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La revolución de intensidad: os 365 dias de Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza
Reportagem Especial

La revolución de intensidad: os 365 dias de Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza

Argentino de 47 anos completa um ano da estreia no comando do Tricolor e acumula três títulos invictos, marcas históricas e boas histórias na cidade. Modelo de jogo ofensivo alça Leão a novo patamar

La revolución de intensidad: os 365 dias de Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza

Argentino de 47 anos completa um ano da estreia no comando do Tricolor e acumula três títulos invictos, marcas históricas e boas histórias na cidade. Modelo de jogo ofensivo alça Leão a novo patamar
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Sem presença de público em razão da pandemia de Covid-19, o estádio Raimundo de Oliveira, em Caucaia, foi palco do início de uma nova era para o Fortaleza na chuvosa noite de 12 de maio de 2021. Foi lá onde o argentino Juan Pablo Vojvoda Rizzo, registrado na súmula como assistente técnico, comandou a equipe pela primeira vez.

Um ano depois — vivido com extrema intensidade, a exemplo das apresentações do time em campo —, o treinador se alçou ao patamar de principais técnicos da história do clube com as conquistas, colecionou glórias — e também percalços — e conquistou a torcida com simpatia e humildade, além de ter o trabalho elogiado e reconhecido Brasil afora.

"Se passaram 365 dias, muito intensos. O primeiro que eu tenho a falar são palavras de agradecimento ao clube, ao pessoal do dia a dia, à diretoria e, principalmente, ao torcedor, pelo carinho que eles me tratam desde o primeiro momento. Tenho uma responsabilidade muito grande por representar uma instituição como o Fortaleza e estou muito feliz de estar nesse momento representando a camisa tricolor", disse, em entrevista à TV Leão, canal oficial do clube.

Técnico Juan Pablo Vojvoda em treino do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici(Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC)
Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC Técnico Juan Pablo Vojvoda em treino do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici

Reservado, Vojvoda evita entrevistas exclusivas e costuma atender a imprensa nas coletivas pós-jogos, que em geral não passam de 15 minutos de duração. Por outro lado, o argentino de 47 anos não se furta de explorar a cidade e frequentar os locais favoritos nas raras horas livres. Uma das saídas, inclusive, rendeu meme que se espalhou pela torcida e arrancou risos do comandante.

Dirigentes, funcionários e jogadores exaltam a metodologia e a condução de trabalho do técnico. Cordial, Vojvoda também teve (poucos) episódios de conflito no elenco ao longo de 365 dias, com Quintero e Felipe Alves. Vitorioso — ganhou os três primeiros títulos da carreira no Pici —, também amargou goleadas sofridas (inclusive para o Ceará) e sequências negativas. Apaixonado por futebol, emocionou-se algumas vezes com as festas dos torcedores e caiu nas graças dos tricolores.

"Eu consigo continuar o ritmo do que cantam os torcedores e, às vezes, no carro ou na minha casa, quando o time ganhou, eu consigo continuar o ritmo que ficou na minha cabeça por ter escutado durante 90 minutos. Estou cada vez mais adaptado ao dia a dia do povo cearense", relatou.

 


De Caucaia a Buenos Aires

A goleada por 6 a 1 sobre o Crato no jogo de estreia, pelo Campeonato Cearense, foi o primeiro passo de um início avassalador do treinador no Leão. Três dias depois, venceu um Clássico-Rei contra o Ceará por 2 a 0 e fez outros dois placares elásticos (6 a 0 sobre Icasa e Atlético-CE) para chegar à final do Estadual, na qual conquistou o título com um empate diante do Vovô pela vantagem da melhor campanha.

A largada no Brasileirão foi com virada emocionante por 2 a 1 sobre o badalado Atlético-MG — que terminou a temporada com títulos da Série A e da Copa do Brasil —, em pleno Mineirão. Outros dois triunfos em sequência na competição (com direito a um 5 a 1 sobre o Internacional-RS) fizeram o Tricolor ficar na liderança da elite nacional por três rodadas.

