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Lewis Hamilton: pioneiro, recordista, heptacampeão e ativista
Reportagem Especial

Lewis Hamilton: pioneiro, recordista, heptacampeão e ativista

Por que precisamos falar de Lewis Hamilton mesmo que, inesperadamente, ele não tenha conquistado o oitavo campeonato de Fórmula 1 da sua carreira neste 2021? Bem, ele ainda é o maior campeão da categoria com diversos recordes. É o único piloto negro da história da F1. Além disso, aos 36 anos, o britânico vem usando a sua voz em favor das causas nobres, seja na luta antirracista, na defesa do meio ambiente, contra a violência doméstica e outras pautas sociais

Lewis Hamilton: pioneiro, recordista, heptacampeão e ativista

Por que precisamos falar de Lewis Hamilton mesmo que, inesperadamente, ele não tenha conquistado o oitavo campeonato de Fórmula 1 da sua carreira neste 2021? Bem, ele ainda é o maior campeão da categoria com diversos recordes. É o único piloto negro da história da F1. Além disso, aos 36 anos, o britânico vem usando a sua voz em favor das causas nobres, seja na luta antirracista, na defesa do meio ambiente, contra a violência doméstica e outras pautas sociais
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De primeiro piloto negro da história da Fórmula 1 a maior vencedor da categoria, o heptacampeão Lewis Hamilton tem uma trajetória única ao unir o talento nas pistas à importância de se impor como uma significativa voz em pautas humanitárias e ambientais. O inglês é dono de inúmeros recordes e quebrou marcas que pareciam imbatíveis, mas segue como quem sabe que a própria missão no automobilismo ainda está sendo construída.

 

Além dos sete títulos que o igualaram a Michael Schumacher como maior campeão da categoria, o inglês é o piloto com mais vitórias, poles, pódios e o que mais pontuou em toda a história da Fórmula 1. Recentemente, foi condecorado pela coroa inglesa com o título de cavaleiro da Ordem do Império Britânico, passando a ser chamado de "sir".

Entre as personalidades do esporte mais bem pagas do planeta, Lewis nem sempre teve uma vida fácil e teve uma trajetória bem mais humilde do que de outros nomes da Fórmula 1.

 

 

A infância e o primeiro contato com a velocidade

Lewis Carl Davidson Hamilton nasceu em 7 de janeiro de 1985, em Stevenage, cidade na região metropolitana de Londres, filho de pai negro e mãe branca — Anthony Hamilton e Carmen Larbalestier. Os pais do jovem Lewis se separaram quando ele tinha 2 anos de idade. Hamilton passou a morar com a mãe em um apartamento no norte de Londres, enquanto visitava o pai nos fins de semana. De origem humilde, chegou a dormir no sofá por falta de espaço.

“Meu pai morava em um apartamento de um quarto e eu sempre passava os finais de semana com ele. Ainda me lembro do sofá porque sempre dormia nesse sofá porque não havia outra cama”, afirmou o piloto ao Motor Sport, em outubro deste ano.

O primeiro contato de Hamilton com o esporte foi através do caratê, para aprender a se defender do bullying que sofria na escola por ser considerado um “alvo fácil”, segundo ele, por ser negro. Em publicação nas redes sociais, o piloto declarou que foi a modalidade que o ajudou a desenvolver noções como disciplina, respeito e humildade.

O automobilismo entrou na vida do pequeno inglês aos cinco anos, quando ganhou de seu pai um carro de brinquedo controlado por rádio. Lewis já demonstrava seu talento para pilotagem ao participar de campeonatos de automobilismo por controle remoto e derrotar adultos.

Lewis Hamilton foi o mais rápido no primeiro dia de treinos em São Paulo(Foto: Bryn Lennon / AFP)
Foto: Bryn Lennon / AFP Lewis Hamilton foi o mais rápido no primeiro dia de treinos em São Paulo

“Quando eu tinha quatro ou cinco anos, comecei a brincar com o carro controlado por rádio do vizinho. Foi a primeira vez que fiz isso. Mas eu sempre adorei carros. Meu pai era apaixonado por seu carro, e quando eu estava sentado no banco de trás eu o via mudar de marcha e coisas assim. Ele é meu herói”, disse o piloto.

