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Rússia e Ucrânia: histórico, líderes, motivos e contexto para o conflito
Reportagem Especial

Rússia e Ucrânia: histórico, líderes, motivos e contexto para o conflito

Um guia para entender a crescente e prolongada tensão que ameaça se estender a um conflito mundial

Rússia e Ucrânia: histórico, líderes, motivos e contexto para o conflito

Um guia para entender a crescente e prolongada tensão que ameaça se estender a um conflito mundial
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A "operação militar" russa contra a Ucrânia, ordenada nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, pelo presidente Vladimir Putin, é o ponto culminante de uma escalada de tensões entre a Rússia e o Ocidente iniciada, na fase mais recente, em novembro de 2021.

A recente escalada da tensão Rússia-Ucrânia

 

 

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Foto: Russia-01 Russia-01

Sobre a Ucrânia

A Ucrânia é o maior país do continente europeu em termos de área, e se formou como Estado pela primeira vez após a Primeira Guerra Mundial. A partir de 1922, passou a integrar a União Soviética, só se declarando independente em 24 de agosto de 1991.

As fronteiras da Ucrânia foram reconhecidas pela Rússia em vários acordos internacionais, incluindo o Memorando de Budapeste de 1994.

Economicamente, a Ucrânia permaneceu dependente da Rússia mesmo após a independência, mas politicamente Kiev buscava cada vez mais a proximidade com a União Europeia e a Otan.

Isso atingiu um primeiro auge com a Revolução Laranja em 2004, que resultou na eleição do candidato pró-ocidental Viktor Yushchenko como presidente. Em novembro de 2013, seu sucessor pró-Rússia, Viktor Yanukovych, bloqueou a assinatura do acordo de associação com a UE, que ele havia apoiado anteriormente. Os protestos na Praça da Independência (Maidan) contra essa decisão controversa levaram à queda de Yanukovych, algumas semanas depois.

No primeiro semestre de 2014, a Rússia conquistou e anexou a península ucraniana da Crimeia. Embora a anexação da Crimeia tenha ocorrido sem derramamento de sangue, desde 2014 uma guerra no leste da Ucrânia causa vários mortos.

Separatistas apoiados pela Rússia lutam pela separação da Ucrânia de duas autoproclamadas repúblicas, Donetsk e Lugansk. Segundo a ONU, mais de 13 mil já morreram nesta guerra. Mais de 1,4 milhão de ucranianos ainda são considerados deslocados internos.

Em fevereiro de 2015, foi acordado o Acordo de Minsk, um plano de paz entre a Rússia e a Ucrânia, sob mediação franco-alemã, mas está atualmente suspenso. Desde o início da guerra no leste da Ucrânia foram quebrados mais de 20 cessar-fogos acordados. (Da DW)

 

 

Expansão controversa da Otan

Após o fim da Guerra Fria, a Otan seguiu uma "política de portas abertas". Na cúpula de 2008 em Budapeste, a aliança militar apresentou à Ucrânia uma perspectiva de adesão – sem, contudo, citar uma data específica.

Impedir a adesão da Ucrânia à Otan é um dos objetivos mais importantes da Rússia na atual crise, porque a Rússia diz sentir-se ameaçada pela perspectiva de ter a Otan nas proximidades de suas fronteiras. (Da DW)

 

 

A obsessão de Vladimir Putin com a Ucrânia

O presidente Vladimir Putin, que lançou nesta quinta-feira, 24, uma ofensiva militar na Ucrânia, tem uma obsessão: fazer esse país voltar ao domínio russo em nome da grandeza da Rússia, mesmo que tenha que invadi-lo.

Para muitos russos de sua geração, que cantaram odes à glória da URSS, o fim da União Soviética e sua esfera de influência em três anos (1989-1991) continua sendo uma ferida pungente.

Putin reconheceu regiões separatistas(Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP)
Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP Putin reconheceu regiões separatistas

Putin, então oficial da KGB na Alemanha Oriental, experimentou a derrota em primeira mão. E, diz-se, sofreu as misérias que se abateram sobre tantos de seus compatriotas, forçados a retornar clandestinamente à Rússia.

A humilhação e a miséria da antiga URSS contrastavam com o triunfalismo e a prosperidade do Ocidente. Isso o convenceu, como ele mesmo disse, de que o fim da URSS foi "a maior catástrofe geopolítica do século XX", que também teve duas guerras mundiais.

Isso alimentou um desejo de vingança, à medida que a Otan e a União Europeia (UE) se expandiam para incorporar os antigos vassalos de Moscou.

Para o presidente russo, sua missão histórica é impedir a invasão de sua zona de influência. Em nome da segurança da Rússia. Assim, a Ucrânia tornou-se uma linha vermelha.

 

"Se o combate é inevitável, ataque primeiro" Vladimir Putin

 

Em sua visão, se a Rússia "não resolver esta questão de segurança, a Ucrânia estará na Otan em 10-15 anos", e depois disso, "os foguetes da Otan estarão em Moscou", explica Alexei Makarkin, do Centro de Tecnologias Políticas.