Disputada em paralelo, a Copa do Brasil reservou novo encontro decisivo diante do arquirrival Ceará, na terceira fase. Após empate em 1 a 1 na ida, o Fortaleza aplicou um categórico 3 a 0 para carimbar a classificação no Clássico-Rei histórico. O clube do Pici conseguiu a melhor campanha no mata-mata ao chegar pela primeira vez à semifinal do torneio, até ser eliminado pelo Galo.

 

No Campeonato Brasileiro, o escrete vermelho-azul-e-branco derrubou tabus — venceu São Paulo, Palmeiras-SP e Sport-PE como visitante pela primeira vez, por exemplo — e fez valer o mando de campo no Castelão para conquistar resultados positivos. Presente no G-6 durante todas as 38 rodadas, o Leão selou a inédita e sonhada vaga na Copa Libertadores ao bater o Juventude-RS, com gol do também argentino Valentín Depietri.

A quarta posição, melhor colocação do futebol cearense no Brasileiro por pontos corridos, foi confirmada com o 2 a 1 sobre o Bahia na última rodada, em noite de festa no Gigante da Boa Vista. O Leão disputa a Libertadores na atual temporada e está no grupo do gigante River Plate-ARG, tendo a oportunidade de atuar no lendário Monumental de Núñez.

"Esse ano conseguimos um objetivo muito importante e forte para o clube, que é jogar uma competição maior, a maior que um clube da América do Sul pode jogar, que é a Copa Libertadores. Minha cabeça está no jogo a jogo. Eu desfrutei dessa conquista, mas agora minha cabeça está no próximo jogo. É verdade que temos que continuar por esse caminho e para continuar por essa rua temos que trabalhar sempre todos juntos, com apoio do torcedor", ponderou o treinador.

 


"Intensidad" vira palavra-chave

Depois do sucesso de Rogério Ceni em três temporadas e as breves passagens de Marcelo Chamusca e Enderson Moreira, entre o final de 2020 e o começo de 2021, o Fortaleza buscava outra vez um treinador de perfil mais ofensivo e estudioso para brigar por vaga em competições continentais. Fernando Diniz surgiu como favorito, mas recusou. Ariel Holan, recém-saído do Santos-SP, tornou-se opção, e o diretor de futebol Alex Santiago colocou em pauta um nome até então desconhecido em solo brasileiro: Juan Pablo Vojvoda.

À frente do Talleres-ARG, o argentino tinha sido responsável por eliminar o São Paulo da fase prévia da Libertadores em 2019. No Unión La Calera-CHI, conquistou o vice-campeonato nacional, feito histórico para o modesto clube chileno. Além dos resultados, o modelo de jogo do treinador chamou a atenção do departamento de análise de desempenho do clube, que preparou o material e passou à diretoria. Destacavam-se a intensidade e a ofensividade.

Os números nas competições atestam que, via de regra, o Tricolor consegue pressionar os adversários. Além do alto número de gols marcados em 78 jogos, o Leão também costuma aparecer nas primeiras posições em fundamentos como finalizações, chances criadas, oportunidades desperdiçadas e afins.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 15-09.2021: Juan Pablo Vojvoda. Fortaleza x São Paulo, pela Copa do Brasil nas quartas de finais na Arena Castelão. em epoca de COVID-19. (Foto:Aurelio Alves/ Jornal O POVO)(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves FORTALEZA, CE, BRASIL, 15-09.2021: Juan Pablo Vojvoda. Fortaleza x São Paulo, pela Copa do Brasil nas quartas de finais na Arena Castelão. em epoca de COVID-19. (Foto:Aurelio Alves/ Jornal O POVO)

Aguerrido, o Fortaleza não temeu se lançar ao ataque, por exemplo, diante do Flamengo no Maracanã; contra São Paulo, no Morumbi, e Palmeiras, no Allianz Parque; Corinthians na Neo Química Arena e até mesmo contra o River Plate no Castelão. Por vezes a pontaria falhou ou os oponentes fizeram valer a superioridade, mas a equipe de Juan Pablo Vojvoda arrancou elogios pela coragem para jogar e pela organização tática, com trocas de posições e ações bem coordenadas nos setores.