Anthony notou a paixão do filho e o presenteou com um kart de segunda mão quando ele tinha sete anos, chegando a trabalhar em quatro empregos diferentes para custear o equipamento. Lewis sempre foi fã do ex-piloto brasileiro Ayrton Senna e, quando andava de kart, utilizava o capacete verde-e-amarelo em seu início nas pistas, inspirado no tricampeão mundial.

Quando Lewis completou 10 anos, Anthony — que, a essa altura, já atuava como empresário e mecânico do filho — procurou o pai do ex-piloto de Fórmula 1 Jenson Button — na época, ainda piloto de kart — para conseguir um motor para o kart de Hamilton. John Button trabalhava na área e comercializava peças de carros, e isso ajudou Hamilton a conseguir contatos com nomes importantes do automobilismo.

Para compensar o equipamento pior, Hamilton aprendeu a frear depois dos outros pilotos na hora das curvas para ganhar algum tempo de vantagem, e isso fez o jovem menino brilhar no kart.

Lewis começou a vencer campeonatos regionais e a se destacar no cenário local, tornando-se uma jovem sensação da categoria. Em uma das cerimônias de premiação, conheceu então Ron Dennis, chefe da McLaren. Hamilton pediu um autógrafo e disse que um dia estaria pilotando para a escuderia dele. Ron então deu o autógrafo e escreveu: "Ligue-me em nove anos que eu farei um acordo com você”.

 

 

Menos de nove anos depois

Nove anos era tempo demais e os destinos dos dois se cruzariam bem mais cedo. Quando Hamilton completou 13 anos, a McLaren assinou o contrato com a sensação inglesa que acabara de ser bicampeã do kart para um programa de desenvolvimento de pilotos. Já ali havia uma cláusula futura de opção para subir aos quadros da Fórmula 1. Foi lá que Hamilton conheceu Nico Rosberg, que futuramente viria a ser seu companheiro de equipe na Mercedes, e ambos chegaram a criar certa rivalidade que se estendeu até a Fórmula 1.

Depois de conquistar o bicampeonato europeu de kart, Lewis teve a primeira oportunidade de pilotar carros de corrida, aos 15 anos, correndo a Fórmula Renault inglesa. No ano de estreia, até teve bom desempenho, ganhando três corridas e terminando em terceiro na classificação geral. Mas chamou a atenção mesmo na segunda temporada, quando venceu 10 de 15 corridas e, com sobras, ganhou o primeiro título nos carros.

Lewis Hamilton venceu o GP da Espanha de Formula 1 na temporada 2021(Foto: Emilio Morenatti/AFP)
Foto: Emilio Morenatti/AFP Lewis Hamilton venceu o GP da Espanha de Formula 1 na temporada 2021

A partir daí, Hamilton passou a receber sondagens de outras equipes, mas acabou ficando mesmo na McLaren. O inglês disputou duas temporadas da Fórmula 3. Na primeira, terminou na quinta colocação. Foi na segunda, mais uma vez, que mostrou ser especial: 20 corridas, 16 vitórias e título com mais do dobro da pontuação do vice.

Já com status de estrela, estreou na GP2 em 2006 e, em disputa acirrada com o brasileiro Nelsinho Piquet, conquistou o título que o deixaria a um passo da Fórmula 1.

Com a saída do colombiano Juan Pablo Montoya e do finlandês Kimi Raikkonen, em 2006, a McLaren só tinha o então campeão, o espanhol Fernando Alonso, que tinha recém chegado à equipe, para correr em 2007 na Fórmula 1. Ron Dennis resolveu apostar em Lewis, e o jovem inglês se tornava, então, o primeiro piloto negro da história da categoria.

 

 

As primeiras voltas nos circuitos da Fórmula 1

O inglês não demorou para mostrar que tinha talento para a Fórmula 1, subindo ao pódio em suas nove primeiras corrida. Hamilton venceu quatro corridas em sua primeira temporada e ficou muito perto de conquistar o título, mas dois erros nas duas últimas corridas com vitórias seguidas de Kimi Raikkonen, da Ferrari, fizeram o finlandês ser campeão por um ponto.

