No ano de 1931, 90 anos atrás, morreu um símbolo de Fortaleza. Bode Ioiô, ou Yoyô, transformou-se em espécie de mascote da municipalidade e foi convertido em símbolo de algumas das características que o fortalezense projeta nele ao enxergar como traços do próprio povo.
Era um bode retirante — conta-se que chegou à Capital com uma família que fugia da seca do 15. Era boêmio — acompanhava as rodas de conversa e bebida. Dizem que bebia cachaça. Fala-se que levantava a saia das mulheres, e na época, os homens achavam isso engraçado. Foi transformado em instrumento de protesto/chacota políticas. Na época da eleição em cédula de papel, dizia-se que tinha tido votos para ser eleito vereador.
Morreu no fim de 1931, acredita-se que de velhice, embora tenham havido outras versões que incluem consequência da vida desregrada até crime cometido por suposto desafeto. A lenda em torno dele não diminuiu. Ao contrário, aumentou. Foi embalsamado e doado ao Museu Histórico do Estado, atual Museu do Ceará.
Provavelmente a fonte mais importante sobre o bode é a crônica de Raimundo de Menezes, publicada na década de 1930 na Gazeta de Notícias, lida posteriormente da rádio PRE-9, a Ceará Rádio Clube, e parte do livro Coisas que o tempo levou, de 1938, reeditado pelas Edições Demócrito Rocha em 2000.
"Um dos tipos mais populares e queridos da Fortaleza de outrora foi, incontestavelmente, o bode Yoyô", escreveu Menezes. Conta-se que o caprino foi um dos imigrantes, que chegou durante a famosa seca do 15. Um retirante o trouxe amarrado a uma corda e buscou vendê-lo em busca de sustento. Menezes diz que foi comprado pela firma Rossbach Brazil Company. O historiador Raimundo Girão, em entrevista ao Ceará em Revista, na década de 1980, afirma, todavia, que o bode pertencia a José Magalhães Porto, sócio da Iona Alfândega, conforme escreve Cristina Rodrigues Holanda no livro Museu Histórico do Ceará: a memória dos objetos na construção da História (1932-1942), editado pelo Museu do Ceará em 2005. Porto, que chegou a Fortaleza vindo de Pernambuco também no ano de 1915, construiu o Estoril, onde morava.
Tanto uma como a outra empresa mantinham armazéns perto da alfândega, atual Caixa Cultural Fortaleza, em frente ao local onde hoje é o Centro Dragão do Mar, na então Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema. A compra teria sido apenas para ajudar o retirante. Pesou também o fato de ser um animal diferente, bonito. Tinha porte elegante e olhar profundo. Diziam que parecia gente. A aparência o teria salvo da panela.
O animal foi deixado solto. Circulava constantemente da praia à Praça do Ferreira, então coração cultural da cidade ainda pequena. Daí teria vindo o apelido: do vai e vem constante. Pelo que se conta, gostava de viver perto das pessoas, achegava-se às rodas de conversa, das farras e era querido dos ébrios.
"Era uma espécie de mascote da capital daqueles tempos, uma figura obrigatória na pacatez da cidade provinciana", registrou Menezes. Porém, há relatos de meados do século XX segundo os quais o bode não era propriamente pacato. Fala-se que tinha temperamento agressivo e corria atrás das pessoas — o que divertia ainda mais os boêmios que o adotavam como companhia.
Escritores, músicos, boêmios e artistas em geral se afeiçoavam a ele e gostavam da companhia, e isso ajudou a propagar e perpetuar a fama. Segundo Raimundo de Menezes, um dos que registraram a história do célebre caprino cearense foi o cronista, escritor e poeta maranhense Viriato Corrêa, que visitou Fortaleza em outubro de 1924.
"O Ioiô era uma figura popular, um tipo popular. Sim, ele fazia parte da brincadeira. Assim como a gente pode pensar nas periferias e no Centro de Fortaleza, tem aquelas figuras populares, que os comerciantes e as pessoas que vivem ali brincam. E que interagem com o mundo dessa forma pitoresca, anedótica, curiosa. E o bode era isso, anedótico, curioso", explicou ao O POVO Francisco Secundo Neto, professor da Unifametro e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
São muitas as anedotas a respeito dele. Conta-se que era levado para assistir espetáculos no Theatro José de Alencar, junto da elite de então, e ia a saraus literários. E se narra que, na inauguração do Cine Moderno, ele não quis saber de protocolos. Comeu a faixa de inauguração antes da chegada de Justiniano de Serpa, então presidente do Estado, cargo equivalente ao de atual governador. Quando a autoridade lá chegou, o cinema, na rua Major Facundo, na Praça do Ferreira, já estava "inaugurado" pelo bode.