Após a revolução pró-Ocidente de 2014 em Kiev, a Rússia anexou a península da Crimeia e os separatistas pró-russos ocuparam o leste da Ucrânia.

Para Putin, seu vizinho está errado em se ver como vítima do imperialismo czarista, depois soviético e agora russo. Ele considera que as duas revoluções ucranianas, em 2005 e 2014, contra as elites pró-russas, foram resultado de conspirações ocidentais.

Para o chefe do Kremlin, Moscou tem que ser forte, assustador. Ceder não é da natureza desse faixa-preta de judô. "Se o combate é inevitável, ataque primeiro", declarou em 2015. Uma de suas governantas, Vera Gurevitch, contou que aos 14 anos, o jovem Vladimir, após quebrar a perna de um amigo, proclamou que alguns "só entendem pela força".

Vladimir Putin ao chegar a reunião após anunciar ataque à Ucrânia(Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP)
Foto: ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP Vladimir Putin ao chegar a reunião após anunciar ataque à Ucrânia

A Ucrânia, desde sua "Revolução Laranja" de 2004-2005, sofreu com as "guerras do gás" que a desestabilizaram economicamente.

Em 2008, segundo a imprensa russa e americana, Putin assegurou a seu colega americano, George W. Bush, que a Ucrânia "não é um Estado". Em dezembro passado, proclamou em sua coletiva de imprensa anual que este país é uma invenção de Lenin.

Meses antes, em um artigo intitulado "Da unidade histórica de russos e ucranianos", Putin explicou as ações de seu vizinho como parte de um complô "anti-Rússia" dos Estados Unidos e seus aliados.

O Ocidente teria criado "um sistema político ucraniano no qual presidentes, parlamentares e ministros podem mudar, mas não o curso secessionista e sua animosidade em relação à Rússia", acrescentou.

Tatiana Stanovaia, diretora do think tank russo R. Politik, destaca que, sob essa lógica, os 100.000 soldados russos atualmente na fronteira com a Ucrânia não são uma ameaça. "Uma guerra não constitui um ataque contra a Ucrânia, mas uma libertação do povo ucraniano do ocupante estrangeiro", diz, seguindo a lógica de Putin.

Por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, declarou em dezembro que "um povo irmão não se perde, um povo irmão permanece". Em suma, trata-se do poder russo de restaurar o curso natural das coisas na Ucrânia e além.

Moscou diz e repete que o Ocidente aproveitou a fraqueza pós-soviética da Rússia para dominar seus vizinhos.

Com seus soldados nas fronteiras ucranianas, Putin está exigindo nada menos do que que a Aliança Atlântica retorne às suas linhas de 1997 e renuncie à arquitetura de segurança da Guerra Fria. Alexei Makarkin resume assim: "A força motriz de Vladimir Putin é seu desejo de parar o tempo".

 

 

Zelesnky: de ex-comediante a líder de um país sob ataque

Durante muito tempo, Volodimir Zelensky foi acompanhado pela imagem de ex-comediante de televisão eleito presidente da Ucrânia quase por acaso. Com a crise, e a agora guerra com a Rússia, adotou uma postura firme e serena, sem entrar em pânico.

Na madrugada desta quinta-feira, foi em uma mensagem de vídeo no Facebook que ele pediu a seus concidadãos que não entrassem em pânico e estabeleceu a lei marcial, enquanto a Rússia realizava ataques contra infraestrutura militar e guardas de fronteira.

"Não entrem em pânico, estamos prontos para tudo, vamos vencer", disse.

Zelensky, de 44 anos, está no meio da que pode ser a pior crise desde o fim da Guerra Fria há mais de três décadas.

Primeiro ele viu a Rússia cercar o seu país com mais de 150 mil soldados e o governo dos Estados Unidos insistir nos alertas de uma guerra "iminente", que poderia começar a qualquer dia.

Ele então viu como a Rússia reconheceu a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia, Donetsk e Lugansk.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky(Foto:  Folheto / Assessoria de imprensa presidencial ucraniana / AFP)
Foto: Folheto / Assessoria de imprensa presidencial ucraniana / AFP O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky

 

E, finalmente, esta quinta-feira, a Rússia lançou um ataque em grande escala, com explosões ouvidas em todo o país nas primeiras horas da manhã, depois que o presidente russo, Vladimir Putin, confirmou uma "operação militar".

Zelensky rapidamente aplicou a lei marcial e apelou a seus aliados ocidentais, pedindo a unidade europeia depois de falar com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente francês, Emmanuel Macron.

Mais tarde, anunciou que a Ucrânia estava rompendo relações com a Rússia.

Em 2019, Zelensky organizou a campanha presidencial como uma piada. Ele se tornou famoso ao interpretar na televisão um professor grosseiro que vira presidente depois que um aluno grava e divulga seu discurso revoltado contra a corrupção na internet.

A comédia exibida em horário vespertino virou um grande sucesso em um país abalado. A revolução pró-Ocidente de 2014 derrubou o presidente apoiado pelo Kremlin e provocou a chegada de novos governantes, que precisaram lidar com um crescente conflito na região leste e uma economia à beira do colapso.

