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Saúde em cores: os tons das campanhas de prevenção às doenças durante o ano
Reportagem Especial

Saúde em cores: os tons das campanhas de prevenção às doenças durante o ano

Cada combinação tem o objetivo de promover o debate sobre uma doença ou causa, além de conscientizar e intensificar as pessoas para os cuidados com a saúde

Saúde em cores: os tons das campanhas de prevenção às doenças durante o ano

Cada combinação tem o objetivo de promover o debate sobre uma doença ou causa, além de conscientizar e intensificar as pessoas para os cuidados com a saúde
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A associação dos meses do ano a algumas cores, entre o rosa, vermelho, amarelo, azul, como forma de campanha para promoção da saúde já faz parte de um calendário anual. Cada combinação traz uma representação e um objetivo em comum, que é o de promover a visibilidade e o debate sobre uma doença ou causa, além de conscientizar as pessoas de forma a intensificar os cuidados com a saúde. A disseminação das campanhas ocorre com o engajamento da mídia, hospitais, profissionais da saúde, organizações não governamentais, sociedade civil, entre outros.

Há meses acompanhados de mais de um cor, abordando diferentes campanhas. Fevereiro, por exemplo, é roxo e laranja. O primeiro tom visa a conscientização sobre lúpus, fibromialgia e doença de Alzheimer. O laranja, por sua vez, traz visibilidade à leucemia. Outro destaque é o mês de março. Ele é composto pelas cores azul-marinho e lilás, representando prevenção ao câncer colorretal e câncer do colo do útero, respectivamente.

Especialistas debatem o autocuidado femino (Foto: Getty images)
Foto: Getty images Especialistas debatem o autocuidado femino

Em exceção entre os meses, outubro é destaque apenas para uma cor, a rosa. O mês é pioneiro neste tipo de campanha e um dos mais populares no mundo. Ele é dedicado como mês de prevenção do câncer de mama, algo que começou no início dos anos de 1990, nos Estados Unidos. Na campanha, o símbolo é um laço rosa, lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure durante a primeira Corrida pela Cura da doença, realizada em 1990, na cidade de Nova York. Susan Komen foi uma das vítimas do câncer de mama e sua irmã, Nancy Brinker, inspirou-se no laço como marca da luta contra a doença.

No Brasil, a campanha desembarcou em 2002, iniciando os primeiros movimentos em São Paulo (SP). A primeira ação no Ceará ocorreu em 2009, segundo a coordenadora do Movimento Outubro Rosa Ceará, Valéria Mendonça. Para ela, as campanhas são um alerta de atenção para a saúde. “Essas campanhas são fundamentais, é uma forma da sociedade se envolver na saúde. No Outubro Rosa, a gente cobra do Poder Público, a gente estimula as empresas a fazer a parte delas na campanha, mas também a gente cobra da população em geral”, destaca Valéria.

A coordenadora do movimento afirma que as campanhas com as cores chamam mais atenção porque mexem com a sociedade em querer redobrar os cuidados com a saúde, principalmente durante o mês de conscientização. Além disso, elas valorizam os profissionais de saúde e quem vê sua patologia envolvida, além de mexem com o Poder Público. "Tem gente que só faz mamografia em outubro porque é lembrada devido à campanha Outubro Rosa", comenta.

Durante os períodos de visibilidade, algumas pessoas, de fato, se sentem mais ouvidas quando a sociedade em geral volta o olhar para a causa. A artesã Ana Karynne Magalhães, 38, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em 2018, relata que percebe que há mais gente procurando saber sobre o autismo durante o mês em comparação a outros períodos. A conscientização sobre o autismo é marcado pelo abril azul.

Criado em 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o abril azul se volta aos cerca de 70 milhões de pessoas autistas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde 1940, os  diagnósticos de autismo são mais comuns em meninos, daí a escolha da cor. A incidência de casos de TEA é 4 a 4,5 em meninos para cada menina, conforme a OMS.

