O ioga (ou “yoga”, da língua sânscrita indiana) promove autoestudo por meio de meditação, técnicas respiratórias, posturas físicas e conduta ética e moral. Entendida como um estilo de vida por seus adeptos, a prática milenar se ramifica por múltiplas vertentes, mas sempre unindo corpo, mente e espírito. Com as incertezas da pandemia da Covid-19, o ioga ganhou ainda mais evidência. Essa filosofia deve seguir em destaque, considerando a ânsia de um mundo progressivamente acelerado e, por consequência, a procura de métodos que tentam dar conta da existência em meio à complexidade destes tempos.
Na capital cearense, adeptos do ioga difundem cada vez mais estilos e reflexões, tanto ao ar livre quanto no ambiente corporativo ou no universo on-line; mesclam práticas associadas; divulgam como a prática pode ser adaptável para várias pessoas, sem restrições de idade ou condicionamento físico; e auxiliam na recuperação dos impactos físicos, emocionais e espirituais da pandemia.
Cada vez mais brasileiros buscam maneiras de “desacelerar” por meio de meditação e mais práticas integrativas. Mais da metade da população do País, por exemplo, aderiu às técnicas de promoção de autocuidado em 2020 — 61,7%, segundo estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP). Entre as estratégias adotadas, está o ioga.
Conduzida por um questionário virtual, a pesquisa recebeu respostas de 12.136 brasileiros com mais de 18 anos A metodologia listou as 29
O instrutor Lucas Magno defende a abertura de caminhos para o “bem viver” por meio da prática milenar do ioga. “A gente vive num mundo muito agitado, com redes sociais, tecnologias e milhares de estímulos externos. Isso faz com que a gente acumule muita coisa no nosso sistema operacional interno, ou seja, corpo, mente, intelecto, emoções. O ioga ajuda muito, fazendo essa limpeza no nosso sistema”, explica.
A “Hatha Yoga”, modalidade tradicional focada em permanência, compõe a base de Lucas. Mas ele também passeia por estilos como o “Ashtanga” (com séries de posturas associadas) e “Yoga Dance” (mescla ioga e dança).
Em Fortaleza, o instrutor conduz aulas presenciais às terças e quintas no Estúdio Gabriella Vidal, no bairro Joaquim Távora; e às segundas-feiras, no Planet Coworking Fortaleza, no Centro da Capital. Especialmente aos sábados pela manhã, ele ministra aulas ao ar livre, na Praça das Flores, na Aldeota. Há, ainda, a possibilidade de aulas particulares em casa. Os interessados podem entrar em contato por meio da mídia social Instagram.
Segundo Lucas, muitas pessoas costumam observar a prática com um “olhar plástico” — “associando às posturas, que mesmo assim são tão desafiadoras”, pontua. O instrutor afirma que, na verdade, trata-se de um conjunto de direcionamentos com efeito acumulativo no corpo. “Resultam em bem-estar, força, vitalidade, vida, presença e consciência”. Ele acrescenta: “Nosso corpo também é uma máquina maravilhosa, a gente precisa cuidar dele de uma maneira íntegra, por dentro e por fora”.
Há cerca de oito anos, Lucas Magno procurou o ioga como uma atividade física. “Sem ter muito conhecimento”, conta. Em paralelo ao trabalho no mercado da comunicação, passou a praticar todos os dias. Os ensinamentos da técnica pareciam ir além do que imaginara. Aos poucos, foi descobrindo a filosofia e aprofundado seus estudos. No início de 2020, durante o isolamento social rígido devido à pandemia, resgatou a vontade de finalizar uma formação para atuar como professor de ioga. Começou a dar aulas para as amigas e o movimento se expandiu.
“Chegou o momento de eu me dedicar integralmente a conduzir as aulas de ioga, para fazer um pouco de diferença no mundo sendo instrumento de bem-estar, de amor próprio, de busca pelo autoconhecimento. Estou há um ano profissionalmente dando aulas. E aprendendo, porque a gente aprende até o último respiro da vida. E isso é muito gostoso!”, comemora. Acompanhe: @lucasmagno.yoga
Adeptos do ioga afirmam: embora a prática fortaleça a musculatura e promova flexibilidade, esse não é exatamente o foco. O ioga como estilo de vida transforma hábitos, convida à energia positiva e às novas maneiras de ver o mundo, além de ensinar sobre expansão da mente para a abertura do novo.
Logo nas primeiras aulas, o ioga pode proporcionar relaxamento, atenção às sensações do corpo que estavam despercebidas; entendimento sobre respiração; e pode deixar a mente mais livre de ansiedades, diminuindo o estresse físico e mental. Para transportar essas sensações para o cotidiano, é necessário praticar frequentemente, estudar meditação e aprofundar leituras sobre a filosofia.