"Eu colaborei para que o clube continue crescendo, sou uma parte do clube, sempre com um agradecimento aos jogadores, ao elenco que eu comando dia a dia. Eles respondem e são uma parte muito importante. Os jogadores são que representam dentro do campo de jogo, e eu preciso agradecer a eles, principalmente pelo dia a dia. Também às pessoas que trabalham no Pici, sempre tenho uma palavra de agradecimento a elas", afirmou o argentino.

 


Três finais, três títulos invictos

Acostumado a levar equipes modestas a patamares maiores, o filho pródigo do município de General Baldissera ainda não tinha nenhuma taça na carreira como técnico até chegar ao Pici. Um ano depois, disputou três finais e saiu vitorioso em todas, conquistando os três títulos de forma invicta.

O primeiro foi o Estadual de 2021, cerca de dez dias depois da estreia. O êxito sobre o maior rival deu moral para a sequência do trabalho. Em 2022, após as históricas campanhas na Série A e na Copa do Brasil, o Fortaleza carregava o favoritismo nas competições locais por ser um dos clubes brasileiros na Libertadores.

 

Na Copa do Nordeste, as finais contra o Sport foram acirradas, mas o 1 a 0 no Castelão bastou para levantar a Orelhuda pela segunda vez na história. No Cearense, sem o Alvinegro pela frente na decisão, o Caucaia não resistiu no segundo jogo e acabou batido por 4 a 0, que concretizou o segundo tetracampeonato do Leão do Pici.

Em comum entre as três taças, além da invencibilidade, o fato de ter conquistado no Castelão, com o apoio e muita festa da torcida. "O torcedor abraça o time nos momentos que o time necessita, e nós sentimos isso. O torcedor exige, porque estamos em um clube muito grande, mas também, nos momentos em que necessitamos, esteve ao nosso lado, e quero valorizar isso também", exaltou Vojvoda.

 

 

Jogos marcantes

Na entrevista à TV do clube, que marcou um ano do anúncio de Vojvoda como treinador do Tricolor, no último dia 4 de maio, o comandante enumerou algumas partidas marcantes ao longo dos 365 dias — é bem possível que a atuação diante do River Plate tenha passado a integrar a lista:

"Não sei se um jogo específico, tivemos muitos jogos. Tem três ou quatro jogos que ficam na memória do torcedor. Quando conseguimos, com gol de Valentín (Depietri), essa classificação para a Copa Libertadores foi um; a partida contra o Palmeiras foi outra, porque aconteceram muitas coisas nessa partida, lembro muito disso; a final da Copa do Nordeste também foi muito bonita; as duas conquistas do (Campeonato) Cearense. Também fico com o que está por trás de cada partida, e isso fico também como momentos muito importantes, quando não estávamos bem e o time respondeu nesse momento. Eu lembro muito da última partida no ano passado, contra o Bahia, foi uma festa que fechou muito bem o ano. Fechamos vencendo a partida, o Castelão com muita, muita gente festejando, torcedores felizes. Eu fico com essa imagem", afirmou.

 

 

Praia, igreja, "racha" e "portone"

"Workaholic", Vojvoda decidiu morar no Centro de Excelência Alcides Santos, sede do clube, logo que desembarcou em Fortaleza, na noite de 9 de maio do ano passado. A intenção era otimizar o tempo de trabalho sem deslocamentos, fazer uma imersão à realidade do novo clube e ter maior proximidade com os funcionários da casa para ter um cenário geral da situação.

O expediente geralmente dura 12 horas por dia, entre observação de adversários, análise da própria equipe, elaboração e execução dos treinamentos, com vídeos e relatórios, além de reuniões. O treinador mantém contato direto e constante para tomar decisões com os auxiliares Gastón Liendo e Nahuel Martínez e com os analistas de desempenho Henrique Bittencourt, Edinardo Abreu e Rafael Silva, membros do Centro de Inteligência do Fortaleza (CIFEC).