Artesã Ana Karynne Magalhães, 38, e a filha, Mariana, oito anos, foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Durante o ano, o abril é o mês dedicado a conscientização sobre o Autismo, e tem a cor azul como representação(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Artesã Ana Karynne Magalhães, 38, e a filha, Mariana, oito anos, foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Durante o ano, o abril é o mês dedicado a conscientização sobre o Autismo, e tem a cor azul como representação

Ana Karynne, que tem uma filha de 8 anos, Mariana, no espectro, explica que, atualmente, a cor azul dentro do espectro não é vista com tanta representação sobre o TEA, sendo o símbolo do infinito multicolorido a mais aceita. “Quando você classifica o Abril Azul, você muitas vezes nega essa diversidade que existe no espectro autista. A gente vai ter desde pessoas que não conseguem fazer nenhuma atividade diária a pessoas que são classificadas com TEA que são superdotadas”, comenta.

Segundo a artesã, quando é classificado apenas como "Abril Azul", o" autismo azul", na verdade estão falando de um tipo de autismo visto nos primeiros diagnósticos. “Hoje, a gente sabe que o autismo tem uma variação genética muito grande. Não tem como ter uma cor só, não tem com ter um estereótipo só. São várias condições genéticas e ambientais que acabam caindo na mesma definição diagnóstica. A cor azul não representa todas as pessoas que estão no espectro, não representa a variedade do espectro. Por um lado, a cor azul é importante apenas para a divulgação do debate sobre autismo”, pontua.

Para a presidente da Associação Cearense das Mastectomizadas Toque de vida, Mary Ferreira Dias, 67, que teve câncer da mama há 14 anos e atualmente é voluntária da causa no Movimento Outubro Rosa, há mais acolhimento e mais atenção sobre o tema durante o 10º mês do ano. “Temos palestras, onde temos conscientização pela procura por mamografia, tudo sobre o câncer de mama é intensificado no mês de outubro. No mês do Outubro Rosa, a procura para eventos e palestras sobre o tema é alta ao ponto de não darmos conta”, relata.

 

 

 

Meses com mais de uma cor

São dezenas de milhares de patologias afetando humanos no mundo e apenas 12 meses para debater as inúmeras doenças. O fato acaba gera o choque de várias cores, diferentes campanhas de saúde, no mesmo período. É o exemplo de setembro, que é amarelo (prevenção ao suicídio), verde (conscientização sobre doação de órgãos e câncer de intestino) e vermelho (prevenção a doenças cardiovasculares) ao mesmo tempo. O excesso das cores em um único mês pode pôr em risco o peso das campanhas, por meio da confusão de tons e propostas das causas estabelecidas em um único período.

Conforme o psiquiatra Mikkael Duarte dos Santos, professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus Sobral, a presença de muitas cores em um único mês pode acabar trazendo confusão nas campanhas, algo que não ocorre quando há a fixação de uma proposta única. “Quando você fala de uma coisa e associa a outra, por exemplo, Janeiro Branco se associa a saúde mental, isso facilita a memorização. Mas, quando há o excesso de cores sem que haja uma memorização, isso pode confundir”, comenta.

A coordenadora do Movimento Outubro Ceará destaca que cada segmento deve valorizar sua campanha e que, apesar do excesso de cores, a importância está em alertar sobre o cuidado com a saúde em geral. “Eu, particularmente, acho muito confuso a repetição de algumas cores em outros meses, como Maio Amarelo e Setembro Amarelo. Mas, a gente tem que tirar o lado bom da coisa, não pode desmerecer. A gente não pode deixar gestores e a opinião pública acharem que não vale a pena. Não, a gente tem é que valorizar cada segmento desse, fazendo sua força”, afirma.

Ilustração CiênciaENTITY_amp_ENTITYSaúde(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Ilustração CiênciaENTITY_amp_ENTITYSaúde

Para a psicóloga e orientadora do Laboratório de Estudos e Práticas em Psicologia e Saúde (LEPP-Saúde) da Unifor, Cynthia Melo Lins, apesar de haver meses com mais de uma cor, as campanhas continuam chamando atenção. “O que pode, por ventura, acontecer é a sociedade não saber decorar a cor e o tema de cada mês. A importância é que, naquele mês, aquela campanha chama a atenção da sociedade e eles cumprem essa função”, comenta.

Já a médica mastologista e presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Ceará (SBM), Aline Carvalho, defende que o excesso de cores pode acabar confundindo as pessoas no que diz respeito a outras doenças ou assuntos não tão veiculados pelas mídias. A presidente da SBM, porém, destaca que a ideia das campanhas pode ter o objetivo cumprido caso o tema seja bem abordado e, principalmente, veiculado pela mídia. 

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