Mesmo com a perda do título, o desempenho surpreendente no ano de estreia fez com que a McLaren renovasse com Hamilton até 2012. Fernando Alonso deixou a equipe depois de alegar um certo favorecimento da escuderia ao inglês e voltou para a Renault. Com isso, o finlandês Heikki Kovalainen era o novo companheiro de equipe de Hamilton para a temporada 2008.

No ano seguinte, Hamilton e o brasileiro Felipe Massa, da Ferrari, travaram uma briga intensa pelo campeonato. Ambos chegaram ao GP do Brasil — último da temporada — com cinco GP's vencidos cada, mas, por ter melhores resultados no decorrer da temporada, o inglês precisava apenas de um quinto lugar pare se sagrar campeão.

Felipe Massa, segundo na classificação geral e com a torcida brasileira a seu favor, fazia sua parte e liderava a corrida com folga, enquanto Hamilton estava em quarto e mantinha o título sob controle. Mas, nas voltas finais, uma chuva assolou Interlagos e mudou o panorama da corrida. Após quase todos os pilotos irem aos boxes, Hamilton foi ultrapassado por Vettel e voltou atrás de Timo Glock, que não havia parado. Com o sexto lugar, Hamilton perderia o título.

Lewis Hamilton é heptacampeão mundial de pilotos na Fórmula 1(Foto: Jared C. Tilton / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)
Foto: Jared C. Tilton / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP Lewis Hamilton é heptacampeão mundial de pilotos na Fórmula 1

Na última volta, Felipe Massa passou em primeiro como campeão, com a torcida brasileira enlouquecida comemorando o que viria a ser o primeiro título nacional desde o terceiro de Senna, em 1991. Mas, um pouco atrás, Hamilton ultrapassou um "patinante" Glock, que estava lento por não ter colocado pneus de chuva, cruzando a linha de chegada em quinto e tomando o título para si.

O inglês foi o piloto mais jovem a ser campeão na história da Fórmula 1, com 23 anos — posteriormente, a marca foi quebrada pelo alemão Sebastian Vettel —, além de se tornar o primeiro piloto negro a conquistar o título da categoria.

Em 2009, a McLaren sofreu vários contratempos durante a pré-temporada, com trocas de peças a cada teste, e não conseguiu desenvolver um carro competitivo para aquele ano. Lewis venceu duas corridas e terminou a temporada em quinto. O campeão foi outro inglês, Jenson Button — filho de John, um dos primeiros contatos de Anthony Hamilton como empresário do filho.

Nos anos seguintes, Hamilton e a McLaren passaram por muitas oscilações e não conseguiram repetir o desempenho de 2007 e 2008. Com um motor bem melhor, Sebastian Vettel conquistou quatro títulos consecutivos com a Red Bull, enquanto o inglês aceitava o desafio de ir tentar a carreira em uma nova equipe.

 

 

Ida para Mercedes e domínio quase absoluto

Em 2013, Hamilton se transferiu para a Mercedes para correr ao lado do alemão Nico Rosberg, amigo e também rival durante a adolescência nos tempos de kart. Era um ano de adaptação e o inglês chegou a vencer uma corrida, mas terminou a temporada em um "modesto" quarto lugar.

Em 2014, a Mercedes se mostrou o melhor carro com sobras. Assim, Hamilton e Rosberg mostraram desde o início que a briga pelo título seria entre eles. O alemão começou melhor, mas depois o inglês conquistou cinco vitórias consecutivas. Nos Emirados Árabes, última prova da temporada, Hamilton precisava de uma segunda colocação para assegurar o título, venceu e levantou a segunda taça do Mundial de Pilotos.

No ano seguinte, Hamilton não tomou conhecimento dos seus adversários e se tornou campeão com três corridas de antecedência, ao vencer nos Estados Unidos. Em toda a temporada, só não subiu ao pódio duas vezes.

 

"... sempre adorei carros. Meu pai era apaixonado por seu carro, e quando eu estava sentado no banco de trás eu o via mudar de marcha e coisas assim. Ele é meu herói"

 

Em 2016, Rosberg abriu larga vantagem ao vencer as quatro primeiras corridas e Hamilton passou toda a temporada correndo atrás do alemão. O inglês ainda chegou a vencer as últimas quatro provas, mas não foi o suficiente para alcançar Nico, que conquistava o seu primeiro e único título na Fórmula 1.

