurgel - Esse já é um costume do norte-americano, que também compra produtos tecnológicos na chamada Cyber Monday (a segunda-feira seguinte à Black Friday). Estamos também adquirindo esse costume, antecipando presentes 'de adulto', com preços mais altos, que desejamos mas que não são tão fundamentais como uma segunda TV, ou renovar o notebook ou o celular. No Natal a compra por esses produtos diminui e temos um maior fluxo por presentes mais baratos ou infantis. E gastos com as festas e amigos secretos. Com a Black Friday a curva de compras de Natal se distribuiu bastante. Em 2019 a Black Friday vendeu 30% mais que o Natal no Online.
OP - Como o lojista pode garantir descontos atrativos sem prejudicar o lucro dele?
Lucas Gurgel - O empresário precisa ter em mente que ele precisa ter lucratividade em seu negócio e, às vezes, ele tem muitos produtos parados em estoque sem giro. Portanto, é essencial que ele conheça sua cadeia de compra, entenda o prazo médio de pagamento do seu fornecedor e veja ao final se o recebimento do dinheiro condiz com o pagamento do fornecedor. Além de tudo isso, é sempre viável verificar o markup de cada produto para saber o quanto de desconto deve ser ofertado.
" A Black Friday nada mais é do que uma jogada de marketing para atrair seu público até seu estabelecimento, sendo ele físico ou digital."
OP - Nós temos alguma perspectiva de mudança no perfil de consumo ou nos produtos buscados, tendo em vista que é a primeira Black Friday com vacinação acelerada?
Lucas Gurgel - Não consigo pensar dessa forma. Imagino que vai ser injetado mais dinheiro no comércio nesse período devido ao recebimento de 13º salário por parte das pessoas de modo geral. Com isso, elas tendem a comprar o que mais usaram durante a pandemia. O perfil do consumidor não deve mudar, as compras de Black Friday são em sua maioria compras online, então a previsão é que o comportamento de compras online se mantenha.
OP - Essa já será a Black Friday capaz de superar os prejuízos da pandemia ou ainda é cedo para isso?
Lucas Gurgel - Muitos comércios tiveram que se reinventar e mudaram seu jeito de vender e trabalhar. Quem não aderiu aos novos padrões de vendas faliu ou está vivendo um lado obscuro dentro da sua empresa com dívidas adquiridas ao longo da pandemia. Como nós lidamos com diversos segmentos, percebemos que muitos passaram por esse período de forma tranquila. Fizeram uma nova adaptação no marketing, nas vendas, na forma de interagir com o público etc. Muitas empresas entenderam que não podem ficar de braços cruzados esperando seus clientes e foram atrás de mecanismos de vendas para atrair, vender e bater as suas metas.
Algumas empresas vão saldar suas dívidas com o Black Friday, outras deverão afundar ainda mais pois não sabem seu ponto de equilíbrio e as demais continuaram crescendo pois ajustaram a sua operação no meio da pandemia. Acho que 2022 é que será o ano da verdadeira retomada, isso se as estatísticas de vacinação, casos de Covid se mantiverem e não tivermos nenhum outro surto ou variante que eleve novamente os picos da pandemia.
OP - Como o comércio do Ceará deve se comportar na data, há alguma expectativa com relação a isso?
Lucas Gurgel - Deve acontecer um boom nos canais de atendimento para lojas que estão com promoção de Black Friday. Muita gente irá aos centros e shoppings fazer suas compras, mas a maioria do movimento será de compras online. Então o lojista já deve estar preparado para vender através do site, ou por WhatsApp e Redes Sociais.
OP - O comércio online se massificou durante a pandemia, mas agora que as lojas estão reabrindo nós devemos esperar ainda uma predominância do online? Como o lojista pode se preparar para esse momento?
Lucas Gurgel - O online veio para ficar. Nos períodos de lockdown ele deu um boom por conta da necessidade: ou comprava online ou não comprava. E isso forçou grande parte das pessoas a aprenderem a lidar com esse tipo de compra. Então a quebra dessa barreira já aconteceu.
"Para produtos de tecnologia e eletrodomésticos (os mais comprados em Black Friday) a maioria irá comprar online mesmo, até porque a comparação de preços acontece ali na palma da sua mão. "
OP - Quais dicas para a Black Friday e vendas de fim do ano para os empreendedores?
Lucas Gurgel - A Black Friday é uma tendência mundial e você lojista precisa entrar nessa onda, surfar e saber tirar proveito dela. Porém, para não ficar no prejuízo, você precisa saber como usá-la ao seu favor. Minhas dicas para essa Black Friday são:
1- Procure estabelecer contato com os clientes de forma clara e precisa
2- Estabeleça os produtos que você tem maior ganho financeiro e faça atração do seu cliente por ele para a sua loja, sendo física ou online
3- Organize sua equipe para atender a demanda, afinal, nada é mais terrível do que ser mal atendido
4- Invista em marketing e pense em qual estratégia você irá usar, qual rede social, enfim, faça esse planejamento de forma antecipada
5- Verifique seu estoque e garanta a entrega dos produtos nos prazos determinados