Uma das histórias mais conhecidas sobre o bode é a "eleição" para vereador. Fala-se que, no ano de 1922, os boêmios fizeram campanha-protesto para votarem em Ioiô para vereador. Era tempo da eleição em cédula de papel. Na votação para vereador, escrevia-se o nome do escolhido. O que se conta é que muita gente escreveu o nome-apelido do bode boêmio. Uma manifestação de voto de protesto.
O que ficou na memória oral é que ele teve uma enormidade de votos. Fala-se que mais que qualquer outro candidato. Obviamente, esses votos nunca foram de fato apurados. Teria havido, porém, uma grande festa na Praça do Ferreira para "comemorar" a eleição. Na verdade, mais um pretexto para uma boa bebedeira. Teria havido até um "movimento" para que dessem posse ao Ioiô, o que obviamente não foi atendido. Ele seguiu despachando, mesmo, na Praça do Ferreira.
O caprino retirante cearense foi precursor de outros fenômenos do voto de protesto. Nas eleições de 1959, o rinoceronte Cacareco, que era fêmea, recebeu quase 100 mil votos em São Paulo. Em 1988, no Rio de Janeiro, macaco Tião foi o voto de protesto para prefeito e conta-se que chegou aos 400 mil votos. Se fosse validada, a candidatura teria ficado na terceira colocação, desempenho nada desprezível.
O professor Francisco Secundo Neto conta que, em suas pesquisas, não encontrou registros oficiais, em fontes documentais ou jornais da época, que contem da "votação" do Ioiô. "Se trata, talvez, ou de uma coisa que ficou como uma invencionice, pela popularidade pela figura do bode. Ou algo que realmente possa ter acontecido, mas, como não foi registrado..."
O pesquisador destaca que, na condição de voto de protesto, era algo que pessoas influentes não iriam querer deixar registrado. "À época, os políticos, os sujeitos que foram contestados ou afrontados com esse fato, possivelmente não gostaram e não deixaram isso ser propagado muito. A gente pode especular, mas não há registros históricos que eu conheça, de jornais ou de algum cronista ou memorialista, que afirmem isso de fato", explica o professor.
"O que a gente tem apenas é um disse me disse que ficou na boca, no imaginário das pessoas e foi passando para frente até os dias de hoje, pelo fato da importância que o bode Ioiô teve na história do Estado", completa.
Porém, isso não encerrou a ideia do bode como agente político. No livro Sábado, estação de viver — histórias da boemia cearense, Juarez Leitão chega a contar que, quando os revolucionários de 1930 invadiram o Palácio da Luz para depor Matos Peixoto do governo do Ceará, Ioiô estaria entre eles. O fato não é mencionado em outras fontes localizadas pela reportagem e é improvável que tenha ocorrido, dado o bode estar já velho e perto da morte. O mais provável é que seja mais uma das lendas que o envolvem.
A Fortaleza da época em que o Ioiô viveu era uma cidade em transformação. A capital tem entre os alicerces a vinda de famílias do Interior. O hábito sertanejo é ainda hoje presente nos costumes, na alimentação, nos sotaques, na arquitetura das casas mais antigas. São raros os fortalezenses que não tenham seu Interior, o Interior de suas famílias.
Nas décadas de 1910 e 1920, a própria capital era uma cidade algo interiorana, embora houvesse ambições para que isso mudasse.
"Fortaleza passava pelo processo de transição de uma cidade extremamente rural, uma cidade baseada na vida sertaneja, para uma vida que estava se espelhando nos modelos de sociabilidade europeu do capitalismo mundial, da urbanização", aponta o professor Francisco Secundo Neto.
