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Arte Def: debates além do capacitismo
Reportagem Especial

Arte Def: debates além do capacitismo

No Dia internacional da pessoa com deficiência, O POVO reúne narrativas de artistas PcD (sigla da Organização das Nações Unidas para pessoa com deficiência), influenciadores e especialistas

Arte Def: debates além do capacitismo

No Dia internacional da pessoa com deficiência, O POVO reúne narrativas de artistas PcD (sigla da Organização das Nações Unidas para pessoa com deficiência), influenciadores e especialistas
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Samanta Quadrado estreia na televisão com a novela Um Lugar ao Sol. Pra Todos Verem: Samanta é uma mulher branca de cabelos lisos castanhos com mechas em tons de loiro. Sobre um fundo cinza, ela sorri com a boca fechada. Usa óculos de grau com armação larga e rosa, uma blusa de gola alta colorida e uma jaqueta jeans de cor rosa com tarrachas metálicas (Foto: Fabio Rocha/Divulgação Globo)
Foto: Fabio Rocha/Divulgação Globo Samanta Quadrado estreia na televisão com a novela Um Lugar ao Sol. Pra Todos Verem: Samanta é uma mulher branca de cabelos lisos castanhos com mechas em tons de loiro. Sobre um fundo cinza, ela sorri com a boca fechada. Usa óculos de grau com armação larga e rosa, uma blusa de gola alta colorida e uma jaqueta jeans de cor rosa com tarrachas metálicas

Samanta Quadrado, 33, é “uma jovem com Síndrome de Down que tem muita história para contar”. Assim ela se define em seu canal na plataforma de vídeos on-line YouTube, o “Canal da Sassa”. A atriz, digital influencer e youtuber integra o elenco de “Um Lugar ao Sol”, a primeira novela — completamente inédita — do horário nobre da Rede Globo desde o início da pandemia da Covid-19. Escrita por Lícia Manzo, a produção aborda as diversas relações humanas.

Na trama, Samanta dará vida à Mel. Ela é filha de pais separados, Paco (Otávio Muller) e Helena (Cláudia Mauro). Seu pai, divertido e “tranquilão”, a estimula constantemente a ter autonomia. Sua mãe, por sua vez, busca superprotegê-la. A garota apoia o relacionamento do pai com Nicole (Ana Baird), que enfrenta dificuldades com aceitação do próprio corpo.

A obra pretende contar a história da jovem com Síndrome de Down (classificada como uma deficiência intelectual), para tentar desestruturar o preconceito da crença na incapacidade de pessoas com deficiência (PcD), a chamada cultura do capacitismo.

Samanta conta com mais de 25 mil seguidores no Instagram. A artista compartilha rotina, bastidores de trabalhos, além de dicas de moda e beleza. Com mais de 2 mil inscritos no YouTube, seu canal promete “diversidade, igualdade e inclusão” como marcas principais. Por lá, inclusive, ela dividiu com o público a descoberta de que seria atriz numa produção de alcance nacional.

A cantora Eulá representa o Estado da Bahia na competição televisiva The Voice Brasil. Pra Todos Verem: Eulá é uma mulher branca, tem olhos castanhos escuros e cabelos pretos raspados com apenas quatro tranças que se estendem até os joelhos, duas acima da orelha esquerda e duas acima da orelha direita, com acessórios metálicos. Sobre um fundo preto, ela sorri e acena com dois dedos da mão direita, formando o símbolo de "Paz e Amor". Veste uma calça verde de alfaiataria cintura alta, com um cinto verde de fivela redonda dourada e riscos em alto relevo, além de uma blusa de manga longa marrom de malha canelada e mangas bufantes de organza. Usa anéis no polegar da mão direita e no indicador da mão esquerda e cerca de quatro colares dourados e um prata no pescoço(Foto: Victor Pollak/Divulgação Globo)
Foto: Victor Pollak/Divulgação Globo A cantora Eulá representa o Estado da Bahia na competição televisiva The Voice Brasil. Pra Todos Verem: Eulá é uma mulher branca, tem olhos castanhos escuros e cabelos pretos raspados com apenas quatro tranças que se estendem até os joelhos, duas acima da orelha esquerda e duas acima da orelha direita, com acessórios metálicos. Sobre um fundo preto, ela sorri e acena com dois dedos da mão direita, formando o símbolo de "Paz e Amor". Veste uma calça verde de alfaiataria cintura alta, com um cinto verde de fivela redonda dourada e riscos em alto relevo, além de uma blusa de manga longa marrom de malha canelada e mangas bufantes de organza. Usa anéis no polegar da mão direita e no indicador da mão esquerda e cerca de quatro colares dourados e um prata no pescoço

Recentemente, a cantora baiana Eulá, 30, destacou a representatividade de pessoas com deficiência visual durante a fase de audições do reality show musical The Voice Brasil, também da Globo. Nesta primeira etapa da competição, os participantes cantam enquanto os técnicos (Claudia Leitte, Carlinhos Brown, Lulu Santos e Iza) escutam sentados em cadeiras viradas de costas. Na dinâmica, o técnico que aperta o botão para girar a cadeira está disposto a “capturar” o artista para o seu time.