Lucas Magno explica algumas posturas do ioga ao O POVO. Segundo o instrutor, são os “Ásanas”. “Posturas psicofísicas”, que permeiam tanto sensações subjetivas quanto estímulos físicos. Os nomes de ásanas, ou seja, das posturas, estão em Sânscrito, idioma das escrituras clássicas da Índia.
Com exceção da postura “Sirsasana” (invertida sobre a cabeça), todas podem ser feitas por iniciantes. De acordo com Lucas, caso a pessoa não tenha flexibilidade suficiente para realizar algumas, é possível adaptá-las. “Para que sinta conforto, firmeza e vá desenvolvendo essa flexibilidade aos poucos”.
Para promoção do bem-estar e relaxamento dentro do ambiente corporativo, Lucas Magno realiza imersões de ioga em empresas. “Sei como profissionais são exigidos dentro mercado. Quando falo de relaxamento nas empresas, não estou querendo ‘tampar o sol com a peneira’ e tentar fazer com que o profissional tenha mais produtividade ou mais foco. Não é isso! É sobre o dono da empresa cuidar do funcionário mesmo. É o mínimo que se pode fazer”.
Segundo Lucas, isso tem a ver com o entendimento sobre como passar por desafios da rotina de uma forma mais tranquila, com aprimoramento, inclusive, da intuição. “Exercitar a respiração, fazer uma meditação e posturas vão ajudar, também, a montar uma postura mais ereta, uma coluna vertebral mais retinha, principalmente para pessoas que trabalham muito tempo sentadas. É, também, levar esse autoconhecimento que as pessoas perdem na rotina e na adrenalina do dia a dia”.
“Ioga é autoconhecimento que, por acaso, também trabalha o corpo”, diz Tatiana Fortes, fotojornalista e professora dos estilos “Hatha” e “Vinyasa Yoga”. Para a profissional, o ioga pode ser definido como um “estado de auto-observação”. “Leva ao autoestudo através de práticas de meditação, pranayamas técnicas respiratórias, posturas física, além de condutas éticas e morais”, diz.
No Instagram, Tatiana divulga como a prática atua em vários âmbitos: espiritual (e isso não tem a ver com religião, mas sim sobre a capacidade humana de dar significado à vida e buscar conexão com algo que transcende o tangível), emocional, mental, meditativo e físico. Ela ministra aulas particulares, em grupos, presenciais e on-line. Aos sábados, geralmente a partir das 8 horas, realiza um projeto independente de aula de “Hatha Yoga” no Parque Adahil Barreto, no bairro Joaquim Távora, com contribuição de R$ 30 por pessoa.
Segundo Tatiana, muitas pessoas procuraram o ioga durante a pandemia.. Com as aulas ao ar livre e a publicação de conteúdo no Instagram, sua ideia é tornar mais compreensível a filosofia e o estilo de vida complexo. A instrutora convida à prática no Parque Adahil Barreto, especialmente iniciantes.
Para quem nunca teve contato com o ioga, ela garante: é possível fazer diversas adaptações. No projeto, ministra o estilo Hatha, por ter, de certa forma, um ritmo mais lento. Logo, pode ser melhor absorvido. “O ioga pode beneficiar a saúde de todos de modo democrático, pois toda aula pode e deve apresentar variações de acordo com a particularidade dos praticantes”.
Todas as modalidades advém do “Hatha Yoga”, afirma Tatiana. Ao O POVO, ela diferencia os estilos Hatha e Vinyasa Yoga. De acordo com a professora, as modalidades são semelhantes, com uma “diferença sutil”.
Fotojornalista, Tatiana conheceu o ioga em meados de 2005, mas passou a aprofundar os estudos quase dez anos depois. “A vida que eu levava me ocupava tanto físico quanto mentalmente. Precisei fazer uma pausa, separar um pouco a Tatiana jornalista e a Tatiana que eu sou… Tive que trabalhar muita coisa em mim para me reencontrar, me olhar e me descobrir”. Nessa época, algumas questões tomavam conta de sua mente: “Quem sou eu? Por que estou aqui?”. “Com o ioga, comecei a entender. Aprendi a lidar de uma maneira mais amorosa com o outro e comigo mesma, principalmente neste mundo conectado”. Acompanhe: @tatifortesyoga
Em sânscrito, “chakras” significa “rodas”. Segundo a cultura oriental, os chakras são como centros energéticos que conduzem a evolução e o equilíbrio físico, espiritual, emocional e intelectual. Localizados em pontos específicos do corpo, essas “rodas” estão intimamente ligadas ao ioga e regem a energia de cada pessoa, emitindo sinais, absorvendo e distribuindo energia.
