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Higiene e cuidados bucais como hábito comum da infância
Reportagem Especial

Higiene e cuidados bucais como hábito comum da infância

Dados do Ministério da Saúde apontam que 30% das crianças entre 1,5 e 3 anos apresentam cáries, enquanto 53% já tiveram o mesmo problema após os 5 anos. Escovação deve ser intensifica antes mesmo dos dentes permanentes

Higiene e cuidados bucais como hábito comum da infância

Dados do Ministério da Saúde apontam que 30% das crianças entre 1,5 e 3 anos apresentam cáries, enquanto 53% já tiveram o mesmo problema após os 5 anos. Escovação deve ser intensifica antes mesmo dos dentes permanentes
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Quando o assunto é higiene bucal infantil, algumas pessoas ainda acreditam que a escovação só deve ser iniciada após a troca dos dentes de leite pelos permanentes — algo que começa a acontecer entre os 4 e os 6 anos da criança. De acordo com especialistas, entretanto, os cuidados devem ser desenvolvidos desde o nascimento, mesmo ainda não havendo presença de qualquer elemento dentário.

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 30% das crianças entre 1,5 e 3 anos apresentam cáries, enquanto 53% tiveram o mesmo problema depois 5 anos de idade. A Associação Brasileira de Odontologia (ABO) também alerta que estes pequenos apresentam, em média, mais de duas cáries nos dentes decíduos, comumente conhecidos como "dentes de leite".

Os cuidados com a higiene bucal infantil devem começar desde o nascimento da criança(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Os cuidados com a higiene bucal infantil devem começar desde o nascimento da criança

A cirurgiã-dentista Isabelle Monteiro pontua que uma das formas de evitar o problema na infância é ensinar a criança sobre a importância da higiene bucal, de forma que a prática seja adquirida desde cedo como um hábito tão comum quanto o de se alimentar e o de tomar banho, por exemplo. A higienização precisa ser estimulada pelos pais ou responsáveis após o fim de todas as refeições e antes de dormir.

“As crianças se espelham muito nos pais, inclusive adoram imitar hábitos de adultos. Quem nunca viu uma criança tentando usar o salto alto que a mamãe? Então, é importante que vejam os pais ou responsáveis escovando os dentes. A dica é compartilhar o momento de forma lúdica, fazendo juntos. Um dos melhores momentos para isso é antes de dormir. Eles adoram”, explica Isabelle.

A higienização bucal infantil, no entanto, é diferente para cada fase da vida da criança, podendo ser dividida em quatro etapas:

Segundo a cirurgiã-dentista Pollyanna Bitu, especialista em odontopediatria, a introdução de açúcar na dieta de crianças é um fator agravente para o surgimento de cáries. Por isso, a recomendação da Associação Brasileira de Odontopediatria (Aboped) é que o consumo seja evitado. O Ministério da Saúde também alerta que crianças menores de 2 anos não devem ingerir o alimento.

 

 

Higienização dos dentes de leite

Os cuidados com os dentes de leite são tão importantes quanto os cuidados com dentes permanentes, uma vez que eles têm grande importância na mastigação das crianças e na fonação "Capacidade de articular a fala" , além de servirem como guia para a dentição permanente que nascerá posteriormente. Assim, eles podem trazer problemas a longo prazo para a criança quando eles não são devidamente cuidados na infância.

“Os dentes de leite guardam o lugar para o dente permanente que vai nascer. A falta dele implicará problemas ortodônticos, como dentes tortos, desalinhados e sem espaço para nascer”, explica Pollyanna. A falta de cuidado adequado pode acometer os dentes da criança com pequenas manchas brancas, que podem formar cavidades quando não são tratadas, podendo ainda gerar dor, infecções e até perda do dente.

A falta de cuidados com a higiene bucal da criança pode gerar uma série de problemas, entre os quais as cáries, mau hálito, gengivite e plavas bacterianas(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE A falta de cuidados com a higiene bucal da criança pode gerar uma série de problemas, entre os quais as cáries, mau hálito, gengivite e plavas bacterianas

Em caso de perda precoce, seja por cárie ou por trauma, o dente permanente vai surgir em uma posição desfavorável, levando a criança a precisar ser submetida a um tratamento ortodôntico ou, até mesmo, cirúrgico no futuro. De acordo com a cirurgiã-dentista Bianca Rocha, a desinformação dos pais ou responsáveis acaba sendo fator agravante no que diz respeito à higiene bucal infantil.

“É rotina vermos pais e responsáveis relatando: ‘Melhor arrancar, né? Já que vai nascer outro no lugar’, mas não é assim que funciona. Não podemos tratar como uma regeneração, porque não é. Muitas vezes, a melhor opção é um tratamento mais conservador, até o momento em que aquele dente vai “amolecer” e dar lugar a outro”, explica Bianca.

A cirurgiã-dentista também ressalta que a presença de infecções em dentes de leite pode gerar danos à estrutura dos dentes permanentes, como alterações da cor e da forma, por exemplo. Segundo o Ministério da Saúde, os principais problemas que envolvem a negligência da higiene bucal infantil são cáries, placa bacteriana, gengivite, doença periodontal e má oclusão, onde cada um se caracteriza como:

 

 

Amamentação e desenvolvimento dos dentes da criança

A amamentação é um importante aliado para auxiliar no processo de nascimento dos primeiros dentes da criança. “Além de gerar uma ótima nutrição para a criança, a amamentação fortalece os músculos da face e o sistema mastigatório, diminuindo significativamente as chances de a criança ter problemas ortopédicos, ortodônticos e respiratórios”, explica a dentista Isabelle Monteiro.