Eulá cantou “Céu Azul”, composição de Chorão e Thiago Castanho para a banda Charlie Brown Jr. Na apresentação, a artista utilizou uma  Bengala "Bengala branca - pessoas com cegueira / Bengala verde - com visão considerada “subnormal” / Bengala vermelha - pessoas surdo-cegas / Fonte: Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados do Brasil" verde — objeto de identificação internacional para pessoas com baixa visão. Ela dedicou o momento “para todas as mulheres deficientes visuais”.

“Há pouco tempo, conversei com uma que, por muito tempo, o mundo só era a casa dela. Isso não precisa acontecer. Esse meu momento, aqui, é para honrar todas elas e, de uma certa forma, encorajar a saírem de suas casas, a se tornarem visíveis, para que as coisas se modifiquem”, disse Eulá. A cantora escolheu o cantor e compositor Lulu Santos como técnico.

Essas histórias se inserem num contexto de representação ainda muito recente no mercado do entretenimento e das artes como um todo. Para refletir sobre acessibilidade e inclusão em diversas linguagens, além de estéticas e mais vivências, O POVO reúne narrativas de artistas PcD (sigla da Organização das Nações Unidas para pessoas com deficiência "As deficiências são divididas em deficiência física, visual, auditiva, intelectual, psicossocial e a deficiência múltipla (associação de duas ou mais deficiências), de acordo com a Câmara Paulista de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Mais info: www.camarainclusao.com.br"  ), obras, influenciadores e especialistas no assunto.


 

 

Conjuntura atual dificulta aplicação das leis

 

Com o objetivo de garantir os direitos das PcDs e criminalizar atos discriminatórios, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD), também chamado de Lei Brasileira de Inclusão, foi criado em 2015. Além disso, este ano de 2021 marca os 30 anos da Lei de Cotas (8.213/91) para assegurar a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Assinada em 24 de julho de 1991, a Lei estabelece que empresas com mais de 100 funcionários destinem vagas para beneficiários reabilitados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e para PcDs.

Apesar dos avanços relacionados à luta da pessoa com deficiência no mercado de trabalho e em mais áreas do País, a conjuntura é um tanto mais complexa — principalmente quando se trata do Brasil contemporâneo. Em 2019, um projeto de lei com o propósito de desobrigar a contratação de PcDs nas empresas foi encaminhado pelo Governo Federal ao Congresso. Após a repercussão negativa, o caráter de urgência da proposta foi removido. Em meados de agosto de 2021, o ministro da educação Milton Ribeiro afirmou que as crianças com deficiência “atrapalham” as demais em sala de aula. Ele ainda disse que a convivência era “impossível” entre os pequenos.

Esse debate também se estende ao mercado das artes, da cultura e do entretenimento. A adaptação de cinemas, por exemplo, está prevista na Lei Brasileira de Inclusão. Contudo, desde dezembro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prorrogou o prazo para que salas de cinema sejam acessíveis a cegos e surdos. Na edição da Medida Provisória (MP 1025/20) — que contempla a determinação — de janeiro de 2021, o prazo foi adiado para 1º de janeiro de 2023.

Ao longo do tempo, várias obras e equipamentos culturais ganharam recursos de acessibilidade. Janela com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e intérpretes; audiodescrição; piso tátil; braille; dispositivos sonoros; modificação na estrutura de espaços são alguns exemplos. Aqui, fala-se não só sobre a inclusão de PcDs como público consumidor, mas também sobre suas representações na dinâmica da indústria cultural. Algo que deixa de ser mero acessório e passa a perceber as diversas existências no mundo.

 

 

 

“Não há como separar o que falo, aciono e estudo da minha criação”

João Paulo Lima atua em diversas frentes nas artes, desde a formação à produção. Pra Todos Verem: João é um homem negro de pele clara, com cabelos crespos castanhos e curtos e olhos castanhos escuros. Ele não tem a perna direita. A fotografia é um fragmento do espetáculo Devootes, em que o artista aborda o fetiche por pessoas com deficiência. Ele performa ao centro do palco do Porto Dragão, vestido com uma cueca preta jockstrap e um colete de sado. Ao fundo, tudo está preto. João, que olha fixamente para o chão, tem seu rosto maquiado com pontinhos pretos. Com corpo estático, João está de pé. Sua prótese, suas duas muletas e seu figurino estão espalhados pelo chão(Foto: Artur Luz/Divulgação)
Foto: Artur Luz/Divulgação João Paulo Lima atua em diversas frentes nas artes, desde a formação à produção. Pra Todos Verem: João é um homem negro de pele clara, com cabelos crespos castanhos e curtos e olhos castanhos escuros. Ele não tem a perna direita. A fotografia é um fragmento do espetáculo Devootes, em que o artista aborda o fetiche por pessoas com deficiência. Ele performa ao centro do palco do Porto Dragão, vestido com uma cueca preta jockstrap e um colete de sado. Ao fundo, tudo está preto. João, que olha fixamente para o chão, tem seu rosto maquiado com pontinhos pretos. Com corpo estático, João está de pé. Sua prótese, suas duas muletas e seu figurino estão espalhados pelo chão