Após o título, o alemão decidiu se aposentar das pistas de forma prematura e o finlandês Valtteri Bottas se tornou o novo companheiro de equipe de Hamilton. Em 2017, um recorde quebrado: o inglês fez história ao se tornar o piloto com maior número de poles da história da Fórmula 1, ultrapassando Michael Schumacher, que somou 68 ao longo da carreira. Hamilton venceu a disputa contra o tetracampeão Vettel e igualou o número de títulos do alemão.

2018 e 2019 foram temporadas em que Hamilton teve larga vantagem sobre todos os pilotos: com 11 vitórias em cada ano, o inglês emendou o quinto e o sexto campeonatos com sobras, ultrapassando o lendário argentino Juan Manuel Fangio, com cinco títulos, e ficando atrás apenas do alemão Michael Schumacher, com sete.

Para dar uma noção do tamanho do feito de Hamilton, a marca de cinco títulos de Fangio havia demorado 47 anos para ser alcançada e, até hoje, só o britânico e Schumacher conseguiram repetir a façanha.

O ano de 2020 foi de recordes para o inglês. Hamilton ultrapassou Michael Schumacher em número de vitórias (92) e triunfos pela mesma equipe (72), além de se igualar ao alemão como maior campeão ao conquistar o sétimo título — mais uma vez, de forma tranquila, apesar de ter se ausentado do Grande Prêmio de Sakhir por ter testado positivo para Covid-19.

Hamilton começou com vitória a busca pelo inédito octacampeonato mundial (Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP)
Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP Hamilton começou com vitória a busca pelo inédito octacampeonato mundial

A temporada de 2021 foi intensa do início ao fim, e Hamilton travou briga duríssima com o holandês Max Verstappen, da Red Bull. Ambos chegaram à última corrida, nos Emirados Árabes, empatados em número de pontos, e a decisão foi emocionante até a última volta.

Verstappen largou na pole, mas perdeu a posição para Hamilton logo na largada e o inglês liderou por toda a corrida e mantinha uma boa vantagem para o holandês, segundo colocado. Parecia que o oitavo título de Lewis estava garantido, até que um acidente com o canadense Nicholas Latifi, a cinco voltas do fim, colocou o safety car na pista e juntou os carros.

O safety car voltou para os boxes a uma volta do fim, e, Verstappen, com pneus novos, ultrapassou Hamilton, com pneus bastante desgastados, e conquistou seu primeiro título.

Mesmo com a perda do título na última volta, Hamilton acumulou mais marcas na temporada. O inglês se tornou o único piloto a ultrapassar os três dígitos em poles e vitórias, hoje com 103 cada. E, aos 36 anos, mantém contrato com a Mercedes até 2023.

 

 

A luta fora das pistas

Poucos esportistas são, hoje, tão influentes socialmente como Lewis Hamilton. Uma importante voz na luta antirracista, o inglês participou ativamente do movimento "Black Lives Matter", protesto que teve início após o assassinato de um homem negro, George Floyd, asfixiado pela polícia americana.

Único piloto negro da história da Fórmula 1 até os dias de hoje, Lewis acredita que a presença dele na categoria também é para reafirmar uma mudança, por isso criou a Comissão Hamilton, para dar oportunidade a jovens afrodescendentes no campo da engenharia.

“Existem barreiras que impedem pessoas das mais diversas origens a ingressarem na indústria das corridas, além de práticas problemáticas de contratação que resultam em menos pretos formados entrando nas profissões de engenharia. Daqui a 20 anos, espero ver o esporte que deu a um garoto tímido, trabalhador de Stevenage tantas oportunidades, se torne tão diverso, complexo e multicultural quanto o mundo em que vivemos”, disse o piloto em entrevista ao Sunday Times.

 

"No final de 2019, olhando as fotos de todos os times, com pilotos e mecânicos, eu pensei: ‘Não há pessoas não brancas presentes’. Competir e ganhar campeonatos é algo ótimo, mas o que isso realmente significa? Nada se você não promover mudanças. Eu não poderia me manter em silêncio"

 

Hamilton contou ao jornal britânico The Guardian que a necessidade de se posicionar começou olhando fotos dos times e não ver nenhuma pessoa não branca.