Os ucranianos viram o presidente da comédia fazendo piadas grosseiras com a esposa ou pedalando para o trabalho com uma cara assustada de pânico. O personagem captou a empolgação do momento e proporcionou a Zelensky uma pequena fortuna.

Depois ele derrotou o então presidente Petro Poroshenko, abalado por diversas crises, com mais 70% dos votos.

Alguns cidadãos se prepararam para o pior. Os críticos o compararam a outras celebridades que entraram para a política, como o italiano Silvio Berlusconi ou o americano Donald Trump.

A decisão inicial de incluir membros de sua produtora de televisão em sua equipe também não ajudou a construir confiança.

As primeiras aparições de Zelensky com outros líderes mundiais pareciam forçadas, pouco naturais.

"Acredito que nossos aliados internacionais tiveram problemas para lidar com ele. Não está no mesmo nível", disse a analista política ucraniana Mykola Davydyuk.

"Eles se movimentam em níveis muito elevados que ele não consegue alcançar, ele não consegue entender", acrescentou.

Mas alguns diplomatas ocidentais parecem ter sucumbido ao seu charme. "Ele não se saiu muito mal, para ser honesto", disse um deles.

"Ele tem um trabalho impossível. Está preso entre a pressão dos russos e americanos (...) Ele mostrou compostura", disse a fonte.

A disputa com a Rússia pelo desejo ucraniano de entrar para a Otan - uma aspiração escrita em sua Constituição, mas muito improvável nas próximas décadas - pode definir a presidência de Zelensky para os próximos anos.

Ele chegou ao poder tentando abrir linhas de comunicação com Vladimir Putin para resolver o violento conflito separatista na região de Donbas, que provocou 14.000 mortes.

Os dois participaram em uma reunião em Paris poucos meses depois da eleição de Zelensky, que o presidente russo descreveu como um "passo importante".

Mas Zelenski teve um roteiro diferente em sua aparição posterior. "Meus interlocutores disseram que é um resultado muito bom para um primeiro encontro. Mas vou ser honesto, foi muito pouco", disse.

As relações entre os dois pioraram desde então.

Putin acusou o governo Zelensky de "discriminar" os habitantes de língua russa e de renegar as promessas de solucionar o conflito no leste do país.

A proposta de Zelensky no mês passado de uma reunião de cúpula com ele, Putin e o presidente americano Joe Biden não teve resposta de Moscou. Mas alguns analistas consideram que o perfil do presidente ucraniano ganhou força nas últimas semanas. (Da AFP) 

Pessoas caminham no centro de Kiev nesta quinta-feira, 24, após anúncio de invasão pela Rússia(Foto: Daniel LEAL / AFP)
Foto: Daniel LEAL / AFP Pessoas caminham no centro de Kiev nesta quinta-feira, 24, após anúncio de invasão pela Rússia

 

 

Ucrânia, um país há décadas entre Rússia e Ocidente

Desde sua independência em 1991, a Ucrânia oscila entre o Ocidente e a Rússia, vizinho que, nos últimos anos, tem manifestado repetidamente sua oposição à aproximação da ex-república soviética da União Europeia (UE).

Em 1º de dezembro de 1991, ainda integrada à então União Soviética (dissolvida em 25 de dezembro de 1991), a Ucrânia vota, em um referendo, a favor da independência. O resultado desta consulta foi imediatamente reconhecido pelo então presidente russo, Boris Yeltsin.

Em 8 de dezembro, Rússia, Ucrânia e Bielorrússia (que se tornará Belarus) assinam um acordo que estabelece uma Comunidade de Estados Independentes (CEI). Nos cinco anos seguintes, porém, a Ucrânia tentará se libertar da tutela política de seu grande vizinho, iniciada há três séculos.

A Ucrânia não se compromete totalmente com a CEI, percebida como uma estrutura dominada pela Rússia, que tenta agregar as ex-repúblicas soviéticas.

Em 5 de dezembro de 1994, Rússia, Ucrânia, Belarus, Cazaquistão, Estados Unidos e Reino Unido assinam o Memorando de Budapeste sobre garantias de segurança.

Nele, os signatários se comprometem a respeitar a independência, a soberania e as fronteiras da Ucrânia, em troca do abandono das armas atômicas herdadas da União Soviética.

Em 31 de maio de 1997, Rússia e Ucrânia assinam um tratado de amizade e cooperação, que não elimina, porém, a ambiguidade das relações de Kiev com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

O Kremlin se opõe fortemente a que Ucrânia, ou qualquer outra ex-república soviética, ingresse na Aliança Atlântica.

O tratado e os textos anexos resolvem, em particular, a espinhosa disputa sobre a distribuição da antiga frota soviética no Mar Negro, ancorada em Sebastopol, na Crimeia.