O bode seria, assim, uma reminiscência do que a cidade havia sido e tentava deixar de ser. O tráfego de veículos motorizados aumentava. Não era mais possível deixar os bichos vagando pelas ruas. A legislação proibia animais soltos, comboios e boiadas em determinadas vias. Era proibido andar a cavalo em velocidade elevada, ou montar animal que não estivesse devidamente domado. Era prevista multa e prisão por 24 horas dos infratores. Jornais denunciavam o anacronismo urbano de animais soltos e a existência de vacarias inadequadas. Eram narrados acidentes causados por colisões com os bichos.
Porém, o Ioiô era exceção. Os relatos são de que não era importunado pelos fiscais da Prefeitura. Não teriam a audácia de cerceá-lo o ir e vir. Gozava de certa imunidade, enquanto os outros animais eram reprimidos.
No fim da década de 1920, todavia, o trânsito foi ficando mais intenso, enquanto a idade começou a afetar o carismático bode. "(...) o tráfego de veículos aumentava, a civilização chegava...", escreveu Raimundo de Menezes. "E o Bode Yoyô ficou, então, recluso, e não se lhe viu mais a popular carcaça a perambular no passeio de todos os dias. A prisão fez-lhe mal", conta o cronista.
A morte do bode Ioiô foi noticiada no jornal Correio do Ceará, em 7 de novembro de 1931. O acontecimento não deixou de cair na boca da população. Os boêmios gostavam de dizer que a causa foi cirrose, consequência dos anos de bebedeira. Outra anedota falava em crime, cometido por um marido ciumento. Ou até atentado político, resultado do rancor da eleição de anos antes. O fato é que o animal tinha idade avançada e apresentava há algum tempo a debilidade.
Ioiô era tão marcante que foi embalsamado pelos proprietários. Em 9 de julho 1935, foi doado ao Museu Histórico. Não foi esquecido. Ao contrário, após a morte iniciou uma nova história.
Ao informar sobre a doação, a Gazeta de Notícias, em 9 de julho de 1935, funde as duas versões sobre a propriedade do Ioiô, citadas anteriormente. Informa que ele pertencia à Rossbach Brazil Company, e foi doado por José Magalhães Porto, que seria, na verdade, funcionário da Rossbach.
A doação causou certa polêmica e era usada como argumento pelos críticos do organizador e primeiro diretor do Museu Histórico do Ceará, Eusébio de Sousa. Cristina Rodrigues Holanda, em seu livro, enxerga indicativos de que ele não via na peça grande valor histórico, mas reconhecia o potencial de atração de público. Alguns intelectuais achavam que o Ioiô não era digno de estar ali.
"O nosso Museu Histórico era um depósito de velharias. Basta dizer que até o corpo embalsamado de um bode ali se encontrava, o 'Bode Yoyô', que vivia nas ruas de Fortaleza, ameaçando todo mundo...", publicou O Nordeste, em 4 de julho de 1955.
"O Bode Yoyô está agora, mais retraído, por que sua presença é sempre um sinal de grande frequência para os 'saudosistas'. E muita gente num Museu para ver um bode pode ser um insulto aos respeitosos velhos dos retratos que figuram nas paredes", publicou o jornal Correio do Ceará, em 28 de fevereiro de 1948.
O valor dado ao bode era visto como demonstração da falta de qualidade do acervo. "O objetivo, talvez, que maiores atenções despertava dos curiosos que por lá apareciam, era Bode Yoyô, capricho empalhado que metia medo aos meninos e provocava recordações dos velhos que o conheceram nesta cidade... Por esta razão notava-se ausência de pessoas ao Museu, que na verdade de museu possuía apenas o nome já que pouquíssimas eram as peças dignas de figurar em uma instituição assim que lá se encontravam", publicou O Estado em 3 de julho de 1955.
Secundo Neto aponta fotografia publicada no livro Lendo objetos: a reconstrução do conhecimento histórico no Museu do Ceará, de Marcos Uchôa da Silva Passos. A imagem, datada de 1978, mostra o Ioiô exposto como coadjuvante, na Sala do vaqueiro. Era uma referência ao meio rural, sem qualquer alusão a irreverência ou curiosidade.