Após os primeiros meses na capital cearense, Vojvoda se sentiu mais à vontade para conhecer a cidade e adotar uma rotina como um típico fortalezense — título, aliás, que ganhou da Câmara Municipal. Apesar do jeito discreto, cada saída despertava curiosidade e abordagem dos fãs, entre fotos, vídeos e rápidas conversas. Religioso, o argentino foi à Igreja de Fátima em um dia 13, assistiu à missa do lado de fora e foi tietado até pelo próprio padre após a celebração — o treinador se tornou figura frequente no local na mesma data, de acordo com a disponibilidade em meio aos jogos.

Fortaleza e Alianza Lima se enfrentaram na Arena Castelão pela 3ª rodada da fase de grupos da Copa Libertadores 2022. Na foto, Juan Pablo Vojvoda observa o time. (Foto: Aurélio Alves/O POVO)
Foto: Aurélio Alves/O POVO Fortaleza e Alianza Lima se enfrentaram na Arena Castelão pela 3ª rodada da fase de grupos da Copa Libertadores 2022. Na foto, Juan Pablo Vojvoda observa o time.

O comandante também foi à praia, marcou presença em um "racha" de funcionários do clube nas imediações do Pici, conheceu restaurantes com a tradicional parrilla argentina, fez passeios com a família... Mas a saída mais marcante foi a um mercantil. Na realidade, a volta.

Em um dia de semana à noite, Vojvoda saiu da sede do clube a pé para fazer compras em um estabelecimento. No retorno, esperou por alguns instantes para que um funcionário abrisse o portão localizado na rua Mário da Silveira. Foi o tempo suficiente para que alguém filmasse o treinador e outro torcedor "dublasse", como se ele chamasse pela lendária funcionária Toinha em bom portunhol.

"Eu conheço somente a parte da Beira-Mar e praias perto daqui. Eu conheço muito o Pici, é verdade (risos). Se for para dizer algo sobre o povo cearense, eu fico com o que todo mundo falou: 'Toinha, abre o portone' (risos). Isso ficou. Eu não disse isso, mas todo mundo, durante um ou dois meses, cada vez que eu saía do Pici, lembrava essas palavras para mim, que foi uma boa imaginação de um torcedor. Isso fica também na minha memória", divertiu-se.

 


E o futuro?

Vojvoda chegou ao Pici em 2021 com contrato de duração de um ano e cláusula de renovação automática em caso de classificação para um torneio internacional — Sul-Americana ou Libertadores. Com a meta assegurada já no decorrer do segundo turno da Série A, o Tricolor já contava com a permanência do treinador para a atual temporada, apesar do assédio de outras equipes - o Internacional-RS foi o principal interessado.

A renovação foi confirmada em 9 de dezembro, logo após o triunfo por 2 a 1 sobre o Bahia, no Castelão, pela última rodada do Brasileirão. O ato deu tranquilidade ao clube para tocar o planejamento de 2022 e ao treinador, que já tinha viagem marcada para a Argentina para passar férias - e participou ativamente das mudanças no elenco.

Com contrato até o final de 2022, o Leão não esconde o desejo de contar com o comandante por mais tempo, mas entende os movimentos naturais do mercado e as aspirações do profissional, sem apressar qualquer conversa ou negociação nesse sentido.

Técnico Juan Pablo Vojvoda em treino do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici(Foto: Karim Georges/Fortaleza EC)
Foto: Karim Georges/Fortaleza EC Técnico Juan Pablo Vojvoda em treino do Fortaleza no Centro de Excelência Alcides Santos, no Pici

Vojvoda também está satisfeito no Pici em todos os aspectos: estrutura do clube, relação com dirigentes, funcionários e jogadores, resultados esportivos e a cidade. Mas também tem o sonho de trabalhar em outras ligas importantes, como a Premier League, na Inglaterra, por exemplo. O México é visto como outro destino interessante.

"Os valores do clube estão na mesma linha dos valores que tenho na minha vida pessoal, e isso, para mim, é uma parte fundamental no caminho em que estamos, Fortaleza e Vojvoda. Não sei se mudou algo ou se confirmou que eu necessito e quero estar em um clube como o Fortaleza", frisou.

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