Este é o primeiro confronto militar aberto entre os países após anexação da Crimeia pela Rússia em 2014(Foto: STR / AFP)
Foto: STR / AFP Este é o primeiro confronto militar aberto entre os países após anexação da Crimeia pela Rússia em 2014

A Rússia mantém a propriedade da maioria dos navios, mas pagará à Ucrânia um aluguel modesto pelo uso do porto de Sebastopol.

À época principal parceiro comercial de Kiev, a Rússia manterá, contudo, sua "arma econômica" frente à Ucrânia, muito dependente do petróleo e do gás russos.

Em 2003, Kiev assina um acordo para a criação de um Espaço Econômico Comum com Rússia, Belarus e Cazaquistão.

A União Europeia reage, afirmando que o acordo pode dificultar a aproximação da Ucrânia com o bloco e sua integração à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em novembro de 2004, o candidato pró-Rússia Viktor Yanukovych vence a eleição presidencial na Ucrânia, denunciada como fraudulenta pela oposição. Uma mobilização em massa, a chamada Revolução Laranja, consegue que a eleição seja anulada pela Suprema Corte.

Em 26 de dezembro, o líder da Revolução Laranja, o opositor pró-Ocidente Viktor Yushchenko, que sofreu um misterioso envenenamento durante a campanha, abre uma nova era política no país. Põe fim aos dez anos de Presidência de Leonid Kuchma (1994-2005), que pendulava entre UE e Moscou.

Yushchenko reitera a vontade da Ucrânia de aderir à União Europeia, apesar das objeções de Bruxelas e da Otan.

Em 2008, na cúpula de Bucareste, os líderes dos países da OTAN concordam com que a Ucrânia tem vocação para ingressar na Aliança Atlântica, o que provoca a ira de Moscou.

Rússia e Ucrânia travam várias guerras político-comerciais. Uma delas foi a do gás, de 2006 a 2009, que interrompeu o abastecimento de energia da Europa.

Em 2010, Viktor Yanukovych é eleito presidente e lança uma espetacular política de aproximação com a Rússia. Ele garante que a elaboração de um "acordo de associação" com a UE continua sendo a prioridade.

Em novembro de 2013, no entanto, Yanukovych se nega a assinar, no último minuto, o acordo com a União Europeia e reativa as relações econômicas com a Rússia. Esta mudança de política deflagra um movimento de protesto pró-Europa, que tem como símbolo a manifestação na Praça Maidan (Praça da Independência), em Kiev.

A rebelião termina em fevereiro de 2014 com a destituição e a fuga de Yanukovych para a Rússia, após a repressão do protesto de Maidan, durante a qual morreram cerca de 100 manifestantes e 20 policiais.

Em resposta, as forças especiais russas assumem o controle da Crimeia, território que a Rússia decide anexar em março de 2014.

Em abril de 2014, separatistas russos ocupam os lugares mais importantes de Dombas, a região de língua russa do leste da Ucrânia. Uma nova guerra começa em maio. Desde 2014, este conflito causou a morte de mais de 14.000 pessoas.

Kiev e países ocidentais afirmam que a Rússia organizou a separação das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, em represália à guinada pró-Ocidente da Ucrânia.

Depois de concentrar dezenas de milhares de soldados em sua fronteira com a Ucrânia, o presidente Vladimir Putin reconhece, em 21 de fevereiro de 2022, a independência de Donetsk e de Lugansk e ordena o destacamento de tropas para estes territórios.

Na madrugada de 24 de fevereiro, Putin anuncia uma "operação militar" na Ucrânia, descrita pelo ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, como uma "invasão em grande escala". (Da AFP) 

Ucrânia e Rússia estão em desacordo desde que o governo russo anexou a península da Crimeia em 2014. (Foto: ALEXANDER NEMENOV / AFP)
Foto: ALEXANDER NEMENOV / AFP Ucrânia e Rússia estão em desacordo desde que o governo russo anexou a península da Crimeia em 2014.

 

 

Raízes medievais da relação entre nações em guerra

As tensões entre a Rússia e a Ucrânia têm uma história que remete à Idade Média. Ambas possuem raízes comuns que se estendem até a época do antigo Estado da Rússia de Kiev, nas terras eslavas do leste. Esse é o motivo pelo qual o presidente russo, Vladimir Putin, se refere aos dois países como "um só povo". O fato, porém, é que as duas nações estão divididas há séculos, o que resultou no surgimento de dois idiomas e duas culturas proximamente relacionadas, mas bastante distintas.

Quando a Rússia se desenvolveu politicamente em império, a Ucrânia se provou incapaz de estabelecer um Estado próprio. No século 17, uma ampla região do que é hoje o território ucraniano se tornou parte do Império Russo.

Após a desintegração desse império, em 1917, o país vivenciou um breve período de independência, antes de a União Soviética o reconquistar à força.

>> Anos 1990: Ucrânia se desprende da Rússia

Em dezembro de 1991, Ucrânia, Rússia e Belarus assinaram um acordo que selava efetivamente o fim da União Soviética. Moscou, porém, pretendia manter sua influência na região através da recém-criada Comunidade dos Estados Independentes (CEI). O Kremlin também calculava que o fornecimento de gás natural a baixo custo manteria a Ucrânia em sua órbita. Mas as coisas se desenrolaram de maneira bem diferente.