Em 1989, quem visitava o museu pouco ficava sabendo sobre o Ioiô. Havia apenas uma cartolina com algumas poucas informações a respeito dele. Então diretor da instituição, Osimiro Barreto disse ao O POVO, em 6 de setembro de 1989, que "seria mais interessante que o bode estivesse num museu folclórico e não num museu histórico". Osimiro admitia pouco saber sobre o Ioiô. "Eu escrevo sobre coisas sérias", justificou-se.
O diretor não via importância histórica no animal e acreditava que a popularidade "foi apenas gozação, uma espécie de brincadeira das pessoas". E questionava: "Como igualar um bode às personalidades históricas que temos aqui?"
Tal visão mudou na década seguinte. "Só nos anos 1990, por causa do contexto de o Ceará entrando para o turismo de maneira mais efetiva, de uma valorização da imagem sobre a terra, que a gente precisava turistificar o lugar, há necessidade de trazer imagens positivas. Até os anos 1980, tinha a imagem da seca, do assolamento da miséria, que o Nordeste ainda hoje é marcado, principalmente para sudestinos e para sulistas. Lá nos anos 1990, buscavam-se imagens positivas. Como a novela Tropicaliente, que recebeu verba do Governo do Estado do Ceará em 1994. Procuravam-se imagens positivas para o Ceará. E a irreverência, o humor começou a ser uma forma de boa imagem para essa terra que também precisava se vender para fora", afirma o professor Secundo Neto. É nesse cenário, ele aponta, que a reputação do bode é reconstruída e resignificada.
"Quando chega em 1996, o Ioiô começa a fazer parte de maneira central, da liderança do museu. Ele é uma peça líder, uma peça mais importante, o símbolo do Museu do Ceará, símbolo da resistência, símbolo da irreverência do nosso povo", acrescenta o professor.
Para Secundo Neto, o imaginário acerca do bode tem várias fases. Nas décadas de 1920 e 1930, era o mascote curioso e pitoresco da cidade, assim tratado pelos contemporâneos. Ao se tornar peça de museu foi sendo resignificado em vários momentos. Retratado por cronistas, dos quais Raimundo de Menezes ficou como o mais relevante, e nas páginas de jornais, seja contra ou a favor. E despertando certa polêmica intelectual, com ondas a favor e contra. Até chegar à década de 1990, quando ganha protagonismo inédito.
"O bode é representação desse imaginário, dessa memória coletiva, que diz respeito a essa ideia de uma cearensidade moleque, irreverente, gaiata. Que, sim, foi maquinada — retomada pelo menos — pelo momento que o Ceará passou nos anos 1990, quando da turistificação do lugar", destaca o pesquisador, autor da tese de doutorado "A gênese da 'cultura moleque cearense': análise sociológica da interpretação e produção culturais".
Isso não o poupou da criminalidade da capital. Em 16 de janeiro de 1996, O POVO noticiou que o rabo do Ioiô foi furtado. Episódio que foi tratado com ares folclóricos, mas que expôs a insegurança do acervo histórico cearense.
Na última década, o bode se tornou uma forte representação no Carnaval. Entre 2017 e 2019, o bloco Iracema Bode Beat arrastou grandes públicos pela Praia de Iracema, numa mistura caótica de big band, banda de palco, cortejo e encenação de um casamento entre o Ioiô e Iracema, a virgem dos lábios de mel do romance de José de Alencar. No ano seguinte, o casal virou triângulo amoroso incluindo o poeta Mário Gomes.
Em 2019, o Ioiô virou tema do Carnaval do Rio de Janeiro, na Marquês de Sapucaí, com a história contada pela escola Paraíso do Tuiuti.
No livro Sábado, estação de viver — histórias da boemia cearense, Juarez Leitão conta uma das histórias mais curiosas que cercam a lenda do Ioiô. O bode certa vez se achegou a uma roda de boemia. Quando o seresteiro Xavier de Castro tocou a música "Teu desprezo", o animal teve um sobressalto, deu um pulo e caiu no chão, entrando em convulsão. Os presentes pensaram que ele ia morrer e, assustados, pararam a música. Ioiô pouco a pouco melhorou. A música recomeçou, e o bode desabou mais uma vez. Foi aí que surgiu a crença de que o bode era a reencarnação do engenheiro Paulo de Castro Laranjeira.