Há múltiplas facetas incorporadas ao cearense João Paulo Lima. Ele é dançarino, arte-educador, performer e pesquisador. Num dos seus trabalhos mais recentes, o artista apresenta uma “provocação-performance-dança” que explora o devoteísmo, ou seja, o feitiche por pessoas amputadas. Assim ele define. A obra “Devotees” integra o 20º episódio do programa Zona de Criação, disponível on-line no canal Porto Dragão no YouTube. Concebida em vídeo, a produção conta com a direção e concepção de João Paulo. Com música de Felipe Gifoni e fotografia de Artur Luz, o figurino é de Lucas Ervedosa.

Após a ampla vacinação da população contra a Covid-19 e a retomada do setor cultural, o artista adaptou a performance para o formato presencial. Com exclusividade ao O POVO, João Paulo antecipa: “Devotees” estreia dia 16 de dezembro no Centro Cultural Porto Dragão, dentro da programação da Bienal Internacional de Dança do Ceará.

“É um trabalho que dá o gatilho do feitice. O fetiche sobre corpos diferentes, sobre corpos que, socialmente, na hegemonia, não parecem serem corpos que têm uma sexualidade, um desejo latente. Como pessoa com deficiência, eu trago esse tema à tona para provocar mesmo e falar dos nossos, de todos os feitiches”, revela o artista.

Segundo João Paulo, “Devotees” surge a partir de seu trabalho anterior, “No’Tro Corpo”. Na obra, o artista realiza uma espécie de auto etnografia, passeando pela história de seu próprio físico. Aos 13 anos, ele teve o membro inferior direito amputado. O “ensaio sobre as possibilidades do corpo” ganhou versão em realidade aumentada, filmado com câmeras de 360º no Teatro B. de Paiva do Centro Cultural Porto Dragão.

Em “No’Tro Corpo”, João questiona: “O que nos constitui sujeitos de nós mesmos e de nossos movimentos? As cenas se combinam num entrelaçar das questões que o artista lança a partir de si e dispara como enfrentamento ao público. Que corpo temos? Que corpo nos exigem ter?”.

Com direção do cineasta cearense Alexandre Veras, o espetáculo compôs a VII Bienal Internacional de Dança do Ceará. O registro da obra também pode ser assistido no canal do evento na plataforma de vídeos YouTube. A direção artística é de Alda Pessoa, com figurino de Lídia dos Anjos, adereço de Miguel Campelo e trilha sonora original de Márcio Motor.

João Paulo Lima atua em várias frentes na área das artes. Graduado e mestre em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC), também é formado pelo Curso Técnico em Dança Contemporânea do Porto Iracema das Artes — escola de formação e criação do Instituto Dragão do Mar (IDM). Doutorando em Dança pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa (Ulisboa), ele atua como professor de dança e teatro, mas também como assessor em acessibilidade do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ). Ao O POVO, o artista compartilhou a aprovação no doutorado em Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Performance, dança e literatura atravessam suas pesquisas. Recentemente, João lançou o livro de poesia “Viço Manco Voo” pela editora Substânsia. Na contracapa da obra, o aviso: “Eu quero a poesia manca/ a poesia torta/ coxeando por aí/ xingada, ofendida/ poesia filha da puta, aleijada (...)”. “O cruzamento de artes e linguagens têm composto meu trabalho”, conta. De acordo com o artista, tudo isso é essencial para a sua formação como professor, artista e ativista das causas das pessoas com deficiência nas artes.

“Eu não tenho como separar, muitas vezes, o que eu falo, o que eu aciono, o que eu estudo, da minha criação. Pelo contrário, eu tenho agregado muitas outras dissidências e discussões sobre corpo, sobre negritude, sobre anti homofobia, anti racismo e o anti capacitismo. Tenho me sentido cada vez mais responsável em falar e discutir esse tema, onde eu estiver”.

“Devotees” – João Paulo Lima
Quando: 16 de dezembro
Onde: Centro Cultural Porto Dragão
Mais info: @portodragaoce

Viço Manco Voo
De João Paulo Lima
Ed. Substânsia
72 pág.
Quanto: R$ 35
Disponível em site

Acompanhe
Instagram: @juaumpaulolima

 

 