Enquanto Rússia e Belarus forjaram uma aliança próxima, a Ucrânia se aproximava cada vez mais do Ocidente. Isso não passou despercebido pelo Kremlin, apesar de não bastar para gerar um conflito entre os dois lados na década de 1990. Moscou parecia não estar preocupada, enquanto o Ocidente não demonstrava qualquer intenção de integrar a Ucrânia à sua esfera de influência.

A Rússia lidava com uma depressão econômica e se via amarrada no conflito militar na Chechênia. Em 1997, Rússia e Ucrânia assinaram o Tratado de Amizade, Cooperação e Parceria, conhecido como o "Grande Tratado", através do qual Moscou reconhecia as fronteiras oficiais da Ucrânia, incluindo a Península da Crimeia, região que abriga uma maioria étnica russa.

>> Racha na amizade pós-soviética

A primeira grande crise diplomática entre os dois lados surgiu com a chegada de Putin ao poder. Em 2003, a Rússia começou a construir, inesperadamente, uma barragem no estreito de Kerch, próximo à ilha ucraniana de Tulza – entre o território russo e a Península da Crimeia. Kiev considerou isso uma tentativa russa de redesenhar as fronteiras nacionais. O conflito somente foi resolvido após um encontro frente a frente entre os dois presidentes. A construção foi suspensa, mas a fachada de amizade entre os dois lados começou a demonstrar rachaduras.

As tensões de agravaram durante as eleições presidenciais na Ucrânia em 2004, com Moscou colocando todo seu peso a favor do candidato pró-Rússia Viktor Yanukovych. A chamada Revolução Laranja evitou que ele assumisse. A eleição foi declarada fraudulenta, e o candidato pró-Ocidente Viktor Yushchenko se tornou presidente. A Rússia reagiu ao cortar o fornecimento de gás para a Ucrânia em duas ocasiões, em 2006 e 2009, além de interromper também o abastecimento para a União Europeia.

Em 2008, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pressionou pelo início do processo de adesão da Ucrânia e da Geórgia à Otan, apesar dos protestos de Putin, cujo governo não reconhece totalmente a independência ucraniana. A Alemanha e a França frustraram os planos de Bush em uma cúpula da Otan em Bucareste, na Romênia, onde a adesão ucraniana foi discutida, sem que fossem estabelecidos os prazos para esse processo. Após as coisas não irem tão bem quanto esperado em relação à Otan, a Ucrânia fez uma nova tentativa de reforçar seus laços com o Ocidente, através de um acordo de associação com a União Europeia. Mas, no verão de 2013, poucos meses antes da assinatura do documento, Moscou passou a exercer forte pressão econômica sobre Kiev e forçou o governo do então presidente Yanukovych a congelar o acordo.

O governo russo impôs um embargo sobre produtos ucranianos exportados para o país, o que insuflou os protestos em massa em toda a Ucrânia. Em fevereiro do ano seguinte, o presidente ucraniano fugiu para a Rússia.

>>Anexação da Crimeia se torna ponto de inflexão

O Kremlin se aproveitou do vácuo de poder em Kiev e anexou a Península da Crimeia em março de 2014. Esse foi um ponto de inflexão nas relações entre os dois países e o início de uma guerra não declarada. Ao mesmo tempo, forças paramilitares russas começaram a mobilizar um levante separatista na região de Donbass, no leste ucraniano, e instituíram "repúblicas populares" lideradas por Moscou, com simulacros de Estados em Donetsk e Lugansk.

O governo de Kiev esperou até depois da eleição presidencial de maio de 2014 para lançar uma grande ofensiva militar, que chamou de operação antiterrorismo. Em junho de 2014, o presidente recém-eleito, Petro Poroshenko, se reuniu com Putin na ocasião dos 70 anos da invasão da Normandia, na Segunda Guerra Mundial. O encontro, que passaria a ser conhecido como as conversações em Formato Normandia, ocorreu sob mediação da Alemanha e da França. Ao mesmo tempo, o Exército ucraniano se mostrou incapaz de expulsar os separatistas.

No fim de agosto, Kiev acusou Moscou de intervir militarmente em larga escala, o que o Kremlin nega. Forças ucranianas próximas a Iloviask, a leste de Donetsk, foram derrotadas, em um episódio que se tornou um ponto de virada na guerra. O conflito foi oficialmente encerrado em setembro, com a assinatura de um cessar-fogo em Minsk.

Guardas nos arredores do Kremlin, sede do governo russo(Foto: ALEXANDER NEMENOV/AFP)
Foto: ALEXANDER NEMENOV/AFP Guardas nos arredores do Kremlin, sede do governo russo

>> Guerra de exaustão em Donbass

O que se seguiu foi uma guerra de exaustão que continua até os dias atuais. No início de 2015, os separatistas lançaram uma nova ofensiva, segundo Kiev, apoiados por tropas russas que, antes dos combates, removeram de seus uniformes suas identificações, o que Moscou também nega. As forças ucranianas sofreram uma nova derrota, dessa vez na cidade estrategicamente importante de Debaltseve, de onde foram forçadas a se retirar.