Apesar dos benefícios, o uso de mamadeiras e chupetas não substitui o seio materno nessa função. A recomendação das especialistas é que a amamentação exclusiva seja feita até os 6 meses de vida do bebê, quando o indicado é não usar chupetas e mamadeiras. Se o uso se mostrar necessário por razões que diferem de caso para caso, é aconselhado que sejam utilizadas chupetas ortodônticas.

A amamentação é fundamental ao processo de nascimento dos primeiros dentes da criança(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE A amamentação é fundamental ao processo de nascimento dos primeiros dentes da criança

“Aqueles que são achatados na ponta e se tornam mais compatíveis com o formato anatômico da língua e céu da boca (...) A idade que consideramos limite para uso de chupetas, bicos e mamadeiras é de 4 anos. A partir dessa idade, o uso traz danos às arcadas dentárias, que só serão revertidos com o uso de dispositivos ortodônticos e/ou ortopédicos”, pontua a dentista Bianca Rocha.

A dentista Pollyanna Bitu também pontua que gestantes podem buscar se consultar com profissionais de odontopediatria durante o período da gravidez como forma de receber orientações sobre a higiene bucal infantil adequada. As prescrições, no entanto, não descartam a busca de profissionais de outras áreas para sanar demais dúvidas sobre condutas necessárias após o nascimento do bebê.

 

 

Regularidade é chave para não estimular o medo

“A partir do nascimento do primeiro dente é recomendado que a criança faça visitas regulares ao dentista. É importante que passe por um processo de ambientação. Assim, ela vai tratar as consultas odontológicas com naturalidade”, pontua Isabelle. Para ajudar na adaptação, a recomendação é que a criança seja levada para realizar procedimentos preventivos antes de qualquer intervenção mais complexa.

A regularidade das consultas é um critério definido pelo profissional que vai avaliar a necessidade da criança. O mais comum, no entanto, é que as visitas ao dentista por crianças com baixo risco de cárie sejam realizadas de seis em seis meses ou, pelo menos, de forma anual, explica Bianca. Os intervalos podem ser menores se o odontopediatra julgar que o paciente tem um risco maior de cárie, acrescenta Pollyanna.

 

 

Hábitos de higiene bucal adquiridos desde o nascimento

João Vinícius, de três anos
Foto: Arquivo pessoal
João Vinícius, de três anos

A farmacêutica Isabel Cristina Almeida realiza a higienização bucal do filho João Vinícius, de 3 anos, desde que ele tinha apenas alguns meses de vida. Como recomendado, ela utilizava uma fralda molhada com água filtrada para retirar os resíduos da fórmula deixados na gengiva do pequeno, uma vez que não foi possível amamentar com leite materno por dificuldades de pega correta da mama.

“O que o pediatra nos aconselhava é que passasse uma fraldinha na gengiva dele sempre que ele fizesse o uso da fórmula, principalmente à noite. A gente pegava uma fraldinha, passava na água filtrada e passava na gengiva dele, fazendo essa limpeza. A escovação atual dele é feita três vezes ao dia: de manhã, após o lanchinho dele; à tarde, após o almoço; e à noite, antes de dormir”, explica Isabel.

A primeira ida do João a um profissional odontopediatra aconteceu quando ele tinha 2 anos de idade. Isabel reconhece, porém, que poderia ter sido mais bem orientada sobre a higienização bucal adequada do filho se tivesse realizado a consulta após o nascimento do primeiro dente dele. Apesar disso, ela utilizou a internet como fonte de buscas e orientações ao acompanhar algumas odontopediatras no Instagram.

“Fazia uso de escova ideal para a idade dele e com uma quantidade bem pequena de creme dental, de início sem flúor. Aos dois anos, levei à odontopediatra, onde ela me deu várias dicas de como fazer a escovação e trocou o creme dental por outro com flúor”, esclarece Isabel. Atualmente com 3 anos, João ainda apresenta resistência na hora de fazer a higienização da boca, o que é resolvido na base do diálogo.

“Ele já entende, mas ainda dá um pouco de trabalho na hora de escovar os dentes. Tenho que ter toda a paciência para poder fazer a limpeza bucal dele (...) A gente coloca uma pequena gotinha de creme dental na escova e vai fazendo a escovação três vezes ao dia. Na hora da escovação, sempre oriento sobre a importância de escovar direitinho para não surgirem as terríveis cáries”, completa Isabel.

 

 

Serviços odontopedriátricos em Fortaleza

Na Capital, o serviço Bebê Clinica Odontológica, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), atua na prevenção de doenças bucais de bebês de até 3 anos. Os serviços podem ser encontrados nos postos de saúde Anastácio Magalhães (Regional de Saúde III), Virgílio Távora (Regional de Saúde I), Otoni Cardoso (Regional de Saúde VI), e na Policlínica Dr. José Eloy da Costa Filho, no Bonsucesso.

Para ter acesso ao serviço, no entanto, é necessário um encaminhamento, que pode ser feito nos 116 postos de saúde de Fortaleza, por qualquer profissional (enfermeiro, médico ou dentista) da Rede Municipal de Saúde. O atendimento nos equipamentos ocorre por odontopediatras, de segunda a sexta-feira, de 8h às 12 horas. 

Os postos de saúde da Capital também oferecem atendimento odontológico para as demais idades. São ofertados serviços de atenção básica em saúde bucal, como restaurações, tratamento periodontal e exodontias. Caso a criança necessite de serviços especializados, o dentista faz o encaminhamento para um dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), distribuídos em todas as regiões do Estado.

Além disso, o Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), também na Capital, possui um ambulatório de odontologia para atendimento de crianças com necessidades especiais que, muitas vezes, precisam de anestesia para realização dos procedimentos.

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