Influenciador da inclusão

Ivan Baron faz sucesso na internet falando sobre sua rotina e anticapacitismo com muito humor ENTITY_sharp_ENTITYPraTodosVerem: Ivan é um homem branco com cabelos e olhos castanhos escuros. Está sorrindo, usa óculos de grau com armação grossa preta, blusa rosa de algodão com a personagem Lisa Simpson estampada, jaqueta preta de couro, calça jeans com lavagem clara e tênis colorido robusto. Com a mão esquerda, Ivan se apoia com uma bengala dourada. Já com a mão direita, faz um gesto com os dedos médio e indicadores apontados para baixo e o polegar ao lado. Ivan tem a tatuagem de uma rosa na mão direita.  Atrás de Ivan, há uma grande árvore com uma copa que ocupa toda a parte superior da foto. O solo é composto por uma grama verdinha e pouco crescida(Foto: Erivan Lima/Divulgação)
Foto: Erivan Lima/Divulgação Ivan Baron faz sucesso na internet falando sobre sua rotina e anticapacitismo com muito humor ENTITY_sharp_ENTITYPraTodosVerem: Ivan é um homem branco com cabelos e olhos castanhos escuros. Está sorrindo, usa óculos de grau com armação grossa preta, blusa rosa de algodão com a personagem Lisa Simpson estampada, jaqueta preta de couro, calça jeans com lavagem clara e tênis colorido robusto. Com a mão esquerda, Ivan se apoia com uma bengala dourada. Já com a mão direita, faz um gesto com os dedos médio e indicadores apontados para baixo e o polegar ao lado. Ivan tem a tatuagem de uma rosa na mão direita. Atrás de Ivan, há uma grande árvore com uma copa que ocupa toda a parte superior da foto. O solo é composto por uma grama verdinha e pouco crescida

“Influenciador da inclusão, potiguar e politizado” — é a forma como Ivan Baron se apresenta na mídia social Instagram. Por meio da produção de conteúdo para a internet, ele tem repercutido vivências e lutas das PcDs. Num dos vídeos, por exemplo, Ivan comemorou o anúncio da atriz Samanta Quadrado no elenco da novela “Um Lugar ao Sol” (que abre esta reportagem). As postagens passeiam pela seriedade mas, ao mesmo tempo, ganham um tom humorístico. Em outra publicação, ele diz que vai mostrar “as vantagens de ter um amigo com deficiência”. Noutro momento do vídeo, responde: “Ter um amigo”.

Ivan soma mais de 410 mil seguidores entre os aplicativos Instagram e TikTok. Nascido no Rio Grande do Norte, ele foi acometido por uma infecção alimentar em estágio grave aos 3 anos de idade. A doença deixou, como sequela, uma Paralisia Cerebral. Por isso, Ivan tem deficiência física e mobilidade reduzida.

O primeiro livro de Ivan aborda a cultura do capacitismo. Com o livro digital (o chamado e-book) “Guia Anticapacitista”, o autor convida a uma leitura inclusiva. A publicação conta com a adaptação da Redesign For All, uma rede de inovação e design inclusivo. No conteúdo, Ivan alerta sobre concepções, preconceitos e uso de termos pejorativos para se referir à pessoa com deficiência.

Em entrevista à reportagem, o influenciador fala sobre o interesse pelo mundo da internet, o termo “influenciador da inclusão”, a representatividade no mercado das artes e do entretenimento, além do combate ao capacitismo.

O POVO - Ivan, quando surge o interesse pelo entretenimento e o mundo da internet?

Ivan Baron - Sempre gostei de navegar pelo universo virtual, mas sempre como anônimo. Até que chegou um ponto que eu não me sentia mais representado naquele ambiente. Praticamente todas as pessoas que eu seguia não me representava, eram todas pessoas sem deficiência, aquilo me levou a reflexão e um certo incômodo, até que eu decidi ocupar o outro lado, de criador de conteúdo. Tento sempre trazer uma pegada pop e bem divertida para os meus conteúdos, já que os mesmos possuem uma temática bem pesada.

OP - Como nasceu o termo “influenciador da inclusão”?

Ivan - Na verdade, as pessoas começaram a me chamar de “blogueirinho da Inclusão”, mas, para mim, blogueiro é quem tem blog. Eu me considero mais uma pessoa que influencia para que a inclusão aconteça na nossa sociedade, entende?

OP - Qual sua análise sobre a representatividade no mercado das artes e do entretenimento?

Ivan - Ainda estamos muito atrasados quando falamos em REPRESENTATIVIDADE de pessoas com Deficiência, o que temos atualmente é um representação de uma parte da nossa comunidade, que é enorme e muito diversa!

OP - Como você vê o papel da internet nesse contexto?

Ivan - Mais de fiscalização e cobrança. Qualquer ato capacitista que acontecer, estamos lá atentos para denunciar e pedir mudanças.

OP - O que é possível entender como capacitismo e como combatê-lo?

Ivan - Sempre recebo muita pergunta sobre o capacitismo, como identificar expressões, enfim… para facilitar o aprendizado dessas pessoas que têm dúvidas, eu resolvi juntar todas as respostas em um e-book, uma espécie de Guia mesmo, com uma linguagem fácil e adaptada para leigos que nunca sequer tiveram contato com o assunto. Além de que conto um pouco da minha história.