A intermediação do Ocidente resultou no que passaria a ser conhecido como o Protocolo de Minsk, um acordo que serve como base para os esforços de paz, mas que até hoje não chegou a ser cumprido. A última vez em que houve uma ponta de esperança de paz na região foi no outono de 2019, quando soldados dos dois lados foram retirados das linhas de frente. A chamada Cúpula da Normandia em Paris, em dezembro de 2019, marcou a última vez em que os dois lados se sentaram à mesma mesa. (Da DW)

 

 

Jovens ucranianos preferem estar ligados à Europa

A poucos metros da Praça da Independência de Kiev, conhecida como Maidan, o hasteamento de bandeiras da Ucrânia e da União Europeia lado a lado expõe o sentimento de parcela considerável dos cidadãos da capital - sobretudo dos mais jovens, nascidos após a dissolução da União Soviética (1991). Em meio à ameaça de invasão russa, as ruas de Kiev atestam a preferência da região por uma aproximação com a Europa, não com Moscou, como desejam os russos e separatistas do leste do país.

Entre os ucranianos com idades entre 18 e 29 anos, 75% deles votariam em um referendo a favor da adesão à União Europeia, indicou uma pesquisa do Razumkov Center, realizada há um ano. Entre os maiores de 60 anos, o apoio era de 44% da população

"Estou mais próxima da mentalidade europeia. A mentalidade da Rússia está parada na União Soviética", disse a estudante Tanya Lynnik, de 17 anos, enquanto aguardava um ônibus para voltar para casa após a escola. "Eu prefiro que a Ucrânia se vire para a Europa. Temos mais proximidade do que com a Rússia", acrescentou.

Segundo Tanya, sua família e amigos têm a mesma percepção. "Todos odeiam Putin e sua política. Minha família quer ser europeia", resume a estudante, que já não aguenta mais a escalada de tensões com a Rússia. "Só espero que tudo isso termine logo e bem."

>> Traumas

O distanciamento em relação a Moscou ainda é permeado por traumas. "Os russos mataram muitos dos meus amigos. Tivemos problemas com eles nesses anos. Não há maneira de ser mais próximos deles do que dos europeus ocidentais", disse à reportagem o economista Ighor Ponyomarenko, de 28 anos, em referência ao conflito armado com a Rússia que se estende desde 2014, após a anexação da Crimeia.

A espécie de "briga de identidades" na Ucrânia está no cerne dos desentendimentos com a Rússia. Os dois países têm histórias entrelaçadas: Kiev foi a primeira capital do Império Russo e a Ucrânia, uma república da extinta União Soviética. Pelas raízes conjuntas e ainda de olho em seus planos políticos, o presidente Vladimir Putin tenta ampliar a influência histórica sobre o país vizinho, "tampão" entre a Rússia e o Ocidente, liderado pelos americanos.

Desde o fim da União Soviética, a Ucrânia tem buscado fortalecer suas relações com a União Europeia e almeja entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Comandante do Pacto de Varsóvia, a antítese da Otan, no período da Guerra Fria, a Rússia diz que não aceitará a adesão dos ucranianos à aliança atlântica.

>> Otan

Para a professora de francês Larysa Myronenko, de 68 anos, a ofensiva de Moscou para impedir a entrada da Ucrânia na Otan só reforça a necessidade de o país fazer parte do grupo de aliados. "Os primeiros defensores somos nós, os ucranianos. Mas hoje, com a globalização, nós temos direito de pensar em outras organizações internacionais que possam nos ajudar. E essa organização é a Otan", avaliou. Antes de migrar para a sala de aula, ela foi diplomata e chegou a ser consulesa da Ucrânia em Curitiba de setembro de 2008 a dezembro de 2014.

Os alunos de Larysa têm entre 15 e 17 anos e, segundo a ex-diplomata, a mesma mentalidade de Tanya. "Temos uma nova geração que entende toda essa política russa, agressiva, que está contra nós, ucranianos. É uma política imperial e no século 21 não a aceitamos", afirmou. "A Ucrânia compartilha valores da Europa ocidental. Entrar na UE é compartilhar valores como democracia, direitos humanos. A nova geração vai por esse caminho e não tem a mentalidade soviética. Putin adota uma política imperial . Ele quer é a reestruturação da União Soviética". (Da Agência Estado) 

 

 

A Europa, terra de muitos conflitos desde o fim da Guerra Fria

Das guerras nos Bálcãs à invasão em curso da Ucrânia pela Rússia, o continente europeu tem sido palco de muitos conflitos desde o fim da Guerra Fria.

Nos Bálcãs, a Iugoslávia comunista se desintegrou em uma série de guerras sangrentas na década de 1990.

Um conflito entre as forças croatas e a minoria sérvia apoiada por Belgrado eclodiu após a proclamação em 25 de junho de 1991 pela Croácia de sua independência.