Boêmio, músico e poeta, Laranjeira teve uma paixão não correspondida. Para ela compôs "Teu desprezo". Da calçada debaixo da janela da moça, tocou a música, sem nenhuma resposta, assim como havia sido em outras ocasiões. Então, Laranjeira decidiu encerrar a própria vida. Isso se deu no ano de 1897, 18 anos antes da data em que se acredita que Ioiô chegou à capital.
Os amigos do engenheiro passaram a comemorar o aniversário dele em todo 8 de junho, em memória do boêmio. Foi num desses festejos que o Ioiô teve o mal súbito ao ouvir a composição de Laranjeira. Passaram, então, a dizer que o bode seria o boêmio reencarnado.
Segundo Juarez Leitão, a igreja não gostou nada daquela conversa e repreendeu àqueles que espalhavam a história. O arcebispo dom Manuel da Silva Gomes proibiu os jornais de publicarem algo àquele respeito.
Raimundo de Menezes cita um "espirituoso cronista da época", cujo nome não menciona, para afirmar que, com a morte do Ioiô, desapareceu o "espírito bodeano". Menezes via no bode a representação do "espírito irreverente e profundamente irônico dos filhos desta gleba heroica do sofrimento!" Era também símbolo da "mocidade de espírito".
Mas, o fortalezense se vê no bode?
"O fortalezense é muita gente, muita diversidade, muitos grupos, classes econômicas diferentes", aponta Secundo Neto. "Não dá para a gente dizer que o fortalezense de modo geral se vê. Mas, posso dizer que qualquer um de nós que se associe a essa memória e esse imaginário coletivo sobre uma gaiatice cearense, fortalezense, pode quando quiser acionar essa imagem e ver no bode uma figura representativa do seu espírito galhofeiro", aponta o professor.
"Mas, afinal, quando é que achamos um bicho engraçado? Quando parece com gente, assim como achamos graça de gente que parece com bicho. É assim, por exemplo, que cachorro recebe nome de gente, e gente o nome de cachorro. Foi nesse movimento de humanização dos animais e animalização dos humanos que a modernidade antropocêntrica inventou novas maneiras de mostrar os dentes em risos ou gargalhadas", escreveu o professor Régis Lopes, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e então diretor do Museu do Ceará, em artigo no O POVO em 16 de julho de 2006.
O bode do museu é produto da mesma gente que vaiou o sol na Praça do Ferreira. Porque o animal era engraçado, ele foi empalhado e parou no museu. Mas, provavelmente, tanto quanto o bode, os fortalezenses que com ele se identificam acham engraçada a ideia de colocá-lo no acervo histórico de sua maior instituição do gênero.
Mais que isso, acham engraçado o povo que decide colocá-lo lá. Não são todos os fortalezenses, é claro. Isso é muita gente, como destacou o professor Secundo, e as polêmicas ao longo da história comprovam. Mas, o fato de ele estar no museu pode ser atribuído àqueles que gostam de ser e se ver como esse povo, brincalhão e que é capaz de não se levar a sério. Colocaram o bode no museu porque gostam do bode e porque gostam de ser o povo que o guindou a tal condição.
Pesquisa histórica: Miguel Pontes, do Datadoc O POVO
HOLANDA, Cristina Rodrigues. Museu Histórico do Ceará: a memória dos objetos na construção da História (1932-1942). Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria da Cultura do Estado do Ceará: 2005.
LEITÃO, Juarez. Sábado, estação de viver — histórias da boemia cearense. Fortaleza: Livrarias Livro Técnico, 2000.
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o tempo levou. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2015.
PASSOS, Marcos Uchôa da Silva. Lendo objetos: a reconstrução do conhecimento histórico no Museu do Ceará. Fortaleza: Museu do Ceará/Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2011. (Coleção Outras Histórias, 63).
PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reforma urbana e controle social (1860-1930). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
SECUNDO SILVA NETO, Francisco; ACSELRAD, Marcio. Deu bode no museu: os diversos significados atribuídos à insólita presença do bode Ioiô no Museu do Ceará de 1935 aos dias atuais. Interin, vol. 21, núm. 1, janeiro-junho, 2016, pp. 22-41. Universidade Tuiuti do Paraná, Curitiba, Brasil. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/5044/504454373003.pdf (acessado em 20/12/2021)