No livro “Chakras: o guia clássico para o equilíbrio e a cura do sistema energético”, a autora Anodea Judith repercute como os sete principais chakras influenciam o corpo astral. Seis percorrem a coluna vertebral, enquanto um está no topo da cabeça. Nas 352 páginas, há ensinamentos sobre como equilibrar os pontos com meditações e movimentos do ioga. A obra acaba de ganhar nova edição, atualizada e com capítulos extras, com lançamento pela Mantra, editora do grupo Edipro. Disponível na Amazon, a partir de R$ 56.99.
1. Sahasrara, chakra coronário: conexão espiritual;
2. Ajna, chakra frontal: o terceiro olho;
3. Visuddha, chakra laringeo: comunicação, autoexpressão;
4. Anahta, chakra cardíaco: amor, perdão;
5. Manipura, chakra plexo solar: ego, digestão;
6. Svadhisthana, chakra saco: energia sexual, criatividade;
7. Muladhara, chakra básico: sobrevivência
O Espaço Clara Luz, especializado na prática do ioga, lança o projeto “Clara Luz Pós Covid-19”, com modalidades direcionadas ao suporte e à recuperação de acometidos pela doença e ainda sente as sequelas da pandemia no corpo, na mente e no espírito. O programa reúne instrutores que também atuam na psicologia, fisioterapia e educação física, com atividades de ioga, meditação e relaxamento profundo.
Segundo Carina Pinheiro, quem administra a instituição ao lado da mãe, Lidice Pinheiro, fundadora e professora de ioga, alunos que tiveram a doença retornaram à instituição bastante fragilizados e procurando um apoio amplo.
Uma das instituições mais tradicionais na prática do ioga na Capital, o Espaço Clara Luz comemora 20 anos de existência em 2022. O lugar oferece não só diversas modalidades do ioga aos públicos de todas as idades, mas também formações para novos instrutores em Fortaleza. A instrutora Lidice Pinheiro iniciou essa trajetória em agosto de 2002, com aulas regulares de ioga para a terceira idade, sob as bênçãos e guia do filósofo e guru Sri Aurobindo e de A Mãe (Mirra Alfassa), artista e musicista francesa que conduziu a comunidade de Ashram.
“Com a demanda dando certo, foi convidado outros professores para ajudá-la nas aulas”, conta Carina. Ela acrescenta: “Sempre na visão de ioga para todos”. Segundo a gestora, o lugar é um dos pioneiros na difusão do “Kundaline Yoga” (despertar da energia kundalini com experiência e consciência pessoal, por meio da vibração do som) e “Iyengar Yoga” (com acessórios). A Formação de Instrutores em Hatha Yoga Clara Luz, a mais tradicional, está na oitava turma.
Uma das modalidades de destaque do Clara Luz é a “Iyengar Yoga”. De acordo com Carina Pinheiro, o mestre indiano BKS Iyengar iniciou o uso de acessórios na prática do ioga e, agora, sua família difunde o estilo no mundo inteiro. Blocos, bolsters, cintos, mantas, cordas e cadeiras, também chamados de “props”, devem melhorar o conforto e a estabilidade das posturas, além de auxiliar no alinhamento e ampliar a experiência durante a prática. Acompanhe: @claraluzyoga
Para todos
“Não tem pré-requisito para praticar ioga. É para todos, seja criança, adolescente, adulto, idoso ou gestante. Se enquadra em uma modalidade específica para seu momento atual, como para o seu objetivo. A prática sempre é realizada dentro das limitações de cada um e, em casos mais especiais, pedimos o aval do médico, com um atestado. A pessoa com qualquer condicionamento físico pode praticar”, afirma Carina Pinheiro.
O que é preciso para praticar ioga?
Carina Pinheiro aconselha:
- A roupa ideal para a prática é de atividade física;
- Caso a prática seja em uma sala fechada, os sapatos devem ser deixados na estrada, as aulas devem ser realizadas com os pés descalços;
- Não praticar em total jejum, mas também nem com o estômago cheio, deve ser realizado um lanche leve antes;
- De preferência, o ideal é estar de banho tomado e sem um perfume forte;
- Retirar acessórios que possa atrapalhar a execução das posturas;
- Celular deve estar no silencioso;
- Ter seu própio “Yoga Mat” (o tapetinho);
- No Clara Luz, o recomendado é chegar um pouco antes da aula para “desacelerar”.
Estante
Adeptos do ioga como um estilo de vida cultivam várias práticas associadas na rotina, como aromaterapia (prática secular com propriedades dos óleos essenciais), rituais e leituras filosóficas. Além disso, o mercado tem produzido novas peças e acessórios ligados à moda, à decoração e à saúde e bem-estar. Confira a estante:
O POVO reúne lugares ao ar livre para a prática do ioga e, também, estúdios com diversas modalidades em Fortaleza.