O conflito terminou quatro anos depois, quando as tropas croatas recuperaram o controle dos territórios ocupados pelos separatistas sérvios, ao custo de 20 mil mortes.

Na Bósnia-Herzegovina, a proclamação da independência em 1992, após um referendo boicotado pela comunidade sérvia, desencadeou uma guerra de três anos e meio entre muçulmanos, sérvios e croatas, que matou cerca de 100 mil pessoas, dois terços bósnios.

Quando a URSS se desfez em 1991, a guerra eclodiu em Nagorno-Karabakh, um território do Azerbaijão habitado principalmente por armênios. O conflito deixou 30.000 mortos. Um cessar-fogo em 1994 consagrou a criação de fato de uma república autoproclamada sob controle armênio.

Um novo conflito eclodiu no outono de 2020, com a morte de 6.500. Terminou em uma derrota esmagadora para a Armênia, forçada a ceder ao Azerbaijão três regiões formando um talude ao redor de Nagorno-Karabakh.

A Ossétia do Norte, anexa à Rússia, foi palco, no final de 1992, de um sangrento conflito com a vizinha Inguchétia, matando várias centenas de pessoas. Beneficiando-se do apoio de Moscou, repeliu as forças nacionalistas inguches que reivindicavam um distrito em torno de Vladikavkaz, a capital da Ossétia.

Praça Vermelha, Kremlin, Moscou(Foto: VASILY MAXIMOV)
Foto: VASILY MAXIMOV Praça Vermelha, Kremlin, Moscou

Na fronteira com a Ucrânia, a Transnístria, uma região da Moldávia de língua russa, separou-se em 1990.

A violência eclodiu dois anos depois entre as forças moldavas e as milícias eslavas da Transnístria, resultando em várias centenas de mortes e na intervenção de 3.000 soldados russos.

A Transnístria não é reconhecida como um Estado pela comunidade internacional, incluindo a Rússia.

A Chechênia, uma república russa no Cáucaso de maioria muçulmana, foi duas vezes palco de conflitos mortais entre separatistas, depois islamitas, e o exército russo, causando dezenas de milhares de mortes.

No final de 1994, Moscou lançou seu exército contra a república separatista. Enfrentando forte resistência, as tropas russas se retiraram em 1996.

No final de 1999, com incentivo de Vladimir Putin, as tropas entraram na Chechênia novamente para uma "operação antiterrorista" e retomaram a capital Grozny.

Em 2009, Moscou decretou o fim de sua operação.

Em março de 1998, Belgrado lançou uma ofensiva contra guerrilheiros separatistas do Kosovo, uma província sérvia, habitada principalmente por albaneses muçulmanos.

Para acabar com o conflito, a Otan lançou ataques aéreos em março de 1999, que resultaram na retirada em 10 de junho das forças sérvias do Kosovo.

O conflito deixou cerca de 13 mil mortos, a grande maioria deles albaneses.

Em 8 de agosto de 2008, a Geórgia lançou uma ofensiva para recuperar o controle da Ossétia do Sul, uma região separatista pró-Rússia que declarou sua independência em 1991.

A Rússia retaliou enviando tropas para o território georgiano e, no espaço de cinco dias, infligiu uma derrota esmagadora à ex-república soviética.

No processo, Moscou reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkhazia, outra província separatista georgiana. 

Em 2014, na esteira do movimento pró-UE de Maidan e da fuga para a Rússia do presidente Viktor Yanukovych, Moscou anexou a península da Crimeia.

A Rússia apoia os rebeldes separatistas pró-russos no leste do país, onde duas repúblicas são autoproclamadas.

O conflito, que já custou mais de 14 mil vidas, diminuiu de intensidade a partir de 2015 e da assinatura dos acordos de paz de Minsk.

Moscou, que lançou vastas manobras militares em torno do território ucraniano nos últimos meses, reconheceu a independência das duas repúblicas separatistas na segunda-feira e, em seguida, lançou uma invasão da Ucrânia nesta quinta-feira. (Da AFP) 

 

 

As guerras em que a Rússia se envolveu desde o fim da URSS

Após meses de tensões, o presidente russo ordenou que o destacamento de soldados para as "repúblicas" separatistas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, horas depois de reconhecer a independência de ambas, na segunda-feira, 21. 

A extensão e o calendário desta implantação ainda não estão claros, mas este anúncio alimenta temores de uma grande escalada na Ucrânia, em cujas fronteiras a Rússia tem mais de 150.000 soldados estacionados, de acordo com Washington e Kiev (e até 190.000, incluindo-se os separatistas).

Da Chechênia à Síria passando pela Ucrânia, a Rússia de Vladimir Putin esteve envolvida em várias guerras desde a queda da União Soviética em 1991. Confira: 

>> Duas guerras sangrentas na Chechênia

Helicóptero russo derrubado por guerrilheiros chechenos en 1994(Foto: Mikhail Evstafiev/Wikimedia Commons)
Foto: Mikhail Evstafiev/Wikimedia Commons Helicóptero russo derrubado por guerrilheiros chechenos en 1994

No final de 1994, depois de ter tolerado durante três anos a independência "de facto" da Chechênia, Moscou interveio com seu Exército nesta república do Cáucaso russo. Enfrentando forte resistência, as tropas federais se retiraram em 1996.