Guia Anticapacitista
De Ivan Baron
28 pág.
Quanto: R$ 9,90
Disponível em site

Acompanhe
Instagram: @ivanbaronn
TikTok: @ivanvbaron

 

 

“O futuro é acessível e anticapacitista”

 

No universo on-line, os mais diversos produtores de conteúdo PcDs mesclam vivência e ativismo com assuntos variados. Na maioria das vezes, eles se identificam com o emoji (ideogramas usados em mensagens eletrônicas) que corresponde ao símbolo internacional de acesso para pessoas com deficiência física — um pictograma branco, com a representação de uma pessoa numa cadeira de rodas, sobre um fundo azul.

A sinalização oficial abrange mais representações, como os símbolos para pessoas com deficiência visual, audiodescrição, cão-guia e baixa visão. Até o fechamento desta reportagem, só havia, no teclado de smartphones, o emoji associado ao símbolo internacional de acesso para pessoas com deficiência física.

Mariana Torquato é dona do canal no YouTube Vai uma mãozinha aí? Para Todos Verem: Mariana é uma mulher branca, tem cabelos vermelhos lisos e soltos. Seu braço esquerdo segura um microfone. O fundo é preto, e ela está sentada enquanto fala ao microfone e gesticula com a mão direita. Usa uma blusa preta de linha com furos estratégicos e estilizados. Tem piercing de argola no canto direito do nariz e um piercing em formato de ponto acima da boca, no canto esquerdo(Foto: Divulgação/Facebook Mariana Torquato)
Foto: Divulgação/Facebook Mariana Torquato Mariana Torquato é dona do canal no YouTube Vai uma mãozinha aí? Para Todos Verem: Mariana é uma mulher branca, tem cabelos vermelhos lisos e soltos. Seu braço esquerdo segura um microfone. O fundo é preto, e ela está sentada enquanto fala ao microfone e gesticula com a mão direita. Usa uma blusa preta de linha com furos estratégicos e estilizados. Tem piercing de argola no canto direito do nariz e um piercing em formato de ponto acima da boca, no canto esquerdo

Dona do maior canal sobre deficiência do Brasil no YouTube, o “Vai uma mãozinha aí?”, Mariana Torquato tem como lema a frase “o futuro é acessível e anticapacitista”. Na plataforma de vídeos, reúne mais de 160 mil inscritos. Administradora, mestra em Políticas Públicas e palestrante, ela tem sido uma das personalidades de destaque do movimento das PcDs brasileiras na internet. No Instagram, são mais de 139 mil seguidores.

Mariana é de Santa Catarina. No YouTube, ela respondeu uma das perguntas que mais recebe na rua ou na internet: “O que aconteceu com seu braço?”. Por complicações na gestação, a então influenciadora e ativista nasceu sem o antebraço esquerdo.

Em seu vídeo mais antigo na plataforma de vídeos, Mariana critica a falta de representatividade na mídia brasileira em relação às pessoas com deficiência. No manifesto, especificamente, aborda a capa da revista Vogue para a cobertura das Paralimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Com o artifício da edição de imagens, os atores Paulo Vilhena e Cleo Pires (pessoas sem deficiência) aparecem, respectivamente, com uma prótese na perna direita e sem o braço direito. “Como ninguém pensou em procurar realmente pessoas que são deficientes para fazer essa capa?”, questionou.

Neste ano, Mariana apresentou o bate-papo “O que pode um Corpo?”, dentro da programação #ConversasQueImportam do YouTube. O momento contou com a participação dos também produtores de conteúdo digital Pequena Lo e Hawk; e de Maurício Dumbo, futebolista paralímpico. Durante a transmissão on-line, eles falaram sobre corpo, representatividade e potência de pessoas PcDs.

 
 

 

 

Acesso para quem?

 

“Acessibilidade é um tema que está muito em alta, mas, quando vemos, há muitas falhas ainda. Quando pessoas com deficiência fazem alguma apresentação ou vão ao teatro apresentar alguma peça, quando essas pessoas se tornam protagonistas, são vítimas do capacitismo. ‘Nossa, um cego faz isso? Um surdo faz aquilo?’ A gente precisa estar constante na luta para ter acessibilidade em muitos locais, mas também para nos reconhecer como pessoas capazes e referências nas artes” — disse o arte-educador, artista e produtor cultural Leonardo Castilho, durante a palestra virtual “Acesso para todos? Você dá acesso para quem? Nós temos Acesso?”, disponível no canal no YouTube do Centro Cultural Grande Bom Jardim (CCBJ).