“No final de 2019, olhando as fotos de todos os times, com pilotos e mecânicos, eu pensei: ‘Não há pessoas não brancas presentes’. Competir e ganhar campeonatos é algo ótimo, mas o que isso realmente significa? Nada se você não promover mudanças. Eu não poderia me manter em silêncio“.

Mas a luta antirracista não é a única pela qual Hamilton se posiciona. Em seu Instagram, já manifestou sobre diversas pautas sociais como sustentabilidade, abuso doméstico, imigração e veganismo — prática a qual adere desde 2017, além de ser dono de um restaurante especializado em hambúrgueres de origem vegetal.

O inglês já teve algumas divergências com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) por suas manifestações políticas nas pistas ou no pódio. No GP de Toscana, em 2020, protestou antes da corrida e no pódio com a cabeça baixa e uma camisa escrito "Prendam os policiais que mataram Breonna Taylor" — referindo-se à morte de uma americana negra de 26 anos por policiais que invadiram a casa dela em busca de drogas. O namorado dela, pensando se tratar de invasores, tentou se defender, e os policiais atiraram contra eles. Breonna morreu no local, e nenhuma droga foi encontrada.

Depois da manifestação de Hamilton, a Federação proibiu o uso de camisas com manifestações políticas, permitindo apenas o macacão da equipe no pódio.

 

 

A vida pessoal e a relação tumultuosa com o pai

Hamilton teve um longo relacionamento com a ex-integrante do Pussycat Dolls, Nicole Scherzinger, de 2007 a 2015. Os dois continuaram amigos após o término. Foi a única relação duradoura de Lewis desde então. O inglês está sempre em páginas de fofocas com novos possíveis "affairs".

Desde 2010, a relação com o pai não tem sido das melhores. Anthony Hamilton foi um dos principais responsáveis pela trajetória de Lewis desde o início dele nas pistas e atuou por muitos anos como empresário do filho desde a época de kart, até 2010, quando já era campeão mundial de Fórmula 1. Mas depois de duas temporadas abaixo da expectativa, Lewis demitiu o próprio pai e passou a administrar a carreira sozinho.

Lewis Hamilton lança o troféu ao ar após vencer o Grande Prêmio de Fórmula 1 dos Estados Unidos de 2015(Foto: CLIVE MASON)
Foto: CLIVE MASON Lewis Hamilton lança o troféu ao ar após vencer o Grande Prêmio de Fórmula 1 dos Estados Unidos de 2015

Isso gerou uma ruptura entre os dois, que passaram um tempo sem se falar. Após a ida de Lewis para a Mercedes, os dois voltaram a se falar, mas sem manter o mesmo vínculo de antes.

Ao final da temporada 2019, Hamilton resolveu chamar o pai para passar as férias de inverno com ele buscando essa reconciliação.

"Ele trabalhou muito duro para criar uma oportunidade para nós, como família, e é por causa dele que estou onde estou hoje. Na busca pelo sucesso, com toda a pressão que ela nos colocou, ficamos tão imersos em chegar lá que perdemos o foco no que era mais importante - nossa relação. Nossa jornada não foi fácil. Ao longo do tempo, perdemos o elo de pai e filho e isso é algo que nós dois queríamos resgatar faz tempo", assumiu o piloto em publicação nas redes sociais.

Hoje, os dois estão com uma relação melhor. Anthony, inclusive, esteve em Portimão comemorando o sétimo título de Lewis, e disse estar muito orgulhoso do que o filho conquistou.

 

 

Olhar analítico sobre Hamilton: piloto mais importante da história?

O jornalista e piloto Flávio Gomes destacou os principais méritos de Hamilton para se destacar dentre os demais pilotos. Segundo ele, depois de perder o título em 2016 para Rosberg, o britânico “evoluiu de uma forma assustadora”.

“Hamilton é um piloto muito inteligente, acima de tudo. E depois de 2016, quando perdeu o título para Rosberg, evoluiu de uma forma assustadora. Passou a usar a experiência a seu favor como poucos. É um piloto decidido para fazer ultrapassagens, que erra muito pouco e em classificação tem a capacidade de encaixar voltas muito próximas da perfeição. É muito perseverante também e aquela coisa de ‘não desistir nunca’ vai além do discurso. Por fim, é mentalmente muito forte e excepcional no trabalho em equipe”, avalia Flávio.