Em outubro de 1999, porém, sob o impulso do primeiro-ministro Vladimir Putin, prestes a ser eleito presidente, as forças russas entraram novamente na Chechênia para uma "operação antiterrorista". A ofensiva se deu após um ataque de separatistas chechenos contra a república russa do Daguestão e vários atentados na Rússia, atribuídos aos chechenos por Moscou.

Em fevereiro de 2000, a Rússia retomou a capital Grozny, arrasada pela artilharia e pelas Força Aérea russas. A guerrilha continuou, no entanto. Em 2009, o Kremlin decretou o fim de sua operação, deixando dezenas de milhares de mortos de ambos os lados após estes dois conflitos.

>> "Guerra-relâmpago" na Geórgia

Tanque russo na Ossétia do Sul, Geórgia, durante a invasão russa em 2008(Foto: Yana Amelina/Wikimedia Commons)
Foto: Yana Amelina/Wikimedia Commons Tanque russo na Ossétia do Sul, Geórgia, durante a invasão russa em 2008

No verão de 2008, a Geórgia lançou uma operação militar mortal contra a Ossétia do Sul, um território separatista pró-russo que escapava do controle de Tbilisi desde a queda da URSS e de uma guerra no início dos anos 1990.

A Rússia respondeu com o envio de suas tropas para o território georgiano e, no espaço de cinco dias, infligiu uma derrota esmagadora à ex-república soviética.

Os combates deixaram várias centenas de mortos. No processo, o Kremlin reconheceu a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, outra província separatista. Desde então, manteve uma forte presença militar neste território.

Os ocidentais denunciam uma ocupação "de facto".

>> Conflito na Ucrânia

Movimentação de tropas da Ucrânia em zona de atividade separatista(Foto: STR / Forças Armadas da Ucrânia / AFP)
Foto: STR / Forças Armadas da Ucrânia / AFP Movimentação de tropas da Ucrânia em zona de atividade separatista

Em 2014, depois do movimento pró-europeu de Maidan e da fuga para a Rússia do presidente Viktor Yanukovych, Moscou anexou a península ucraniana da Crimeia. A comunidade internacional não reconhece essa anexação.

No processo, surgiram movimentos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, em Donetsk e Lugansk, regiões do Dombas que fazem fronteira com a Rússia. As duas repúblicas se autoproclamam, levando a um intenso conflito armado.

Kiev e o Ocidente acusam a Rússia de apoiar os rebeldes, enviando homens e equipamentos. Moscou sempre negou esse suporte, reconhecendo apenas a presença de "voluntários" russos na Ucrânia.

O conflito diminuiu de intensidade a partir de 2015 e da assinatura dos Acordos de Paz de Minsk.

Desde o final de 2021, porém, Moscou vem fazendo manobras militares terrestres, aéreas e marítimas em torno do território ucraniano, posicionando mais de 150.000 soldados em suas fronteiras, como denunciam os Estados Unidos e seus aliados.

Depois de vários meses de tensão, Vladimir Putin reconheceu a independência das duas repúblicas separatistas na noite de segunda-feira (21) e ordenou que suas tropas se deslocassem para lá.

Os confrontos na Ucrânia já custaram mais de 14.000 vidas desde 2014.

>> Intervenção na Síria

Russian President Vladimir Putin (R) shakes hands with his Syrian counterpart Bashar al-Assad (L) during their meeting at the Kremlin in Moscow on October 20, 2015. Syria's embattled President Bashar al-Assad made a surprise visit to Moscow on October 20 for talks with Russian President Vladimir Putin, his first foreign trip since the conflict erupted in 2011.  AFP PHOTO / RIA NOVOSTI / KREMLIN POOL / ALEXEY DRUZHININ(Foto: ALEXEY DRUZHININ)
Foto: ALEXEY DRUZHININ Russian President Vladimir Putin (R) shakes hands with his Syrian counterpart Bashar al-Assad (L) during their meeting at the Kremlin in Moscow on October 20, 2015. Syria's embattled President Bashar al-Assad made a surprise visit to Moscow on October 20 for talks with Russian President Vladimir Putin, his first foreign trip since the conflict erupted in 2011. AFP PHOTO / RIA NOVOSTI / KREMLIN POOL / ALEXEY DRUZHININ

Desde 2015, a Rússia está mobilizada militarmente na Síria em apoio às forças do presidente Bashar al-Assad.

Com muitos bombardeios mortais e destruição maciça, a intervenção de Moscou mudou o curso da guerra e permitiu ao governo sírio obter vitórias decisivas, recuperando o terreno antes perdido para rebeldes e jihadistas.

Moscou tem duas bases militares na Síria: o aeródromo de Hmeimim, no noroeste do país, e o porto de Tartus, mais ao sul. Mais de 63 mil militares russos já atuaram na campanha síria. (Da AFP)

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