Leonardo Castilho atua em museus, festivais, oficinas e editais como arte-educador, artista e produtor cultural. Para Todos Verem: Léo é um homem negro de pele clara, com cabelos cacheados curtos e castanhos. Tem olhos castanhos claros, bigode, barba e cavanhaque. Está sorrindo, com os dentes à mostra. Usa um adereço de metal na parte superior do nariz, entre os dois olhos, um piercing de argola no lado esquerdo do nariz, um colar fininho dourado e um brinco redondo branco pequeno. Veste uma blusa de gola alta com estampas pequenas de estrelas num degradê de marrom, cinza e preto. Também usa uma jaqueta preta de tecido chamois (espécie de veludo). Ao fundo, uma parede de tijolos marrom com um quadro pedro pendurado. No canto direito, há uma planta de altura média, com grandes folhas (Foto: Leo Castilho/Acervo pessoal)
Foto: Leo Castilho/Acervo pessoal Leonardo Castilho atua em museus, festivais, oficinas e editais como arte-educador, artista e produtor cultural. Para Todos Verem: Léo é um homem negro de pele clara, com cabelos cacheados curtos e castanhos. Tem olhos castanhos claros, bigode, barba e cavanhaque. Está sorrindo, com os dentes à mostra. Usa um adereço de metal na parte superior do nariz, entre os dois olhos, um piercing de argola no lado esquerdo do nariz, um colar fininho dourado e um brinco redondo branco pequeno. Veste uma blusa de gola alta com estampas pequenas de estrelas num degradê de marrom, cinza e preto. Também usa uma jaqueta preta de tecido chamois (espécie de veludo). Ao fundo, uma parede de tijolos marrom com um quadro pedro pendurado. No canto direito, há uma planta de altura média, com grandes folhas

A “masterclass de acessibilidade” aconteceu no último dia 3 de novembro, com o auxílio de intérpretes de Libras e a mediação de Ítalo Oliveira, coordenador em Acessibilidade da Escola de Cultura e Artes do CCBJ. O POVO acompanhou a transmissão ao vivo. No encontro on-line, Leonardo Castilho compartilhou suas experiências de trabalhos em museus, festivais, oficinas e editais, sempre com ênfase na acessibilidade e na luta política de pessoas com deficiência. Nascido em São Paulo, o artista ficou surdo aos oito meses de idade. Desde a infância, surgiu o interesse pelas artes. Fluente em Libras e em português, Léo — como é carinhosamente apelidado — trabalha no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Com experiência em teatro, dança, poesia, interpretação e tradução, Leonardo expõe trabalhos, rotina e opiniões nas mídias sociais. Na sua mini biografia do Instagram, ele se apresenta: “Surdo, preto, gay”. Para o artista, urge a necessidade de ampliar a compreensão sobre acessibilidade na arte. Ele aponta como a acessibilidade costuma integrar os editais: “Muitas vezes, a acessibilidade é pensada por último, quando não há mais recurso. Para que é fácil, que é ok. Esse hábito precisa ser revisto”. E se a questão é “como aprender estratégias se não sei, não tenho experiência alguma?”, Léo responde: pergunte às PcDs.

No âmbito da cultura surda, Léo explica: “Não existe apenas um tipo de surdo na face da Terra. Há alguns surdos que não entendem o que o intérprete tá dizendo, por exemplo. Muitas vezes, o surdo já tem aquele pensamento ‘Ah, não vai ser acessível'. Eu, enquanto surdo… quando estamos à frente, outros surdos se identificam e querem participar. Se a programação é com ouvinte, o surdo não se interessa. Ainda mais quando é pra falar sobre um tema que um surdo que deveria falar”.

De acordo com Leonardo, é preciso “construir uma pauta” para seguir lutando pelos direitos das PcDs. “Na área das artes, a gente ainda encontra muitas dificuldades. Tudo é um processo. É algo que acontece paulatinamente”, analisa. O artista acrescenta: “Quando uma pessoa com deficiência vê alguém também com deficiência, ela se sente bem-vinda”. 

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Instagram: @leocastilho

 

 

Manifesto sobre a diversidade 

 

O baiano Hawk, produtor de conteúdo na internet, trata de assuntos variados em diversas plataformas. Sempre com muito humor, ele aborda a rotina no município de Ipiaú, política e reality shows, viagens no fim de semana, opiniões, reações e até culinária em publicações no YouTube, TikTok e Instagram. Seus trabalhos também se desdobram entre as artes visuais e o podcast Camisetas por Segundo.

No último dia 28 de novembro, no entanto, o artista desabafou sobre um episódio não tão agradável no Twitter, enquanto pessoa com deficiência. Um evento sobre diversidade e celebração da cultura preta acabou gerando um sentimento diferente para o baiano. O Afropunk Festival, evento de música que acontece tradicionalmente no Brooklyn, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, chegou ao Brasil nos últimos dias 26 e 27 de novembro. A estreia no País aconteceu no Centro de Convenções de Salvador, capital do estado da Bahia, com apresentações de artistas como Mano Brown, Margareth Menezes e Tássia Reis.

No relato, Hawk disse: “Eu não deveria existir! Não existe acesso, mesmo sendo um evento sobre diversidade”. O comentário suscitou as discussões sobre a falta de atenção às PcDs, mesmo quando se trata de um festival ligado às pautas progressistas, como a diversidade de corpos.

Para todos

 

“Mergulho” (2018), segundo álbum da cantora, dubladora e compositora Luiza Caspary, conta com vídeo em libras e legenda descritiva. A artista é, inclusive, a primeira cantora brasileira a tornar seu trabalho acessível. “Precisamos entender as pessoas com deficiência como um público consumidor, e não como caridade”, disse a artista durante a Campus Party 2021, festival de inovação, criatividade, ciências e empreendedorismo que acontece há 13 anos no Brasil. A palestra ocorreu no último dia 12 de novembro em formato híbrido (presencial e virtual).