Show pirotécnico marcou a comemoração pelo fim do GP do Bahrein (Foto: Lars Baron / AFP)
Foto: Lars Baron / AFP Show pirotécnico marcou a comemoração pelo fim do GP do Bahrein

Sobre os posicionamentos de Hamilton, o jornalista o colocou como o piloto mais importante da história da Fórmula 1 por usar sua influência para abordar temas antes nunca abordados na categoria.

“Ele é um exemplo para muita gente e sabe que sua voz é ouvida. Por isso, resolveu falar, usar a incrível capacidade de mobilização que tem por ser um vencedor e também por entender como as redes sociais alavancam as causas que defende e multiplicam a quantidade de gente atingida por ele. É um caso raro de esportista que fala, que assume posições, que sabe que é preciso mais do que vitórias no esporte para ser um cidadão relevante. Um cara que não se omite, que decidiu usar a F-1, uma plataforma conservadora, branca e machista, para falar de temas nunca abordados na categoria. Eu diria que é o piloto mais importante da história, não apenas o melhor”, afirma.

Há um grupo que diz que Hamilton só conquistou essa hegemonia por ter o melhor carro. Questionado sobre isso, Flávio lembra que nunca houve campeões com carros ruins e que Hamilton ajudou a Mercedes a tornar os carros vencedores.

“Isso é bobagem. Nunca houve campeões com carros ruins. Senna ganhou três títulos assim. Vettel, quatro. Carro bom atrai piloto bom, piloto bom acaba sempre em equipe boa, equipes grandes sabem que não adianta nada ter carros espetaculares dirigido por pilotos medíocres. Além do mais, hegemonias como a da Mercedes não nascem de geração espontânea. Ele chegou à equipe um ano antes, aproveitou a para aprender com a cultura vencedora deixada por Schumacher, e antes, depois do título de 2008, ainda passou quatro anos na McLaren apanhando até de companheiro de equipe. Cresceu com a Mercedes, ajudou a tornar vencedores os carros da equipe e agora desfruta daquilo que plantou. Como Schumacher na Ferrari, que passou quatro anos amassando barro até ganhar o primeiro título, e aí desandou a ganhar tudo. Hamilton é o maior de todos não porque um carro ganhador lhe caiu do céu. E está, claro, no nível de monstros sagrados como Schumacher e Fangio, por exemplo."

 

Relação com o Brasil

Fã declarado de Ayrton Senna, Hamilton tem uma relação pessoal com o Brasil. Em 2017, se emocionou ao receber o capacete de Senna enviado pela família do brasileiro, a quem Lewis chamou de herói.

"Em absoluta descrença com o que aconteceu hoje. Deus é verdadeiramente o maior. Meus sonhos mais loucos se tornaram realidade, e eu sou tão grato! Obrigado, família Senna, por esse presente inacreditável. O capacete do meu herói. UAU! Eu vou apreciar isso para sempre", publicou Hamilton no Instagram.Foi também no Brasil que o piloto conquistou o seu primeiro título da Fórmula 1, na última volta, vencendo a disputa com o brasileiro Felipe Massa.

 
 
 
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Em 2021, Hamilton venceu o GP do Brasil em uma das recuperações mais espetaculares da história, depois de largar em último na sprint race. Ao vencer, Lewis pegou uma bandeira do Brasil e ergueu de dentro do carro, repetindo o famoso gesto de Ayrton Senna em um momento emocionante para quem estava acompanhando.

Em entrevista à Band, antes do GP do Brasil desse ano, o piloto falou o motivo de sua paixão pelo Brasil. "Já me perguntaram se eu sou brasileiro. Gosto do Brasil porque é um país miscigenado, e eu não me sinto diferente aqui. E é claro que tem a minha paixão pelo Senna”.

Hamilton também já se posicionou em defesa da Amazônia e é amigo pessoal de Neymar, Gabriel Medina e Anitta, além de elogiar a cultura e a música brasileira.

 

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