No videoclipe da canção “Sinais”, Luiza sinaliza em Libras. A cantora está sentada de pernas cruzadas, com pés descalços, ao centro de um sofá estilo vintage, revestido por um tecido chenille (muito utilizado em estofados) de cor bege. No figurino, ela tem seus cabelos ruivos e lisos presos em um coque alto, com mechas laterais; e está vestida com um collant preto de mangas ¾ e calça de veludo bege cintilante.

Com a descrição, como a utilizada ao apresentar o vídeo anterior, pessoas cegas ou com baixa visão podem compreender o contexto de uma produção audiovisual ou estática. As palavras retratam as imagens. A hashtag (expressão para uma palavra-chave que indexa conteúdo on-line) #PraTodosVerem, por exemplo, é bastante utilizada nas mídias sociais como uma alternativa inclusiva. Ao publicar uma fotografia ou um vídeo, o usuário deve incluir na legenda, após a hashtag, uma descrição — especialmente com referências sensoriais, como o tecido de uma blusa ou formatos e posições de objetos.

A artista, educadora e produtora Anne Magalhães expõe, no Instagram, o que chama de “poesia visual”. Intérprete de Libras ouvinte, ela produz vídeos em que traduz canções diversas para a Língua Brasileira de Sinais. No repertório, músicas de Nelson Cavaquinho, Pabllo Vittar, Chico Buarque e Emicida.

 
 
 
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Uma publicação compartilhada por ANNE (@aannemagalhaes)

 

Em Fortaleza, a empresa Art! em Libras oferece uma série de atividades de consultoria, ação, produção e formação em acessibilidade cultural, especialmente com o diálogo voltado à comunidade surda. A iniciativa atua no desenvolvimento de trabalhos para museus, teatro, palestras, apresentação de multilinguagens, audiovisual e streaming, bem como no fomento às criações de artistas com deficiência.

“Eu não vejo a Art! em Libras só como uma empresa de tradução. Ela está, também, nesse lugar de produção artística e de pensamento e reflexão”, conta o proprietário, Vinicius Scheffer. Segundo o também artista, professor, pesquisador e intérprete de Libras, a acessibilidade cultural vai além da compreensão sobre os recursos de acessibilidade. “Passa por processos estéticos, por fruição de pensamento, fruição visual e de multissensorialidade”.

Sobre a promoção de serviços e políticas públicas de acessibilidade cultural no Ceará, Vinícius afirma que “os equipamentos culturais estão começando a se preocupar, abrindo portas”. Mas ressalta: “Para se ter acessibilidade cultural, não basta estar apenas no papel. Passa por um processo formativo, por empresas, profissionais capacitados na área, além de valorização e valores. Todo profissional tem que ser bem remunerado”. Ao falar sobre a relevância de profissionais locais, o artista ressalta: “Quando falamos de acessibilidade, principalmente linguística (no caso da Libras), estamos falando de palavras relacionadas ao nosso dia a dia”.

Artista, professor e intérprete de Libras, Vinicius Scheffer é proprietário da Art! em Libras, empresa especializada em acessibilidade cultural, com ênfase na cultura surda. Para Todos Verem: Vinícius é um homem branco, com cabelos lisos e curtos e olhos castanhos. Tem bigode e barba. Ele veste uma camisa de algodão vermelha e sinaliza em Libras durante a formação on-line "Cabaré da Autogestão", da Quintanda Soluções Criativas. Ao fundo, há um painel de madeira, com uma televisão no canto direito de Vinícius. O televisor mostra pessoas numa videochamada. Ainda ao fundo, à esquerda de Vinícius, há um aparelho de som pequeno estilo vintage sobre um tecido brilhante de lantejoulas. A cima do aparelho, é possível ver folhas de uma planta que está fora do quadro da fotografia(Foto: Claudio Freitas/Divulgação)
Foto: Claudio Freitas/Divulgação Artista, professor e intérprete de Libras, Vinicius Scheffer é proprietário da Art! em Libras, empresa especializada em acessibilidade cultural, com ênfase na cultura surda. Para Todos Verem: Vinícius é um homem branco, com cabelos lisos e curtos e olhos castanhos. Tem bigode e barba. Ele veste uma camisa de algodão vermelha e sinaliza em Libras durante a formação on-line "Cabaré da Autogestão", da Quintanda Soluções Criativas. Ao fundo, há um painel de madeira, com uma televisão no canto direito de Vinícius. O televisor mostra pessoas numa videochamada. Ainda ao fundo, à esquerda de Vinícius, há um aparelho de som pequeno estilo vintage sobre um tecido brilhante de lantejoulas. A cima do aparelho, é possível ver folhas de uma planta que está fora do quadro da fotografia

A procura por serviços de acessibilidade cultural cresceu durante a pandemia — aponta Vinícius. Contudo, o artista destaca: “Sou uma pessoa sem deficiência que entendo sobre alguns recursos… A gente precisa que as pessoas com deficiência ocupem os cargos culturais. Isso tem avançado um pouquinho. Ainda não é o ideal, mas isso já tem causado uma ruptura dentro dos processos de política cultural e acessível. Todos nós precisamos ser anticapacitistas e cobrar recursos e diálogo. Os trabalhos devem ser acessíveis para todos. E não ter um trabalho produzido e chegar ao final pensar a questão da acessibilidade. Trata-se de produzir o trabalho como um todo de uma forma acessível, do início ao fim”.

De acordo com Vinícius, as pessoas sem deficiência podem usar seus privilégios dentro da sociedade para exigir que narrativas de artistas com deficiência sejam contadas nos mais diversos equipamentos culturais. “Estamos sempre em contato não só com profissionais que prestam serviços de acessibilidade, mas também com artistas que queiram construir seus projetos, com suas possibilidades de narração e perspectivas do que querem produzir”, complementa.

Muitos dos artistas PcDs esbarram na própria compreensão dos editais culturais. No tutorial “Como se inscrever nos editais” da plataforma on-line Mapa Cultural do Ceará, mantida pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult/CE), por exemplo, não há vídeo com sinalização em Libras ou audiodescrição.

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Corpo não normativo

 

Com trabalhos ligados à pintura, ao desenho e à vídeo performance, o artista Daniel Moraes pesquisa a relação da deficiência física com as variadas artes, tendo como foco a mão. Mestrando em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (Portugal), ele também é graduado em Design pela Faculdade de Campinas (São Paulo).

Recentemente, o artista produziu o projeto de oficinas “O Desenho e o Corpo Não Normativo”, que tem como intuito questionar padrões, técnicas e representação. No último dia 29 de novembro, inclusive, Daniel ministrou a atividade virtualmente, em parceria com a Art! em Libras.

Daniel é diretor artístico da Demonstra — plataforma de investigação com propósito de mapear, estimular e difundir a produção artística de PcDs nas artes visuais. A primeira edição da residência artística on-line da plataforma está com inscrições abertas até às 23h59min (fuso horário de Portugal) de 12 de dezembro de 2021. Com o tema “Poéticas Informes”, a formação selecionará até seis artistas de países lusófonos, com trabalhos de pintura, desenho, performance, vídeo, fotografia, escultura, novas mídias e interdisciplinares, baseados na relação das corporeidades.

Mais informações: site

 

 

>> Ponto de vista

Realidade muda e amplia espaços para pessoas com deficiência 

Por Carlos Viana*

 

 

Carlos Viana é jornalista do O POVO. Carlos é um homem branco de cabelos pretos curtos. Na foto, está com barba e bigode. Usa uma blusa branca de algodão lisa com gola redonda. Ao fundo, há uma parede branca(Foto: Luiz_Alves/ divulgação)
Foto: Luiz_Alves/ divulgação Carlos Viana é jornalista do O POVO. Carlos é um homem branco de cabelos pretos curtos. Na foto, está com barba e bigode. Usa uma blusa branca de algodão lisa com gola redonda. Ao fundo, há uma parede branca
Por muitos anos, as pessoas com deficiência estiveram à margem da sociedade no que diz respeito às artes.

Era comum, por exemplo, espetáculos de teatro sem nenhum recurso de acessibilidade, ou museus sem um programa para incluir esse público.

Essa realidade, porém, vem mudando nos últimos anos, após muita luta do segmento de pessoas com deficiência e a visão de alguns gestores de espaços culturais, que viram a necessidade de se adaptarem para receber esse público.

A partir daí, alguns locais começaram a disponibilizar recursos de acessibilidade como rampas, textos em braille e intérprete de Libras.

Hoje, muito já foi alcançado, mas muita coisa ainda precisa ser atingida, para que as pessoas com deficiência possam verdadeiramente serem incluídas nos espaços culturais e terem acesso à arte.

Braille, audiodescrição, piso tátil, rampas e intérpretes de Libras são fundamentais, mas faz-se necessário que os espaços culturais se abram para receber não só o público, mas também artistas com deficiência.

Também urge uma formação de todo o quadro de profissionais desses locais, para que possam atender com qualidade pessoas com algum tipo de deficiência.

Aliás, o próprio conceito de acessibilidade vem mudando. Antes, a implementação desses recursos era tida como algo voltado apenas para pessoas com deficiência. Hoje, entende-se que outros públicos também podem se beneficiar desses recursos.

Um idoso pode se beneficiar da audiodescrição; uma grávida pode utilizar uma rampa.
Continuemos lutando para que a acessibilidade e inclusão cheguem verdadeiramente nas artes, e que pessoas com ou sem deficiência possam interagir em pé de igualdade, seja na plateia ou no palco.

*Jornalista, Carlos Viana atua na área de Opinião do O POVO, bem como na Rádio O POVO/CBN (FM 95,5 / AM 1010 / Cariri FM 93,5), e é cego

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